Arte italiana em coleções brasileiras

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Pietro Perugino. São Sebastião, 1500-1510. MASP, São Paulo.

Arte italiana em coleções brasileiras (1250-1950) foi uma exposição sediada no Museu de Arte de São Paulo entre 13 de novembro de 1996 e 26 de janeiro de 1997. A mostra reuniu pela primeira vez um expressivo conjunto de mais de 500 obras, entre pinturas, esculturas, desenhos e maiólicas, produzidos na Itália ao longo de um arco temporal de sete séculos, conservados em coleções públicas e particulares do Brasil.[1] Visitada por 45 mil pessoas, teve curadoria de Luiz Marques e projeto musográfico de Vasco Caldeira e Paulo de Freitas Costa.[2]

Centrada nos acervos do MASP e do Museu Nacional de Belas Artes do Rio de Janeiro, complementados pela coleção de modernos do Museu de Arte Contemporânea da USP e por obras esparsas em outros museus e coleções privadas, a exposição teve por objetivo empreender uma análise da contribuição do "gênio" artístico italiano, ao difundir na arte ocidental o conceito da figura como objeto da pintura, e das revoluções artísticas disso decorrentes. Paralelamente, esforçou-se por revelar ao público a existência de um acervo que, na opinião do curador, acreditava-se "existir apenas fora do país".[3] Recebeu o prêmio de Melhor Exposição de 1996, conferido pela Associação Paulista de Críticos de Arte.[2]

Caracterização da mostra[editar | editar código-fonte]

Fachada do MASP na Avenida Paulista.
Simone Cantarini. São João Evangelista, século XVII. Coleção particular, São Paulo.

Idealizada e organizada pelo Museu de Arte de São Paulo, a exposição se orientou pela tese de que o patrimônio conservado no Brasil é capaz de oferecer uma visão panorâmica e representativa do desenvolvimento das artes na Itália entre o fim da Idade Média e a primeira metade do século XX. Foram reunidas na pinacoteca do MASP 203 pinturas, 80 desenhos, 250 cerâmicas e 17 esculturas, propiciando ao público pela primeira vez o conhecimento de várias obras de notória importância, grande parte raramente ou nunca antes expostas.

A exposição foi articulada em torno do acervo do Museu de Arte de São Paulo, particularmente rico nos segmentos referentes ao Gótico, Renascimento e Maneirismo italianos, e da coleção do Museu Nacional de Belas Artes, dono de um representativo núcleo de arte do Barroco e do Neoclassicismo. A estes, somaram-se um excepcional conjunto de obras do Modernismo italiano pertencentes ao Museu de Arte Contemporânea da USP e uma série de desenhos conservados na Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro.

Também cederam obras para a mostra a Fundação Crespi-Prado, a Fundação Cultural Ema Gordon Klabin, o Instituto Lina Bo e P.M. Bardi, todos de São Paulo, a Fundação Eva Klabin[4] do Rio de Janeiro, o Museu de Arte da Bahia, em Salvador, além de cinquenta colecionadores particulares.

Objetivos[editar | editar código-fonte]

A exposição Arte italiana em coleções brasileiras teve por objetivo primário dar a conhecer obras de grande relevância artística, articulando e organizando os acervos italianos mais representativos do país de forma a abordar um período de 700 anos de desenvolvimento da cultura visual italiana, demonstrando o impacto das contribuições dessa escola à história da arte ocidental.

Paralelamente, ao se ater apenas às obras conservadas no país, buscou despertar atenção para o hábito do colecionismo e para a necessidade de busca permanente do enriquecimento das coleções nacionais, como justifica o curador, ao dizer que o Brasil "não pode permanecer alheio à batalha financeira e intelectual que as sociedades travam hoje pela posse do patrimônio artístico da humanidade ainda disponvível no mercado internacional". Por fim, objetivou sensibilizar o público quanto à necessidade de prover espaços adequados à guarda do patrimônio hoje conservado no país.

Tanto a mostra quanto as publicações geradas em seu âmbito tiveram o caráter de recenseamento analítico do patrimônio público e privado brasileiro, espelhando iniciativas semelhantes ocorridas desde meados dos anos 70 nos Estados Unidos, na França, na Alemanha e na Espanha, por iniciativa de estudiosos como Lionello Venturi, Federico Zeri, Burton Fredericksen e Michel Laclotte.

