Bugula neritina

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
Bugula neritina
Classificação científica Edit this classification
Reino: Animalia
Filo: Bryozoa
Classe: Gymnolaemata
Ordem: Cheilostomatida
Família: Bugulidae
Gênero: Bugula
Espécie:
B. neritina
Nome binomial
Bugula neritina

Sinônimos[2]

Sertularia neritina Linnaeus, 1758 (basônimo)

Bugula neritina (Linnaeus, 1758), conhecida também como briozoário marrom,  é um complexo de espécie crípticas de animais marinhos coloniais pertencente ao filo Bryozoa. B. neritina tem uma distribuição praticamente cosmopolita, sendo encontrada em águas temperadas e tropicais ao redor do mundo, fazendo-se uma espécie invasora em inúmeros locais.[3][4] É frequentemente encontrada em substratos duros, como rochas, conchas, pilares e cascos de navios, onde podem formar tapetes densos, contribuindo para a bioincrustação.[5]  B. neritina é de interesse do ponto de vista biomédico, pois abriga um simbionte bacteriano que produz um grupo de compostos bioativos com potenciais aplicações no tratamento de inúmeras doenças.[6][7][8]

Classificação e características gerais[editar | editar código-fonte]

Lophophores of Bugula neritina
Lofóforos da Bugula neritina

A espécie Bugula neritina está inserida no clado Lophophorata devido à presença de um lofóforo, estrutura alimentar que é a sinapomorfia característica do grupo. Filo Bryozoa, classe Gymnolaemata e ordem Cheilostomatida, pois a parede externa é calcificada. Pertencem à família Bugulidae e ao gênero Bugula.[2]

B. neritina forma colônias incrustantes de coloração marrom-arroxeada,[5] alimenta-se de partículas em suspensão por ser um animal séssil. Além disso, seus zoóides (indivíduos que compõem a colônia) são brancos, com canto externo pontiagudo e se diferencia das demais espécies do gênero por não apresentar os zoóides: aviculária e espinhos.[9]

Em seu ciclo de vida, um zoóide é originado por reprodução sexuada e desenvolve a colônia por brotamento, a fixação é feita o ano todo, com exceção do período do meio do inverno, pela larva lecitotrófica. É válido ressaltar que B. neritina é hermafrodita.[5]

Distribuição e hábitos de vida[editar | editar código-fonte]

A espécie Bugula neritina, um dos primeiros briozoários a ser descoberto e considerado como espécie-tipo do gênero Bugula, [10] são animais coloniais e marinhos, com ampla distribuição geográfica. Na verdade, são considerados um complexo de três espécies crípticas, morfologicamente iguais, mas com algumas diferenças genéticas, sendo o haplótipo S1 o mais distribuído. [4]

São praticamente cosmopolitas e, em muitas regiões, invasoras, uma vez que podem ser encontradas em quase todo o globo, com exceção dos polos norte e polo sul, subártico e subantártico, [3] estando comumente presentes nas regiões costeiras do Pacífico Norte. e Atlântico Norte; na Austrália, Nova Zelândia, Estados Unidos e Havaí, Mar Mediterrâneo e até no Brasil. [11] Esses animais têm preferência por águas rasas e mornas, entre 10-30ºC, [12] sendo encontrados em áreas portuárias e em cascos de navios, [3] o que facilitou sua dispersão e introdução em novas regiões. [11] B. neritina forma colônias bioincrustantes de aproximadamente 10 centímetros de altura, [3] preferindo substratos orgânicos e rígidos. [5] As colônias tendem a viver mais de um ano, e seus zoóides são hermafroditas, com dispersão dos gametas em diferentes épocas da vida, evitando a autofecundação. [11]

O aspecto invasor desta espécie decorre, além da dispersão das colônias em cascos de navios, pelo fato de possuírem alta tolerância a ambientes tóxicos, inclusive poluição por cobre, [13] [5] o que confere uma vantagem competitiva para a B. neritina em ambientes poluídos.

