Protestos no Egito em 2012–2013

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Protestos no Egito em 2012–2013
Parte de Crise Egípcia

Manifestantes na Praça Tahrir, no Cairo, na manhã de 27 de novembro de 2012
Período 22 novembro 2012 (2012-11-22) – 3 julho 2013 (2013-07-03)
Local  Egito
Objetivos
  • Revogação do decreto de Morsi[1]
  • Cancelamento do referendo sobre o projeto de Constituição[1]
  • Reformulação da assembleia constitucional dominada pelos islamita [1]
  • Destituição do Presidente Mohamed Morsi
Características
Resultado
  • Protestos em massa em 30 de junho de 2013, seguido por um golpe de Estado
  • Mohamed Morsi deposto e colocado sob prisão domiciliar.
  • Prisão de figuras proeminentes da Irmandade Muçulmana e salafistas.
  • Repressão da mídia pró-Irmandade Muçulmana.[2]
  • Constituição suspensa.
  • Adly Mansour torna-se presidente interino.
  • Protestos continuaram, principalmente pró-Morsi.
Participantes do conflito
Oposição:

Apoiados por:
Forças Armadas do Egito

Egito Governo

Apoiados por:
Irmandade Muçulmana

al-Gama'a al-Islamiyya (partido)[21]
outros islamitas

Líderes

Os Protestos no Egito em 2012–2013 foram parte de uma revolta popular em larga escala no Egito contra o então presidente Mohamed Morsi. Os protestos contra o Presidente Mohamed Morsi irromperam a 22 de novembro de 2012 em resposta a uma nova lei ─finalmente não concretizada ─ que teria concentrado novos poderes na figura do presidente e que foi considerada por seus opositores como «ditatorial».[22]

Protestos[editar | editar código-fonte]

Milhares de pessoas protestando na Praça Tahrir em 30 de novembro de 2012

Em 22 de novembro de 2012, milhões de manifestantes começaram a protestar contra Morsi, [23] depois que seu governo anunciou uma declaração constitucional provisória que, com efeito, concederia ao presidente poderes ilimitados. [24] Morsi considerava o decreto necessário para proteger a assembleia constituinte eleita a partir de uma dissolução planejada por juízes indicados durante a era Mubarak.[25]

As manifestações foram organizadas por organizações e indivíduos da oposição egípcia, principalmente liberais, esquerdistas, secularistas e cristãos. [26][27] As manifestações resultaram em violentos confrontos entre os partidários de Morsi e os manifestantes anti-Morsi, com dezenas de mortes e centenas de feridos. [28] Os manifestantes se reuniram em frente ao palácio presidencial, que por sua vez foi cercado por tanques e veículos blindados da Guarda Republicana. [1] Os manifestantes anti-Morsi no Cairo foram estimados em 200 mil, enquanto mais de 100.000 apoiantes de Morsi se reuniram no Cairo para manifestar apoio. [29] Alguns conselheiros de Morsi renunciaram em protesto, e muitos juízes se pronunciaram contra suas ações também. [1] Resignações foram oferecidas pelo diretor da radiodifusão estatal, Rafik Habib (vice-presidente cristão do Partido da Liberdade e da Justiça da Irmandade Muçulmana), e Zaghloul el-Balshi (secretário-geral da comissão de supervisão do referendo constitucional previsto). [30] Sete membros dos 17 membros da comissão consultiva de Morsi renunciaram em dezembro de 2012.[31]

Em 8 de dezembro de 2012, Morsi anulou seu decreto temporário que havia expandido sua autoridade presidencial e removeu a revisão judicial de seus decretos; um oficial islamita afirmou, mas acrescentou que, os resultados da declaração temporária ainda permaneceriam. [32] George Isaac do Partido da Constituição disse que a declaração de Morsi não oferecia nada de novo, a Frente de Salvação Nacional rejeitou-a como uma tentativa para manter as aparências, e o Movimento 6 de Abril e Gamal Fahmi do Sindicato dos Jornalistas Egípcios afirmou que a nova declaração não conseguia resolver o problema "fundamental" do carácter da assembleia que a oposição boicotou. [32]

Em 22 de dezembro, a Constituição apoiada por Morsi foi aprovada em um referendo nacional por 64% dos eleitores, com 32,9% do eleitorado votante. A oposição alegou fraude no processo e pediu uma investigação. [33][34][35][36]