Partido museológico[editar | editar código-fonte]

A exposição seguiu um eixo cronológico fundamentado em torno dos grandes "divisores de água" da história da arte ocidental, sem se prender, no entanto a uma rígida sequência ao longo dos sete séculos abordados. Foram definidos seis núcleos, com base na cronologia e filiação/movimento artístico:

  • I - Arte Tardo-Medieval (c. 1250-1430) e Renascentista (c. 1430-1510).
  • II - Maneirismo (c. 1520-1600).
  • III - Caravaggismo e Barroco (c. 1600-1700)
  • IV - Rococó e Neoclassicismo (c. 1700-1800)
  • V - Século XIX
  • VI - Século XX

No interior de cada núcleo, o projeto museográfico buscou pôr em evidência a homogeneidade cultural das principais escolas italianas na disposição das pinturas e esculturas. As regiões foram agrupadas como se segue:

O enfoque ao longo de todo percurso é a contribuição italiana para a percepção da figura como elemento primordial da pintura, não como tema da obra, mas como modo de ser da forma plástica. Por questões técnico-expositivas, os desenhos foram reunidos à parte.

Estudos, publicações e catalografia[editar | editar código-fonte]

Um dos reflexos da realização de Arte italiana em coleções brasileiras foi a retomada e atualização de algumas publicações prévias que consistiam em parte essencial dos conhecimentos existentes sobre o patrimônio artístico de origem italiana conservado no país. Destas, três dizem respeito à coleção do Museu de Arte de São Paulo: o catálogo de 1963 e o inventário do acervo de 1982 (ambos realizados por Pietro Maria Bardi) e e os importantes estudos de Ettore Camesasca sobre obras do acervo, realizados durante um ciclo de exposições do MASP na Europa, entre 1987 e 1988.

Essas informações foram atualizadas e reunidas em um primeiro catálogo raisonné da arte italiana do museu, escrito por Luiz Marques em colaboração com Luciano Migliaccio[5] e Nelson Aguilar, entre outros. Pela proeminência qualitativa do MASP nos acervos artísticos nacionais, decidiu-se que o catálogo constituiria o primeiro volume do Corpus da Arte Italiana em Coleções Brasileiras, um recenseamento analítico das coleções públicas e privadas do país.

O segundo volume do Corpus compreende o catálogo das pinturas italianas no Museu Nacional de Belas Artes,[6] uma reedição revisada e atualizada dos estudos empreendidos por Luiz Marques e Zuzana Paternostro por ocasião da exposição Pintura italiana anterior ao século XIX no Museu Nacional de Belas Artes, ocorrida em 1992.[7] A publicação desses dois volumes foi iniciativa julgada de grande importância pelo curador da mostra por suprir uma grave carência catalográfica e amenizar a escassez de informações a respeito desse patrimônio.

Os dois volumes posteriores do Corpus foram elaborados, mas não publicados. O terceiro, dedicado à arte italiana do século XX, ficou a cargo do Museu de Arte Contemporânea da USP e da coordenação de Lisbeth Rebolo Gonçalves, diretora dessa instituição. O quarto volume se refere às coleções públicas e privadas de menor vulto.

Ver também[editar | editar código-fonte]

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Referências

  1. «Banquete virtual». IstoÉ. Consultado em 21 de junho de 2009 
  2. a b «Arte italiana em coleções brasileiras, 1250-1950». Petrobrás - Memória Cultural. Consultado em 21 de junho de 2009. Arquivado do original em 23 de agosto de 2007 
  3. Instituto de História da Arte do MASP, 1997, pp. 5.
  4. «Atividades». Fundação Eva Klabin. Consultado em 21 de junho de 2009. Arquivado do original em 13 de junho de 2008 
  5. «Fundação Eva Klabin». Arte e Tecnologia. Consultado em 21 de junho de 2009 
  6. Leite, Reginaldo da Rocha. «A Contribuição das Escolas Artísticas Européias no Ensino das Artes no Brasil Oitocentista». DezenoveVinte. Consultado em 21 de junho de 2009 
  7. Lustosa, Heloisa Aleixo in Marques, Luiz (org.), 1997, v. II, pp. 9.

Bibliografia[editar | editar código-fonte]

  • Instituto de História da Arte do MASP (1997). Boletim do Instituto de História da Arte do MASP. Arte italiana em coleções brasileiras (1250-1950). São Paulo: Lemos Editorial & Gráficos Ltda. 
  • Marques, Luiz (org.) (1996). Corpus da Arte Italiana em Coleções Brasileiras. A arte italiana no Museu de Arte de São Paulo. I. São Paulo: Berlendis & Vertecchia. ISBN 85-7229-004-4 
  • Marques, Luiz (org.) (1996). Corpus da Arte Italiana em Coleções Brasileiras. A arte italiana no Museu Nacional de Belas Artes. II. São Paulo: Berlendis & Vertecchia. ISBN 85-7229-006-0 

Ligações externas[editar | editar código-fonte]