Galactocentrismo

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Segundo a astronomia, Galactocentrismo é a teoria de que a Via Láctea, galáxia onde se localiza o Sistema Solar, é ou está perto do Centro do Universo.[1][2]

As observações do astrônomo William Herschel, em 1785, sugeriram que a Via Láctea era uma galáxia em forma de disco onde o Sol ocuparia uma posição central. Embora defendesse o modelo heliocêntrico, as observações de Herschel foram a primeira tentativa de uma cosmologia observacional.

Em 1918, a teoria heliocêntrica galáctica de Herschel foi derrubada pelo trabalho do astrônomo Harlow Shapley, o qual analisava a mecânica dos aglomerados globulares. A pesquisa de Shapley marcou a transição do Heliocentrismo para o Galactocentrismo, colocando o Centro da Via Láctea longe do Sol, em direção a constelação de Sagittarius. Heber Doust Curtis e Edwin Hubble refutaram ainda mais a visão heliocêntrica do universo, mostrando que as espirais são, elas mesmas, sistemas galácticos distantes. Em 1925, o modelo galactocêntrico foi estabelecido.

A teoria do Galactocentrismo foi um passo importante para o desenvolvimento de modelos cosmológicos, pois a especulação sobre a existência de outras galáxias, comparáveis em tamanho e estrutura à nossa, colocava a Terra em sua perspectiva adequada em relação ao resto do universo. As mudanças de Heliocentrismo para Galactocentrismo, e posteriormente, Acentrismo, foram comparadas em importância à Revolução Copernicana.[3]

Heliocentrismo de William Herschel[editar | editar código-fonte]

Thomas Wright e Immanuel Kant foram os primeiros em especular que manchas difusas de luz chamadas nebulosas eram, na verdade, "universos-ilha" distantes, que se consistiriam em diversos sistemas estelares.[4] Esperava-se que a forma de nossa própria galáxia se parecesse com esses "universos-ilhas". Mas, segundo Edwin Hubble, "Argumentos científicos foram mobilizados contra tal possibilidade", tanto é que a perspectiva em questão foi rejeitada por quase todos os cientistas da época.

Modelo da Via Láctea de William Herschel, em 1785.

Em 1783, William Herschel tentou determinar a forma da Via Láctea examinando suas estrelas por meio de seus telescópios feitos à mão. Herschel foi o primeiro a propor um modelo da galáxia baseado na observação e medição.[5] Ele concluiu que a mesma tinha a forma de um disco espiral, mas presumiu incorretamente que o Sol estaria no centro desse disco.[6][7][8]

Vendo que as estrelas pertencentes à Via Láctea pareciam circundar a Terra, Herschel contou cuidadosamente estrelas de magnitudes aparentes respectivas e, depois de descobrir que os números eram os mesmos em todas as direções, concluiu que a Terra deveria estar próxima do centro da galáxia. No entanto, havia duas falhas na metodologia de Herschel: a magnitude não é um índice confiável para medir a distância das estrelas, e algumas das áreas que ele confundiu com espaço vazio eram, na verdade, nebulosas escuras que bloqueavam sua visão em direção ao Centro da Via Láctea.[9]

O modelo Herschel permaneceu relativamente incontestado durante as décadas seguintes, com pequenos ajustes e refinamentos. Jacobus Kapteyn introduziu movimento, densidade e luminosidade na contagem de estrelas de Herschel, o que ainda implicava numa localização quase central do Sol.

Modelo de Harlow Shapley[editar | editar código-fonte]

No ano de 1918, o modelo de Herschel foi finalmente refutado pelo trabalho do astrônomo Harlow Shapley.[10] Nesse estudo, Shapley pesquisava a distribuição assimétrica de aglomerados globulares, estimando a distância e a localização de objetos individuais usando estrelas variáveis como escala padrão. Os aglomerados globulares contêm muitas estrelas cefeidas variáveis, cuja relação precisa entre luminosidade e período de variabilidade foi estabelecida por Henrietta Leavitt, em 1908. Usando as variáveis cefeida e RR Lyrae para mapear sistematicamente a distribuição dos aglomerados globulares, Shapley descobriu que as estrelas da Via Láctea orbitavam um centro comum a milhares de anos-luz de distância do Sol. O centro galáctico foi determinado para estar na direção da constelação de Sagittarius, aproximadamente a 50.000 anos-luz em relação ao Sistema Solar.[11]

Sextans A, um membro do grupo local de galáxias, que inclui a Via Láctea e a Galáxia de Andrômeda. Imagem do Observatório Lowell, 2013.

Em 1920, Heber Doust Curtis e Harlow Shapley participaram de um debate sobre a natureza das nebulosas e o tamanho do universo. Shapley acreditava que as nebulosas distantes eram relativamente pequenas e ficavam dentro da Via Láctea. Doust Curtis defendeu a visão agora aceita de que as nebulosas estavam mais distantes e que, portanto, existiam outras galáxias além da Via Láctea. Em 1925, Edwin Hubble atestou que muitos objetos que eram vistos como nuvens de poeira e gás, classificados como "nebulosas", eram na verdade galáxias além da Via Láctea.[12][13][14]

Ver também[editar | editar código-fonte]

Referências

  1. «Galactocentrism». Merriam-Webster Dictionary (em inglês) 
  2. «Definition of galactocentric». English Oxford Living Dictionaries (em inglês) 
  3. Berendzen, Richard (1975). «Geocentric to heliocentric to galactocentric to acentric: the continuing assault to the egocentric». Vistas in Astronomy. 17 (1): 65–83. Bibcode:1975VA.....17...65B. doi:10.1016/0083-6656(75)90049-5 
  4. Harrison, Edward Robert (2000). «Cosmology: The Science of the Universe». Cambridge University Press: 67-71. ISBN 978-0-521-66148-5 
  5. Herschel, William (1 de janeiro de 1785). «XII. On the construction of the heavens». Philosophical Transactions of the Royal Society of London. 75: 213–266. doi:10.1098/rstl.1785.0012 
  6. van de Kamp, Peter (Outubro de 1965). «The Galactocentric Revolution, A Reminiscent Narrative». Publications of the Astronomical Society of the Pacific. 77: 324–328. Bibcode:1965PASP...77..325V. doi:10.1086/128228 
  7. «The Shape of the Milky Way from Starcounts». Astro 801 
  8. «Meet the Stargazers». WHYY 
  9. Ferris, Thimoty (2003). «Coming of Age in the Milky Way». HarperCollins: 150–159. ISBN 978-0-06-053595-7 
  10. Bergh, Sidney van den (2011). «Hubble and Shapley—Two Early Giants of Observational Cosmology». Journal of the Royal Astronomical Society of Canada. 105 (6). arXiv:1110.2445Acessível livremente 
  11. Kopal, Z. (1972). «Great Debate: Obituary of Harlow Shapley». NASA. NASA Nature. 240: 429–430. Bibcode:1972Natur.240..429.. doi:10.1038/240429a0 
  12. Roberts, Jacob (2017). «A Giant of Astronomy». Distillations. 3 (3): 6–11 
  13. Hubble, Edwin (Dezembro de 1926). «Extragalactic nebulae». Astrophysical Journal. 64 (64): 321–369. Bibcode:1926ApJ....64..321H. doi:10.1086/143018 
  14. Hetherington, Edith W.; Hetherington, Norriss S. (2009). Astronomy and culture. Santa Barbara, Calif.: Greenwood Press/ABC-CLIO. 174 páginas. ISBN 978-0313345364