Te Deum

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Te Deum é um hino cristão, usado principalmente na liturgia católica, como parte do Ofício de Leituras da Liturgia das Horas e outros eventos solenes de ações de graças. O hino é encontrado também na hinódia ou práticas litúrgicas de outras igrejas cristãs, incluindo o Livro de Oração Comum da Igreja Anglicana, as matinas luteranas e, de modo menos regular, em outras denominações protestantes e evangélicas.

Das duas primeiras palavras do primeiro verso, "Te Deum laudamos" ('A ti louvamos, Deus'), deriva o nome pelo qual o hino ficou conhecido. O nome latino vem sendo usado designar também suas traduções para os diversos vernáculos, mesmo fora do catolicismo. Tradicionalmente, a autoria do hino é atribuída a Santo Ambrósio e a Santo Agostinho, na ocasião do batismo deste último pelo primeiro na catedral de Milão, no ano 387. Algumas correntes o atribuem a Santo Hilário ou, mais recentemente, ao bispo Nicetas de Remesiana.

O texto foi musicado por vários compositores, entre eles Marc-Antoine Charpentier, Henry Purcell, Jean-Baptiste Lully, Wolfgang Amadeus Mozart, Franz Joseph Haydn, Hector Berlioz, Anton Bruckner, Antonín Dvorák, António Francisco Braga, António Teixeira, João de Sousa Carvalho, José Maurício Nunes Garcia e Pe. Zezinho. Também o imperador Pedro I do Brasil compôs um Te Deum.

Notas sobre traduções

A maior parte das traduções para o português usa o plural majestático da segunda pessoa ao dirigir-se a Deus, de acordo com o costume católico mais comum em países lusófonos. A versão latina e as traduções literais empregam sempre a segunda pessoa do singular.

A maioria da traduções, não apenas para o português, mas também para outras língua modernas, traz alterações de função sintática em vários versos do hino. No Latim, "Te Deum laudamus" permite a aglutinação de duas ideias distintas na mesma construção: "louvamos-te" e "tu (a quem louvamos) és Deus". Uma tradução quase literal teria de recorrer a coordenação (por exemplo: "Louvamos-Te porque és Deus") ou a locuções adverbiais (por exemplo: "Louvamos-Te como Deus [que és]"). A opção pelo vocativo para a pessoa de Deus seria natural apenas se o verso latino tivesse a forma "Te, Deus, laudamus", que ocorre em outros textos que têm caráter realmente vocativo, mesmo quando o objeto direto é o pronome te (cf., por exemplo, o primeiro versículo do Salmo 42 em Latim).

No segundo bloco do hino, as palavras chorus, numerus, exercitus e ecclesia têm todas o sentido de reunião de pessoas em torno de um objetivo comum. Adicionalmente, as duas primeiras embutem também um sentido de cântico. As traduções diretas dessas quatro palavras são, respectivamente, coro, número, exército e igreja. Nos casos das duas últimas, não há qualquer dificuldades, pois o sentido principal é o mesmo. Também coro não apresenta problema, porque também em Português a palavra tem os sentidos tanto de quem se ajunta para louvar quanto da forma tomada por esse louvor. Mas número não é uma boa tradução porque o sentido de conjunto de pessoas se perdeu no Português moderno, e a dimensão artística, embora ainda seja um dos sentidos possíveis, normalmente vem acompanhada de um qualificativo (por exemplo: "número musical", "número cricense" etc.) ou de um contexto que deixe clara a atuação do artista. Uma tradução interessada em preservar os dois sentidos deve procurar uma palavra ou expressão que consiga fazê-lo.

Texto do hino

Nota: a tradução abaixo está sendo ajustada; o espaçamento não está correspondendo a estrofes, etc.

Texto em Latim Texto em Português Tradução Literal

Te Deum laudamus: te Dominum confitemur.
Te æternum Patrem omnis terra veneratur.
Tibi omnes Angeli; tibi cæli et universæ Potestates;
Tibi Cherubim et Seraphim incessabili voce proclamant:
Sanctus, Sanctus, Sanctus, Dominus Deus Sabaoth.
Pleni sunt cæli et terra maiestatis gloriæ tuæ

Te gloriosus Apostolorum chorus,
Te Prophetarum laudabilis numerus,
Te Martyrum candidatus laudat exercitus.
Te per orbem terrarum sancta confitetur Ecclesia,
Patrem immensæ maiestatis:

Venerandum tuum verum et unicum Filium;
Sanctum quoque Paraclitum Spiritum.

