TUE Série 800 (RFFSA)

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TUE Série 800 (RFFSA)

TUE Série 800 modernizado.
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Fabricante
Fábrica Nuremberga/
Três Rios
Período de construção 1978-1983
Entrada em serviço 1980-2015
Período de renovação c.2000
Total construídos 240 carros
Total em serviço 50 carros
Total desmanchados 208 carros
Formação M+R+R+M
Capacidade 948 (6 passageiros m2)
Operador
Linhas Metrô de Belo Horizonte,Metrô de Recife
Especificações
Corpo aço inoxidável
Comprimento Total 88 m
Comprimento do veículo 22 m
Portas 4 por carro
acionamento pneumático
Velocidade máxima 90 km/h (operacional, limitado pelo ATC/ATO)

120 km/h (em testes)

Peso 194.000 kg
Aceleração 0,8 m/s2
Desaceleração 0,77 m/s2 (normal)

1,10 m/s2 (emergência)

Motor GEC Traction
Potência 1437 kW
Tipo de transmissão Chopper tiristorizado
Tipo de climatização ventilação forçada
Captação de energia catenária
pantógrafo
Freios sapatas com pastilhas fenólicas
segurança ATC+ATP
Acoplamento engate padrão AAR
Bitola 1600 mm

O TUE Série 800 (RFFSA) foi um trem unidade elétrico adquirido pela Rede Ferroviária Federal (RFFSA) em 1977, como parte de uma encomenda de 150 trens-unidade para atender aos subúrbios do Rio de Janeiro. Foi aposentado em 2015 pela concessionária SuperVia.[1]

História[editar | editar código-fonte]

Apesar do crescimento da demanda de passageiros nos subúrbios do Rio de Janeiro na década de 1970, a frota de trens existente era pequena e se encontrava sobrecarregada. A superlotação resultante gerou protestos violentos, depredações de veículos e estações e até acidentes. Após o acidente ocorrido na estação de Magno, a Rede Ferroviária Federal (RFFSA) resolveu investir em um plano emergencial de recuperação de estações, trens, sistemas elétricos e sinalização.[2] Para ampliar a capacidade de transporte, foram adquiridos 150 trens unidade a um custo de 5,8 bilhões de cruzeiros. O maior dos contratos foi assinado em 23 de dezembro de 1977 e previa a aquisição de 120 trens unidade divididos por Cobrasma (30 trens), Mafersa (30 trens) e Santa Matilde (60 trens).[3]

Fabricante/série Quantidade (TUE) Entrega da primeira unidade[4] Custo Financiador
Hitachi (Série 500)[5] 30 11 de maio de 1977 Cr$ 600 milhões N/D
Mafersa (Série 700) 30 27 de fevereiro de 1981 Cr$ 5,2 bilhões BNDES
Santa Matilde (Série 800) 60 agosto de 1980
Cobrasma (Série 900) 30 agosto de 1980
Total 150 Cr$ 5,8 bilhões

Para fabricar os 60 trens-unidade, a Santa Matilde se associou às empresas MAN (Alemanha), GEC Traction (Inglaterra) e Villares.[6] As especificações técnicas exigidas pela RFFSA incluíam a fabricação de trens com carroceria em aço inoxidável. Diferente da Mafersa (que fabricava trens inoxidáveis desde a década de 1950) e Cobrasma (que havia adquirido uma licença de fabricação francesa de trens inoxidáveis em 1975 e estava ampliando sua fábrica), a Santa Matilde não possuía recursos para investir nesse método, embora tenha recebido o maior contrato da RFFSA. Assim, ficou acordado que a fabricação de carrocerias e truques seria dividida da seguinte forma[7]:

Item Fabricante Quantidade
Carrocerias e estrados MAN (Nuremberga) 80 peças
Villares (São Bernardo)[8] 160 peças
Truques e engates MAN (Nuremberga) 168 peças
Santa Matilde (Três Rios) 312 peças
Equipamentos elétricos GEC Traction (Londres) 240 peças
Montagem Santa Matilde (Três Rios) 240 carros

Após atrasos, por falta de pagamento da RFFSA, primeiro trem (quatro carrocerias) foi fabricado pela MAN em Nuremberga em 1979 e entregue para a Santa Matilde em fevereiro de 1980. A previsão era que até junho mais três trens seriam entregues. Após os testes, os primeiros trens foram entregues para a operação em agosto daquele ano.[9][10]

A Série 900 deveria ter sido totalmente entregue até 1982 porém, por problemas econômicos da Santa Matilde e técnicos dos trens, as últimas 10 unidades das 60 contratadas foram entregues em 1984.[11]

Operação[editar | editar código-fonte]

RFFSA/CBTU (1980-1994)[editar | editar código-fonte]

À direta: um dos recém entregues trens da Série 800 (com sua frente original), 1982.