Em 30 de junho de 2013, o primeiro aniversário da eleição de Morsi, milhares de adversários de Morsi se concentraram na Praça Tahrir e fora do maior palácio presidencial no subúrbio de Heliópolis exigindo a renúncia de Morsi. [37] Manifestações também foram relatadas em 18 locais em todo Cairo [38] e em outros locais diferentes em todo o país, incluindo Alexandria, El-Mahalla e cidades na região do Canal de Suez. [39][40] Várias organizações políticas apoiaram as manifestações, incluindo o movimento Tamarod formado por membros do Movimento Egípcio pela Mudança, que afirmou ter recolhido 22 milhões de assinaturas pedindo a renúncia de Morsi. [41][42]

Consequências[editar | editar código-fonte]

Em 3 de julho de 2013 as Forças Armadas do Egito emitiram uma declaração anunciando o fim da presidência de Morsi. [43][44] No mesmo comunicado, os militares anunciaram que a constituição foi suspensa e que novas eleições seriam realizadas em uma data futura. O chefe do Supremo Tribunal Constitucional, Adly Mansour, tornou-se chefe de um governo de transição. [43]

O golpe de Estado foi parcialmente popular, [45] partidários do presidente deposto encenaram grandes manifestações em Nasr City, um distrito do Cairo, e em Alexandria, Luxor, Damanhour e Suez. [46]

Após o golpe militar de 30 de junho de 2013, o exército egípcio reprimiu os meios de comunicação públicos e fechou várias agências de notícias que percebiam como pró-Morsi, incluindo Al Jazira . [47]

No que muitos consideraram um massacre, [48][49] centenas de manifestantes pró-Morsi foram mortos na repressão pelos militares egípcios e em ataques a manifestações pró-Morsi. [50][51][52] Em muitos casos, o exército negou atirar em manifestantes com munições reais, ao contrário do que afirmaram testemunhas e relatos em primeira mão de agências de notícias ocidentais e residentes locais. [53][54]