Tu Rex gloriae, Christe.
Tu Patris sempiternus es Filius.
Tu ad liberandum suscepturus hominem,
non horruisti Virginis uterum.

Tu, devicto mortis aculeo,
aperuisti credentibus regna caelorum.
Tu ad dexteram Dei sedes, in gloria Patris.
Iudex crederis esse venturus.


Te ergo quaesumus, tuis famulis subveni:
quos pretioso sanguine redemisti.
Aeterna fac cum sanctis tuis in gloria numerari.


(Adicionado posteriormente, contendo trechos do Salmos:)

Salvum fac populum tuum, Domine, et benedic hereditati tuae.
Et rege eos, et extolle illos usque in aeternum.
Per singulos dies benedicimus te;
Et laudamus Nomen tuum in saeculum, et in saeculum saeculi.
Dignare, Domine, die isto sine peccato nos custodire.
Miserere nostri Domine,
miserere nostri.
Fiat misericordia tua, Domine, super nos,
quemadmodum speravimus in te.
In te, Domine, speravi: non confundar in aeternum.

A Vós, ó Deus, louvamos e por Senhor nosso Vos confessamos.
A Vós, ó Eterno Pai, reverencia e adora toda a Terra.
A Vós, todos os Anjos, a Vós, os Céus e todas as Potestades;
A Vós, os Querubins e Serafins com incessantes vozes proclamam:
Santo, Santo, Santo é o Senhor Deus dos Exércitos!
Os Céus e a Terra estão cheios da vossa glória e majestade.

A Vós, o glorioso coro dos Apóstolos,
A Vós, a respeitável assembleia dos Profetas,
A Vós, o brilhante exército dos mártires engrandece com louvores!
A Vós, Eterno Pai, Deus de imensa majestade,

Ao Vosso verdadeiro e único Filho, digno objecto das nossa a adorações,
Do mesmo modo ao Espírito Santo, nosso consolador e advogado.

Vós sois o Rei da Glória, ó meu Senhor Jesus Cristo!
Vós sois Filho sempiterno do vosso Pai Omnipotente!
Vós, para vos unirdes ao homem e o resgatardes
não Vos dignastes de entrar no casto seio duma Virgem!

Vós, vencedor do estímulo da morte,
abristes aos fiéis o Reino dos Céus,
Vós estais sentado à direita de Deus,
no glorioso trono do vosso Pai!
Nós cremos e confessamos firmemente
que de lá haveis de vir a julgar no fim do mundo.

A Vós portanto rogamos que socorrais os vossos servos
a quem remistes com o Vosso preciosíssimo Sangue.
Fazei que sejamos contados na eterna glória,
entre o número dos Vossos Santos.


Salvai, Senhor, o vosso povo e abençoai a vossa herança,
E regei-os e exaltai-os eternamente para maior glória vossa.
Todos os dias Vos bendizemos
E esperamos glorificar o vosso nome agora e por todos os séculos.
Dignai-Vos, Senhor, conservar-nos neste dia e sempre sem pecado.
Tende compaixão de nós, Senhor,
compadecei-Vos de nós, miseráveis.
Derramai sobre nós, Senhor, a vossa misericórdia,
pois em Vós colocamos toda a nossa esperança.
Em Vós, Senhor, esperei, não serei confundido.

Louvamos-Te [como] Deus: Confessamos-Te [como] Senhor.
Toda a Terra Te venera [como] Pai Eterno.
A Ti todos os Anjos, a Ti o céu e todos os Poderes,
a Ti os Querubins e Serafins, com voz incessável, proclamam:
"Santo, Santo, Santo[1] [é] o Senhor Deus dos Exércitos.
[Os] céus e [a] terra estão cheios da majestade da tua glória."[2]

O coro glorioso dos Apóstolos,
a harmonia de louvor dos Profetas,
o exército dos Mártires em brancas vestes Te[3] louva.
Em toda a terra a tua santa Igreja Te confessa
[como] o Pai de imensa majestade:

Digno de veneração [é] Teu verdadeiro e único Filho;
e também o Parácleto [que é o] Espírito Santo.

