Ratos e Urubus, Larguem Minha Fantasia
Ratos e Urubus, Larguem Minha Fantasia foi o enredo criado por Joãosinho Trinta e apresentado pela Beija-Flor no desfile das escolas de samba do Rio de Janeiro de 1989. A escola ficou em segundo lugar na apuração, perdendo para a Imperatriz Leopoldinense (que desfilou com Liberdade, Liberdade), porém marcou a Passarela do Samba com um dos desfiles mais impactantes da história do carnaval carioca[1].
Há três versões para a concepção do desfile. Numa delas, Joãosinho Trinta teria se inspirado numa mendiga que viu em Londres, em 1988, e que o impressionou pela sua elegância[2]. Outra influência pode ter sido o musical da Broadway Les Misérables, que o carnavalesco assistiu. No entanto, uma das versões mais aceitas entre os sambista está no fato de que Joãozinho Trinta não teria gostado do excesso de elogios por parte de crítica à estética rústica apresentada pela Unidos de Vila Isabel no ano anterior (o que rendeu aclamação a escola do bairro de Noel; sucesso da crítica e do público). Na avenida, a Beija-Flor mostrou o contraste entre o luxo das elites e a pobreza dos mendigos que vivem no meio do lixo[3].
Censura[editar | editar código-fonte]
O carro abre-alas traria uma reprodução do Cristo Redentor vestido como um mendigo. Às vésperas do carnaval, porém, a Arquidiocese do Rio de Janeiro conseguiu uma ordem judicial proibindo a apresentação da alegoria. Joãosinho Trinta não se deu por vencido: cobriu a alegoria com um plástico preto e acrescentou uma faixa com a frase "mesmo proibido, olhai por nós"[4].
Resultado[editar | editar código-fonte]
Na apuração, a Beija-Flor recebeu três notas 9, nos quesitos samba-enredo, conjunto e evolução. João Máximo, jurado de samba-enredo, criticou o refrão "Leba larô, ô ô ô ô/ Ebo lebará laiá laiá ô", que considerou "ofensivo à língua portuguesa"[5]. Pedro Ângelo Suzana, o julgador de conjunto, justificou sua nota afirmando que Joãosinho Trinta encheu a escola de integrantes e com isso acabou desrespeitando a exigência de um espaço entre as alas. Cláudio Cunha, que tirou um ponto da escola em evolução, afirmou que viu um buraco na passarela, porém anos depois se disse arrependido de não ter dado a nota 10 que faria a escola campeã[6].
No fim, Beija-Flor e Imperatriz Leopoldinense ficaram empatadas em primeiro lugar, com 210 pontos. Como a Beija-Flor havia descartado maior número de notas 9, a Imperatriz foi a campeã.
Samba-enredo[editar | editar código-fonte]
O samba-enredo foi composto por Betinho, Glyvaldo, Zé Maria e Osmar, e interpretado por Neguinho da Beija-Flor. O refrão trazia os versos Sou na vida um mendigo/Da folia eu sou rei[7].
Ficha técnica[editar | editar código-fonte]
- Resultado: 2ª colocada no Grupo 1
- Autor do enredo: Joãosinho Trinta
- Carnavalesco: Joãosinho Trinta
- Presidente:Anísio Abraão David
- Diretor de Carnaval: Laíla
- Diretor de Harmonia: Laíla
- Casal de Mestre-Sala e Porta-Bandeira: Rosária e Marco Aurélio
- Coreógrafo da Comissão de Frente: Amir Haddad
- Bateria: Mestre Milton Rodrigues (Pelé)[7]
Referências
- ↑ [https://oglobo.globo.com/rio/carnaval/2016/perdeu-titulo-ganhou-historia-18454713 Perdeu o título, ganhou a história]. O Globo
- ↑ Há 25 anos, lixo revolucionário da Beija-Flor reinava no Sambódromo. O Globo, 26 de janeiro de 2014
- ↑ FARIAS, Edson. O desfile e a cidade: o carnaval-espetáculo carioca. Editora E-papers, 2006. Página 421
- ↑ Beija-Flor relembra desfile polêmico de Joãosinho Trinta. Veja, 30 de dezembro de 2011
- ↑ Sambódromo em 30 Atos – “1989: No ano que não terminou, foi a Imperatriz que levou”. Ouro de Tolo, 11 de novembro de 2013
- ↑ Jurado que tirou o título de "Ratos e urubus" lamenta: "Se eu soubesse, teria dado 10 para a Beija-Flor". Extra, 22 de dezembro de 2011
- ↑ a b Beija-Flor de Nilópolis - Carnaval de 1989 - Ratos e Urubus, Larguem Minha Fantasia. galeria do Samba