Cleodon Silva

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Cleodon Silva

Cleodon Silva
Nome completo Cleodon Silva
Outros nomes Pedro Macambira
Conhecido(a) por Silva
Nascimento 8 de outubro de 1949
Garanhuns, Pernambuco, Brasil
Morte 7 de junho de 2011 (61 anos)
São Paulo, Brasil
Ocupação Escritor, ex-metalúrgico, ex-sindicalista,

Profissional de TI, Empreendedor Social, Fundador de ONGs

Cleodon Silva, conhecido como Silva (Garanhuns, 8 de outubro de 1949 — São Paulo, 7 de junho de 2011), foi um escritor, operário, militante das causas sociais e grande vetor da cultura livre.[1] Participou do movimento operário de São Paulo, na liderança da oposição metalúrgica, e da resistência ao regime militar. Nessa linha, atuou durante 20 anos no movimento sindical, coordenando a Oposição Sindical Metalúrgica de São Paulo/Capital, além de ter sido dirigente da CUT Metropolitana e da CUT Estadual de São Paulo.[2] Apesar de sua forte atuação dentro de um sindicato, também lutava contra a própria estrutura sindical, em prol da destruição da mesma. Para isso, atuava dentro e fora do

Diversos coletivos de cultura e tecnologia tiveram grande influencia de Cleodon Silva. Dentre outras atividades, fundou e presidiu o Instituto Lidas para fornecer informação e ferramentas aos cidadãos para auxiá-los em sua participação na vida cívica.[2] Também atuou em parceria direta com a associação Casa dos Meninos, ponto de cultura que prioriza ações relacionadas às crianças e adolescentes, tendo sido um de seus principais dirigentes.[2][3] Um coletivo de desenvolvimento de software livre, o Lab Macambira, foi fundado em sua memória — Pedro Macambira era o nome usado por Silva em seus panfletos e cordéis à classe trabalhadora.[4]

Biografia[editar | editar código-fonte]

Cleodon Silva nasceu em 1949, no dia 8 de agosto, dia do guerrilheiro, na cidade de Garanhuns em Pernambuco, também a terra natal do ex-presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva. Foi desde o início fortemente influenciado por seu pai, que o ensinou a importância de ser um indivíduo autônomo.[5] Apesar de ter vindo de uma família humílde, Silva seguiu para estudar em uma escola particular, por ter conquistado uma bolsa de estudos. No entanto, sofreu muita discriminação por conta do contraste entre classes sociais.

Silva iniciou sua militância política muito jovem.[6] Enquanto estava criando o primeiro conselho estudantil de sua escola secundária, o golpe militar de 1964 ocorreu no Brasil. Apesar da violência disseminada pelo estado, ele criou um boletim de notícias para expor os abusos governamentais mas, por medo, seus pais rapidamente o impediram.[5]

Silva Na Greve de 1978

Cleodon foi a São Paulo em 1971, fugindo da perseguição política da ditadura militar, quando entrou na luta sindical através da Oposição Sindical Metalúrgica de São Paulo, contribuindo com a OSM-SP (Oposição Sindical Metalúrgica) ao empregar princípios políticos adquiridos na sua militância na POLOP (Politíca Operária).[7] Defensor persistente da autonomia sindical e da construção da luta dos trabalhadores no local de trabalho, Silva teve participação importante nas greves de 1978 e 1979. Tornou-se um dos diversos líderes das grandes greves de São Paulo no final dos anos 1970 e início dos anos 1980, na mesma época em que o ex-presidente da república, Luiz Inácio Lula da Silva, encabeçava batalhas similares no nordeste brasileiro.[5][6]

Ele achava necessário um grande processo de educação política para se desenvolver um entendimento sobre causas da luta operária pelos próprios trabalhadores, os quais eram em boa parte de origem nordestina e campesina.[6] Para esse fim, também divulgou com êxito suas ideias com os 12 cordéis de Pedro Macambira[4], destinados à classe operaria e distribuídos pela capital inteira, em 12 ocasiões de luta operária. Também trabalhou na monark por volta de 1982.[6]

