Roberto Albergaria

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Roberto Albergaria
Nascimento 1950
Cachoeira
Morte 3 de julho de 2015
Salvador
Cidadania Brasil
Alma mater
Ocupação professor universitário, historiador, antropólogo, comentador

Roberto Albergaria de Oliveira (Cachoeira, 1950[1]Salvador, 3 de julho de 2015), foi um historiador, antropólogo, comentarista de rádio e professor universitário brasileiro, conhecido em Salvador por suas opiniões anárquicas e polêmicas. Defensor dos direitos individuais, era muitas vezes politicamente incorreto ao expor suas ideias e, por vezes, lançava-as como um desafio a que seus ouvintes e interlocutores raciocinassem sobre o assunto.

Biografia[editar | editar código-fonte]

Albergaria formou-se em história na Universidade Federal da Bahia. Tendo feito doutorado em antropologia pela Universidade Paris VII, onde foi orientado por Michel de Certeau[2], veio a integrar o corpo docente do Departamento de Antropologia e Etnologia da Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Federal da Bahia, onde lecionou por mais de duas décadas.[3]

No final de 1970, ainda estudante e sem antecedentes políticos, foi preso pelo regime militar por integrar o movimento estudantil, após levar a amiga Maria da Glória Midlej[nota 1] à rodoviária que, chegando ao Rio de Janeiro, também foi presa e bastante torturada.[5]

Sua atuação intelectual era dedicada à "pesquisa voltada para a área de antropologia do cotidiano, urbana e histórica, principalmente em temas como mídia, carnaval, sociabilidade, simbolismos e baianidade".[6]

Ficou popular atuando por quinze anos como comentarista dos mais variados assuntos da realidade baiana na Rádio Metrópole, falando sempre de uma forma veemente, quase gritando, como declarou o amigo e diretor da emissora Marcos Meira: "ele não dizia na cara, cuspia" — e frisando sempre: “Cê tá entendendo?!”[7] Neste sentido a jornalista Malu Fontes resumiu: “Ele era um provocador, brincava com o próprio jargão da academia, falava sobre o comportamento e o ‘jeitinho baiano’, sobre a música que consumimos e sobre redes sociais de uma forma que tanto os seus pares quanto o vendedor de verduras da Feira de São Joaquim entendiam”.[7]

Apesar da vida pública, o professor Albergaria sempre foi solitário. Quando de sua morte a empregada declarou que vira um seu irmão apenas uma vez, por volta do ano 2000. O ativista Luiz Mott contou que o colega morou com uma tia em um apartamento num bairro nobre da cidade que, com a morte desta, foi vendido e ele então comprou uma ampla casa na Cidade Baixa onde passou a morar, ficando cada vez mais recluso, a ponto de se negar a receber a visita de amigos como a professora Consuelo Pondé de Sena. Ali mantinha um acervo de mais de seis mil livros e plantava árvores.[7]

Um mês antes de sua morte, lançou provocação sobre a situação política que já então se acirrava nas redes sociais, falando do “brasileiro frouxo” e que “O buraco é bem mais embaixo do que imaginam os insuportáveis coxinhas e petralhas que entopem a internet com as suas patacoadas que eles acham que são militantes”[nota 2], e provocando seus ouvintes: “Agora me esculhambem mesmo que eu mereço. Quem está na chuva é para se queimar. Eu sou da nigrinhagem”.[7]

Morte[editar | editar código-fonte]

Albergaria vinha sofrendo de uma doença que o deixara preso a uma cadeira de rodas e chegou a confidenciar a Luiz Mott que havia comprado uma arma para o caso de se tornar incapacitado e com ela tirar a própria vida. Foi encontrado morto em sua residência por Marcos Meira, e foi sepultado no Cemitério do Campo Santo.[7]

O então reitor da UFBa, João Carlos Salles Pires da Silva, conterrâneo e colega de campus declarou, quando de sua morte: "Foi, sem dúvida, um intelectual destacado na nossa sociedade, com posições fortes e polêmicas, mas bem amparadas, que nos levavam a refletir".[3] O governador do estado à época, Rui Costa, emitiu nota em que dizia: "Albergaria fazia as pessoas refletirem sobre a vida e a sociedade, com bom humor e irreverência, suas crônicas e conferências vão deixar saudade". Também a Secretaria de Cultura do estado emitiu uma nota de pesar.[6]

No jornal A Tarde, um comentarista assinalou: "O Albergaria que dizia que o baiano pula Carnaval com a mão na cabeça para não perder o juízo foi para o céu", em texto intitulado "Albergaria, o nosso esculhambador-mor".[8]

Obras[editar | editar código-fonte]

Livros[editar | editar código-fonte]

  • OLIVEIRA, Roberto Albergaria de. Braxiili, Bracir, Braziel, Bersill. Considérations au sujet d’une anthropologie historique. Préliminaires analytiques. Paris: Université Paris VII, 1981.[2]
  • OLIVEIRA, Roberto Albergaria de; ARAÚJO, Ubiratan Castro de; FREITAS, Antonio Fernando Guerreiro de. Cultura e constituinte: representações baianas da vida política nacional (aspectos históricos e antropológicos). Salvador: Gráfica da UNEB, 1987.

