Adolfo César de Noronha

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Adolfo César de Noronha
Adolfo César de Noronha
Adolfo na sua residência de família no n°3 da Rua das Cruzes, Funchal
Nascimento 9 de setembro de 1873
Funchal, Ilha da Madeira, Portugal Portugal
Morte 6 de abril de 1963
Funchal, Ilha da Madeira, Portugal Portugal
Cidadania Portugal, Reino de Portugal
Progenitores
  • Augusto Nóbrega de Noronha
  • Adelaide Augusta da Silva
Cônjuge Georgina Rebelo de Oliveira (c. 1923; m.1945)
Ocupação naturalista

Adolfo César de Noronha (Funchal, 9 de setembro de 1873Funchal, 6 de abril de 1963) foi um naturalista e homem de cultura madeirense.[1] É conhecido por ter sido o grande impulsionador do Museu de História Natural do Funchal.

Biografia[editar | editar código-fonte]

Oriundo de uma família com ligações à ilha do Porto Santo, Adolfo César nasceu na residência da família Noronha (Rua das Cruzes 3, casa que tinha sido o primeiro hospital da ilha) no Funchal, ilha da Madeira, cidade onde completou o ensino secundário no Liceu Nacional do Funchal. Continuou a sua formação fora da Madeira, tendo frequentado a Escola Politécnica de Lisboa e a Academia Politécnica do Porto.[1]

Regressou ao Funchal, cidade onde a 11 de dezembro de 1914 foi nomeado bibliotecário da Biblioteca Municipal do Funchal, ascendendo em 1928 a seu director, cargo que ocupou até à aposentação em 1943.[1]

Para além das suas funções como bibliotecário e director da Biblioteca Municipal do Funchal, dedicou-se à história natural do arquipélago da Madeira, com a realização de observações meteorológicas, colheita de espécimes vegetais e animais e, particularmente, constituindo-se com o seu conhecimento local e capacidade de falar inglês, francês e alemão, em ponto de apoio às expedições científicas internacionais que foram visitando as ilhas. A sua recolha de fósseis e as observações ornitológicas e, em especial, de peixes de profundidade capturados pelos pescadores de peixe-espada-preto foram notáveis e em muitos casos seminais.

As suas colheitas serviram de base a estudos conduzidos por cientistas da época, com destaque para Ernesto Schmitz (aves) e para Ziwko J. Joksimowitsch (o paleontólogo sérvio Živko Joksimović), Leo Paul Oppenheim e Johannes Böhm (fósseis)[2]. No que respeita à fauna marinha, para além de múltiplos espécimes de peixes resultantes de capturas acidentais na pesca do espadarte, recolheu esponjas e briozoários, muitos deles pertencentes as espécies novas para a ciência. O caso mais conhecido foi a descoberta durante operações de dragagem realizadas em 1909 no litoral da ilha do Porto Santo de uma esponja incrustante, com espículas calcárias e siliciosas, a que foi dado o nome de Merlia normani. Estas dragagens foram feitas em conjunto com o espongiologista britânico Randolph Kirkpatrick, que publicou a descrição daquela esponja.[3] O mesmo cientista dedicou-lhe o género de esponjas Noronha Kirkpatrick, 1908,[4] presentemente considerado um sinónimo taxonómico de Merlia.[5] Da sua colaboração e correspondência com cientistas de várias nacionalidades resultou ser o seu nome epónimo de vários taxa, entre os quais Schizoporella noronhai (um briozoário abissal), Pecten noronhai e Spondylus noronhai (moluscos bivalves fósseis).

Liderou em 1922 uma expedição científica às ilhas Selvagens, que visitara em 1906 e 1909, na qual participaram, entre outros, Adão Nunes e Damião Peres. Devido a dificuldades com o transporte de volta à ilha da Madeira, o grupo permaneceu dois meses naquelas ilhas, sendo o regresso ao Funchal motivo de recepção, noticiado pelo Diário de Notícias do Funchal de 13 de junho desse ano de 1922. As observações meteorológicas e os espécimes recolhidos foram enviadas a especialistas internacionais.[1]

A sua principal contribuição para a ciência ocorreu no campo do estudo dos peixes das águas profundas do arquipélago da Madeira, matéria em que foi pioneiro. Aproveitando as técnicas de pesca abissal desenvolvidas para a captura do peixe-espada-preto, para além de desenvolver um estudo aprofundado desta espécie, que publicou em 1925,[6] estudou os peixes de profundidade que eram capturados acidentalmente na pescaria do Aphanopus carbo. Desse estudo resultaram duas novas espécies para a ciência: um peixe da família dos escolares, Diplogonurus maderensis;[7] e um raro tubarão de profundidade, que dedicou ao seu amigo Alberto Artur Sarmento com o binome Squaliolus sarmenti.[8]