A partir do final da década de 80, dedicou-se ao Instituto Lidas e à associação Casa dos Meninos.[8] Cleodon criou o Instituto Lidas em 1988 com o objetivo de mapear os conhecimentos existentes nas cidades ao coletar e agregar informações e indicadores científicos e oficiais e contrastá-los com os saberes produzidos pelas comunidades locais. O Lidas desenvolve uma concepção inédita que divide os territórios urbanos em áreas de vivência, subunidades mais próximas dos cidadãos de acordo com seus critérios de pertencimento e de uso dos espaços, as UPPs: Unidades de Planejamento Participativo. Em 1992, Silva iniciou a criação do primeiro sistema de geoprocessamento com o objetivo de organização espacial dos trabalhadores, especialmente os jovens, cruzando os dados oficiais de cidades com os conhecimentos locais produzidos pelas comunidades.[1][9] Tal sistema seria, mais tarde, baseado tecnologias de dados abertos e software livre, em parceria com Renato Fabbri do futuro Lab Macambira[10] e outros coletivos.

Ao final de sua vida, foi eleito em 2010 como Ashoka Fellow,[5] recebendo suporte e financiamento dessa entidade para suas atividades. Cleodon Silva faleceu aos 61 anos, deixando 3 filhos (dentre eles, Inaê, do Instituto Lidas) e sua esposa Rosângela Batistoni, ex-diretora da Faculdade de Serviço Social da PUC-SP.[1][7] [11]

Software livre e geoprocessamento[editar | editar código-fonte]

Após se afastar do movimento sindical, Silva encontrou na internet e nas novas tecnologias uma maneira de catalisar e democratizar lutas antigas. Viu a nova geração como aquela da internet, do domínio das informações do território, da conferência (ou debate) permanente dos direitos do cidadão.[12][13] Também via o software livre como um instrumento da luta de libertação através do acesso e efetivação da tecnologia por qualquer indivíduo.[14]

Silva iniciou o desenvolvimento de uma experiência inédita, na qual utiliza técnicas de geoprocessamento e novas ferramentas da informática para viabilizar o fortalecimento da sociedade civil e uma melhor apropriação da cidade por parte dos cidadãos. O grande diferencial deste seu trabalho, além da utilização de ferramentas modernas de computação, é sua proposta de uma nova divisão territorial da cidade de São Paulo. Segundo Cleodon, a atual divisão de São Paulo em distritos não viabiliza uma apropriação do espaço pela população local, servindo de referência apenas para técnicos e estudiosos. Assim sendo, Cleodon foi um dos responsáveis pela divisão de todos os distritos de São Paulo nas chamadas unidades planejamento participativo (UPPs).[15] A área coberta por uma UPP é determinada de acordo com a forma com que a maioria dos cidadãos em uma dada parte da cidade interage com seu ambiente.[5]

Com base nessas unidades urbanas, o Cleodon e o instituto Lidas desenvolveram uma plataforma online e uma metodoligia associada, a Base Comum de Conhecimento Cidadão (BCCC). Usando técnicas de georeferenciamento e software livre, esse espaço on-line agrega vários dados sobre cada UPP, ao mesmo tempo tornando isso visualmente fácil de compreender e absorver. Qualquer um pode adicionar, editar, e compartilhar informação que possa ser relevante para suas comunidades ou para a cidade como um todo.[5]

Silva durante Palestra a Jovens

Silva trabalhou no treinamento de jovens entre 16 e 29 anos na ferramenta BCCC. Como resultado, ajudou a criar a COOPLURB — a coperativa de logística urbana — com esses jovens, que começaram a usar as UPPs e a BCCC para gerar modelo de negócios de baixo custo para pequenas e médias empresas que procuram se estabelecer em vizinhanças mais pobres. Desde então, o escopo do trabalho foi ampliado de forma a afetar a vida pública em diversos aspectos, como os direitos das crianças e dos adolescentes[16] e para facilitar o trabalho de coletivos não-governamentais.

É através da BCCC que a informação pode ser acessada por todos os cidadãos. Tudo o que qualquer poessoa precisa fazer é entrar um endereço específico e um código postal para descobrir a qual das 270 UPPs ela pertence e para ter acesso a uma quantidade crescente de informação relevante. Cleodon, assim, pretendia tornar dados sutis e dissimulados em conhecimento concreto e colaborativo. Além disso, o BCCC procurou tornar mais difícil a manipulação desses dados públicos por entidades governamentais, ao mesmo tempo em que democratiza o acesso à informação. Cleodon ofereceu muitos workshops e experiência de campo para ajudar indivíduos a aplicar o BCCC.

