Madre Francisca Peeters

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Madre Francisca Peeters
Nascimento Elizabeth Peeters
21 de outubro de 1876
Tournai
Morte 23 de dezembro de 1973 (97 anos)
Jaboticabal
Cidadania Bélgica
Ocupação freira, professora
Religião catolicismo

Elizabeth Peeters (Tournai, 21 de outubro de 1876Jaboticabal, 23 de dezembro de 1973), conhecida por seu nome eclesiástico Madre Francisca Peeters, foi uma religiosa católica e educadora belga que se instalou no Brasil em 1914.[1] Foi uma das primeiras mulheres a escrever um manual de sociologia,[1] além de das primeiras mulheres no Brasil no início do século XX, junto com a Madre Maria Augusto de Cooman, a escrever um manual de história da educação.[2]

Biografia[editar | editar código-fonte]

Elizabeth Peeters nasceu em Tournai, na Bélgica, em 21 de outubro de 1876, em uma família tradicionalmente católica. Durante a infância e a adolescência, estudou em sua cidade natal no Colégio de Santo André e, aos domingos, atuava como professora na alfabetização de adultos na escola dominical da comunidade. Mais tarde, ingressou no curso superior em Lovaina. Aos 19 anos, iniciou sua formação religiosa na Congregação das Irmãs de Santo André, recebendo o nome de Francisca Peeters. Consagrou-se em 13 de dezembro de 1897.[1][2][3]

A Madre Peeters veio ao Brasil em virtude da solicitação do bispo de São Carlos, D. José Marcondes Homem de Mello, o qual pleiteava a abertura de colégios em sua diocese. Madre Peeters chegou em Santos em 11 de fevereiro de 1914, iniciando seu trabalho de educadora no Grupo Escolar Coronel Vaz. Mudou-se para Jaboticabal em 1923, onde atuou na organização da Escola Normal do Colégio Santo André, onde passou a lecionar várias disciplinas (tais como Matemática, Física, Sociologia, etc.) e a secretariar a escola. Foi nesse período em que escreveu seus manuais escolares, que obtiveram ampla circulação no Brasil.[1][2][3]

Em 1956, se afastou do ensino para se dedicar à leitura e à conversa com jovens sacerdotes. Em 1962, passou por uma intervenção cirúrgica, tornando-se obrigada a retirar-se para a vida comum. Sua saúde tornou-se progressivamente mais frágil, vindo a falecer em 23 de dezembro de 1973.[1][2]

Obra[editar | editar código-fonte]

A obra da Madre Francisca Peeters se insere em um contexto de disputa institucional no Brasil do início do século XX entre a Igreja Católica e o liberalismo em voga. A Igreja sofrera várias perdas com a separação entre Igreja e Estado na Constituição de 1891 e buscava compensá-las por meio da estruturação de centros de formação e de revistas, e de ações e projetos educacionais, entre os quais se incluía a criação de manuais disciplinares para a formação de professores.[3]

O primeiro manual disciplinar da Madre Peeters, Noções de Sociologia, foi publicado em 1935 e foi um dos primeiros manuais de Sociologia a serem escritos por uma mulher. O manual buscava definir a Sociologia e apresentar vários pontos da sociedade (tais como economia, política e religião) de uma perspectiva católica. Chegou a ter seis edições, sendo a última publicada em 1964.[1]

Seu segundo manual, Educação - História da Pedagogia (Uma Pequena História da Educação, a partir da segunda edição), escrito em conjunto com a Madre Maria Augusto de Cooman, foi publicado em 1938, sendo um dos primeiros manuais da história da educação no Brasil no século XX,[4] além do primeiro a ser escrito por mulheres no Brasil.[2] O manual, cujo público alvo eram os alunos normalistas,[5][2] traça uma história geral da educação e os principais problemas educacionais.[3] Chegou a ter dez edições, sendo adotado nas escolas normais e em alguns cursos de formação de professores oferecidos por universidades brasileiras até a Década de 1970.[3][6]

Além de manuais disciplinares, Madre Peeters foi autora do livro Sereis minhas testemunhas, um livro de meditação destinado a alunas de colégios católicos.[3]

Referências

  1. a b c d e f Cigales, Marcelo Pinheiro. «A sociologia católica de Francisca Peeters na constituição do campo educacional brasileiro na década de 1930». Florianópolis. Em Tese. 16 (1). Consultado em 16 de novembro de 2019 
  2. a b c d e f Moreira, Jani Alves da Silva; Martineli, Telma Adriana Pacifico. «História, educação e infância: uma análise a partir da Pequena História da Educação, das madres Peeters e Cooman (1936)» (PDF). Diálogos. 19 (3). Consultado em 16 de novembro de 2019 
  3. a b c d e f Oliveira, Sandra Maria de; Gatti Júnior, Décio; Oliveira, Sandra Maria de; Gatti Júnior, Décio. «A reação católica e a formação de professores no Brasil: os manuais disciplinares Noções de Sociologia e Educação (história da pedagogia). Problemas actuaes das Madres Peeters e Cooman (1935-1971)». Revista Brasileira de História da Educação. 18. ISSN 2238-0094. doi:10.4025/rbhe.v18.2018.e041. Consultado em 16 de novembro de 2019 
  4. Saviani, Dermeval. «A produção em história da educação na pós-graduação». Campo Grande, MS. InterMeio: revista do Programa de Pós-Graduação em Educação. 15 (19). Consultado em 16 de novembro de 2019. A presença da história da educação nos currículos formativos trouxe a necessidade da elaboração de compêndios que viessem a subsidiar os trabalhos dos professores. O primeiro desses manuais foi o livro 'Noções de história da educação', de Afrânio Peixoto (1933), seguido das madres Francisca Peeters e Maria Augusta de Cooman, 'Pequena História da Educação' (1936)... 
  5. Lima, Geraldo Gonçalves de; Gatti Júnior, Décio. «Manuais de História da Educação e os Ideários da Doutrina Católica para a Formação de Professores no Brasil (1936-1945)» (PDF). X Seminário Nacional do HISTEDBR. Consultado em 16 de novembro de 2019 
  6. Freitas, Anamaria Gonçalves Bueno de; Nascimento, Jorge Carvalho do (2002). «As madres da historiografia educacional: o manual de Peeters e Cooman». Congresso Brasileiro de História da Educação: O Ensino e Seus Sujeitos na História. Consultado em 16 de novembro de 2019