Salinas da Fonte da Bica

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Salinas da Fonte da Bica

As Salinas da Fonte da Bica, também conhecidas por Salinas de Rio Maior, estão no vale Tifónico, no sopé da Serra dos Candeeiros, a três quilómetros da cidade de Rio Maior, em Portugal.[1]

Nomeadas de Salinas da Fonte da Bica porque tinham proprietários da Fonte da Bica que se localizava relativamente perto, pelo que nos documentos e escrituras assim são designadas.

As Salinas da Fonte da Bica encontram-se classificadas como Imóvel de Interesse Público desde 1943.[1]

Descrição[editar | editar código-fonte]

São compartimentos – talhos - feitos de cimento ou de pedra, de tamanho variado e pouco fundos, para onde, por regueiras, é conduzida a água salgada que se tira de um poço.

Presentemente, a água é elevada por meio de um motor e distribuída segundo um sistema conjuntamente aceite e respeitado (nem sempre) por todos os proprietários. Os esgoteiros, as eiras e as casas de madeira para armazenagem do sal completam o conjunto do que é denominado Marinhas de Sal de Rio Maior.

Uma mina de sal-gema, extensa e profunda, segundo os técnicos, atravessada por uma corrente subterrânea que alimenta um poço, faz com que a água dele extraída seja salgada, sete vezes mais salgada que a do mar. Da sua exposição ao sol e ao vento e consequente evaporação da água obtêm-se o sal, depositado no fundo dos talhos, o qual depois é colocado em montes, em forma de pirâmides, para secar até ser recolhido.

O processo é rudimentar e semelhante ao usado nas salinas da beira-mar. Só há diferença no vale pitoresco que as rodeia, no poço, no estilo próprio dos marinheiros (como são conhecidos os homens que trabalham nas salinas), nas casas de madeira e no ar campestre que se respira.

História[editar | editar código-fonte]

As salinas de Rio Maior têm oito séculos de História. Em 1177, Pêro d’Aragão e sua mulher Sancha Soares venderam aos Templários “a quinta parte que tinham do poço e Salinas de Rio Maior, cujo poço partia pelo Este com Albergaria do Rei; pelo Oeste com D. Pardo e com a Ordem do Hospital; pelo Norte com Marinhas da mesma Ordem; e pelo Sul com Marinhas do dito D. Pardo”. Assim diz Pinho Leal, citando o escrito comprovativo dessa venda. Este documento, que é o mais antigo que se conhece referente a Rio Maior, encontra-se arquivado na Torre do Tombo em Lisboa.

Este contrato situa-se no limiar da nossa nacionalidade, já Lisboa e Santarém tinham sido conquistadas aos mouros por Dom Afonso Henriques, e ainda este não tinha sido reconhecido rei pelo papa, o que aconteceu só em 1179.

No último quartel do séc. XII, já existia uma exploração nas Salinas, menor ou talvez maior que a de hoje. Consta, no entanto, que o poço primitivo teria sido situado mais para Norte, no sítio denominado Marinha Velha. Há notícia que esse poço, no Séc. XII ou princípios do séc. XIII, só alimentaria seis talhos.

O poço actual foi aberto, segundo a tradição, devido ao acaso. Uma rapariga que apascentava uns animais, para mitigar a sede, tentou beber numa poça de água que aflorava num juncal. O sabor fortemente salgado foi-lhe extremamente desagradável e comentou isso mesmo, quando chegou a casa. Seu pai e vizinhos apressaram-se a ir cavar em tal sítio de onde surgiu o poço actual, tendo secado depois o primitivo.

Certamente através dos séculos, a exploração das salinas fez-se por processo iguais aos de há poucos anos, quando a água era tirada com dois baldes por meio de picota (esta foi introduzida na Península Ibérica pelos árabes), mas consta que, antes da Reconquista Cristã, os romanos e depois os árabes já exploravam as Marinhas em larga escala.

As típicas tabernas eram montadas nalgumas das casas de madeira e funcionavam apenas durante a “safra”.

