Envenenamento por cerveja em Moçambique

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Envenenamento por cerveja em Moçambique
Data 9 de janeiro de 2015
Local Funeral
Localização Tete, Moçambique
Coordenadas 15° 44′ 13″ S, 32° 46′ 19″ L[1]
Causa Cerveja contaminada, Burkholderia gladioli, ácido bongcréquico, toxoflavina.
Primeiro repórter Rádio Moçambique
Mortes 75
Lesões não-fatais Mais de 230[2]

O envenenamento por cerveja em Moçambique ocorreu quando, em 9 de janeiro de 2015, 75 pessoas morreram e 230 foram hospitalizadas após beberem cerveja contaminada em um funeral na localidade de Chitima, província de Tete, em Moçambique, dois dias antes.[3][2] Todas as pessoas afetadas haviam consumido a cerveja local, pombe, em 9 de janeiro, contaminada com a bactéria Burkholderia gladioli, que produz o composto tóxico ácido bongcréquico.[2]

As primeiras especulações sobre a fonte da doença por funcionários de Moçambique culparam a bile do crocodilo.[4] No entanto, um artigo da revista Forbes se opôs a esta hipótese e aponta para a planta dedaleira (Digitalis purpurea) como a fonte provável fonte do veneno.[5] Somente em novembro de 2015 foi determinado que as mortes e doenças eram resultado da contaminação bacteriana da cerveja.[6]

Envenenamento[editar | editar código-fonte]

Homem em 1967 bebendo pombe, uma bebida fermentada tradicional

A Rádio Moçambique informou que 69 pessoas morreram nas aldeias de Chitima e Songo, ambas na província de Tete. Após um funeral, 196 foram hospitalizados em 9 de janeiro na parte ocidental do país. Os afetados consumiram cerveja pombe caseira, uma bebida fermentada tradicional feita de sorgo, farelo, milho e açúcar com fermento Schizosaccharomyces pombe, que não é o mesmo fermento usado na fabricação de cerveja no estilo ocidental.[5]

Entre os primeiros mortos relatados no dia seguinte estavam a dona do balcão, dois de seus parentes e quatro vizinhos. Paula Bernardo, diretora de Saúde, Mulheres e Ação Social da região de Cahora Bassa, disse que os hospitais da região foram inundados com pessoas que sofrem de cãibras e diarreia e que mais pessoas morreram.[5] Em 12 de janeiro, 196 pessoas permaneceram hospitalizadas, mas esse número caiu para 35 em 13 de janeiro.[7] O presidente Armando Guebuza anunciou três dias de luto nacional.[8]

Investigação[editar | editar código-fonte]

Os primeiros relatórios sugeriram que a cerveja havia sido envenenada com "bile de crocodilo", conhecida e vendida por praticantes locais como "nduru".[9][10] Uma teoria alternativa inicial, apresentada na revista Forbes online, sugeria que o ingrediente ativo desses envenenamentos talvez fosse um glicosídeo cardíaco, como a digoxina Digitalis purpurea, a variedade de flores de dedaleira que é a fonte normal de digoxina, tornou-se comum na área após a introdução pelos colonizadores europeus;[5] a espécie dedaleira nativa da África, Ceratotheca triloba, se assemelha à planta venenosa, mas não estão relacionados.[11]

No artigo da Forbes, David Kroll supõe que, embora os moradores locais tenham a reputação de que a bile de crocodilo seja altamente tóxica, isso é quase certamente falso. A bile do crocodilo se assemelha à bile dos mamíferos, que é universalmente encontrada no trato digestivo de todos os animais superiores. Os ratos alimentados com extratos da bile experimentalmente não morreram, e as fazendas locais de crocodilos secaram e venderam a bile para exportação para o Extremo Oriente para uso na medicina tradicional chinesa.[5]

Amostras da cerveja, sangue e objetos suspeitos encontrados dentro do tambor foram enviados para análise no Laboratório Nacional.[4][8] A investigação sobre a causa do envenenamento acabou revelando a presença da bactéria Burkholderia gladioli e duas toxinas produzidas por ela, o ácido bongcréquico e toxoflavina,[12] tanto na cerveja quanto na farinha de milho usada para ajudar na fermentação, e concluíram que essas foram responsáveis pelas mortes e doenças.[2][6]

Veja também[editar | editar código-fonte]

Referências

  1. «Where is Chitima in Tete, Mozambique Located?». GoMapper. N.d. Consultado em 22 de janeiro de 2015. Cópia arquivada em 22 de janeiro de 2015 
  2. a b c d Gudo, Eduardo Samo; Cook, Kyla; Kasper, Amelia M; Vergara, Alfredo; Salomão, Cristolde; Oliveira, Fernanda; Ismael, Hamida; Saeze, Cristovão; Mosse, Carla; Fernandes, Quinhas; Viegas, Sofia Omar; Baltazar, Cynthia S; Doyle, Timothy J; Yard, Ellen; Steck, Alaina; Serret, Mayda; Falconer, Travis M; Kern, Sara E; Brzezinski, Jennifer L; Turner, James A; Boyd, Brian L; Jani, Ilesh V (2018). «Description of a Mass Poisoning in a Rural District in Mozambique: The First Documented Bongkrekic Acid Poisoning in Africa» (PDF). Clinical Infectious Diseases. 66 (9): 1400–1406. PMC 5908738Acessível livremente. PMID 29155976. doi:10.1093/cid/cix1005 
  3. Exame, ed. (12 de janeiro de 2015). «Consumo de cerveja caseira contaminada mata 69 em Moçambique». Consultado em 16 de janeiro de 2015 
  4. a b «'Crocodile poison' beer kills nearly 70 at funeral in Mozambique». rt.com. Reuters 
  5. a b c d e Kroll, David (12 de janeiro de 2015). «Did Crocodile Bile In Beer Really Kill 69 People In Mozambique?». Forbes. Consultado em 13 de janeiro de 2015 
  6. a b «Mozambique: Mass Poisoning Caused By Bacterial Contamination». AllAfrica. 4 de novembro de 2015. Consultado em 18 de dezembro de 2018 
  7. Camillo, Emmanuel. Death Toll Rises to 72 From Contaminated Beer in Mozambique (13 de janeiro de 2015). AP News. Consultado em 19 de março de 2020.
  8. a b «Bad Beer Kills At Least 69 People, Hospitalizes 169 in Mozambique». NBC News. Reuters 
  9. «69 Dead After Drinking Crocodile Bile Poison Beer» (em inglês) 
  10. «At least 72 in Mozambique are dead after drinking 'poisoned' beer. Is crocodile bile to blame?» (em inglês) 
  11. «Flora of Botswana: Species information: Ceratotheca triloba» 
  12. «Moçambique divulga relatório sobre mortes do caso Chitima». ONU News. 6 de novembro de 2015. Consultado em 19 de março de 2020