Artigos acadêmicos e Capítulos de livros[editar | editar código-fonte]

  • OLIVEIRA, Roberto Albergaria de. "La face cachée de l'École et les arts de vivre". Societés: Revue des Sciences Humaines et Sociales ed Masson, Paris, v. 2, n. 8, 1986.
  • OLIVEIRA, Roberto Albergaria de. "Repensando a Constituinte de um ponto de vista cultural". Cadernos de Educação Política, Salvador, v. 1, 1988.
  • OLIVEIRA, Roberto Albergaria de. "Os donos da justiça e os magistrados honrados". Revista de Filosofia e Ciências Humanas, Salvador, v. n. 2, 1991.
  • OLIVEIRA, Roberto Albergaria de. "A arapuca do desejo no Extremo-Ocidente baiano". Revista Sarau, Salvador (Facom/UFBA), v. 1, n. 1, 1992.
  • OLIVEIRA, Roberto Albergaria de. "O futuro não é mais o que sonhávamos". Revista Pré-Textos para Discussão, Salvador, n. 10, p. 19-25, 2001.
  • OLIVEIRA, Roberto Albergaria de. "O mundo humano-baiano como vontade e representação". In: LIMA, P.C et alii. (Org.). Quem faz Salvador?. Salvador: UFBA/PMS/SEPLAN, 2002.
  • OLIVEIRA, Roberto Albergaria de. "Desinformantes e dessensibilizantes carnavais: o espetaculoso da tevê e o morrinhoso do jornal". Textos e Contextos, Salvador, v. 1, n. 1, p. 86-100, 2003.

Homenagens[editar | editar código-fonte]

Seu acervo bibliográfico "composto por aproximadamente 6.500 livros, 87 periódicos, 56 caixas contendo documentos heterogêneos, relatórios de pesquisas, fotografias, correspondências e anotações, além de uma centena de objetos tridimensionais" foi doado à Biblioteca do campus Sosígenes Costa da Universidade Federal do Sul da Bahia, compondo uma coleção que leva seu nome, sendo parte de um memorial em sua homenagem naquela universidade.[1]

Em 9 de julho de 2016, a Associação Bahiana de Imprensa sediou o sarau "Música, Baianidade e Lugar da Fala" em que foi homenageado o antropólogo.[9] Nesse mesmo ano uma rua do bairro Castelo Branco, na capital baiana, recebeu o nome de rua Professor Roberto Albergaria de Oliveira.[10]

Notas e referências

Notas

  1. Conquanto Fernando José grafe o nome da militante "Goia" como Midley, o sobrenome correto escreve-se Midlej.[4]
  2. Como se trata de transcrição da fala do biografado, foi feita a correção ortográfica dos erros na referência (em baixo, pataquada)

Referências

  1. a b Lucas Sousa Carvalho (2020). «Coleções Especiais: o acervo do Professor Roberto Albergaria de Oliveira e suas possibilidades no processo de ensino- aprendizagem» (PDF). UFSB. Consultado em 30 de abril de 2023. Cópia arquivada em 30 de abril de 2023 
  2. a b «BIBLIOGRAPHIE: ŒUVRES DE MICHEL DE CERTEAU». Classiques Garnier. Consultado em 23 de fevereiro de 2024 
  3. a b Institucional (3 de julho de 2015). «Sepultamento do professor Albergaria será hoje, no Campo Santo». UFBA. Consultado em 29 de abril de 2023. Cópia arquivada em 29 de abril de 2023 
  4. Grimaldo Carneiro Zachariadhes (org.) (2009). Ditadura Militar na Bahia: novos olhares, novos objetos, novos horizontes. vol. 1. Salvador: Edufba. p. 138. ISBN 9788523206406 
  5. Emiliano José (8 de abril de 2013). «Corpo amputado querendo se recompor». Carta Capital. Consultado em 1 de maio de 2023. Cópia arquivada em 11 de maio de 2013 
  6. a b «Antropólogo Roberto Albergaria morre em Salvador». G1. 3 de julho de 2023. Consultado em 29 de abril de 2023. Cópia arquivada em 30 de julho de 2015 
  7. a b c d e Alexandro Mota; Graciela Alvarez; Naiana Ribeiro (4 de julho de 2015). «Encontrado morto em casa, Albergaria tinha quadro de depressão». Correio. Consultado em 29 de abril de 2023. Cópia arquivada em 29 de abril de 2023 
  8. Luiz Fernando Lima (4 de julho de 2015). «Albergaria, o nosso esculhambador-mor». A Tarde. Consultado em 30 de julho de 2015. Cópia arquivada em 30 de julho de 2015 
  9. «Sarau da Imprensa discute Música, Baianidade e Lugar da Fala». Fundação Cultural do Estado da Bahia. 7 de junho de 2016. Consultado em 30 de abril de 2023. Arquivado do original em 30 de abril de 2023 
  10. «Nove logradouros de Salvador passam por alteração em suas denominações». Bahia Notícias. 12 de agosto de 2016. Consultado em 30 de abril de 2023. Cópia arquivada em 13 de agosto de 2016 

Ligações externas[editar | editar código-fonte]