Língua utopiana

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Utopiano
Falado(a) em: Utopia
Região: Novo Mundo
Total de falantes: indeterminado
Família: fictícia
 Utopiano
Categoria (fontes): Influências do Grego, Latim e Hebraico
Escrita: Utopiana
Códigos de língua
ISO 639-1: --
ISO 639-2: ---
ISO 639-3: none

A língua Utopiana é o idioma do país ficcional Utopia, conforme descrição de Thomas More em seu livro de mesmo nome, Utopia. Uma breve amostra da língua e sua escrita se encontra num adendo do livro de More, tendo sido criada por seu amigo Pieter Gillis em 1516. Com a intenção de parecer fatual, o livro não informa o nome do criador da língua (a criação foi influenciada pelo grego, latim e hebraico); tanto More como Gillis foram ambos creditados, mas se atribui a criação ao segundo.

Exemplo de texto[editar | editar código-fonte]

O único texto existente em Utopiano é um quarteto (forma poética) escrito por Peter Giles num adendo de Utopia:

Vtopos ha Boccas peu la chama polta chamaan.
Bargol he maglomi baccan ſoma gymno ſophaon.
Agrama gymnoſophon labarembacha bodamilomin.
Voluala barchin heman la lauoluola dramme pagloni.
.[1][2]

A 2ª edição (1518) juntou es peu e la, bem como gymno e sophaon (essa por certo correta); também separa labarembacha em labarem e bacha. O texto nas carta da edição de 1516 apresenta cama, camaan, pafloni em lugar de chama, chamaan, pagloni. Essas discrepâncias foram corrigidas da edição de 15818, surgindo, porém novos erros, Ex. utoqos para utopos e spma para soma.

Tradução para Latim:

Utopus me dux ex non insula fecit insulam.
Una ego terrarum omnium absque philosophia
Civitatem philosophicam expressi mortalibus
Libenter impartio mea, non gravatim accipio meliora.
[3]

Tradução para Português (do Inglês): O comandante Utopus me colocou numa ilha ao largo de uma não-ilha.
Eu só em relação a outras nações, sem filosofia,
descrevi para os mortais a cidade filosófica.
Livremente transmito meus benefícios; Freely I impart my benefits; não de má vontade aceito o que for melhor. [4]Ralph Robinson, um tradutor do século XVI, assim entendeu essa passagem (em português, do inglês): Meu rei e conquistador Utopus por nome

Um príncipe de grande renome e fama imortal
Fez-me uma ilha que antes nenhuma ilha era
Totalmente repleta das riquezas do mundo, com prazer, e consolo. Eu dentre todos os outros , sem filosofia
Fiz para o homem a forma de uma cidade filosófica.
Sendo minha, posso sem perigo descreve-la,
É assim melhor para receber e estou pronto com todo o meu coração[5]

Com tais traduções pode-se deduzir algum vocabulário

Vocabulário Utopiano Language
Utopiano Latim Inglês/Português
agrama civitatem cidade (acusativo; cf. Sânscrito grāmam, vila)
baccan omnium de todas
barchin impartio Eu descrevo
bargol una um, o único
boccas dux comandante
bodamilomin mortalibus para os mortais
chama insulā ilha (ablativo)
chamaan insulam ilha (acusativo)
dramme accipio I receber
gymnosophaon philosophiā filosofia (ablativo)
gymnosophon[6] philosophicam pilosófico (acusativo)
ha me mim, me
he ego Eu
heman mea (os que são) meus
la non não
larembacha expressi eu representei (perfeito)
lauoluola gravatim de má vontade (la + voluala)
maglomi terrarum das terras
pagloni meliora os(as) melhores
peu ex oriundo de
polta fecit feito (perfeito)
soma absque sem
voluala libenter livremente, voluntáriamente
Vtopos Utopus Utopus (mítico fundador de Utopia)

Escrita[editar | editar código-fonte]

o Quarteto Utopiano e sua tradução em Latim – edição 1518 da Utopia

O Utópiano tem o seu próprio alfabeto de 22 letras baseadas nas formas do círculo, quadrado e triângulo.[7] Corresponde quase exatamente a alfabeto latino do século XVI (esse não tinha as letras j, u, w), faltando ainda o z. As letras f, k, q, x existem no alfabeto, mas não são usadas em textos da língua Utopiana.

Gramática[editar | editar código-fonte]

Embora algumas palavras utopianas mostrem formas diferentes correspondentes a casos diferentes na tradução latina, não há nenhuma evidência de uma relação consistente entre forma e significado, como pode ser visto a partir da seguinte comparação das formas de casos nominais, pronominais e adjetivos

Singular Plural
Nominativo Vtopos, Boccas, bargol, he
Ūtopus, dux, ūna, ego
Acusativeo hā, chamāan, āgrama, gymnosophon
mē, insulam, civitātem, philosophicam
heman, paglōni
mea, meliōra
Ablativo chama, gymnosophāon
insulā, philosophiā
Dativo bōdamilōmin
mortālibus
Genitivo māglōmi, baccan
terrārum, omnium

Existem apenas quatro verbos no poema utopiano e estes também não mostram evidências de uma correspondência entre forma e função :

1ª pessoa 3ª pessoa
Presente barchin, dramme
impartiō, accipiō
P. Perfeito labarembacha
expressī
polta
fēcit

Conforme o uso tipográfico de século XVI, as letras V e marcavam distinção em posição, não em som. V é usada no ínício de palavras, e U nos demais casos, mas ambas letras podem representar sons tanto de V como de U. Análises da métrica dois versos mostram, porém, que se esperava que o leitor lesse Vtopos comos Utopos, voluala como volvala e lauoluola como lavolvola.

O texto de More também apresenta termos Utopianos "nativos" usados em conceitos próprios dos Utopianos

Notas[editar | editar código-fonte]

  1. As separações entre palavras foram tomadas da 1ª edução de 1516
  2. [1] Alfabeto Utopiano
  3. Copied from [2] (page 13).
  4. More, Thomas (2002). George M. Logan and Robert M. Adams (eds.), ed. Utopia. Raymond Geuss and Quentin Skinner (series eds.) Revised ed. New York: Cambridge University Press. p. 119. ISBN 0-521-81925-3 
  5. [3]
  6. Gymnosophos (γυμνόσοφος) is an unattested Greek adjective meaning "naked (and) wise." Gymnosophist was the Greek name for Indian yogis.
  7. Page 13 of the Basel 1518 edition of Utopia.

Ligações externas[editar | editar código-fonte]