Os primeiros trens entraram em serviço em 1980, porém seu baixo desempenho fez com que 19 fossem devolvidos para a fábrica da Santa Matilde para reparos. Relatórios da RFFSA indicaram falhas nos motores de tração fornecidos pela GEC Traction (que superaqueciam no calor do Rio de Janeiro), soldas defeituosas nas carrocerias construídas pela MAN e erros de montagem/acabamento da Santa Matilde. Em abril de 1982 os trens Série 800 percorreram apenas 208 quilômetros entre falhas (MKBF), abaixo do padrão mínimo de 1000 quilômetros exigido pela RFFSA.[12] Em 1984 os subúrbios da RFFSA foram desmembrados da empresa e incorporados pela recém criada Companhia Brasileira de Trens Urbanos (CBTU).[11]

Durante a década de 1980 a CBTU teve de acionar a Santa Matilde para reparar problemas na ventilação dos motores, sistemas pneumáticos e elétricos dos trens Série 800. Além dos 19 trens reabilitados pela Santa Matilde entre 1981 e 1983, a CBTU teve de reabilitar 5 trens até 1989. Mesmo assim, a CBTU classificou em seus relatórios como baixo o desempenho dos trens das Séries 800 e 900 (Cobrasma):

Ano Disponibilidade (%)
1983 87,3
1984 [11] 86,8
1985 82,8
1986 [13] 86,5
1987 80
1988 [14] 71
1989 [15] 51
Disponibilidade média

(1983-1989)

77,91 %

Em 1990, a situação da frota da CBTU era precária, com 60% dos trens imobilizados por falta de peças. A falência da Santa Matilde em 1988 (quado ainda reparava alguns trens série 800) e problemas nos manuais dos trens Série 800 (considerados imprecisos), tornaram os serviços de manutenção ineficientes. Naquele ano, 10 carros haviam sido destruídos em acidentes e atos de vandalismo e representavam uma queda de 3 trens-unidade da frota original de 60.[16][17]

Flumitrens (1994-1998)[editar | editar código-fonte]

A malha da CBTU no Rio de Janeiro foi estadualizada em dezembro de 1994. Para receber essa malha, o governo do estado do Rio de Janeiro criou a empresa [18] A Flumitrens herdou os projetos de reforma e remobilização da CBTU. Apesar de ser a maior frota de trens do sistema do Rio, a Série 800 foi preterida pelas Séries 400, 700 e 900 nos planos de reabilitação.[19][20][21][22]

Em 1998 o governo do estado do Rio de Janeiro lançou o Programa Estadual de Transportes (PET). Um dos projetos inicialmente estudados pelo programa foi a reabilitação de 17 trens da Série 800. O projeto foi descartado, dado o alto custo de recuperação frente a uma aquisição de trens novos (equivalente a 70% do valor de trens novos).[23]

SuperVia (1998–2015)[editar | editar código-fonte]

A malha de trens urbanos do Rio foi concedida para o Consórcio SuperVia em 1998.[18] Posteriormente a Série 800 passou por reforma e modernização (com a troca da máscara frontal), sendo renomeada Série 8000. A Série 8000 operou até meados de 2015, quando foi substituída.[24]

Ano Falhas Quilometragem percorrida MKBF [25]
2010[26] 7 193680 27669
2011[27] 7 247444 35349
2012 [28] 7 247444 35349
2013[29] 2 113066 56533
2014[30] 18[31] Não divulgado Não disponível
2015

(até outubro) [1]