Em sua parceria com a associação Casa dos Meninos, Cleodon, junto ao Lidas, trabalhou em 2001 com 30 jovens morando em M'Boi Mirim — uma das partes mais desprivilegiadas de São Paulo — para criar um mapa digital da área em que viviam. Iniciando com dados oficiais, eles desenvolveram indicadores locais relacionando coisas como o número de crianças entre 0 e 6 anos, o número de chefes-de-família desempregados, ou o estado de pequenos negócios nas 270 UPPs. Também mapearam a localização de escolas, creches, centros comunitários, hospitais, centros de saúde, coletivos culturais, dentre outros.[9] Não apenas isso foi de utilidade para legitimar demandas de cidadãos, mas também de ajuda ao poder público por eriquecer dados existentes e fornecer novos dados e visualizações úteis para o planejamento de políticas públicas, inclusive associadas a pontos de cultura.

Plataforma Conferência Permanente dos Direitos da Criança e do Adolescente [16]

Um dos últimos projetos de Cleodon na linha da metodologia BCCC foi a Plataforma para conferências permanentes dos Direitos da Criança e do Adolescente de São Paulo, cuja teconologia web foi desenvolvida por Renato Fabbri.[16] Uma nova versão continua sendo desenvolvida no Lab Macambira, um coletivo de desenvolvimento de software livre criado em homenagem a Cleodon Silva, com base em seu pseudônimo Pedro Macambira, junto ao Pontão Nós Digitais e a Teia Casa de Criação.[17] [18] Neste espaço online podem-se discutir os direitos, avaliar as políticas públicas e mobilizar a sociedade para melhorias. Esse trabalho foi realizado através de demanda levantada pela própria sociedade civil para possibilitar um diagnóstico efetivo das problemáticas que afetam a população infantojuvenil. O CMDCA (Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente) de São Paulo deliberou que o cadastro nesta plataforma será obrigatório para a participação das conferências municipais.[19]

Referências

  1. a b c «O adeus a Cleodon Silva, militante das causas sociais». Consultado em 15 de dezembro de 2011. Arquivado do original em 3 de julho de 2011 
  2. a b c Morre Coordenador do Instituto Lidas[ligação inativa]
  3. Associação Civil Cidadania Brasil, Luto na Casa dos Meninos Arquivado em 3 de março de 2016, no Wayback Machine., 8 de Julho de 2011
  4. a b Pedro Macambira (Cleodon Silva), Cordéis de Pedro Macambira Arquivado em 12 de novembro de 2010, no Wayback Machine.
  5. a b c d e f Ashoka Profile of Fellow Cleodon Silva, 2010
  6. a b c d Erro de citação: Etiqueta <ref> inválida; não foi fornecido texto para as refs de nome homenagem
  7. a b Maria Rosângela Batistoni (2010). Confronto Operário:A Oposição Sindical Metalúrgica nas greves e comissões de fábrica de São Paulo (1978—1980). [S.l.]: Núcleo Piratininga de Comunicação 
  8. Instituto Lidas
  9. a b «Perfil Resumido na rede ASHOKA». Consultado em 15 de dezembro de 2011. Arquivado do original em 15 de novembro de 2011 
  10. Lab Macambira, coletivo para o desenvolvimento de software livre de alta demanda social
  11. Cleodon Silva, Presente![ligação inativa]
  12. Equipe Lidas e Casa dos Meninos, Em Nome da Luta do Companheiro Cleodon Silva Arquivado em 3 de março de 2016, no Wayback Machine., 2011
  13. Cleodon Silva, A Internet e seus Territórios Livres, roda de prosa, 2010
  14. Cleodon Silva, A Revolução Digital pelo Sofware Livre, roda de prosa, 2010
  15. Entrevista à Revista IntegrAção[ligação inativa]
  16. a b c Renato Fabbri, Lab Macambira, et. al., Conferência Permanente dos Direitos da Criança e do Adolescente, 2011
  17. Equipe Lab Macambira, Página de Desenvolvimento da Plataforma Conferência Permanente, 2011
  18. Software Livre Criado pela Equipe Lab Macambira
  19. Equipe Lab Macambira, Tecnologias Sociais de Alta Demanda[ligação inativa], 2011

Ligações Externas[editar | editar código-fonte]