Caso Daniel Campelo

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Caso Daniel Campelo
Local do crime Recife, Pernambuco, Brasil
Data 29 de junho de 2021
Tipo de crime Violência policial e recusa de socorro
Arma(s) Escopeta municiada com balas de borracha
Vítimas Daniel Campelo da Silva
Réu(s) Polícia Militar de Pernambuco
Situação Em andamento
Consequência 16 policiais militares foram afastados e foram realocados para serviços administrativos

O Caso Daniel Campelo foi um episódio de violência policial ocorrido no dia 29 de junho de 2021 com o adesivador Daniel Campelo da Silva, que havia 51 anos durante um protesto na cidade de Recife, no Brasil. Daniel teve perda de visão do olho esquerdo após ser atingido por uma bala de borracha enquanto passava próximo a um protesto contra o governo do então presidente Jair Bolsonaro. Daniel não estava participando da manifestação, casualmente estava voltando para casa após comprar itens para seu trabalho.[1][2]

A manifestação[editar | editar código-fonte]

As manifestações contra o governo Bolsonaro e pela vacina e para apoiar a CPI que investiga a COVID no dia 29 de junho de 2021 foram marcadas pela internet e estavam acontecendo simultaneamente em todos os estados do Brasil, sendo em suas capitais e/ou em cidades importantes, 210 cidades brasileiras relataram manifestações contra o governo. Houve manifestações contra o governo Bolsonaro em outros 14 países.[3]

A manifestação a onde o caso em questão ocorreu foi na cidade do Recife em Pernambuco, a manifestação transcorria de maneira pacífica até que o batalhão de choque da policia militar de Pernambuco chegou ao local e dispersou os manifestantes de maneira agressiva utilizando granadas de efeito moral, spray de pimenta e balas de borracha.[1][4][5]

O caso[editar | editar código-fonte]

O incidente[editar | editar código-fonte]

Daniel Campelo da Silva de 51 anos estava procurando por materiais gráficos para seu trabalho, quando resolveu passar pela manifestação até o momento pacifica, os manifestantes não impediram a passagem do mesmo e ele seguia para seu rumo quando o tumulto começou.[6]

Os policiais começaram a atirar de forma irresponsável contra os manifestantes, percebendo a confusão e evitando ser baleado, Daniel levantou seus braços em forma de um sinal universal de rendição. Então os policiais atiraram e atingiram o mesmo, ao levar o tiro, Daniel caiu no chão e lá ficou até que outros manifestantes ajudassem ele a se levantar.[7][8]

Recusa ao socorro[editar | editar código-fonte]

Durante o socorro á Daniel, manifestantes que voltaram para ajudar o mesmo a se levantar e continuar andando foram atingidos com disparos de balas de borracha, os manifestantes em questão ergueram as mãos para sinalizar novamente que estavam desarmados e não procuravam conflito, porem os policiais continuaram a disparar até que os manifestantes conseguissem levar Daniel á uma área segura, os manifestantes em questão não tiveram ferimentos graves.

Os manifestantes abordaram uma viatura da PM que recusou a socorrer Daniel ao hospital, os mesmos desceram da viatura na qual eles estavam, ouviram os manifestantes porem ignoraram o pedido de ajuda, assim deixando mais complicado o socorro a Daniel tendo em vista o alto tráfego que estava ocorrendo por conta da manifestação. A ajuda da policia militar iria facilitar o transporte de Daniel e uma chegada mais rápida ao hospital.[9][10]

Outro lado[editar | editar código-fonte]

A policia militar informou que foi acionada para dispersar os manifestantes pois os mesmos não estavam cumprindo as ordens de distanciamento social emitidas durante um decreto da prefeitura. A policia militar negou imperícia por parte dos policiais e foram abertos inquéritos para investigação dos fatos, ao todo 16 policiais militares foram afastados de suas funções na rua, entre eles 3 oficiais e 13 praças.[11][12]

Outros atos de violência[editar | editar código-fonte]

Lina Cirne[editar | editar código-fonte]

A vereadora Lina Cirne do PT, tendo uma imagem de autoridade no local, foi até os policiais negociar sobre a ação tomada pelo grupamento de choque, porem ao se aproximar para conversar sobre o método utilizado para dispersão dos manifestantes assim tentando pacificamente preservar os manifestantes e os policiais, a vereadora foi atacada com spray de pimenta nos olhos. A vereadora não sofreu ferimentos graves, apenas ficou desnorteada e foi socorrida pelos próprios manifestantes.

