Canhoto

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Dia Internacional do Canhoto, 13 de agosto de 2002

Canhoto,[1] esquerdino,[2] esquerdo[3] ou sinistrômano (português brasileiro) ou sinistrómano (português europeu)[4] é o indivíduo que utiliza mais os membros esquerdos do que os membros direitos para os seus afazeres.

Estudos sugerem que cerca de 90% das pessoas são destras. Em uma pesquisa realizada em 1975, por exemplo, com 7.688 crianças nos Estados Unidos da 1ª à 6ª série, os canhotos representavam 9,6% da amostra, com 10,5% das crianças do sexo masculino e 8,7% das crianças do sexo feminino sendo canhotas.[5][6][7] Evidências (desenhos ruprestres, por exemplo) indicam que os destros já eram maioria entre os ancestrais humanos há pelo menos 10 mil anos.[8]

Como a grande maioria da população é destra, muitos aparelhos são projetados para serem usados ​​por destros, dificultando seu uso por canhotos.[9] No entanto, os canhotos parecem ter mais habilidade para a prática desportiva[10] (no futebol, por exemplo, futebolistas famosos como Lionel Messi (1987-presente) e Diego Maradona (1960-2020) são canhotos), levando vantagem principalmente em esportes que envolvem mirar em um alvo em uma área de controle do oponente, pois seus oponentes estão mais acostumados com a maioria dos destros. Como resultado, eles estão super-representados no beisebol, tênis, esgrima, críquete, e em esportes de luta, como boxe,[11][12] e artes marciais mistas (MMA).[13] Em seu livro "Right-Hand, Left-Hand", o pesquisador Chris McManus, da University College London, defende que os cérebros dos canhotos são estruturados de uma forma que aumenta sua gama de habilidades, e que os genes que determinam o canhoto também governam o desenvolvimento dos centros de linguagem do cérebro.[14]

Causas[editar | editar código-fonte]

A origem da lateralização ainda é pouco compreendida, mas estudos recentes baseados em biologia molecular e epigenética trouxeram novas hipóteses. Inicialmente, assumiu-se a existência de elementos fisiológicos (hormonais, por exemplo) e provavelmente genéticos, pois uma causa exclusivamente cultural não parece compatível com:

  • a manutenção de uma população canhota em culturas onde eles são discriminados;
  • a dificuldade de se tornar destro quando se é “naturalmente” canhoto;
  • o fato de não conhecermos nenhuma cultura em que os canhotos sejam ou tenham sido a maioria entre os humanos;

Por outro lado, a existência de famílias de canhotos não é suficiente para caracterizar uma origem genética, não tendo essas famílias a mesma relação com o canhoto que o resto da população.

Aspectos biológicos[editar | editar código-fonte]

A presença de um controle motor mais fino com a mão esquerda indica um predomínio do hemisfério direito sobre o esquerdo. Essa característica é determinada geneticamente, que codifica uma proteína neuronal trans-membranar rica em leucina. Portadores deste gene possuem uma maior prevalência de doenças como esquizofrenia e epilepsia, porém são mais rápidos e lutam melhor que destros.[15] Pesquisadores afirmam que 25% da variação na mão pode ser atribuída aos genes - mas quais genes eles não foram estabelecidos na população em geral.[16]

Cientistas, em 2019, descobriram que efeitos genéticos que orientam a construção e o funcionamento das células do corpo estavam associados a diferenças na estrutura do cérebro, nos setores de substância branca - que contêm o citoesqueleto do cérebro - que une regiões relacionadas à linguagem. Nos participantes canhotos estudados, as áreas de linguagem dos lados esquerdo e direito do cérebro se comunicam de maneira mais coordenada. Isso aumenta a possibilidade para pesquisas de que os canhotos possam ter uma vantagem quando se trata de executar tarefas verbais.[17]