4 Não divulgado Não disponível

Referências

  1. a b Agência Reguladora de Serviços Públicos Concedidos de Transportes Aquaviários, Ferroviários, Metroviários e de Rodovias do Estado do Rio de Janeiro (AGETRANSP) (outubro de 2015). «3.3.5.4-Quantidade de falhas por série». Relatório de Atividades da Câmara de Transportes e Rodovias (CATRA), página 146. Consultado em 25 de junho de 2019 
  2. «Geisel veio ao Rio para exigir reforma urgente na Central». Jornal do Brasil, Ano LXXXV, Edição 102, página 1/republicado pela Biblioteca Nacional-Hemeroteca Digital Brasileira. 19 de julho de 1975. Consultado em 25 de dezembro de 2019 
  3. «RFF compra 120 trens e começa a recebê-los em março». Jornal do Brasil, Ano LXXXVII,edição 265, página 5/republicado pela Biblioteca Nacional-Hemeroteca Digital Brasileira. 30 de dezembro de 1977. Consultado em 25 de dezembro de 2019 
  4. «Rede só receberá 17 trens». Jornal do Brasil, ano XC, edição 129, página 4/republicado pela Biblioteca Nacional-Hemeroteca Digital Brasileira. 15 de agosto de 1980. Consultado em 24 de junho de 2019 
  5. «Ministro pede hoje a Geisel que autorize compra de 50 trens japoneses para o Rio». Jornal do Brasil, ano edição 210, página 22/republicado pela Biblioteca Nacional-Hemeroteca Digital Brasileira. 4 de novembro de 1976. Consultado em 25 de dezembro de 2019 
  6. «Villares dá equipamento a 60 trens». Jornal do Brasil, ano LXXXVIII, edição 132, página 18/republicado pela Biblioteca Nacional-Hemeroteca Digital Brasileira. 18 de agosto de 1978. Consultado em 25 de dezembro de 2019 
  7. Nilo Sérgio Gomes (31 de maio de 1982). «Crise já provocou esse ano seis mil demissões no setor». Jornal do Commércio, Ano 155, edição 196, página 11/republicado pela Biblioteca Nacional-Hemeroteca Digital Brasileira. Consultado em 26 de dezembro de 2019 
  8. «Quem vai fornecer trens do subúrbio do Grande Rio». Jornal do Commércio, ano 151, edição 275, página 5/republicado pela Biblioteca Nacional-Hemeroteca Digital Brasileira. 30 de agosto de 1978. Consultado em 25 de dezembro de 2019 
  9. «Vagões fabricados no Brasil atrasam por falta de verbas». Jornal do Brasil, ano LXXXVIII, edição 239, página 32/republicado pela Biblioteca Nacional-Hemeroteca Digital Brasileira. 3 de dezembro de 1978. Consultado em 25 de dezembro de 2019 
  10. «Divisão especial da RFF tem novo diretor». Jornal do Brasil, ano LXXXIX, edição 323, página 9/republicado pela Biblioteca Nacional-Hemeroteca Digital Brasileira. 29 de fevereiro de 1980. Consultado em 25 de dezembro de 2019 
  11. a b c Companhia Brasileira de Trens Urbanos (1984). «STU-RJ-Desempenho da frota» (PDF). Relatório Anual, página 68. Consultado em 27 de dezembro de 2019 
  12. Nilo Sérgio Gomes (17 de maio de 1982). «Trens Santa Matilde são devolvidos». Jornal do Commércio, ano 155, edição 184, página 7/republicado pela Biblioteca Nacional-Hemeroteca Digital Brasileira. Consultado em 25 de dezembro de 2019 
  13. ibdem (1986). «STU-RJ-Desempenho da Frota» (PDF). Relatório Anual, página C-26. Consultado em 27 de dezembro de 2019 
  14. ibdem (1988). «STU-RJ-Desempenho da Frota» (PDF). Relatório Anual, página 27. Consultado em 27 de dezembro de 2019 
  15. ibdem (1989). «STU-RJ-Desempenho da Frota» (PDF). Relatório Anual, página 41. Consultado em 1 de maio de 2019 
  16. Ayrton Baffa (29 de outubro de 1990). «Quebrados 60% dos trens urbanos». Jornal do Commércio (RJ), Ano 164, edição 21, página 16/republicado pela Biblioteca Nacional-Hemeroteca Digital Brasileira. Consultado em 27 de dezembro de 2019 
