Feira das Colheitas

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A Feira das Colheitas, em Arouca, é um evento anual que se realiza em Arouca.

Foi idealizado e fundado por António de Almeida Brandão[1] no ano de 1944 (na altura em que era gerente do Grémio da Lavoura de Arouca e presidente da Câmara Municipal de Arouca[2]), organizado e fomentado pela iniciativa estrutural de António de Almeida Brandão [3] a partir do Grémio da Lavoura de Arouca (do qual António de Almeida Brandão, alguns anos mais tarde, também foi seu presidente) e que se tornou as festas oficiais do município de Arouca, concelho da Área Metropolitana do Porto e da Região do Norte, sendo, de modo concomitante, uma feira das actividades económicas de todo o município, que se realiza, todos os anos, na última semana do mês de Setembro, na vila de Arouca, Área Metropolitana do Porto[4], onde acorrem, nessa altura, muitos visitantes oriundos de várias partes do país e do estrangeiro, bem como os arouquenses e seus descendentes, dispersos pelas várias localidades do país, bem como os imigrantes arouquenses e seus descendentes, espalhados pelo Mundo.

Freguesias do concelho de Arouca.

Começou por ser uma feira e festa dos lavradores do concelho de Arouca, com vários concursos agrícolas, organizada e fomentada pela iniciativa estrutural de António de Almeida Brandão a partir do Grémio da Lavoura de Arouca e, mais tarde, a partir da Cooperativa Agrícola de Arouca, algumas vezes associada às festas do concelho, com o apoio da Câmara Municipal de Arouca, mas, gradualmente, tornou-se as festas oficiais do município de Arouca, que funciona como uma montra da sua identidade autóctone, passada e presente, organizadas pela Câmara Municipal de Arouca, com a colaboração da Cooperativa Agrícola de Arouca e de várias instituições, associações e entidades locais, durante vários dias, no fim do mês de Setembro, com concertos musicais, danças tradicionais, vários tipos de concursos (dos quais se destacam o Concurso Nacional de Raça Bovina Arouquesa[5], o Concurso «O Vinho Verde de Arouca» e o Concurso «A Melhor Broa Caseira» ), vários tipos de exposições e sessões de fogo de artifício, numa altura em que o comércio local é, fortemente, incrementado e promovido, bem como a gastronomia arouquense[6] [7][8], da qual se destacam os pratos gastronómicos de carne arouquesa[9][10] e a doçaria de Arouca[11][12].

No seu género, a Feira das Colheitas foi a primeira que surgiu no país, anterior à Feira do Ribatejo, hoje Feira Nacional da Agricultura, cujo aparecimento se verificou em 1953, ou seja, nove anos mais tarde[13]. Trata-se, na contemporaneidade, do evento socioeconómico mais importante e com maior impacto do concelho de Arouca[14], município da Área Metropolitana do Porto, situado na Bacia Hidrográfica do Rio Douro, Douro Litoral, para onde se direcciona o rio Arda a partir do vale de Arouca, na Região do Norte (Portugal)[15], onde tem a sua verdadeira identidade autóctone, a sudeste do Porto, a cerca de 20Km, fazendo fronteira com Gondomar, município do Grande Porto.

História da origem e do desenvolvimento da Feira das Colheitas, descrita pelo seu fundador: António de Almeida Brandão[editar | editar código-fonte]

" Corria o ano de 1944 e estávamos em plena guerra mundial – a Segunda Grande Guerra. O nosso País mantinha-se neutral mas, apesar disso e sob múltiplos aspectos, teve de suportar as terríveis consequências do conflito. Dum modo especial, no que se referia ao abastecimento de géneros alimentícios e carburantes, além de muitos outros produtos, Portugal viu-se forçado a sofrer grandes privações e os preços exorbitantes do mercado negro. E a situação manteve-se sempre grave, tanto nos grandes centros como nas próprias aldeias, onde faltava o pão, alimento essencial ao trabalhador do campo.

Então, os Grémios da Lavoura e as próprias Câmaras foram chamados a colaborar na regularização dos abastecimentos, sendo criadas, junto destas, comissões especiais encarregadas de proverem à distribuição de géneros às populações rurais. O milho e os outros cereais panificáveis escasseavam também, mercê dum açambarcamento desenfreado, que, por toda a parte, se fazia.

Foi considerando esta dramática situação e as funestas consequências dela derivadas, que o Grémio da Lavoura de Arouca resolveu adoptar uma medida altamente simpática, destinada, por um lado, a atenuar a crise, e, pelo outro, a promover uma benéfica acção de fomento, que se impunha realizar.