Em 2007, pesquisadores descobriram que alelos específicos de pelo menos um de três polimorfismos de nucleotídeo único, além do gene LRRTM1 também estão associados à dominância da coordenação motora com a mão esquerda.[18][19]

Vantagens de ser Canhoto[editar | editar código-fonte]

Segundo estudos da faculdade de Oxford, por motivos neurológicos os canhotos tem menos chances de desenvolver Parkinson durante a sua vida, o mesmo estudo também revelou que em geral, canhotos tem maiores chances de serem sociáveis e ter uma boa comunicação.[20][21]

Música[editar | editar código-fonte]

Em dois estudos, a pesquisadora alemã Diana Deutsch descobriu que os canhotos, particularmente aqueles com preferência de mão mista, tiveram um desempenho significativamente melhor do que os destros em tarefas de memória musical.[22][23] Há também diferenças de lateralidade na percepção de padrões musicais. Os canhotos como um grupo diferem dos destros e são mais heterogêneos do que os destros, na percepção de certas ilusões estereoscópicas, como a ilusão de oitava , a ilusão de escala e a ilusão de glissando.[24]

Esportes[editar | editar código-fonte]

Esportes interativos, como tênis de mesa, badminton e críquete, têm uma super-representação de canhotos, enquanto esportes não interativos, como natação, não apresentam super-representação. A distância física menor entre os participantes aumenta a super-representação. Na esgrima, cerca de metade dos participantes são canhotos.[25] Alguns estudos sugerem que os atletas destros tendem a ser estatisticamente mais altos e mais pesados ​​do que os canhotos.

Riscos de ser canhoto[editar | editar código-fonte]

Em contra partida, em estudos elaborados pela OMS, os canhotos acabam ganhando menores salários, pelo motivo de geralmente os maquinários serem elaborados para destros e assim precisando de adaptação na forma de trabalho e assim gerando menos rendimentos. Canhotos também correm maiores riscos de sofrerem acidentes, isto se dá porque quase todos os equipamentos são produzidos para destros. Exemplos disto são tesouras, mouses, abridores de latas, teclados, facas, saca-rolhas, furadeiras, serras, tornos, entre outros. Estes objetos são produzidos pensados em usuários destros. Mesmo que alguns objetos sejam inofensivos, como mouses ou teclados, outros, como serras, tornos, facas, abridores de latas, causam acidentes graves a pessoas canhotas.[21][26][27]

Ver também[editar | editar código-fonte]