Porem o spray de pimenta é uma arma potencialmente letal que deve ser utilizada apenas em últimos casos. O spray de pimenta pode irritar a mucosa da garganta e assim gerar uma inflamação que pode ser fatal, e caso o uso for exagerado nos olhos pode levar a cegueira temporária ou permanente. O risco é duplicado caso a vitima tenha alguma alergia preexistente a pimentas, assim podendo causar um choque anafilático.[13][14]

Jonas Correa de França[editar | editar código-fonte]

Jonas Correa de França de 21 anos estava participando da manifestação até o momento pacifica, quando foi atingido por uma bala de borracha no olho direito, no caso de Jonas não fica claro o grau de comprometimento da visão do mesmo, porem após passar por uma avaliação médica, Jonas descobriu que pode perder parte ou completamente a visão do olho direito.[15][16]

Uso político das forças de segurança[editar | editar código-fonte]

O uso político da Polícia Militar foi questionado desde o início da ação agressiva da polícia contra os manifestantes, tendo em vista que, mesmo se manifestando, todos os manifestantes estavam pacíficos e utilizavam máscaras, e também procuravam manter uma distância de segurança para evitar contágio por COVID-19. O uso da força policial não foi proporcional quando os manifestantes eram a favor do governo Bolsonaro pois, além de se aglomerarem, grande parte dos manifestantes era contrária ao uso de máscara e não as estava utilizando.

Após investigações, um documento revelou que o principal mandante dos atos violentos na manifestação foi um coronel da policia militar que era apoiador do governo Bolsonaro, assim ficando cada vez mais evidente o uso político das forças de segurança do estado de Pernambuco.[17][18][19]

Referências

  1. a b «Em Recife, homem fica cego de olho após ser atingido por bala de borracha». Revista Cenarium. 29 de maio de 2021. Consultado em 8 de junho de 2021 
  2. «Atingidos por balas de borracha, dois homens perdem visão após ação da PM em ato contra Bolsonaro no Recife». Folha de S.Paulo. 30 de maio de 2021. Consultado em 8 de junho de 2021 
  3. «Esquerda marca para dia 19 novos atos contra Bolsonaro, incorpora 'não vai ter Copa' e prevê mais ações». Folha de S.Paulo. 2 de junho de 2021. Consultado em 8 de junho de 2021 
  4. «Vídeos mostram como foi a repressão da PM a protesto pacífico no Recife com balas de borracha e gás lacrimogêneo». G1. Consultado em 8 de junho de 2021 
  5. «Repressão em Pernambuco acende alerta e movimentos falam em "fascistização" da PM». Brasil de Fato. Consultado em 8 de junho de 2021 
  6. «Alheio ao protesto, homem atingido por bala de borracha perde a visão». www.folhape.com.br. Consultado em 8 de junho de 2021 
  7. «'Estou emocionalmente desestruturado', diz vítima de bala de borracha disparada pela PM em manifestação no Recife». G1. Consultado em 8 de junho de 2021 
  8. «Atingido por bala de borracha da PM em Pernambuco perde o olho». R7.com. 30 de maio de 2021. Consultado em 8 de junho de 2021 
  9. Araujo, Pedro Zambarda de (3 de junho de 2021). «VÍDEO: PMs negam socorro ao homem que perdeu olho ao ser atingido por bala de borracha em Recife». Diário do Centro do Mundo. Consultado em 8 de junho de 2021 
  10. «VÍDEO: policiais negam socorro a homem que perdeu olho ao ser atingido por bala de borracha em protesto pacífico». G1. Consultado em 8 de junho de 2021 
  11. «Sobe de oito para 16 número PMs afastados após ação violenta durante protesto no Recife». G1. Consultado em 8 de junho de 2021 
  12. Moraes, Katarina (3 de junho de 2021). «PM que atirou no olho de homem em protesto no Recife é afastado, diz secretário da SDS». JC. Consultado em 8 de junho de 2021 
  13. «'Não foi uma ação de dispersão, foi uma ação de violência', diz vereadora do Recife agredida com spray de pimenta pela PM durante protesto». G1. Consultado em 8 de junho de 2021 
  14. «Vereadora do Recife é agredida com spray de pimenta pela PM durante protesto contra Bolsonaro; veja vídeo». G1. Consultado em 8 de junho de 2021 
  15. «Homem que perdeu a visão de olho atingido por bala de borracha da PM durante protesto pacífico no Recife deixa hospital». G1. Consultado em 8 de junho de 2021 
  16. «Governo de PE afasta PM que atingiu olho de homem com bala de borracha em protesto no Recife». G1. Consultado em 8 de junho de 2021 
  17. Nordeste, Do Jornal do Commercio, da Rede (6 de junho de 2021). «Comando geral da PM deu ordem para ataque a manifestantes em Recife, diz documento». Jornal Correio. Consultado em 8 de junho de 2021 
  18. Azevedo, Margarida (6 de junho de 2021). «PM não se pronuncia sobre documento que detalha de quem teria partido ordem para reprimir protesto no Recife». JC. Consultado em 8 de junho de 2021 
  19. Pernambuco, Diario de; Pernambuco, Diario de (5 de junho de 2021). «Documento da PMPE revela detalhes e envolvidos na dispersao de protesto contra Bolsonaro». Diario de Pernambuco. Consultado em 8 de junho de 2021