Lumina Sophie

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Lumina Sophie
Conhecido(a) por heroína da revolta de 1870 em Martinica
Nascimento 5 de novembro de 1848
Rivière-Pilote, Martinica, França
Morte 15 de setembro de 1879 (30 anos)
Saint-Laurent-du-Maroni, Guiana Francesa
Nacionalidade francesa
Filho(a)(s) Théodore Lumina

Lumina Sophie, conhecida pela alcunha de "Surprise", apelido de Marie-Philomène Roptus (Rivière-Pilote, 5 de novembro de 1848 - Saint-Laurent-du-Maroni, 15 de setembro de 1879) foi uma heroína da revolta de 1870 na ilha de Martinica, departamento ultramarino francês. Ela organizou um grupo de mulheres em insurreição, as pétroleuses, que queimava plantações e convocava os cidadãos a enfrentar a autoridade local para libertar um marinheiro negro condenado injustamente.

Biografia[editar | editar código-fonte]

Lumina nasceu em 1848, ano em que a escravidão foi abolida na Martinica, em Rivière-Pilote, uma pequena cidade do interior da ilha, filha de uma ex-escrava, recém-libertada pela abolição, Marie-Sophie, conhecida como Zulma.[1] Em uma época em que escravos eram iletrados, Lumina teve acesso à educação e à literatura, lendo jornais e se interessando pela política francesa na ilha. Ela foi registrada sob o nome de Marie-Philomène Sophie. Mais tarde, a administração daria à mãe e à filha o sobrenome de Roptus. Assim, Marie-Philomène Sophie se tornou Marie-Philomène Roptus, mas todos a chamam de Lumina (diminutivo de Philomène) Sophie (do nome de sua mãe).[2]

De acordo com os registros, sua mãe já era a chefe da família quando Lumina tinha apenas 6 anos de idade.[1][3] Sua família é basicamente composta por mulheres como avó, tias, primas e sobrinhas.[4] Habitavam um arrendamento onde cultivavam banana, cacau e café, em que os homens trabalhavam na lavoura e as mulheres cuidavam basicamente da casa, das crianças, costuravam e cozinhavam.[5]

Com a morte da avó, a família se dispersa.[6] Instaladas em outro arrendamento, Lumina ajuda a mãe na colheita, aprende a costurar, vai com ela ao mercado e se mostra bastante precoce para a política.[1] Enquanto trabalha nas lavouras, ela vê o modo precário de vida da maioria dos trabalhadores.[6] Em 1870, Lumina tinha 21 anos e já era uma jovem independente, de personalidade forte, vista com frequência nos mercados das aldeias e da cidade de Rivière Pilote.[1][4] Ela conhece por volta dessa época Emile Sidney, filho de uma família liberta ainda antes da escravidão, que a mantém informada sobre o cotidiano da população rural, os impostos abusivos, o desprezo e a falta de acesso à educação.[2][5][7]

A revolta[editar | editar código-fonte]

Em 1870, Leopold Lubin, um marinheiro negro, membro de uma família de pedreiros, tem uma violenta discussão com Augier Maintenon, um jovem europeu, comissário assistente da Marinha francesa e chefe do serviço naval da cidade.[1][4][7] O caso foi levado ao tribunal e Leopold foi condenado por injúria e agressão, o que a população logo viu como um caso envolvendo racismo.[3][4] Em solidariedade, um movimento liderado por Lumina se ergue, onde ela faz petições e levanta dinheiro para pagar os custos da defesa de Leopold. Provocações racistas são feitas por membros do comércio local, inclusive por um deles que esteve no juri de Leopold e se orgulha de tê-lo condenado.[1][5][7]

Este não era o primeiro caso de injustiças perpetradas pela justiça da ilha.[1][3] Bandeiras brancas (símbolo nostálgico da realeza e supremacia branca) em provocação eram hasteadas nas ruas e um fazendeiro acusado de estuprar uma ex-escrava e abandonar seu corpo foi condenado com apenas uma multa.[3] Irritados com as constantes provocações, os trabalhadores rurais se organizam ao redor de Lumina.[1][5][4]

Em setembro de 1870, no mercado de Rivière Pilote, Lumina se encontrou com os outros manifestantes, gritando pela libertação de Lubin. Em 22 de setembro, a população do sul da Martinica e especialmente a de Rivière Pilote explode em revolta e Lumina é um dos insurgentes.[3] Ela está grávida de dois meses de Emile Sidney e participa da marcha em direção à cadeia pública com a multidão atrás de si.[4][6] No caos que se seguiu, Emile e vários outros homens do movimento somem ou são encontrados mortos. Lumina assume a luta, mas a revolta foi rapidamente derrotada e Lumina foi capturada em 26 de setembro de 1870 e mandada para o Forte Desaix.[2][5][6][7]

Prisão e morte[editar | editar código-fonte]

Várias acusações de insurreição e revolta foram feitas contra Lumina, que o governador de Martinica chamava de "a mais feroz, a mais temível das líderes das gangues de arruaceiros".[6] Seu primeiro julgamento foi de 17 de março a 17 de abril de 1871. Ela é apresentada como uma mulher que procura "dominar os homens."[4] O governador a identifica como a "chama da revolta" e ela foi sentenciada à uma pena perpétua de trabalhos forçados em Saint-Laurent-du-Maroni, na Guiana Francesa.[3] Seu julgamento não foi justo, pois foi todo feito em francês, sendo que ela falava apenas creole.[3] Seu filho, Théodore Lumina, nasceu na prisão e foi separado na mãe no nascimento, morrendo cerca de sete meses depois.[5] Em 1877, Lumina foi obrigada a se casar com um ex-prisioneiro e fazendeiro da Guiana Francesa, 14 anos mais velho que ela e Lumina morreu dois anos depois, por doenças e maus-tratos,[7] em 15 de setembro de 1879.[1][3][2][5][6]

Legado[editar | editar código-fonte]

Em 2005, a dramaturga francesa Suzanne Dracius escreveu uma peça encenada na França e em seus territórios sobre a vida de Lumina e sua história vem sendo lembrada por artistas locais. Uma escola de ensino médio em Martinica leva seu nome.[1][4] Em 2008, uma biografia escrita por Gilbert Pago recolheu fatos e datas sobre sua vida e luta.[4][6]

Veja também[editar | editar código-fonte]

Revolução Haitiana

Referências

  1. a b c d e f g h i j Fiona Zublin (ed.). «Remembering the pregnant teen renegade of Martinique». OZY. Consultado em 12 de outubro de 2018 
  2. a b c d «Lumina Sophie dite Surprise». Une autre histoire. Consultado em 12 de outubro de 2018 
  3. a b c d e f g h Vanessa Lee (ed.). «Lumina Sophie dite Surprise». Dangerous Woman. Consultado em 12 de outubro de 2018 
  4. a b c d e f g h i Gilbert Pago (ed.). «Lumina Sophie dite Surprise». Revolution Socialiste. Consultado em 12 de outubro de 2018 
  5. a b c d e f g «Lumina Sophie dite Surprise». Mwasi Collectif Afrofeminste. Consultado em 12 de outubro de 2018 
  6. a b c d e f g Pago, Gilbert (2008). L'histoire tragique de Marie-Philomene Roptus dite Lumina Sophie dite Surprise (1848-1879). França: Ibis Rouge. p. 340. ISBN 978-2844503466 
  7. a b c d e «LUMINA SOPHIE, INSURGÉE CONTRE LA SÉGRÉGATION». L'histoire par les femmes. Consultado em 12 de outubro de 2018