Andy Kawa

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Andy Kawa
Cidadania África do Sul
Prêmios

Andy Kawa, também conhecida como Andisiwe, é uma ativista sul-africana. Ela foi estuprada brutalmente por várias horas na praia de Gqeberha, no estado de Cabo Oriental, na África do Sul. Lutou 12 anos para punir a polícia pela negligência nas buscas por ela e na posterior investigação para encontrar os cultpados.[1][2] Por seu ativismo por um sistema policial sul-africano que cumpra seus deveres em casos de violência de gênero ela foi nomeada uma das 100 mulheres mais inspiradoras do mundo pela BBC nos anos de 2013 e 2014.[3][4]

Vida pessoal e profissional[editar | editar código-fonte]

Andy Kawa mora em Joanesburgo, capital da África do Sul, com seus dois cachorros, George e Sasha.[5] Ela tem uma filha chamada Celi, formada em Direito.[6]

Ela possui bacharelado em Matemática Aplicada pela University of Transkei, MA pela Columbia University e MBA em Finanças pela Wharton School of Business. Ela é membro ativo da Africa Leadership Initiative e da Aspen Global Leadership Network.[5][7][8]

Andy Kawa atuou como executiva nos EUA, Reino Unido e na África do Sul por mais de 20 anos, nos setores industrial, de mineração e de serviços financeiros; e atuou como empresária por outros 15 anos. Ela fundou e é a presidente da Kwanele-Enuf Foundation, que atua na busca por transformar o sistema policial sul-africano para que ele passe a cumprir com seus deveres constitucionais em relação aos casos relatados de violência de gênero, incluindo a investigação completa.[2]

A forma como ela lidou com o imenso trauma que sofreu e direcionou sua raiva para tentar mudar o sistema e não contra si mesma demonstra sua força de espírito.[9]

Em 2020, ela publicou um livro de memórias, onde documenta a experiência do sequestro seguido de estupro coletivo e as consequências para sua vida. O livro se chama "Kwanele, Basta! Minha batalha com o SAPS para obter Justiça para as Mulheres".[10][11][12][13]

O sequestro e o estupro[editar | editar código-fonte]

No dia 9 de dezembro de 2010, Andy Kawa estava em Porto Elizabeth (hoje chamada Gqeberha) em um final de tarde. Ela estacionou seu carro ao lado de uma van da polícia, em frente a uma câmera de segurança (CCTV - closed-circuit television, ou circuito fechado de televisão, em tradução livre). Caminhou pela areia sem sapatos, apenas com a chave do carro e o celular na mão, lembrando de quando ia tomar banho de mar com o pai e os irmão. Era o dia mais feliz de sua vida: havia assinado os papeis de uma oferta para comprar uma casa perto da praia para sua mãe. E em 3 horas, ela estaria embarcando no avião para voltar a Johanesburgo. Sua filha Celi tinha completado seu Master em direito em Oxford, em breve estaria voltando para a África do Sul e no ano novo estaria vai assumindo um cargo no Tribunal Constitucional.[6]

Enquanto ela estava com os pés na água do mar, absorta em seus pensamentos, ele se aproximou pela esquerda:[6]

Ele portava uma faca, a levou para os arbustos próximos às dunas, onde a vendou e a estuprou brutalmente por quase 15 horas junto com outros quatro homens. Ela só conseguiu escapar pela manhã e pediu ajuda a pessoas que estavam correndo na praia.[1][14][15]

A inação da polícia[editar | editar código-fonte]

Quando ela não compareceu para o voo, no dia anterior, amigos e familiares registraram o desaparecimento. Seu carro foi encontrado arrombado e esvaziado de bens. A polícia enviou patrulhas a pé e com cães farejadores e solicitou um helicóptero para a busca. Não conseguiram encontrá-la.[15]

Mas a polícia:[1]

  • NÃO vasculhou toda a área (as buscas pararam sem encontrar a vítima; enquanto isso, ela era mantida em cativeiro nas proximidades e brutalmente estuprada por cinco homens),
  • NÃO coletou evidências físicas imediatamente, quando ela conseguiu escapar e denunciou o estupro para a polícia,
  • NÃO buscou vídeos de vigilância que pudessem conter evidências,
  • NÃO entrevistou potenciais testemunhas,
  • NÃO entrevistou potenciais suspeitos,
  • NÃO tentou encontrar e punir os responsáveis.

Andy Kawa passou anos pressionando a polícia para que os crimes contra ela fossem investigados, mas foi ignorada. Então ela entrou com um processo contra a polícia para responsabilizá-la por suas falhas e negligência,[1] que lhe causaram “graves traumas psicológicos e psiquiátricos”.[16][17]

O processo jurídico[editar | editar código-fonte]

A corte suprema considerou que a polícia foi responsável por 40% dos danos a Andy Kawa e ordenou a indenização da vítima.[1]

O ministro entrou com recurso e o Supremo Tribunal de Recurso anulou a decisão, indicando que as evidências e a alegação de Kawa não sustentavam a condenação da polícia por negligência, ilicitude e causalidade.[1]

Então, entendendo que seu caso está relacionado a questões constitucionais importantes, Kawa recorreu ao Tribunal Constitucional. O Centro de Estudos Jurídicos Aplicados foi o defensor da vítima e argumentou que cuidar das vítimas é dever constitucional da polícia, especialmente em casos de crimes sexuais / violência de gênero. A principal alegação foi a de que a não-realização de busca completa por Andy Kawa na noite em que desapareceu foi uma falha grave da polícia.[1]