Referências

  1. «canhoto». Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora. Infopédia 
  2. «esquerdino». Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora. Infopédia 
  3. «esquerdo». Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora. Infopédia 
  4. Carneiro, Sara; Vasconcelos, Olga; Rodrigues, Paula, «Transferência bilateral da aprendizagem em antecipação-coincidência. Efeito do sexo, da preferência manual e da complexidade da tarefa», Estudos em Desenvolvimento Motor da Criança III (PDF), Universidade do Porto, consultado em 31 de julho de 2016 
  5. Hardyck, C.; Petrinovich, L. F.; Goldman, R. D. (setembro de 1976). «Left-handedness and cognitive deficit». Cortex; A Journal Devoted to the Study of the Nervous System and Behavior. 12 (3): 266–279. ISSN 0010-9452. PMID 1000995. doi:10.1016/s0010-9452(76)80008-1 
  6. Scharoun SM, Bryden PJ (2014). «Hand preference, performance abilities, and hand selection in children». Frontiers in Psychology. 5 (82). 82 páginas. PMC 3927078Acessível livremente. PMID 24600414. doi:10.3389/fpsyg.2014.00082Acessível livremente 
  7. Papadatou-Pastou, Marietta; Ntolka, Eleni; Schmitz, Judith; Martin, Maryanne; Munafò, Marcus R.; Ocklenburg, Sebastian; Paracchini, Silvia (junho de 2020). «Human handedness: A meta-analysis.». Psychological Bulletin. 146 (6): 481–524. PMID 32237881. doi:10.1037/bul0000229 
  8. super.abril.com.br/ Uso da mão direita pode estar relacionado com evolução humana
  9. Erro de citação: Etiqueta <ref> inválida; não foi fornecido texto para as refs de nome :2
  10. ge.globo.com/ Os canhotos têm algum tipo de vantagem no esporte?
  11. Richardson, Thomas; Gilman, R. Tucker (28 de outubro de 2019). «Left-handedness is associated with greater fighting success in humans». Nature Portfolio. Scientific Reports. 9 (1): 15402. Bibcode:2019NatSR...915402R. PMC 6817864Acessível livremente. PMID 31659217. doi:10.1038/s41598-019-51975-3 
  12. Guy, Jack (25 de fevereiro de 2019). «Left-handed boxers win more fights, research shows». CNN. Consultado em 6 de dezembro de 2022 
  13. «Why are left-handed people better fighters?». ITV News (em inglês). 25 de fevereiro de 2019. Consultado em 1 de março de 2021 
  14. McManus C. «Right-Hand, Left-Hand official website». Consultado em 1 de junho de 2006. Cópia arquivada em 4 de maio de 2012 
  15. Taylor DC. Epilepsy and the sinister side of schizophrenia. Dev Med Child Neurol 1977;19:403-6.[1]
  16. Furniss, Dominic; Douaud, Gwenaëlle; Smith, Stephen; Bennett, David L.; Marchini, Jonathan; McCarthy, Paul; Alfaro-Almagro, Fidel; Al Omran, Yasser; Ng, Michael. «Handedness, language areas and neuropsychiatric diseases: insights from brain imaging and genetics». Brain (em inglês). doi:10.1093/brain/awz257 
  17. «Scientists discovered the genomes associated with left-handedness». Tech Explorist (em inglês). 6 de setembro de 2019. Consultado em 6 de setembro de 2019 
  18. Francks et al. Molecular Psychiatry (2007) 12:1129-1139
  19. Gene for left-handedness is found, BBC, 31 de julho de 2007
  20. «Canhotos têm menos risco de ter Parkinson e se comunicam melhor, diz estudo». www.uol.com.br. Consultado em 9 de maio de 2021 
  21. a b «As diferenças descobertas no DNA dos canhotos, e como mudam a estrutura do cérebro». BBC News Brasil. Consultado em 9 de maio de 2021 
  22. Deutsch, D (3 de fevereiro de 1978). «Pitch memory: an advantage for the left-handed». Science. 199 (4328): 559–560. Bibcode:1978Sci...199..559D. PMID 622558. doi:10.1126/science.622558 
  23. Deutsch, Diana (1980). «Handedness and Memory for Tonal Pitch». Neuropsychology of Left-Handedness. [S.l.: s.n.] pp. 263–271. ISBN 978-0-12-343150-9. doi:10.1016/B978-0-12-343150-9.50016-0 
  24. Deutsch D (2019). Musical Illusions and Phantom Words: How Music and Speech Unlock Mysteries of the Brain. [S.l.]: Oxford University Press. ISBN 9780190206833. LCCN 2018051786 [falta página]
  25. Widermann D, Barton RA, Hill RA (2011). «Evolutionary perspectives on sport and competition». In: Roberts SC. Applied Evolutionary Psychology. [S.l.]: Oxford University Press. ISBN 9780199586073. doi:10.1093/acprof:oso/9780199586073.001.0001 
  26. Hancock, Jaime Rubio (8 de dezembro de 2014). «Canhotos ganham menos, e outros fatos surpreendentes sobre eles». EL PAÍS. Consultado em 9 de maio de 2021 
  27. «15 Objetos pensados para canhotos que evitam vários incômodos». Incrível — Inspiração. Criatividade. Admiração. 15 de setembro de 2018. Consultado em 9 de maio de 2021 

Ligações externas[editar | editar código-fonte]

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