Primum Mobile

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Na astronomia clássica, medieval e renascentista, o Primum Mobile (ou "primeiro movido") era a esfera mais externa do modelo geocêntrico do universo.[1]

O conceito foi introduzido por Ptolomeu para explicar o aparente movimento diário dos céus ao redor da Terra, produzindo de leste a oeste o nascer e o pôr do sol e das estrelas, e chegou à Europa Ocidental via Avicena.[2]

Aparência e rotação[editar | editar código-fonte]

O sistema ptolomaico apresentava uma visão do universo em que o movimento aparente era tomado como real - um ponto de vista ainda mantido em linguagem comum através de termos cotidianos como nascer da lua e pôr do sol.[3] A rotação da Terra em seu eixo polar – como vista em um sistema solar heliocêntrico, que (embora antecipado por Aristarco) não seria amplamente aceito até bem depois de Copérnico [4] – leva ao que os astrônomos anteriores viam como o movimento real de todos os corpos celestes ao redor da Terra a cada 24 horas.[5]

Os astrônomos acreditavam que os sete planetas a olho nu (incluindo a Lua e o Sol) eram transportados pela Terra esférica em esferas invisíveis, enquanto uma oitava esfera continha as estrelas fixas. O movimento era fornecido a todo o sistema pelo Primum Mobile, ele próprio situado no Empíreo, e o mais rápido movente de todas as esferas.[6]

Variações esféricas[editar | editar código-fonte]

Um esquema das esferas celestes

O número total de esferas celestes não foi fixo. Nesta ilustração do século XVI, o firmamento (esfera de estrelas fixas) é o oitavo, uma esfera "cristalina" (posta para explicar a referência a "águas ... acima do firmamento" em Gênesis 1:7) é o nono, e o Primum Mobile é o décimo. Fora de tudo está o Empíreo, a "habitação de Deus e todos os eleitos".

Copérnico e depois[editar | editar código-fonte]

Copérnico aceitou a existência da esfera das estrelas fixas e (mais ambiguamente) a do Primum Mobile,[7] como também (inicialmente) Galileu[8] – embora mais tarde desafiasse sua necessidade em um sistema heliocêntrico.[9]

Francis Bacon era tão cético em relação ao Primum Mobile quanto à rotação da terra.[10] Porém, uma vez que Kepler fez o sol, não o Primum Mobile, a causa do movimento planetário,[11] o Primum Mobile gradualmente declinou no campo da metáfora ou da alusão literária.

Referências literárias[editar | editar código-fonte]

  • Dante transformou o Primum Mobile no nono dos dez céus em que dividiu seu Paradiso.[12]
  • W. B. Yeats escreveu: "O Primum Mobile que nos formou/Fez as próprias corujas em círculos se moverem". [13]

Ver também[editar | editar código-fonte]

Referências

  1. T. H. Greer, A Brief History of the Western World (2004) p. 419
  2. G. Galle, Peter of Auvergne (2003) p. 233
  3. Dante, Hell (1975) p. 292-5
  4. Hell p. 292
  5. F. A. C. Mantillo, Medieval Latin (1996) p. 365
  6. Dante, Purgatory (1971) p. 333 and p. 338
  7. O. Pederson, Early Physics and Astronomy (1993) p. 271
  8. J. Reston, Galileo: A Life (2005) p. 46
  9. Galileo Galilei, Dialogue.... (California nd) p. 261
  10. R. L. Ellis, Collected Works of Francis Bacon Vol 1 Pt 1 (1996) p. 450
  11. N. R. Hanson, Constellations and Conjectures (1973) p. 256-7
  12. Paradise p. 22-3 and end-piece
  13. W. B. Yeats, The Poems (1984) p. 203

Leitura adicional[editar | editar código-fonte]

  • C. S. Lewis, The Discarded Image (1964)
  • M. A. Orr, Dante and the Early Astronomers (1956)