Mercado Modelo Coelho Cintra

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
(Redirecionado de Derby Centro Comercial)
O antigo Mercado Modelo Coelho Cintra, hoje Quartel do Derby, sede da Polícia Militar de Pernambuco

O Mercado Modelo Coelho Cintra, também conhecido como Derby Centro Comercial ou simplesmente Derby, foi um centro comercial e de lazer concebido e construído pelo empreendedor Delmiro Gouveia num subúrbio do Recife, capital do estado brasileiro de Pernambuco, no local onde houvera um hipódromo.

Inaugurado em 7 de setembro de 1899, é tido como o primeiro "shopping center" do Brasil. O complexo contava com um estabelecimento hoteleiro: o Hotel Internacional.[1][2][3]

História[editar | editar código-fonte]

O empreendimento inédito no Brasil, fora inspirado na Exposição Universal de Chicago, de 1893 e seu mercado reflete o Fisheries Building, projetado por Ives Cobb para aquela exposição.

O empreendimento incluía mercado, hotel, cassino, velódromo, parque de diversões e loteamento residencial e causou admiração junto a segmentos da população do Recife, que se orgulhavam deste empreendimento a colocar a cidade em sintonia com o que havia de mais moderno e sofisticado no mundo da época. Expressão de progresso e civilidade, o Derby era um centro de diversões modernas que levou ao Recife os prazeres desconhecidos, produzidos com o auxílio da técnica e da ciência.

A escritora americana Marie Robinson Wright em seu livro The New Brazil (1901) descreve:[4]

Delmiro Gouveia, industrial brasileiro.

Muitos estrangeiros visitam o porto de Pernambuco todo ano, e não é raro ver meia dúzia de nacionalidades representadas nos hotéis de seus atraentes subúrbios, especialmente no Derby, que é um dos mais pitorescos lugares que se pode imaginar, com bonitas casas, sombras de arvoredos, leve movimento das águas do rio, pequenas pontes artísticas semi-enterradas na vegetação das margens, e canoas alegremente pintadas deslizando na superfície da água. Este subúrbio goza da distinção de possuir um dos melhores hotéis da América do Sul; o Hotel do Derby é perfeitamente moderno em todos os sentidos e orientado por um padrão metropolitano de serviço. O mercado do Derby é um dos maiores estabelecimentos do seu tipo, no Brasil, e está equipado para os amplos negócios que diariamente são nele realizados. O subúrbio deve seu aspecto atraente à empresa de um cidadão muito progressista, Senhor Delmiro Gouveia, o proprietário, que tem pessoalmente dirigido tudo em sintonia com o desenvolvimento do empreendimento.

O empreendimento contava com um dos melhores hotéis da América do Sul; o Hotel do Derby, que era considerado moderno em todos os sentidos, e prestava um padrão metropolitano de serviços. O mercado do Derby foi um dos maiores do gênero, no Brasil, e estava bem equipado para os negócios que diariamente nele eram realizados. Nele, além dos artigos comercializados nos mercados na época como os alimentos, se vendia gelo, jornais diários, artigos para fumantes. Havia filial da Livraria Francesa, lojas de perfumarias, lojas de tecidos, de calçados, de louças, de miudezas, e outras.

Estrategicamente localizado fora do centro da cidade, numa área cercada por rios e mangues, adotava já naquela época um dos princípios de marketing que norteiam os shopping centers do século XXI: a garantia um isolamento espacial, um ambiente autônomo e com lógica própria, ideal para favorecer as compras e longe de tudo aquilo que possa dificultá-la - o barulho e o movimento das ruas, a falta de segurança, as intempéries naturais. O Derby era ligado a outras localidades por bondes de bagagem, que trafegavam de manhã, para atender seus clientes.

No Derby a diversão era a finalidade do empreendimento, e o consumo era promovido como espetáculo, distração, aventura e prazer, procurando ligá-lo à ideia de progresso, distinção, status e bom gosto. Já naquele tempo utilizava iluminação elétrica com uso cenográfico, e seus funcionários eram orientados para atender com cortesia os clientes, enquanto a música, a variedade de comidas, bebidas e jogos formavam o espetáculo neste "Centro Comercial e de Diversões". A então magia proporcionada pela luz elétrica e pelo cinema encantavam seus frequentadores.