Tu [és] [o] Rei da glória, ó Cristo.
Tu és [o] Filho do Pai sempiterno.
Tu, para livrar o homem, a quem hás de receber,
não tiveste horror do útero da Virgem[4].

Tu, que venceste o aguilhão da morte,
abriste aos crentes os reinos dos céus.
Tu te assentas à direita de Deus, na glória do Pai,
Crê-se em ti[5] [como o] Juiz que havia de vir.

Assim, pedimos-te: acode os teus servos
que remiste com sangue precioso.
Faze com que sejam contados com os os teus santos na eterna glória.

Salva[6] [o] teu povo, e abençoa [a] tua herança.
E dirige-os e levanta-os por toda a eternidade.[7]
Ao longo de[8] cada dia te bendizemos;
E louvamos o teu Nome n[este] século[9] e no século do século.[10]
Condescende, Senhor, guardar-nos sem pecado [n]este dia.
Tem misericórida de nós, Senhor.
Tem misericórdia de nós.
Faça-se [a] tua misericórdia, Senhor, sobre nós
do mesmo modo como esperamos em Ti.[11]
Em ti, Senhor, esperei: não serei confundido na eternidade.[12]

  1. A tripla repetição do adjetivo "Santo" tem o sentido gramatical do superlativo "Santíssimo".
  2. Isaías 6:3.
  3. Este "Te" é objeto direto também dos dois versos anteriores. A versão latina traz o pronome "Te" em todos os versos, omitindo apenas o verbo do predicado dos dois primeiros, e a distinção entre sujeito e objeto se dá pela diferença de casos (nominativo para o sujeito, acusativo para o objeto direto). Construção semelhante foi usada na estrofe anterior, com a diferença de que ali o objeto era indireto, tanto no Latim (caso ablativo) como em Português. Como em Português não se costuma usar o pronome pessoal oblíquo átono quando se omite o verbo, esta tradução preferiu omitir todo o predicado dos dois primeiros versos e ter o pronome átono como objeto direto somente no terceiro. Esta escolha considerou não apenas mais natural o emprego de "Te louva" do que o objeto direto com preposição "louva a Ti", mas também uma correspondência mais direta à forma latina "Te laudat", além de tentar evitar um possível surpresa ao leitor que, ao ver o pronome átono com a preposição, pudesse esperar o eventual aparecimento de um verbo transitivo indireto. Apesar disso, uma tradução alternativa — e, de certo modo, até mais literal —, que não evita os objetos diretos preposicionados, poderia ser "A Ti dos Apóstolos o glorioso coro,/A Ti dos Profetas de louvor o canto,/A Ti dos Mártires em brancas vestes louva o exército".
  4. O útero da Virgem é uma dupla contraposição ao verso anterior, pois traz tanto a ideia de confinamento, que se opõe à libertação, quanto à forma humilde de ser recebido temporal e temporariamente pela humanidade, que contrasta com a acolhida eterna e gloriosa do homem salvo por Deus.
  5. Lit. "És crido". Sendo este um hino confessional em primeira pessoa, o agente da passiva implícito é o autor do cântico ou aquele que o entoa.
  6. Lit. "Faze salvo".
  7. Salmos 28:9
  8. Lit. "Por".
  9. Em Português, a palavra século comumente significa um período de cem anos. No Latim, há vários sentidos possíveis além desse: geração, tempo de vida de uma geração, descendência, era, era corrente, raça (povo), a humanidade numa dada era (ou na era corrente), o mundo, as coisas mundanas. Uma tradução possível para "in saeculum, et in seaculum saeculi" poderia ser "na geração (ou tempo) presente e na descendência da geração (ou tempo) presente" ou, mais simplesmente, "hoje e no porvir".
  10. Salmos 145:2.
  11. Salmos 33:22.
  12. Salmos 71:1.

Ligações externas