Depois de 12 anos de luta legal, no dia 5 de abril de 2022, a juíza Sarah Sephton, do Tribunal Constitucional, deu provimento ao recurso de Andy Kawa e concluiu que o SAPS (South African Police Service ou Serviço de Polícia da África do Sul) local foi "grosseiramente negligente" e atuou de forma errada. O Tribunal entendeu que as buscas, os esforços para encontrá-la e a investigação posterior poderiam ter ido além se a polícia tivesse cumprido com seu dever constitucional e realizado seu trabalho com a diligência devida. O Tribunal Constitucional considerou ainda que a não-atuação da polícia contribuiu para os danos sofridos pela vítima.[1][10][15][18][19][20][21][22][23]

O Tribunal Constitucional considerou que o policial interrompeu a busca com cães sem razão justificável e sem barreiras que pudessem tê-lo impedido de ir mais longe (se tivessem andado mais 30m, provavelmente, o cachorro teria farejado a presença da vítima). Além disso, se uma busca diligente tivesse sido realizada, ela teria sido encontrada mais cedo e teria sido poupada de horas de estupro coletivo. Esse caso, segundo o Tribunal Constitucional, demonstra como as mulheres sul-africanas não desfrutam sequer das liberdades mais básicas, como a de ir e vir em segurança.[1]

Reconhecimentos[editar | editar código-fonte]

2007 - vice-campeã como 'Top Executive Management Committee Member' nos prêmios TOPCO.[7]

2010 - uma das 20 empresárias da África do Sul selecionadas para participar do 'The Chosen', MTN Business Leading CEO Council.[7]

2013 e 2014 - nomeada uma das 100 Mulheres mais inspiradoras do mundo pela BBC na lista de 100 Mulheres.[4][3]

Referências

  1. a b c d e f g h i Venter, Zelda. «Justice 12 years on for Andy Kawa brutally raped for several hours on Gqeberha beach» (em inglês). Consultado em 26 de dezembro de 2022 
  2. a b «Andisiwe Kawa - User Profile». AGLN - Aspen Global Leadership Network (em inglês). Consultado em 26 de dezembro de 2022 
  3. a b «Who are the 100 Women 2014?». BBC News (em inglês). 26 de outubro de 2014. Consultado em 26 de dezembro de 2022 
  4. a b «100 Women: Who took part?». BBC News (em inglês). 20 de outubro de 2013. Consultado em 26 de dezembro de 2022 
  5. a b «Andy Kawa – Time of the Writer» (em inglês). Consultado em 26 de dezembro de 2022 
  6. a b c «Andy Kawa: In Her Own Words». Carte Blanche - Andy Kawa: In Her Own Words (em inglês). Consultado em 26 de dezembro de 2022 
  7. a b c «Kwanele! Enuf is Enuf - Andy Kawa's Biography». www.kwanele-foundation.org.za. Consultado em 26 de dezembro de 2022 
  8. Bio: Andy Kawa Kwanele. Disponível em: https://www.businessengage.co.za/wp-content/uploads/BIO_Andy-Kawa-Kwanele.pdf Acesso em: 2022-26-12.
  9. Greg (22 de setembro de 2015). «Andy Kawa». CliffCentral (em inglês). Consultado em 26 de dezembro de 2022 
  10. a b Andy Kawa (2020). Kwanele, Enough!: My Battle with the South African Police Service to get Justice for Women (em inglês). Cidade do Cabo: Tafelberg 
  11. «Kwanele, Enough». Readers Warehouse (em inglês). Consultado em 26 de dezembro de 2022 
  12. «Rape survivors speak out». www.ru.ac.za (em inglês). 11 de março de 2014. Consultado em 26 de dezembro de 2022 
  13. Kawa, Andy (2020). Kwanele, Enough!: My Battle with the South African Police Service to Get Justice for Women (em inglês). [S.l.]: Tafelberg 
  14. «They don't care, they don't do their job - rape survivor Andy Kawa slams police». CapeTalk (em inglês). Consultado em 26 de dezembro de 2022 
  15. a b c AlisaAdmin (29 de abril de 2022). «Breathe out: A Big Victory Against Gender Based Violence». Africa Leadership Initiative (em inglês). Consultado em 26 de dezembro de 2022 
  16. Swemmer, Sheena (7 de abril de 2022). «BATTLE FOR JUSTICE OP-ED: ConCourt's Andy Kawa judgment a victory for the rights of gender-based violence victims». Daily Maverick (em inglês). Consultado em 26 de dezembro de 2022 
  17. HarassMap. «Wise 4 Afrika Joins Andy Kawa In Constitutional Court Against SAPS | meta_title_news-view». harassmap.wise4afrika.org. Consultado em 26 de dezembro de 2022 
  18. «ConCourt rules in favour of rape victim- 12 years after Kings Beach ordeal». Jacaranda FM. Consultado em 26 de dezembro de 2022 
  19. Mkhulisi, Mfundekelwa. «Cele ordered to pay up for failing rape victim!». Daily Sun (em inglês). Consultado em 26 de dezembro de 2022 
  20. Legalbrief Africa. «Rape victim urges Ramaphosa intervention in court action». legalbrief.co.za. Consultado em 26 de dezembro de 2022 
  21. https://www.heraldlive.co.za/authors/riaanmarais. «'Police minister Bheki Cele has spat in ConCourt's face'». HeraldLIVE (em inglês). Consultado em 26 de dezembro de 2022 
  22. «2022 - Constitutional Court finds police negligent in gang rape case - Wits University». www.wits.ac.za. Consultado em 26 de dezembro de 2022 
  23. «Quando os estupros vão chocar a África do Sul?». Estadão. Consultado em 26 de dezembro de 2022 

Ver também[editar | editar código-fonte]

Referências