David Capistrano da Costa

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David Capistrano da Costa
David Capistrano da Costa
Brazilian politician, em ficha da Comissão da Verdade do Estado de São Paulo
Nascimento 16 de novembro de 1913
Boa Viagem, Brasil
Morte 16 de março de 1974 (60 anos)
Petrópolis, Brasil
Nacionalidade Brasil brasileiro
Ocupação político,militar, guerrilheiro

David Capistrano da Costa (Boa Viagem, 16 de novembro de 1913Brasil, 16 de março de 1974) foi um político, militar e guerrilheiro brasileiro, dirigente[1] do Partido Comunista Brasileiro (PCB). Fez parte da resistência contra a ditadura militar brasileira.[2]

Biografia[editar | editar código-fonte]

Nasceu em Jacampari, um pequeno distrito do município de Boa Viagem. Filho de José Capistrano da Costa e Cristina Cirila de Araújo. Aos 13 anos, muda-se para o Rio de Janeiro por causa da seca[3], e trabalha em bares e botequins, até entrar no Exército, aos 18 anos. Enquanto cabo e aluno da Escola de Aviação Militar, conhece o tenente Ivan Ribeiro, que intermediou sua entrada no Partido Comunista. Participa da Aliança Nacional Libertadora (ANL) e da Intentona Comunista, como sargento da Aeronáutica, sendo expulso das Forças Armadas e condenado pelo Estado Novo a 19 anos de prisão. Em 1936, ajudado por amigos militares, foge de Colônia Penal dois Rios, em Ilha Grande (Rio de Janeiro), onde cumpria pena. Atravessa a fronteira do Brasil com o Uruguai e vai para a Espanha, integrando as Brigadas Internacionais na luta contra o fascismo de Francisco Franco. O republicanismo espanhol dispensou as Brigadas Internacionais em 1938.[2]

Em 1939, participa da Resistência Francesa[4] na Segunda Guerra Mundial, contra a ocupação nazista. Preso em ação, é deportado para o campo de concentração em Gurs, na Alemanha, mas consegue ser libertado por membros da resistência. Volta ao Brasil em 1942, para tentar reassumir seu cargo nas forças armadas, mas não consegue. Depois de uma nova temporada na cadeia e com o fim da Segunda Guerra Mundial, é anistiado em 1945 e em 1946 se elege Deputado Estadual em Pernambuco pelo Partido Comunista Brasileiro. No ano seguinte, casa-se com Maria Augusta de Oliveira, também militante do PCB[5] do estado da Paraíba. Em 1947, o registro do PCB é cassado, então ambos vem para São Paulo, clandestinos. Em 1948 é visto no Rio de Janeiro partindo para a antiga União Soviética.

De volta ao Brasil, em 1957, esteve em diversas regiões do país, ainda clandestinamente. Em 1964, com o Golpe Militar, sua situação política passa de clandestino para procurado e perseguido político, pois seus direitos políticos foram cassados em junho de 64. Em 1972 vai para a Checoslováquia como representante do PCB, porém dois anos depois é substituído por problemas de saúde[6] . Volta ao Brasil em 1974.

 Desaparecimento e Morte[editar | editar código-fonte]

Maria Augusta, companheira de David, foi avisada que ele havia saído de Uruguaiana no dia 15 de março de 1974, em companhia de José Roman, outro militante comunista, que buscou-o em um carro Volkswagen, para transportá-lo para São Paulo onde encontraria sua família. O percurso era longo e Maria aguardava notícias, quando, em 19 de março, Lidia recebeu um telegrama de seu esposo, José Roman, avisando que tudo correra bem[7] . Porém, no dia 21 de março, Luiz Roman, seu filho, recebeu um telefonema avisando que seu pai se encontrava preso. Após essa data, nenhum dos dois foi visto ou entrou em contato com seus familiares. Pelas datas do telegrama, assume-se que os dois foram presos próximo ao município Franco da Rocha, em São Paulo.[8]