Tornava-se imperioso estimular a produção de todos os cereais, sobretudo do milho, que é o de maior consumo na região e, para tanto, o Organismo resolveu realizar diversos concursos, entre os lavradores seus associados, tendo em mira, todos eles, conseguir um aumento substancial das produções.

Adoptada tal medida, que logo teve o apoio e auxílio financeiro da Câmara e doutras entidades, foi elaborado um plano de acção e estabelecido o respectivo programa, do qual constavam o número e a natureza dos concursos a realizar, montante dos prémios a distribuir, que eram numerosos e de valor elevado, como convinha, sobretudo para a cultura do milho, pois era esta que mais se pretendia estimular.

Os concursos da MELHOR SEARA – de milho, cevada e trigo – da MELHOR FRUTA, da MELHOR ADEGA e do MELHOR LINHO, foram o fundamento justificativo da criação da FEIRA DAS COLHEITAS, pois assim passou a designar-se o certame, no qual foi integrado também o CONCURSO DA RAÇA BOVINA AROUQUESA, já criada no concelho.

Estes concursos, sobretudo o da Melhor Seara, despertaram um interesse enorme entre os lavradores e salutar emulação, que logo se previu viria a conduzir ao almejado fim – o aumento das produções. Eles, os lavradores, passaram a visitar os campos inscritos, comentavam os resultados das classificações, faziam propósitos para o ano seguinte, assim se vislumbrando um aperfeiçoamento da técnica e mais cuidado nas adubações, de tal modo notáveis que, com o andar dos anos, a lavoura da região, mercê destas e doutras medidas, se elevou a um alto grau de progresso. E tão notável ele foi que, sendo o concelho deficitário na produção de milho – a Câmara mantinha permanentemente aberto um celeiro de milho de fora, ou seja do Ultramar, – alguns anos mais tarde passou a exportar centenas de carros daquele cereal, os quais chegaram a passar dos mil.

Todos os prémios atribuídos aos lavradores, contemplados nos diversos concursos, foram-lhes entregues, como hoje ainda são, numa sessão solene realizada no último dia da festa, para a qual eram convidadas diversas entidades oficiais e a que nunca faltou o Delegado da Direcção-Geral dos Serviços Agrícolas, que conferiu, ao Grémio da Lavoura, um expressivo voto de louvor, pelo êxito do certame e iniciativa por ele tomada.

Ao mesmo tempo que isto se fez e faz ainda agora, o Organismo promoveu também uma Exposição Agrícola e do Artesanato, que despertou invulgar interesse, na qual colaboraram os lavradores e, sobretudo, as donas de casa, da melhor boa vontade. Apesar de limitada a um campo restrito, neste primeiro ano, a Exposição foi muito visitada e serviu de ponto de partida para outras mais grandiosas, realizadas em anos subsequentes, às quais se viriam associar diversos organismos do Estado, como a Junta Nacional das Frutas, Junta da Colonização Interna, Direcção-Geral dos Serviços Florestais e Aquícolas, Junta Nacional dos Resinosos, Direcção-Geral dos Serviços Agrícolas e outros.

Por outro lado, concomitantemente com este programa, que se pode considerar de fomento, o Grémio da Lavoura pensou realizar um outro, que se destinaria a fazer ressurgir as antigas tradições populares, assentes no puro regionalismo, quase desaparecidas ou em desuso, desde há longos anos. As típicas e tão alegres manifestações festivas, que caracterizavam tantas das mais sugestivas actividades da aldeia, como as desfoIhadas, as ceifas, os linhares, as espadeladas e semelhantes, estavam esquecidas. Já se não cantavam nem dançavam ao som da viola, as lindas modas do cancioneiro popular, que tanta graça e beleza imprimiram ao meio rural, mais pobre com essa ausência.

Quer isto dizer que se impunha fazer ressurgir o verdadeiro folclore, tão rico e tão variado de cambiantes regionais, e este desiderato alcançou-o também a Feira das Colheitas. Santa Eulália, Chave, Rôssas, Moldes e Canelas foram as freguesias que organizaram os primeiros grupos, cujo inspiração eles auferiram das pessoas idosas da sua terra, conhecedoras dos antigos usos e costumes locais. Ao aparecerem pela primeira vez, num estrado levantado na Vila, esses grupos de rapazes e raparigas, enquadrados pelos mais velhos, nem de longe se podiam comparar aos grandes ranchos que vieram mais tarde, dada a improvisação que os assinalava; mas o certo é que a iniciativa foi celebrada como um acontecimento de extraordinário relevo e a exibição aclamada com estrépido e admiração, até porque era novidade nessa altura.

