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A doença de Crohn é um tipo de doença inflamatória intestinal (DII) que pode afetar qualquer parte do aparelho digestivo, desde a boca até ao ânus.[1] Os sintomas geralmente incluem dores abdominais, diarreia (que pode conter sangue no caso de inflamações graves), febre e perda de peso.[2][1] Podem também ocorrer complicações fora do aparelho digestivo, entre as quais anemia, rash cutâneo, artrite, inflamação do olho e fadiga. O rash cutâneo pode ser provocado por infeções, por pioderma gangrenoso ou por eritema nodoso. Também é comum a ocorrência de obstrução intestinal e as pessoas com a doença apresentam maior risco de cancro colorretal.[2]

A doença de Crohn é provocada por uma combinação de fatores ambientais, imunitários e bacterianos em indivíduos geneticamente predispostos.[3][4][5] O resultado é um distúrbio inflamatório crónico, no qual o sistema imunitário ataca o aparelho digestivo, provavelmente com o intuito de combater os antígenos microbianos.[4][6] Embora a doença de Crohn esteja relacionada com o sistema imunitário, não aparenta ser uma doença autoimune (ou seja, não é o próprio corpo que ativa o sistema imunitário).[7] Não é ainda claro qual é o problema preciso com o sistema imunitário, sendo possível que se trate de um estado de imunodeficiência.[6][8][9] Cerca de metade do risco global está relacionado com fatores genéticos, nos quais estão envolvidos mais de 70 genes.[2][10] Os fumadores têm um risco duas vezes superior de desenvolver a doença em relação a não-fumadores.[11] A doença de Crohn tem muitas vezes início após uma gastroenterite. O diagnóstico é baseado numa série de observações, entre as quais biópsia e aparência da parede intestinal, imagiologia médica e descrição da doença. Entre outras condições que podem sintomas semelhantes estão a síndrome do intestino irritável e a doença de Behçet.[2]

Não existem medicamentos ou cirurgias capazes de curar a doença de Crohn. As opções de tratamento ajudam a aliviar os sintomas, mantêm as remissões e previnem as recidivas. Em pessoas recém-diagnosticadas, é possível usar corticosteroides durante um curto período de tempo de modo a rapidamente melhorar a doença, em conjunto com metotrexato ou uma tiopurina para prevenir recorrências. Os fumadores devem cessar imediatamente o vício. Todos os anos, uma em cada cinco pessoas com doença de Crohn são admitidas em meio hospitalar e cerca de metade com a doença irá eventualmente necessitar de cirurgia num prazo de dez anos. Embora o recurso à cirurgia seja usado com a menor frequência possível, por vezes é necessário remover alguns abcessos, obstruções intestinais ou cancros. O rastreio de cancro intestinal através de colonoscopia é recomendado a cada cinco anos, com início oito anos após o início da doença.

A doença de Crohn afeta cerca de 3,2 em cada 1000 pessoas na Europa e na América do Norte.[12] A doença é menos comum em África e na Ásia.[13][14] Em termos históricos, a doença tem sido mais comum em países desenvolvidos.[15] No entanto, desde a década de 1970 que as taxas têm vindo a subir, em particular nos países em vias de desenvolvimento.[14][15] Em 2010, a doença inflamatória do intestino provocou 35 000 mortes,[16] sendo a esperança de vida ligeiramente inferior em pessoas com a doença de Crohn.[2] A doença tende a ter início durante a adolescência e na casa dos vinte, embora possa ocorrer em qualquer idade,[2][1] e afeta de igual forma homens e mulheres.[1] A doença tem o nome do gastroenterologista Burrill Crohn que, em 1932, em conjunto com dois colegas descreveu uma série de pacientes com inflamação do íleo terminal do intestino delgado, a área que mais frequentemente afetada pela doença.[17]