O Habeas Corpus de David foi pedido por Maria Augusta no dia 25 de março de 1974 [9] através do advogado Aldo Lins e Silva, mas os órgãos de repressão negaram a prisão de David. Em 19 de julho do mesmo ano, o Presidente da França, Valéry Giscard d'Estaing enviou uma carta ao governo brasileiro pedindo a intervenção para que a vida de David Capistrano fosse preservada, pois ele era considerado herói de guerra por ter combatido o nazismo[10]. A embaixada brasileira negou a prisão e informou desconhecer o paradeiro de David.[8]

No dia 1º de abril de 1987, a revista Isto É publicou uma entrevista com o ex-médico e torturador Amílcar Lobo, que serviu no Quartel da Polícia do Exército do Rio de Janeiro, onde funcionava o DOI-CODI, em que ele declarou trabalhar na casa da rua Arthur Barbosa, em Petrópolis, conhecida como Casa da Morte. Procurado pela filha de David Capistrano, Maria Carolina, Amílcar Lobo contou que seu pai foi torturado nas dependências daquela casa vindo a falecer em consequência das torturas. No dia 26 de setembro de 1992 foi encontrado um documento oficial nos arquivos da Secretaria de Justiça do Rio de Janeiro, no prontuário de nº 3.579, onde constou-se que David Capistrano estava realmente preso no dia 16 de setembro de 1974. No dia 18 de novembro de 1992, o ex-Sargento integrante do DOI-CODI São Paulo, Marival Dias Chaves do Canto, declara em entrevista à revista Veja que David Capistrano foi executado e esquartejado na Casa da Morte, tendo seus restos mortais ensacados e jogados em um rio.[11]


A revista Isto É do dia 31 de março de 2004 relata que o desaparecimento dos dirigentes do PCB fazia parte de uma iniciativa contra o Partido, da qual o Coronel Aldir dos Santos Maciel foi dirigente. Essa ação tinha como objetivo prender e executar os membros do Comitê Central do PCB[12]. A operação iniciada em 1973 levou o nome de Operação Radar[13], resultou na morte de 20 membros do Comitê Central do PCB[14]. Além disso, as gráficas clandestinas do partido foram localizadas e destruídas, assim como foram desmanteladas os diretórios do partido e 679 pessoas foram presas.[8]

Reconhecimento[editar | editar código-fonte]

Seu nome consta no anexo da Lei 9140 de 1995 como reconhecimento de sua prisão e morte sob responsabilidade do Estado.[8]

Ver Também[editar | editar código-fonte]

Relato da neta de David Capistrano, Cecília Capistrano, sobre sua infância durante a ditadura

Lista de mortos e desaparecidos políticos na ditadura militar brasileira

Referências

  1. Comissão de Familiares de Mortos e Desaparecidos Políticos - Dossiê dos mortos e desaparecidos políticos a partir de 1964. Recife, PE. Companhia Editora de Pernambuco, 1995. p. 225.
  2. a b «DAVID CAPISTRANO DA COSTA - Comissão da Verdade». comissaodaverdade.al.sp.gov.br. Consultado em 16 de outubro de 2019 
  3. Centro de notícias e artigos de Boa Viagem "Lá Na Esquina". (Arquivado em 28 de maio de 2014)
  4. Portal de comunicação Gramsci e o Brasil. Página visitada em 14/06/2014.
  5. Mulher e Democracia. Página arquivada em 14/07/2014.
  6. Comissão da Verdade - David Capistrano. Página arquivada em 30/06/2014.
  7. Comissão da Verdade - José Roman. Página arquivada em 30/06/2014.
  8. a b c d «David Capistrano da Costa». Memórias da ditadura. Consultado em 16 de outubro de 2019 
  9. Enciclopédia O Nordeste. Página visitada em 14/06/2014. (link expirado)
  10. Relatório da Comissão da Verdade - Presidente Deputado Adriano Diogo - 28/02/2013, p. 46.
  11. «As 10 reportagens que abalaram o regime». Observatório da Imprensa. 28 de novembro de 2005. Consultado em 27 de dezembro de 2021. Arquivado do original em 6 de julho de 2011 
  12. - Quem torturou. Página visitada em 14/06/2014.
  13. Resistir - O Massacre do PCB. Página visitada em 14/06/2014
  14. Carta Capital - Sobre Ustra, Fleury e outros asseclas. Página visitada em 14/06/2014.