Coudelaria de Alter

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Vista aérea da Coudelaria de Alter

A Coudelaria de Alter é uma instituição agropecuária propriedade do Estado português cujo objectivo principal é a criação de cavalos da raça Puro-sangue lusitano, em especial da linhagem Alter Real, sendo gerida atualmente, numa concessão pelo prazo de 30 anos,[1] pela Companhia das Lezírias.[2][3]

A Coudelaria de Alter foi criada em 1748, no reinado de D. João V, em consonância com a moda europeia, tendo em vista o abastecimento da Picaria Real com cavalos de sela, de Alta Escola, de produção nacional.[4]

A Coudelaria de Alter foi instalada na Coutada do Arneiro, no município de Alter do Chão, que era propriedade da Casa de Bragança, sendo a mais antiga e notável coudelaria portuguesa e, a nível mundial, a que há mais tempo funciona ininterruptamente no local original.[4]

Foi no reinado de D. José I que foi concretizada a instalação e estruturação da Coudelaria de Alter, tendo o núcleo inicial da manada sido constituído por éguas na maioria adquiridas em Espanha.[4]

No processo de alargamento da área de pastoreio foi criado, no final de 1757, o potril da Azambuja como estrutura complementar da Coudelaria de Alter para a recria dos poldros após a desmama.[4]

História[editar | editar código-fonte]

No período de 1770 a 1800 a Picaria Real atingiu o seu maior esplendor, para o que muito contribuiu a ação do estribeiro-mor do reino, D. Pedro de Meneses, 4º Marquês de Marialva.[nota 1][4]

Em 1787 a rainha D. Maria I decidiu a criação de um novo picadeiro, mais consentâneo com a presença de damas, tendo sido de imediato iniciada a sua construção. O novo picadeiro, em estilo Neoclássico, foi inaugurado em 1793, e foi mais tarde utilizado como Museu Nacional dos Coches.

Os cavalos Alter Real são utilizados no picadeiro e nos cortejos de Gala, espelho do poder e grandeza da Corte e do País. Na Estátua equestre de D. José I, obra de Machado de Castro, de 1775, o cavalo representado é um Alter-Real, o Gentil.[4]

No decurso do século XIX, a instabilidade da vida do país reflecte-se na atividade da Coudelaria de Alter, tendo passado de 1842 a 1910 por grandes dificuldades. Nesta época optou-se por cruzamentos, tendo por objectivo, num primeiro tempo, a criação de cavalos de tiro e, depois, a criação de cavalos de corrida, levando à secundarização do Alter Real. Atendendo aos maus resultados obtidos com os cruzamentos na manada de Alter, a partir de 1876 voltaram a ser utilizados reprodutores Alter Real.[4]

Com a proclamação da República e com a nacionalização dos bens da coroa, a Coudelaria de Alter foi inserida, em Março de 1911, no Ministério da Guerra, passando a Coudelaria Militar. Foram desenvolvidos com persistência cruzamentos absorvendo o Alter Real e produzindo cavalos de desporto. Em 1939, face à crescente mecanização das forças armadas, são extintos os serviços de fomento hípico do Ministério da Guerra.[4]

Em 1942, a Coudelaria Militar foi extinta e as propriedades e a manada foram integradas no Ministério da Economia, passando a Coudelaria de Alter para a tutela da Direcção Geral dos Serviços Pecuários. O objectivo da actividade passa então a ser a recuperação da raça Alter Real, que se encontrava quase em extinção, o que se realiza a partir de 11 éguas e 3 garanhões. Foi com base nas éguas, as únicas Alter Real puras recebidas da Coudelaria Militar e três reprodutores - “Regedor” e “Vigilante” [nota 2] e “Marialva II”[nota 3], que até 1979 se conseguiu obter a recuperação do Alter Real.[4]

A partir de 1980 desenvolve-se um trabalho constante de especialização do Cavalo Alter Real em Alta Escola o que foi plenamente atingido a partir do lançamento, em 1979, da Escola Portuguesa de Arte Equestre, na sequência do que fora a Picaria Real.[4]

Em 1996 são tomadas medidas de intensificação da actividade da Coudelaria de Alter através do Programa de Desenvolvimento Integrado, que vigorou até 2006. Em 2007 a Coudelaria de Alter é integrada na Fundação Alter Real, mantendo a sua missão de fundo de criação e valorização do cavalo Lusitano Alter Real.[4]

A 2 de Agosto de 2013, a Coudelaria de Alter passa a ser gerida pela Companhia das Lezírias, SA, tendo-lhe sido atribuída através de delegação de competências de serviço público, a preservação do património genético animal da raça lusitana, quer na linha genética da Coudelaria Nacional, quer na linha Alter Real.[4]

Notas

  1. É nesta época a edição, em 1790, de Luz da Liberal e Nobre Arte da Cavallaria da autoria de Manoel Carlos de Andrade, picador da Picaria Real.
  2. Reprodutores adquiridos em leilão em 1938 pelo Dr. Ruy D’Andrade que os cede ao estado
  3. Proveniente da Coudelaria do Dr. Fontes Pereira de Melo, na qual sempre imperou sangue Alter Real

Referências

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