O seu tipicismo foi desaparecendo, mas manteve-se uma curiosa “escrita”, algo original, representando uma notável lição de psicologia aplicada. Com o trabalho duro da marinha, com noites frias e húmidas, os homens sentiam necessidade de ingerir doses avultadas de álcool, sendo por isso frequente a sua passagem pela taberna. Então o taberneiro montava a sua escrita em tábuas de madeira, com cerca de 1 metro e meio de comprimento por 10 a 15 cm de largura, cada uma delas descrevendo a conta de um freguês. Na régua era escrita, com sinais convencionais, a despesa que o cliente ia fazendo ao longo da safra e os pagamentos que ia efectuando. Cada sinal representava a bebida consumida e o respectivo preço, ficando as tábuas permanentemente penduradas nas paredes da taberna. Resultavam daqui várias vantagens: o cliente sabia sempre quanto devia e os outros ficavam a saber se ele era ou não um bom bebedor. O taberneiro, jogando com esses dados, ia recebendo com mais facilidade as suas contas. É de realçar, que o pagamento era sempre feito em sal.

Nessas épocas recuadas, o sal era uma substância importante no comércio entre os povos como moeda de troca, sendo utilizado como pagamento de jornas, daí a proveniência da palavra salário.

Além de ser apreciado como condimento – já o era pelos romanos e gregos e até por civilizações mais antigas – era usado também como modo essencial de conservação dos alimentos, já que eram desconhecidos os actuais métodos de refrigeração, sendo ainda utilizado na preparação de peles e conservação de couros.

Por todo este valor, o domínio do comércio do sal sempre foi uma preocupação primordial dos poderosos, controlando o que era enviado, com outros produtos, para o Mediterrâneo e daí para Oriente pelos Árabes, ou então para o norte da Europa pelos cristãos, através das florescentes Ordens religiosas. Foi o caso dos frades da Ordem de Cister, que por essa época fundaram a sua casa-mãe em Portugal, mais concretamente em Alcobaça, devido à generosidade e devoção de Dom Afonso Henriques.

O mar, os rios e as vias romanas, ou o que delas restavam, eram os elos de ligação entre os povos. Sendo o Rio Maior navegável até parte do seu percurso, é natural que fosse utilizado para comunicação com o Tejo, porta de saída principal para o comércio externo no qual se incluiria o sal pela sua extraordinária qualidade.

Devia ser o comércio o motivo que levou os Templários a comprar, como se viu anteriormente “um quinto do poço e salinas de Rio Maior “, parte delas pertencia já à Ordem do Hospital.

Nessa época, começaram a surgir nos caminhos as albergarias, com o fim de abrigar peregrinos e doentes, tendo sido esta a causa principal da fundação da Albergaria do Rei, também adquirida pela Ordem dos Templários.

Terá sido instituída e frequentada pelo rei, que lá pernoitava, aquando das suas deslocações de e para o Paço de Coimbra durante as guerras com os árabes, provindo daí o seu nome.

Por essa venda de 1177, começo “documentado” da história das Marinhas de Rio Maior, vê-se que parte do poço e salinas já pertenciam a particulares, não sendo claro se essa propriedade foi adquirida aos árabes pelo direito de presúria ou se estas já pertenciam a homens livres, quando a região foi ocupada pelos árabes. É provável que se tratasse de bens apropriados aquando da conquista por Dom Afonso Henriques.

A existência das Marinhas durante estes séculos confunde-se com os interesses e vicissitudes dos seus proprietários e da própria região.

A Ordem dos Templários, proprietária de parte do poço e salinas como atrás referimos, foi extinta em 1312, tendo todos os seus bens passado para a Coroa, sendo entregues à Ordem de Cristo em 1319, por ordem de Dom Dinis.

No entanto, Maia Alcoforado em 1877, no artigo "A indústria do sal", na revista "Museu Tecnológico"[2] citado por Mário Vieira de Sá, no livro “ Sal Comum “, refere que as Marinhas pertenceriam à Casa de Bragança até à proclamação de Dom João IV, tendo-as este monarca vendido ao Conde de Vimioso, “cujos herdeiros as terão alienado mais tarde a diferentes proprietários a quem hoje pertencem”.

Referências

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Ligações externas[editar | editar código-fonte]

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