Os organismos da Feira das Colheitas prestaram ao folclore esse enorme serviço – um altíssimo serviço – fazendo ressurgir, das cinzas do passado, os costumes, as danças, os cantares e o próprio trajo, há muito em desuso. E os futuros ranchos, todos eles, aqui vieram receber o seu baptismo na prática do folclore.

Uma excepção apenas existiu e essa deu-a um pequeno núcleo de gente serrana, vivendo isolada no alto da Freita, lugar do Merujal, onde nunca deixou de se praticar o mais puro e genuíno folclore. Dirigidos pelo velho Joaquim Campas, cantador de nomeada, agora cego e doente, sempre requestado para todas as funções de aldeias de mais fama no seu tempo, ali, no ponto mais alto da Serra da Freita, nunca deixou de se cantar e dançar a primor as lindas modas da região. Os outros, ensaiaram-nas e aprenderam; estes, beberam-nas com o leite materno.

Quando, pela primeira vez, o Rancho do Merujal – este, sim, que foi sempre um verdadeiro rancho, se apresentou na Feira das Colheitas, os homens rudes com o seu fato de burel, coçado de o trazerem a uso, e as mulheres vestidas de saia de serguilha, a cheirar ao ovelhum dos seus rebanhos, mas dançando e cantando a preceito, a surpresa foi enorme e os aplausos irromperam vibrantes, parecendo não mais ter fim.

O Senhor da Pedra, o Malhão, o Verdegar, o Vira da Serra, e tantas outras modas que fizeram a delícia dos nossos avós e ainda apreciamos, sempre tiveram no Rancho do Merujal um intérprete fiel e expressivo, como é raro encontrar-se. Desta maneira, ele foi exemplo e mestre de tantos que com este afamado grupo aprenderam a praticar o folclore.

Estava delineado o programa da Feira das Colheitas, que se realizou a primeira vez, pela forma sumariamente descrita, quanto ao essencial do seu programa, no último domingo do mês de Setembro, dia principal, de 1944.

Em anos futuros, cuidou-se apenas de melhorar e ampliar esse programa, dando nova forma às Exposições, que foram muito enriquecidas em qualidade e variedade de produtos, ajustando as normas dos concursos a novas realidades, imprimindo à festa da rua mais brilho e colorido, sem nunca esquecer que a mesma se há-de basear no regionalismo e ter no folclore o seu cartaz mais gritante. Foi este, sem dúvida, que deu à festa prestígio novo, nome e renome, ao largo e ao longe.

A Feira das Colheitas é a festa das multidões, mostrando-se, a Vila, impotente para a todos albergar. Sem dúvida que as belezas paisagísticas da região e a própria arte contida em seus monumentos, entre os quais se agiganta o velho Convento, também são um chamariz para muitos que aproveitam o ensejo para uma visita à terra. E a Excelsa Rainha Santa Mafalda, em cujo amor tantos procuram alento e coragem para os transes da existência, os convida a virem prostrar-se perante o seu altar, saciando uma fé que vem das profundezas dos séculos.

Com tais e tantos predicados a valorizá-la, a Feira agigantou-se por forma impressionante e, num curto espaço de tempo, não havendo lugar apropriado, como já se disse, para conter o número incontável de forasteiros que a ela acorrem nem, sobretudo, para se fazer a arrumação da quantidade interminável de carros que enchem todas as ruas, largos e quilómetros de estrada.

Nos últimos anos, foram introduzidos, na festa, números de carácter religioso, que a princípio não tinha, entre os quais a bênção dos campos e do gado, assim como um vistoso Cortejo de Açafates, no qual tomam parte centenas de raparigas conduzindo açafates enfeitados, com oferendas para o Hospital que constitui, além do seu fim beneficente, uma esplendorosa demonstração do trajo regional. E tem lugar, na mesma altura, um grandioso e bem provido mercado e feira anual de gado, que muito valorizam o certame, durante os três dias da sua duração.

No ano em curso, por motivos ponderosos, a que não são estranhos os de ordem financeira, efectuou-se a reunião das duas festas numa só, ditas do Concelho e das Colheitas, que as entidades responsáveis, Câmara Municipal e Grémio da Lavoura, resolveram realizar de comum acordo.

Sob a designação de Festas do Concelho e das Colheitas, realizou-se a festa única, englobando o programa das anteriores, sem quebra de prestígio nem do nome de qualquer delas. "

A.B. (Almeida Brandão), "A Feira das Colheitas: como surgiu e como cresceu", em revista Aveiro e o seu Distrito, nº4, Dezembro de 1967, pp.68-70[16].

Referências

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