Anita Sirgo

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Anita Sirgo
Nascimento 20 de janeiro de 1930
El Campurru
Morte 15 de janeiro de 2024
Langreo
Cidadania Espanha
Ocupação ativista política
Prêmios
  • Silver Medal of the Principality of Asturias (2003)

Ana Sirgo Suárez, conhecida como Anita Sirgo, (Lada, 20 de Janeiro de 1930 - Langreo, 15 de Janeiro de 2024) foi uma militante comunista espanhola.[1] Desempenhou um papel muito ativo durante a Huelgona de 1962, tendo contribuído de forma significativa para o seu êxito.[1][2] É considerada um emblema da luta operária e antifascista.[3]

Biografia[editar | editar código-fonte]

Primeiros anos[editar | editar código-fonte]

Ana Sirgo Suárez nasceu a 20 de Janeiro de 1930, no seio de uma família de mineiros politicamente comprometidos com o comunismo e sem acesso à educação. Com o fim da Guerra Civil Espanhola e a queda da Segunda República, o seu pai fugiu para as montanhas para se juntar à resistência, enquanto sua mãe ficou detida na prisão de Arnao, destino que também se abateu sobre outros membros da sua família.[1] Suárez foi acolhida pelos seus tios, que a levaram para viver a Andrín, no concelho de Llanes.[4] Aí trabalhou no campo e desde os nove anos de idade trabalhou também de intermediária dos guerrilheiros. Aos doze anos, foi descoberta e detida pela Guarda Civil Espanhola juntamente com outros familiares, entre os quais a sua mãe e o seu tio, Fidel Suárez Campurru. A Guarda Civil também confiscou os móveis de sua casa que, anos mais tarde, haviam de aparecer na sede de Falange.[4] Teve a oportunidade de ver o seu pai pela última vez antes de este ser assassinado em 1947 e enterrado numa vala que ainda não foi localizada.[1] A 26 de Janeiro de 1948, o seu tio morreu juntamente com outros guerrilheiros.[5]

Em 1950, casou-se com Alfonso Braña Castaño, um mineiro na mina Fondón. Ambos começaram a militar de forma mais intensa no Partido Comunista da Espanha.[1]

Greve de 1962[editar | editar código-fonte]

Anita Sirgo ganhou grande parte da sua popularidade pelo seu trabalho durante a chamada Huelgona. Cerca de um mês após o início da greve dos mineiros de 1962, começava a pressentir-se um fracasso, com os mineiros a planearem regressar ao trabalho. Perante esta situação, as mulheres da Bacia Mineira Asturiana decidiram organizar-se e apoiar ativamente a greve, tendo em conta a situação de miséria em que se encontravam. Assim, organizaram piquetes de greve e impediram o acesso dos fura-greves às minas.[1]

Além disso, Anita Sirgo participou de forma decisiva na organização de grupos clandestinos de mulheres durante a greve, contando com a colaboração de mulheres como Tina Pérez ou Celestina Marrom.[4] Estes grupos ocupavam-se, entre outras coisas, de recolher ajuda em forma de alimentos, transmitir mensagens ou distribuir panfletos.[6]

Sirgo participou no encerramento da catedral de Oviedo durante a Greve de 1962 juntamente com cerca de quarenta outras mulheres. Sob o princípio da Resistência não violenta, pretenderam dar visibilidade à luta em todo o território espanhol e chegaram a contar com o apoio do bispo auxiliar da época, Segundo García de la Sierra. O fim do protesto ocorreu após a organização de greves solidárias em países como a França ou a Bélgica.[1]

Retaliações[editar | editar código-fonte]

Pelo seu ativismo durante a greve, Anita Sirgo sofreu os efeitos diretos da repressão política. Foi presa e o seu cabelo foi rapado, prática muito utilizada contra as mulheres durante o período franquista. Todavia, não denunciou nenhum dos seus companheiros de partido. Na prisão, sofreu torturas e ficou surda do ouvido esquerdo após um espancamento de Antonio Caro Leiva, capitão da Guarda Civil.[3] Além disso, o então ministro do regime franquista, Manuel Fraga, gozou publicamente com ela e chegou a negar as torturas e espancamentos.[1]

Após a greve[editar | editar código-fonte]