Briostatinas[editar | editar código-fonte]

Image showing the chemical structure of Bryostatin 1ACS
Estrutura química da Briostatina 1ACS

Bugula neritina é interessante do ponto de vista da descoberta de medicamentos porque seu simbionte bacteriano, Candidatus Endobugula sertula, [6] produz as briostatinas, um grupo de cerca de vinte produtos naturais bioativos. As briostatinas estão sob investigação por seu potencial terapêutico direcionado à imunoterapia do câncer, [14] [7] tratamento da doença de Alzheimer [7] [15] e erradicação do HIV/AIDS, [8] devido à sua baixa toxicidade e atividade antineoplásica. [16]

Apesar disso, há um desafio na utilização das briostatinas em tratamentos médicos, visto que ela é encontrada apenas em pequenas quantidades no organismo, inviabilizando a replicação do processo. [17] Além disso, a relação simbiótica de B. neritina e a bactéria Candidatus Endobugula sertula ainda não foi suficientemente pesquisada, trazendo dificuldades para a biossintética no estudo sobre o cultivo desta bactéria. [17]

Referências[editar | editar código-fonte]

  1. "Bugula neritina (brown bryozoan)". CABI (organisation). 3 May 2013. Retrieved 14 March 2015.
  2. a b Gordon, D. (2015).
  3. a b c d Mawatari, S. F. (1992). «Atlas of marine-fouling Bryozoa of New-Zealand ports and harbours». Miscellaneous Publication New Zealand Oceanographic Institute (em inglês) 
  4. a b Mackie, Joshua A.; Keough, Michael J.; Christidis, Les (1 de maio de 2006). «Invasion patterns inferred from cytochrome oxidase I sequences in three bryozoans, Bugula neritina, Watersipora subtorquata, and Watersipora arcuata». Marine Biology (em inglês). 149 (2): 285–295. ISSN 1432-1793. doi:10.1007/s00227-005-0196-x 
  5. a b c d e Mackie, Josh (7 de janeiro de 2022). «Bugula neritina (brown bryozoan)». CABI Compendium (em inglês). CABI Compendium. ISSN 2958-3969. doi:10.1079/cabicompendium.109209 
  6. a b Li, Hai; Mishra, Mrinal; Ding, Shaoxiong; Miyamoto, Michael M. (23 de agosto de 2018). «Diversity and Dynamics of "Candidatus Endobugula" and Other Symbiotic Bacteria in Chinese Populations of the Bryozoan, Bugula neritina». Microbial Ecology. 77 (1): 243–256. ISSN 0095-3628. PMID 30141128. doi:10.1007/s00248-018-1233-x 
  7. a b c Ruan BF, Zhu HL (2012). «The chemistry and biology of the bryostatins: potential PKC inhibitors in clinical development». Curr Med Chem. 19 (16): 2652–64. PMID 22506770. doi:10.2174/092986712800493020 
  8. a b Wender, P. A.; Kee, J.-M.; Warrington, J. M. (2 de maio de 2008). «Practical Synthesis of Prostratin, DPP, and Their Analogs, Adjuvant Leads Against Latent HIV». Science. 320 (5876): 649–652. Bibcode:2008Sci...320..649W. ISSN 0036-8075. PMC 2704988Acessível livremente. PMID 18451298. doi:10.1126/science.1154690 
  9. «Os Animais de Nossas Praias». osanimaisdenossaspraias.ufba.br. Consultado em 8 de julho de 2023 
  10. http://www.mcz.harvard.edu/Publications/pubs/Bulletin_2008_1593_2449.pdf
  11. a b c «Bugula neritina | The Exotics Guide». www.exoticsguide.org. Consultado em 9 de julho de 2023 
  12. «Bugula neritina (Linnaeus, 1758) - Ocean Biodiversity Information System». obis.org. Consultado em 9 de julho de 2023 
  13. Piola, Richard F.; Johnston, Emma L. (13 de abril de 2006). «Differential resistance to extended copper exposure in four introduced bryozoans». Marine Ecology Progress Series (em inglês). 311: 103–114. ISSN 0171-8630. doi:10.3354/meps311103 
  14. Singh R, Sharma M, Joshi P, Rawat DS (2008). «Clinical status of anti-cancer agents derived from marine sources». Anticancer Agents Med Chem. 8 (6): 603–617. PMID 18690825. doi:10.2174/187152008785133074 
  15. «Bryostatin – Phase II clinical testing of a non-toxic PKC activator». Blanchette Rockefeller Neurosciences Institute (West Virginia University) 
  16. Figuerola, Blanca; Avila, Conxita (4 de junho de 2019). «The Understudied Phylum Bryozoa as a Promising Source of Anticancer Drugs». doi:10.20944/preprints201906.0029.v1Acessível livremente 
  17. a b Trindade-Silva, Amaro E; Lim-Fong, Grace E; Sharp, Koty H; Haygood, Margo G (1 de dezembro de 2010). «Bryostatins: biological context and biotechnological prospects». Current Opinion in Biotechnology. Chemical biotechnology – Pharmaceutical biotechnology (em inglês). 21 (6): 834–842. ISSN 0958-1669. doi:10.1016/j.copbio.2010.09.018