  17. Ângela Regina Cunha (14 de fevereiro de 1989). «Três Rios pede socorro». Jornal do Brasil, ano XCVIII, edição 308, Caderno Cidade, página 6/republicado pela Biblioteca nacional-Hemeroteca Digital Brasileira. Consultado em 27 de dezembro de 2019 
  18. a b «A Central». Companhia Estadual de Engenharia de Transportes e Logística do Rio de Janeiro. Consultado em 25 de dezembro de 2019 
  19. Flumitrens (6 de setembro de 1996). «Editais 003 e 004/96». Jornal do Brasil, Ano CVI, edição 151, Negócios e Finanças página 23/republicado pela Biblioteca Nacional-Hemeroteca Digital Brasileira. Consultado em 27 de dezembro de 2019 
  20. «Concorrência:Flumitrens». Jornal do Commércio (RJ), Ano CLXIX, edição 296, Caderno Serviços e Negócios-Seu Dinheiro página B-4/republicado pela Biblioteca Nacional-Hemeroteca Digital Brasileira. 24 de setembro de 1996. Consultado em 27 de dezembro de 2019 
  21. «Licitações: Flumitrens». Jornal do Commércio (RJ), Ano CLXX, edição 145, Caderno Seu Dinheiro página D-4/republicado pela Biblioteca Nacional-Hemeroteca Digital Brasileira. 1 de abril de 1997. Consultado em 27 de dezembro de 2019 
  22. Flumitrens (16 de abril de 1998). «Loan Agreement nº 4291 BR». Jornal do Brasil, Ano CVIII, edição 8, Negócios e Finanças página 14/republicado pela Biblioteca Nacional-Hemeroteca Digital Brasileira. Consultado em 27 de dezembro de 2019 
  23. «Programa de Material Rodante» (PDF). Agetransp, página 38. 2 de agosto de 2001. Consultado em 27 de dezembro de 2019 
  24. «Novo trem entra em circulação na SuperVia». Destak Rio de Janeiro. 4 de dezembro de 2018. Consultado em 27 de dezembro de 2019 
  25. Quilometragem média entre falhas (do inglês Mean Kilometer Between Failure)
  26. Agência Reguladora de Serviços Públicos Concedidos de Transportes Aquaviários, Ferroviários, Metroviários e de Rodovias do Estado do Rio de Janeiro (AGETRANSP) (dezembro de 2010). «4.3.3 Dados da Frota» (PDF). Relatório de Atividades da Câmara de Transportes e Rodovias (CATRA), página 18. Consultado em 25 de junho de 2019 
  27. Agência Reguladora de Serviços Públicos Concedidos de Transportes Aquaviários, Ferroviários, Metroviários e de Rodovias do Estado do Rio de Janeiro (AGETRANSP) (dezembro de 2011). «4.3.3 Dados da Frota» (PDF). Relatório de Atividades da Câmara de Transportes e Rodovias (CATRA), página 11. Consultado em 25 de junho de 2019 
  28. Agência Reguladora de Serviços Públicos Concedidos de Transportes Aquaviários, Ferroviários, Metroviários e de Rodovias do Estado do Rio de Janeiro (AGETRANSP) (dezembro de 2012). «3.3.3 Dados da Frota» (PDF). Relatório de Atividades da Câmara de Transportes e Rodovias (CATRA), página 42. Consultado em 25 de junho de 2019 
  29. Agência Reguladora de Serviços Públicos Concedidos de Transportes Aquaviários, Ferroviários, Metroviários e de Rodovias do Estado do Rio de Janeiro (AGETRANSP) (dezembro de 2013). «3.3.3 Dados da Frota» (PDF). Relatório de Atividades da Câmara de Transportes e Rodovias (CATRA), página 56. Consultado em 25 de junho de 2019 
  30. Agência Reguladora de Serviços Públicos Concedidos de Transportes Aquaviários, Ferroviários, Metroviários e de Rodovias do Estado do Rio de Janeiro (AGETRANSP) (dezembro de 2014). «3.3.4.4-Quantidade de falhas por série» (PDF). Relatório de Atividades da Câmara de Transportes e Rodovias (CATRA), página 137. Consultado em 25 de junho de 2019 
  31. Alteração nos critérios da contagem de falhas à partir de 2014