Após a sua prisão e depois de ter sido identificada pela Guardia Civil, Anita Sirgo foi forçada ao exílio em Paris juntamente com outros membros do Partido Comunista, entre eles Santiago Carrillo. Aprendeu a ler e a escrever durante o tempo em que permaneceu no exílio, enquanto, nessa mesma altura era procurada na Bacia Mineira Asturiana. Após dois anos de exílio e diante da impotência de não poder colaborar com a luta operária, em 1966, Sirgo decidiu voltar às Astúrias com o consentimento do Partido. Já em Oviedo, foi intimada e detida por razões militares e passou quatro meses na prisão, um dos quais por se ter recusado a pagar uma multa de 100.000 pesetas.[1][4] 

Em 2013 foi uma das signatárias da causa contra os crimes do franquismo investigados pela juíza argentina Maria Romilda Servini. No ano seguinte, manifestou-se com o Trem da Liberdade e com as Marchas da Dignidade.[7]

Anita Sirgo faleceu a 15 de janeiro de 2024.[8][9]

Outros actos e episódios[editar | editar código-fonte]

Sirgo conta muitas vezes que, durante a Huelgona, atirava espigas de milho aos fura-greves, como ela dizia, "para os chamar galinhas".[3] Conta também que, quando vários amigos se juntavam, colocavam uma cafeteira vazia em cima da mesa para que a situação parecesse simplesmente um encontro de amigos para tomar café, evitando assim as suspeitas da Polícia secreta.[1]

Reconhecimentos e aparições na cultura popular[editar | editar código-fonte]

  • Anita Sirgo e sua companheira Constantina Pérez têm uma rua que lhes é dedicada em Gijón.[10]
  • Aparece como personagem no Comics Los llazos Colorados de Alberto Vázquez García.[3]
  • O Curta-metragem A golpe de tacão da diretora asturiana Amanda Castro é baseada em Anita Sirgo e em sua companheira, Tina Pérez.[2]
  • Anita Sirgo foi agraciada com prémios que reconheceram a sua luta antifascista, nomeadamente:

Referências[editar | editar código-fonte]

  1. a b c d e f g h i j Anita Sirgo: «Nosotras creíamos en la lucha y en por qué luchábamos. Hoy no se cree». Consultado el 10 de mayo de 2019.
  2. a b Anita Sirgo, con los suyos Consultado el 10 de mayo de 2019.
  3. a b c d Y Anita Sirgo se hizo cómic Consultado el 10 de mayo de 2019.
  4. a b c d Las mujeres que pararon dos meses a Franco Consultado el 18 de mayo de 2019.
  5. Gómez Fouz 1999, p. 70.
  6. Anita Sirgo: "Nosotros luchamos y conseguimos cosas durante el franquismo, y eso que teníamos una pistola detrás", Consultado el 11 de mayo de 2019.
  7. Anita Sirgo,la guerrillera del tacón, Consultado el 11 de mayo de 2019.
  8. Muere a los 93 años Anita Sirgo, emblema de la lucha antifascista Consultado el 15 de enero de 2024.
  9. Fanjul, Sergio C. (15 de janeiro de 2024). «Muere a los 93 años Anita Sirgo, emblema de la lucha antifranquista en las cuencas mineras asturianas». El País (em espanhol). Consultado em 16 de janeiro de 2024 
  10. Calle Constantina Pérez y Anita Sirgo, Consultado el 11 de mayo de 2019.
  11. Anita Sirgo: «Queda mucho por lo que luchar, nada se conquista desde el sofá», Consultado el 11 de mayo de 2019.
  12. Anita Sirgo, premio de la Cultural a la lucha de la mujer de posguerra, Consultado el 11 de mayo de 2019.
  13. Anita Sirgo y Carmen García Pellón recibirán el XI Premio Pozu Fortuna a la memoria histórica Consultado el 9 de septiembre de 2019.
  14. Anita Sirgo y Carmen García Pellón, premio Pozu Fortuna Consultado el 9 de septiembre de 2019.

Bibliografia[editar | editar código-fonte]

  • Gómez Fouz, José Ramón (1999). «Capítulo 5. Años 1962 y 1963. La Gran Huelga. Llegada del capitán Caro». Clandestinos (PDF) (em castellano). Oviedo: Pentalfa (Biblioteca asturianista). pp. 60–80. ISBN 84-7848-499-X