  1. a b c d National Digestive Diseases Information Clearinghouse (10 de julho de 2013). «Crohn's Disease». Consultado em 12 de junho de 2014 
  2. a b c d e f Baumgart DC, Sandborn WJ (2012). «Crohn's disease». The Lancet. 380 (9853): 1590–605. PMID 22914295. doi:10.1016/S0140-6736(12)60026-9 
  3. Cho JH, Brant SR (2011). «Recent Insights into the Genetics of Inflammatory Bowel Disease». Gastroenterology. 140 (6): 1704–12. PMID 21530736. doi:10.1053/j.gastro.2011.02.046 
  4. a b Dessein R, Chamaillard M, Danese S (2008). «Innate Immunity in Crohnʼs Disease». Journal of Clinical Gastroenterology. 42: S144–7. PMID 18806708. doi:10.1097/MCG.0b013e3181662c90 
  5. Stefanelli T, Malesci A, Repici A, Vetrano S, Danese S (2008). «New Insights into Inflammatory Bowel Disease Pathophysiology: Paving the Way for Novel Therapeutic Targets». Current Drug Targets. 9 (5): 413–8. PMID 18473770. doi:10.2174/138945008784221170 
  6. a b Marks DJ, Rahman FZ, Sewell GW, Segal AW (2010). «Crohn's disease: An immune deficiency state». Clinical reviews in allergy & immunology. 38 (1): 20–31. PMID 19437144. doi:10.1007/s12016-009-8133-2 
  7. Casanova JL, Abel L (31 de agosto de 2009). «Revisiting Crohn's disease as a primary immunodeficiency of macrophages.». The Journal of experimental medicine. 206 (9): 1839–43. PMID 19687225. doi:10.1084/jem.20091683 
  8. Lalande JD, Behr MA (2010). «Mycobacteria in Crohn's disease: How innate immune deficiency may result in chronic inflammation». Expert review of clinical immunology. 6 (4): 633–41. PMID 20594136. doi:10.1586/eci.10.29 
  9. Yamamoto-Furusho JK, Korzenik JR (2006). «Crohn's disease: Innate immunodeficiency?». World Journal of Gastroenterology. 12 (42): 6751–5. PMID 17106921 
  10. Cosnes J (2004). «Tobacco and IBD: Relevance in the understanding of disease mechanisms and clinical practice». Best Practice & Research Clinical Gastroenterology. 18 (3): 481–96. PMID 15157822. doi:10.1016/j.bpg.2003.12.003 
  11. Molodecky, NA, Soon, IS, Rabi, DM, Ghali, WA, Ferris, M, Chernoff, G, Benchimol, EI, Panaccione, R, Ghosh, S, Barkema, HW, Kaplan, GG (Janeiro de 2012). «Increasing incidence and prevalence of the inflammatory bowel diseases with time, based on systematic review.». Gastroenterology. 142 (1): 46–54.e42; quiz e30. PMID 22001864 
  12. «Inflammatory bowel disease in Asia: a systematic review.». Journal of gastroenterology and hepatology. 27 (8): 1266–80. Agosto de 2012. PMID 22497584  Texto "Prideaux, L; Kamm, MA; De Cruz, PP; Chan, FK; Ng, SC " ignorado (ajuda)
  13. a b Hovde, Ø; Moum, BA (Abril de 2012). «Epidemiology and clinical course of Crohn's disease: results from observational studies.». World journal of gastroenterology : WJG. 18 (15): 1723–31. PMID 22553396 
  14. a b Burisch, J; Munkholm, P (Julho de 2013). «Inflammatory bowel disease epidemiology.». Current opinion in gastroenterology. 29 (4): 357–62. PMID 23695429 
  15. Lozano, R; Naghavi, M (Dezembro de 2012). «Global and regional mortality from 235 causes of death for 20 age groups in 1990 and 2010: a systematic analysis for the Global Burden of Disease Study 2010.». Lancet. 380 (9859): 2095–128. PMID 23245604 
  16. Crohn BB, Ginzburg L, Oppenheimer GD (2000). «Regional ileitis: A pathologic and clinical entity. 1932». The Mount Sinai journal of medicine, New York. 67 (3): 263–8. PMID 10828911