Abayomi

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
Abayomi

Lena Martins com algumas das bonecas Abayomi de sua autoria

Tipo
boneca negra (en)
artesanato
Concepção
Data
Ilustração das bonecas

As Abayomi são bonecas de pano, criação original de Lena Martins, artista e artesã natural de São Luís do Maranhão.[1] A boneca foi criada na década de 1980, em oficinas que Lena fazia, então, com comunidades do Rio de Janeiro.[2]

Lena Martins era educadora popular e militante do Movimento de Mulheres Negras, que procurava na arte popular um instrumento de conscientização e sociabilização. Nexxe contexto, criou em 1987 a boneca sem costura e sem cola, que mais tarde recebeu o nome de Abayomi, dado pela própria Lena por ocasião do nascimento do filho de uma amiga sua, o qual, sendo menina, se chamaria Abayomi. Lena, achou o nome lindo e não quis desperdiçá-lo, dando-o à boneca de sua criação. Logo, outras mulheres, e várias gerações, vindas de vários movimentos sociais e culturais, aprenderam com ela, juntaram-se e fundaram no Rio de Janeiro a Cooperativa Abayomi, em dezembro de 1988, dando continuidade ao trabalho desde então.[3]

Falsa lenda das bonecas Abayomi[editar | editar código-fonte]

Boneca Abayomi criada no contexto da falsa lenda.

No final dos anos 1990, e sobretudo a partir da década de 2000, as bonecas Abayomi de Lena Martins começaram sendo associadas a uma lenda falsa, fazendo remontar a sua origem à época da escravidão. Segundo a falsa lenda, estas bonecas seriam confeccionadas a bordo de navios negreiros, por mães escravizadas que as fariam para seus filhos com os retalhos de suas roupas, as quais rasgariam à unha na esperança de os acalentar naqueles momentos dolorosos que viviam. Na falsa lenda, as Abayomi aparecem como representantes da resistência, amor de mãe, e proteção, justificando a ausência de traços faciais com um intuito de abarcar todas as etnias trazidas escravas pelos colonizadores, levando a ideais de inclusão, de coletividade e força conjunta.[2]

Não obstante, não só a origem das bonecas é comprovadamente diferente, como não existe qualquer registo ou indício histórico que sustente o relato da falsa lenda. Lena Martins lamenta a apropriação da sua criação artesanal, uma boneca que nasceu livre, pelo relato falsificado da boneca escrava, que apaga a mulher negra brasileira que a criou, a substituindo por um coletivo difuso perdido no passado remoto, no mesmo que propaga uma versão fictícia e romantizada da escravatura e mais uma vez nega aos negros e afrodescendentes brasileiros o direito a ter uma boneca criada por eles e que os represente.[2] Segundo o manifesto publicado pelo Coletivo Abayoni, que dá continuidade à obra de Lena Martins, "tais ideias falsas reforçam o ideal colonial de apagar as autorias do povo negro, apagar nossas resistências, criações e reflexões, nos colocar umas contra as outras. Uma mulher negra que desenvolve esse artesanato genuinamente brasileiro, uma criação tão contundente e eficaz capaz de ganhar o país inteiro, é revolucionário! Deve ser dançado, cantado, comemorado por toda a comunidade e não, como vem sendo feito sistematicamente, apagado e silenciado."[4]

O historiador Marcelo Rezende confirma a ausência de indícios históricos que suportem a versão ligada ao tráfico de escravos, chamando a atenção para o perigo de distorções históricas como esta poderem deslegitimar algumas pautas do movimento negro. Para Rezende, “É importante lutar para o reconhecimento da história e cultura negra como ela realmente é, como parte constituinte da cultura brasileira. Há imensos símbolos ancestrais africanos, pode-se trazê-los e valorizá-los."[2]

Referências

  1. «'Tem que ser bem preta', ensina criadora das bonecas Abayomi». Folha de S.Paulo. 27 de agosto de 2021. Consultado em 30 de agosto de 2021 
  2. a b c d Chevalier, Henri (23 de abril de 2019). «Bonecas Abayomi: por que a origem romantizada dura mais?». Conexão Lusófona. Consultado em 31 de julho de 2021 
  3. Silva, Sonia Maria (2009). Experiência Abayomi: coletivos, ancestrais, femininos, artesaniando empoderamentos (PDF). V ENECULT - Encontro de Estudos Multidisciplinares em Cultura. Salvado: Faculdade de Comunicação/UFBa. Cópia arquivada (PDF) em 1 de novembro de 2018 
  4. «ABAYOMI Boneca Preta Brasileira | "Cultura Afro-Brasileira"». Meusite. Consultado em 17 de agosto de 2023 

Bibliografia[editar | editar código-fonte]