Era encorajada a prática de esportes, que passaram a ser símbolos de distinção social: corridas de bicicleta (com casa de apostas), regatas, ginástica, jogos de bilhar, dados e dominó, tiro ao alvo, boliche e corridas de pedestres. A exposição denominada "Paris no Derby", constitui-se "um pavilhão para exhibição de diversos apparelhos electricos de diversões" [5].

Os jornais do Recife noticiavam que grandes multidões, de até oito mil pessoas segundo matéria no Jornal Pequeno, frequentavam o Derby, e se constituíam num espetáculo à parte.[6] Como os shopping centers de hoje em dia, o Derby visava a estender o consumo às horas livres, às noites, e aos dias santificados.

O incêndio ateado, e a destruição total[editar | editar código-fonte]

Conselheiro Rosa e Silva, vice-presidente do Brasil, e Sigismundo Antônio Gonçalves, Governador de Pernambuco.

Na madrugada do dia 2 de janeiro de 1900 a polícia do governador Sigismundo Gonçalves, inimigo político de Delmiro e fiel rocista, ligado ao Conselheiro Rosa e Silva, político que comandou com mão de ferro Pernambuco de 1896 a 1911, embora morasse no Rio de Janeiro, onde foi senador e vice-presidente da república, ateou deliberadamente fogo ao Derby, num ato criminoso previamente anunciado tanto por jornais situacionistas como oposicionistas, e que causou a total destruição do empreendimento.[7]

O jornal recifense A Província publicou, em 4 de janeiro de 1900, um telegrama atribuído ao governador Sigismundo Gonçalves para o Conselheiro Rosa e Silva: "Mercado incendiado. Delmiro preso. Saudações, Sigismundo Gonçalves".[8]

Referências

  1. «Biografia resgata a trajetória do industrial Delmiro Gouveia». Jornal do Commercio. Consultado em 15 de março de 2019 
  2. «Historiador Frederico Pernambucano de Mello resgata história de Delmiro Gouveia». O Dia Mais. Consultado em 15 de março de 2019 
  3. «Delmiro Gouveia». Fundação Joaquim Nabuco. Consultado em 15 de março de 2019 
  4. WRIGHT, Marie Robinson. George Barrie & Son, ed. The New Brazil. It’s Resourses and attractions. Historical, Descriptive and Industrial. 1901. Filadélfia, EUA: [s.n.] 314 páginas 
  5. Jornal Pequeno, 11 set. 1899, 2
  6. Jornal Pequeno, 27 dez. 1899, 2
  7. CORREIA, Profª Drª. Telma de Barros. Delmiro Gouveia: A Trajetória de um Industrial no Início do Século XX., pp. 10-12 .
  8. CORREIA, Profª Drª. Telma de Barros. Delmiro Gouveia: A Trajetória de um Industrial no Início do Século XX., p.12 .

Bibliografia[editar | editar código-fonte]

  • CORREIA, Profª Drª. Telma de Barros. Delmiro Gouveia: A Trajetória de um Industrial no Início do Século XX.
  • LAGE, N. L. Delmiro Gouveia: Seu Crime Foi Plantar a Fartura no Sertão. In: Nilson Lemos Lage. (Org.). Os enigmas de nossa História. 1a. ed. Rio de Janeiro: Otto Pierre Editores, 1981, v. 5°., p. 7-52.
  • No Derby. Jornal Pequeno, Recife, 27 dez. 1899. p. 2.
  • Paris no Derby. Jornal Pequeno, Recife, 11 set. 1899. p. 2.
  • Derby. Jornal Pequeno, Recife, 27 jan. 1900. p. 2.
  • WRIGHT, Marie Robinson. The New Brazil. It’s Resourses and attractions. Historical, Descriptive and Industrial. Philadelphia, George Barrie & Son, 1901.
Ícone de esboço Este artigo sobre uma empresa é um esboço. Você pode ajudar a Wikipédia expandindo-o.