Referências

  1. a b c d e Kirkpatrick, David D. (7 de dezembro de 2012). «Morsi Defends Wide Authority in Egypt as Turmoil Rises». The New York Times 
  2. «Egypt's army storms Al Jazeera mid-broadcast, arrests TV staff». Washington Times. 4 de julho de 2013 
  3. «Egypt's National Salvation Front Profile». BBC. 10 de dezembro de 2012 
  4. «From Egypt Petition Drive, A New Grassroot Wave». Yahoo News. 28 de junho de 2013 
  5. «Al-Wafd repeats commitment to boycott». Daily News Egypt. 2 de março de 2013 
  6. Kirkpatrick, David D. (24 de novembro de 2012). «Egyptian Judges Challenge Morsi Over New Power». The New York Times 
  7. «Morsi faces judicial revolt over decree». China Daily. 26 de novembro de 2013 
  8. «Thoughts on June 30th, Tamarod, and the future of liberal democracy in Egypt». The Struggle for the World. 1 de julho de 2013. Consultado em 13 de junho de 2015. Arquivado do original em 8 de outubro de 2013 
  9. «Thousands flood Egypt's streets to protest against Morsi». The Irish Times. 1 de julho de 2013 
  10. «Egypt's Revolutionary Socialists call for general strike until the fall of the regime». Socialist Worker. 30 de junho de 2013 
  11. «The 'S-Word': Egyptian Movement Takes on Islamic Rule». Al-Monitor. 27 de abril de 2013 
  12. «My religion is "none of your business": Campaigning against division». Daily News Egypt. 21 de abril de 2013 
  13. «Egypt Ideology Devolves into Anarchy Amid Vendettas». Bloomberg. 14 de maio de 2013 
  14. «Black Bloc anarchists emerge». BBC. 1 de fevereiro de 2013 
  15. «'Sexist' Egyptian Info Minister causes more feminist outrage». Al Arabiya. 27 de abril de 2013 
  16. «Another revolution in Egypt: Insights from Egyptian feminist Amal Abdel Hadi». Women's Learning Partnership (Blog). 29 de junho de 2013. Consultado em 13 de junho de 2015. Arquivado do original em 10 de junho de 2015 
  17. «Ahead of anti-Morsi protests, artists target Egypt's minister of culture». Index on Censorship. 28 de junho de 2013 
  18. «Egypt intellectuals retaliate against culture minister after urgent meeting». Ahram Online. 7 de junho de 2013 
  19. «Press Release by Operation Anti-Sexual Harassment/Assault on Sexual Assaults during 30 June Demonstrations». Jadaliyya. 2 de julho de 2013 
  20. «Anti-Morsi Activists Set Up Female-Only Protest Zone to Protect Against Sexual Harassment at Tahrir Square». The Blaze. 30 de junho de 2013. Consultado em 13 de junho de 2015. Arquivado do original em 13 de abril de 2015 
  21. «Gama'a al-Islamiya organises pro-Morsi protests to counter 'rebellion' campaign». Albawaba News. 6 de junho de 2013 
  22. ElBaradei exige a Mursi que revoque el decreto "dictatorial" - europapress
  23. McCrumen, Stephanie; Hauslohner, Abigail (5 de dezembro de 2012). «Egyptians take anti-Morsi protests to presidential palace». The Independent. London 
  24. «Morsy issues new constitutional declaration». Egypt Independent. 22 de novembro de 2012 
  25. David D. Kirkpatrick (26 de novembro de 2012). «Egypt's government shows rift over Morsi decree – World». The Boston Globe 
  26. Brown, Jeffrey (6 de dezembro de 2012). «Egyptian Army Steps in After Violent Overnight Clashes at Presidential Palace». PBS 
  27. «Clashes between rival protesters in Cairo kill 3, wound hundreds». Fox News Channel. 6 de dezembro de 2012 
  28. «Protests roil Egypt». The Washington Post 
  29. «Egypt's President Morsi calls for a nationwide referendum». CTV News. 1 de dezembro de 2012 
  30. Kirkpatrick, David (6 de dezembro de 2012). «More Morsi Aides Resign as Egypt Deploys Tanks in Cairo». Post Gazette. Cairo 
  31. Hamza Handawi; Maggie Michael (6 de dezembro de 2012). «Egyptian army moves to restore order after deadly protests over constitutional crisis». Cairo: The Washington Times. Associated Press 
  32. a b «Egypt's Mursi annuls controversial decree, opposition says not enough». Al Arabiya. 9 de dezembro de 2012 
  33. «Egypt's opposition to appeal 'fraudulent' referendum results». Al Arabiya. 23 de dezembro de 2012. Consultado em 13 de junho de 2015. Arquivado do original em 2 de fevereiro de 2015 
  34. Hussein, Abdel-Rahman (23 de dezembro de 2012). «Egypt referendum: opposition calls for fraud inquiry». London: The Guardian 
  35. «Egypt opposition cries 'fraud' in referendum». The Daily Star. 23 de dezembro de 2012 
  36. "Mohammed Morsi's ouster: Key events in Egypt's uprising and unrest," India Today, 4 July 2013.
  37. «BBC in Egypt: 'People were not expecting this'». BBC News. 30 de junho de 2013 
  38. "Seeking New Leadership, Millions of Egyptians Take to the Streets". The Atlantic.
  39. Alsharif, Asma (30 de junho de 2013). «Millions flood Egypt's streets to demand Mursi quit». Reuters 
  40. «Egypt: Mahalla workers join rebellion, reject privatization plans». MENA Solidarity Network. 28 de junho de 2013 
  41. "Tahrir Square protesters show President Mursi the 'red card'". Al Arabiya. 30 June 2013.
  42. «Anti-Mursi 'Rebel' campaign receives more than 22 million signatures». 29 de junho de 2013 
  43. a b «Morsy out in Egypt coup». CNN. 28 de junho de 2013 
  44. «Egyptian army suspends constitution». BBC News. 3 de julho de 2013 
  45. «BBC News – Egypt clashes: Divided views». Bbc.co.uk. 9 de julho de 2013 
  46. «Morsi supporters stage demonstrations in Alexandria, other cities – Trend.Az». En.trend.az. 16 de julho de 2013 
  47. «Egypt's military shuts down news channels – Middle East». Al Jazeera English 
  48. Youssef, Nancy A. «Tales of witnesses to Cairo massacre back pro-Morsi version | McClatchy». Mcclatchydc.com 
  49. Sengupta, Kim; Beach, Alastair (9 de julho de 2013). «Cairo massacre eyewitness report: At least 51 dead and more than 440 injured as army hits back at Muslim Brotherhood supporters – Africa – World». London: The Independent 
  50. Saleh, Yasmine (27 de julho de 2013). «With dozens dead, U.S. tells Egypt to pull 'back from the brink'». Reuters 
  51. «Scores killed in clashes at pro-Morsi rally – Middle East». Al Jazeera English 
  52. «Thousands rally in dueling protests in Egypt – Middle East». Al Jazeera English 
  53. Catherine Thompson (5 de julho de 2013). «Egyptian Army Denies Reports It Shot at Protesters | TPM LiveWire». Livewire.talkingpointsmemo.com 
  54. Youssef, Nancy A. (23 de julho de 2013). «CAIRO: Tales of witnesses to Cairo massacre back pro-Morsi version – World». MiamiHerald.com