Para além de ter sido um dos colaboradores de Fernando Augusto da Silva e Carlos Azevedo de Meneses na preparação do Elucidário Madeirense (1922), num trabalho de co-autoria com Alberto Artur Sarmento, publicou em 1934 uma de divulgação intitulado Os Peixes dos Mares da Madeira.[9] Em 1948 elaborou o segundo volume (dedicado aos peixes) da obra Vertebrados da Madeira, editado pela Junta Geral do Distrito Autónomo do Funchal.[10]

Para além da sua contribuição como naturalista, a sua acção foi determinante na reinstalação da Biblioteca Municipal do Funchal, ao tempo instalada no edifício dos Paços do Concelho em instalações exíguas, e na iniciativa de adquirir um edifício que permitisse a criação de um museu que pudesse alojar as colecções de história natural e outro património pertencente ao Município do Funchal.[1]

Conseguiu em 1929 que com a criação do Museu Regional da Madeira e a aquisição do Palácio de São Pedro (Funchal) essas condições fossem criadas. Para isso foi decisiva a sua iniciativa de obter a emissão de um selo postal da Madeira cuja receita reverteu para a aquisição. Com a colaboração de Günther E. Maul, o museu abriu em 1933, dando origem ao actual Museu de História Natural do Funchal.

Casou-se com Georgina Rebelo de Oliveira a 23 de fevereiro de 1923, no Funchal e alugou uma casa na Rua do Quebra-Costas. Quando ficou viúvo em 1945 voltou a viver na casa de família onde tinha nascido, propriedade das suas sobrinhas Adelaide Susana de Noronha Wilbraham Soares de Sousa (1915-2017) e Laura Cristina de Noronha Wilbraham (1917-2008).

Aposentou-se a 9 de setembro de 1943, tendo nessa data a Câmara Municipal do Funchal atribuído o seu nome à sala principal do Museu.

Veio a falecer a 6 de abril de 1963 na casa onde tinha nascido, 89 anos antes.

Obras publicadas[editar | editar código-fonte]

Entre muitas outras, é autor das seguintes obras:

  • Um Peixe da Madeira: o peixe espada preto, ou Aphanopus carbo dos naturalistas (1925);
  • “A New Species of Deep Water Shark (Squaliolus sarmenti) from Madeira” (1926);
  • “Description of a New Genus and Species of Deep Water Gempyloid Fish, Diplogonurus maderensis” (1926);
  • Os Peixes dos Mares da Madeira (1934, em coautoria);
  • Vertebrados da Madeira. Peixes (1948, em coautoria).

Notas

  1. a b c d e Aprender Madeira: Noronha, Adolfo César.
  2. Mateus, O. (2023).  Efemérides paleontológicas de 2023 alusivas a Camarate França, Arménio Rocha, Fernando Real, Adolfo Noronha, Gaston Saporta, Correia da Serra e Louis Agassiz em Portugal. Tylostoma. 2, 57-74.
  3. R. Kirkpatrick, "On Merlia normani, a Sponge with a Siliceous and Calcareous Skeleton" in Quarterly journal of microscopical science, n.º 224 (June, 1911), pp. 657-702.
  4. Kirkpatrick, R. (1908). "On Two new Genera of Recent Pharetronid Sponges". Annals and Magazine of Natural History. (8) 2 (12): 503-514,pls XIII-XV.
  5. WoRMS: Noronha Kirkpatrick, 1908.
  6. Um Peixe da Madeira. O Peixe Espada Preto, ou Aphanopus carbo dos Naturalistas. A «Renascença Portuguesa», Porto, 1925.
  7. "Description of a New Genus and Species of Deep Water Gempyloid Fish, Diplogonurus maderensis" in Annals of the Carnegie Museum, vol. XVI (1925), pp. 381-383.
  8. Adolfo César de Noronha, "A New Species of Deep Water Shark, Squaliolus sarmenti, from Madeira" in Annals of the Carnegie Museum, vol. XVI (1925-1926), pp. 385-389.
  9. Adolfo César de Noronha & Alberto Artur Sarmento (madeirenses), Os peixes dos mares da Madeira. Diário de Notícias, Funchal, 1934.
  10. Adolfo César de Noronha & Alberto Artur Sarmento, Vertebrados da Madeira: Peixes (volume 2). Funchal, Junta Geral do Distrito Autónomo do Funchal, 1948.