Abu Iáia Abu Becre II

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 Nota: Para outros significados, veja Abu Iáia Abu Becre.
Abu Iáia Abu Becre II
Sultão e califa do Reino Haféssida
Reinado 1318–1346
Antecessor(a) Abu Darba Maomé Almostancir
Sucessor(a) Abu Alabás Amade / Abu Hafes Omar II
 
Morte outubro de 1346
Casa haféssida
Religião Islão

Abu Iáia Abu Becre II (em árabe: أبو يحيى أبو بكر; romaniz.:Abu Iahia Abu Bakr) foi o califa haféssida da Ifríquia de 1318 a 1346. Era filho de Abu Zacaria Iáia III, emir de Bugia e neto de Abu Ixaque Ibraim I.[1][2] Sob seu governo, a antiga unidade dos domínios haféssidas foi restaurada.[3]

Ascensão e reinado[editar | editar código-fonte]

Depois de 1309, seu irmão Abu Albaca Calide Anácer (r. 1309–1911) chegou ao poder em Túnis e o nomeou governador de Constantina. Pouco depois disso, ele se revoltou. Em 1311, seu irmão foi derrubado e Abu Iáia Abu Becre aproveitou a oportunidade para tomar Bugia em 1312, aproveitando a impotência do califa Abde Aluaíde Zacaria ibne Aliani (r. 1311–1317). Em 1315/16, começaram os ataques a Túnis; em 1317, Aliani fugiu do país e abdicou em favor de seu filho Abu Darba Maomé Almostancir (r. 1317–1318), que resistiu por mais nove meses, quando, em 1318, Abu Iáia Abu Becre fez sua entrada na capital.[4]

A primeira parte de seu reinado foi amplamente dedicada a suprimir rebeliões. Abu Darba tentou encorajar revoltas e também encorajou ibne Alinrane, genro de Aliani, a se rebelar.[5] Até 1332, houve inúmeras rebeliões, mas o califa foi gradualmente capaz de restaurar o controle. Para manter a coesão do reino, desde 1320 confiou o governo das províncias a seus filhos, auxiliados por camareiros. [6] Entre 1319 e 1330, os ziânidas do Reino de Tremecém atacaram o território haféssida todos os anos até que a ameaça foi neutralizada por meio de uma aliança com os merínidas de Fez, cujo herdeiro presuntivo Alboácem Ali se casou com a filha de Abu Iáia Abu Becre.[7] A partir de 1330, o xeique almóada ibne Tafraguine ascendeu aos mais altos cargos do Estado, tornando-se camareiro-mor em 1343. A partir desse cargo favoreceu o estreitamento das relações com os merínidas e o aumento da influência do genro do sultão. Alboácem Ali era agora o sultão de Fez (r. 1331–1348) e o vizinho ocidental imediato dos haféssidas, tendo anexado Tremecém em 1337. Em 1335, Abu Iáia Abu Becre recuperou Jerba dos sicilianos.[8] Um dos desenvolvimentos mais significativos de seu governo foi o estabelecimento de frotas corsárias nos portos haféssidas, e a partir desse período a pirataria começou a ser uma fonte significativa de renda à região.[3]

Na primavera de 1342, Abu Iáia Abu Becre designou como seu sucessor um de seus filhos, Abu Alabás Amade, que governou o sul, e confirmou o apoio de seu genro Alboácem. No entanto, quando o califa morreu em outubro de 1346, era outro de seus filhos, Abu Hafes Omar, que estava em Túnis, e ele se proclamou califa com apoio de ibne Tafraguine sob o título de Anácer Lidim Alá. Abu Alabás Amade marchou sobre Túnis pelo sul e tomou a cidade, mas logo foi morto por Abu Hafes Omar, que também matou seus outros irmãos para remover quaisquer outros rivais.[9] Como fiador da sucessão haféssida, Alboácem invadiu o reino na primavera de 1347 para expulsar o usurpador. Abu Hafes Omar fugiu de Túnis, mas foi capturado perto de Gabes e executado em agosto. Alboácem fez uma entrada triunfal em Túnis em setembro. Foi nessa época que seu súdito, o famoso viajante ibne Batuta, visitou Túnis em sua viagem de volta da peregrinação do Haje.[10] No entanto, a Peste Negra devastou os domínios haféssidas em 1348 e seu governo não era popular. Logo houve rebeliões contra o domínio merínida, forçando-o a abandonar Túnis de navio em dezembro de 1348. No início de 1350, o príncipe haféssida Alfadle de Bugia foi proclamado califa, mas em julho ibne Tafraguine voltou e colocou seu irmão Abu Ixaque Ibraim II em seu lugar, matando Alfadle.[11]

Referências

  1. Ilahiane 2006, p. 156.
  2. Syed 2011, p. 148.
  3. a b Middleton 2015, p. 365.
  4. Brunschwig 1940, p. 128, 130–133.
  5. Brunschwig 1940, p. 144.
  6. Brunschwig 1940, p. 146–7, 150.
  7. Brunschwig 1940, p. 148.
  8. Molins 2006, p. 86–7.
  9. Brunschwig 1940, p. 164–5.
  10. Gibb 1994, p. 921.
  11. Brunschwig 1940, p. 166–172.

Bibliografia[editar | editar código-fonte]

  • Brunschwig, Robert (1940). La Berberie Orientale sous les Hafsides. Paris: Adrienne-Maisonneuve 
  • Gibb, H. A. R.; Beckingham, C. F. (1994). The Travels of Ibn Battuta, AD 1325–1354, vol. IV. Londres: The Hakluyt Society. ISBN 0904180-37-9 
  • Ilahiane, Hsain (2006). Historical Dictionary of the Berbers (Imazighen). Lanham: Scarecrow Press. ISBN 978-0-8108-6490-0 
  • Middleton, John (2015). World Monarchies and Dynasties. Londres: Routledge 
  • Molins, M. Jesús Viguera (2006). Ibn Khaldun: The Mediterranean in the 14th Century: Rise and Fall of Empires. Madri: Fundación El legado andalusì. ISBN 978-84-96556-34-8 
  • Syed, Muzaffar Husain; Akhtar, Syed Saud; Usmani, B. D. (2011). Concise History of Islam. Déli: Vij Books India Pvt Ltd. ISBN 978-93-82573-47-0