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David Melgueiro

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David Melgueiro (Porto, ? – Porto, 1673?) terá sido um navegador e explorador português que, entre 1660 e 1662, ao serviço da marinha holandesa, levou a cabo a primeira travessia da passagem do Nordeste, no Ártico, no sentido Oriente-Ocidente, ligando o Japão a Portugal.[1][2][3]

Segundo o relato de um diplomata e espião francês em Portugal, o Seigneur de La Madelène (ou Madeleine), o capitão David Melgueiro, ao comando dum navio holandês de nome O Pai Eterno, zarpou de Tanegashima no Japão, a 14 de março 1660, rumando a Norte, entrando no Oceano Ártico pelo Estreito de Bering (então designado como estreito de Aniam), percorrendo latitudes tão setentrionais como 84º N, avistando o arquipélago de Svalbard. Aí chegado, inflectiu para Sul, passando ao largo da Escócia e da Irlanda, para finalmente vir atracar na foz do Douro, por volta de1662. Afirma La Madelène que, de acordo com o testemunho de um marinheiro de Le Havre que acompanhou Melgueiro até ao fim da sua vida, o intrépido explorador português terá falecido no ano de 1673.

La Madelène escreveu o seu relato em 1701, sendo testemunha não coeva do sucedido. Terá sido assassinado quando saía de Portugal para fazer chegar ao governo francês as suas assombrosas informações. O texto a isso alusivo foi dado à estampa (1853), século e meio mais tarde, Deu aso a sérias desconfianças de alguns investigadores, dada a aparente simplicidade do feito e a inexistência de provas. De resto, o relato é omisso quanto a quaisquer dificuldades na viagem, feita numa época (século XVII) cujo clima, segundo certos investigadores contemporâneos, seria desfavorável a uma travessia dos gelos setentrionais. Estudos levados a cabo pelos historiadores portugueses Jaime Batalha Reis, Duarte Leite e João António Mascarenhas Júdice (1898-1957), o 4.º visconde de Lagoa, puseram a viagem em causa alegando ser estranho que não tivesse tido mais divulgação e impacto na época, tanto por portugueses como por holandeses. Há ainda quem sugira ter sido esse facto motivado por uma política de sigilo, num quadro de rivalidade marítima e colonial no Oriente. Seria do interesse dos holandeses que a viagem fosse esquecida. Ocultando a rota, poderiam chegar com mais facilidade e menos problemas às Índias e às suas especiarias...

Por outro lado, também não há provas que desmintam a teoria de La Madelène. Damião Peres admite que a viagem se fez na «eventualidade de terem existido condições meteorológicas excepcionais».[4] Tal suposição é entretanto reforçada por novos estudos em que se procura demonstrar que Melgueiro consumou de facto seus objetivos num ano excecionalmente quente.[5]

A ser assim, a viagem de Melgueiro precedeu em mais de dois séculos a histórica jornada do navegador finlandês Nils Nordenskjöld, em 1878, logrado alcançar o que tantos outros, antes e depois dele em vão tentaram, perdendo a vida. É o caso do holandês Willem Barents, que tentou fazer a travessia no sentido Oeste-Leste, acabando por morrer (1596) no mar que hoje tem o seu nome, Mar de Barents, o caso do explorador dinamarquês ao serviço da Rússia, Vitus Bering, que faleceu em 1741 ao largo do estreito com o seu nome, o Estreito de Bering, quando se aventurou na Grande Expedição Setentrional.

Referências

  1. Artigo pulicado na revista Gazeta dos Caminhos de Ferro, número 1276, pp 125/126, 16 de fevereiro de 1941, Lisboa
  2. David Melgueiro: Na rota da lendária viagem do navegador português pelo Árctico Notícia, Público, 09 de abril 2014
  3. Philippe Buache, Considérations géographiques et physiques sur les nouvelles decouvertes au nord de la grande mer. Paris: l'Académie Royale des Sciences, 1753.
  4. (Damião Peres, História dos Descobrimentos Portugueses (ed. monumental), 4.ª ed., Porto, Vertente, 1992, p. 439)
  5. Was the Northeast Passage first navigated in 1660? – artigo em ingles de Anthony Watts, climatologista, em Watts Up With That?

Ligações externas

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