Dominic Ongwen

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Dominic Ongwen
Nascimento 1975
Gulu
Cidadania Uganda
Ocupação militar

Dominic Ongwen (nascido em 1975) é uma ex-criança-soldado de Uganda e ex-comandante de uma das brigadas do grupo guerrilheiro ugandense Exército de Resistência do Senhor (Lord's Resistance Army, LRA).

Foi detido em 2014[1] e em 2021 o Tribunal Penal Internacional o condenou por crimes de guerra e crimes contra a humanidade, incluindo assassinato, estupro, tortura e escravidão.[2]

Origens[editar | editar código-fonte]

Dominic Okumu Savio (seu nome de nascimento) nasceu no vilarejo de Choorum, condado de Kilak, distrito de Amuru, norte de Uganda[3] por volta de 1975, o quarto filho de Ronald Owiya e Alexy Acayo, dois professores que moravam em Paibona.[4][5] Seus pais, como a maioria dos outros habitantes de Acoliland na época, deram-lhe um nome falso e treinaram-no para usá-lo caso fosse sequestrado, para proteger o resto da família. Este nome, Ongwen, significa "nascido na época da formiga branca".[6] Mais tarde, tornar-se-ia seu nome de guerra.[4]

Rapto[editar | editar código-fonte]

Ongwen foi sequestrado pelo Exército de Resistência do Senhor enquanto caminhava para a Escola Primária Abili em Koro. Segundo seu próprio depoimento, isso aconteceu em 1988, quando possuía quatorze anos.[7] No entanto, tem sido frequentemente relatado que ele tinha nove ou dez anos,[4] e também que foi carregado por outros prisioneiros até às principais bases militares do Exército de Resistência do Senhor porque era “muito pequeno para andar”.[6]

Quando a mãe de Ongwen soube que ele tinha sido raptado, recusou-se a fugir com os outros aldeões, dizendo que estava pronta para enfrentar os rebeldes. Ao retornar, os aldeões a encontraram morta e seu pai também foi encontrado morto mais tarde.[8]

De acordo com Private Eye, quando criança, Ongwen tentou escapar; quando capturado, foi forçado a esfolar um dos outros vivo. Mais tarde, obrigou prisioneiras a espancar outras prisioneiras até a morte e presidiu assassinatos por apedrejamentos.[9]

Carreira[editar | editar código-fonte]

Uma vez sequestrado, passou por cerimônias de iniciação que incluíam tortura e ser forçado a assistir a rituais violentos de pessoas sendo mortas.[10] Foi posteriormente doutrinado sob a tutela de Vincent Otti, ainda criança, como combatente do Exército de Resistência do Senhor.[11]

Em seguida, ascendeu na hierarquia, tornando-se major aos 18 anos e brigadeiro da Brigada Sinia, uma das quatro brigadas do Exército de Resistência do Senhor, aos vinte e tantos anos.[4][12] Ongwen era membro do “Altar de Controle” que dirigia a estratégia militar da organização.

Captura e prisão[editar | editar código-fonte]

Em 2013, os Estados Unidos ofereceram uma recompensa de 5 milhões de dólares (3,3 milhões de libras) por informações que levassem à sua prisão.[12] No final de 2014, Ongwen escapou da detenção por ter desobedecido às ordens de Joseph Kony e por supostamente prestar auxilio ao Movimento de Libertação do Povo do Sudão na Oposição.[13] Depois de escapar do campo perto de Songo, em Kafia Kingi, Ongwen encontrou pastores de gado nomades que o levaram para um grupo rebelde Seleka perto de Sam Ouandja, na República Centro-Africana. O antigo comandante do grupo Seleka contatou um comerciante em Mboki, que por sua vez telefonou para um trabalhador de uma ONG em Obo. Este último contatou as Forças Especiais dos Estados Unidos. Um helicóptero estadunidense enviado para Sam Ouandja recolheu Ongwen. Os Seleka inicialmente desconheciam a identidade de Ongwen, mas souberam disso depois que o caso se tornou público na mídia.[14] O comandante do Seleka disse à RFI que esperava receber a recompensa prometida de 5 milhões de dólares.[15] No entanto, a recompensa nunca foi paga e os estadunidenses jamais reconheceram publicamente o papel dos rebeldes Seleka na captura.[16] Ongwen foi então transferido sucessivamente para as forças ugandenses,[17] para as forças centro-africanas e, finalmente, para o TPI.[18]

Durante o período entre a sua detenção e a sua transferência para o TPI, Ongwen participou em diversas atividades midiáticas, incluindo uma transmissão de rádio, reuniões com jornalistas e uma gravação de vídeo em que afirmava que se tinha rendido porque se apercebeu de que estava "desperdiçando seu tempo no mato" já que "o LRA não tem futuro". Ele instou outros insurgentes a retomarem suas vidas civis.[19][20][21]

Referências

  1. «LRA commander Dominic Ongwen appears before ICC in The Hague». BBC News. 26 de janeiro de 2015. Cópia arquivada em 26 de janeiro de 2018 
  2. Ssebwami, Javira (5 de fevereiro de 2021). «ICC conviction of LRA commander provides overdue justice for victims of decades-long campaign of abuses». UgStandard. Consultado em 5 de fevereiro de 2021. Cópia arquivada em 13 de fevereiro de 2021 
  3. «The Prosecutor v. Dominic Ongwen» (PDF). Cópia arquivada (PDF) em 8 de agosto de 2016 
  4. a b c d «Dominic Ongwen: born at the time of the white ant, tried by the ICC – By Thijs B. Bouwknegt». African Arguments (em inglês). 20 de janeiro de 2015. Consultado em 25 de outubro de 2020. Cópia arquivada em 31 de outubro de 2020 
  5. «LRA Series Part 3: The Story of LRA Commander, Dominic Ongwen». Cópia arquivada em 15 de dezembro de 2021 – via www.youtube.com 
  6. a b «Archived copy» (PDF). Consultado em 11 de junho de 2016. Cópia arquivada (PDF) em 17 de março de 2016 
  7. «Dominic Ongwen and the Search for Justice». warscapes.com. 2 de março de 2016. Cópia arquivada em 15 de julho de 2016 
  8. «Dominic Ongwen: a Tyrant or Victim of Circumstances?». Kata Kata (em inglês). 15 de fevereiro de 2015. Consultado em 25 de outubro de 2020. Cópia arquivada em 28 de outubro de 2020 
  9. Private Eye no. 1547, meados de maio de 2021, página 22
  10. Burke, Jason (27 de março de 2016). «Child soldier to war criminal: the trial of Dominic Ongwen». The Guardian. Cópia arquivada em 7 de dezembro de 2016 
  11. "The complex story of a child soldier," by Ledio Cakaj Arquivado em 2016-10-16 no Wayback Machine, The Washington Post, 12 de janeiro de 2015
  12. a b «Profile: Dominic Ongwen of Uganda's LRA». BBC News (em inglês). 26 de janeiro de 2015. Consultado em 25 de outubro de 2020. Cópia arquivada em 1 de novembro de 2020 
  13. Anton Rizor (31 de janeiro de 2016). «The Dominic Ongwen Case – Setting International Criminal Justice Precedent». theowp.org 
  14. «Surrendered LRA officer says he didn't want to die in bush». AP. 19 de janeiro de 2015 
  15. «Fin de cavale pour le chef de guerre ougandais Dominic Ongwen» Arquivado em 2015-04-27 no Wayback Machine Libération
  16. «LRA's Dominic Ongwen 'capture': Seleka rebels want $5m reward» Arquivado em 2018-08-02 no Wayback Machine BBC
  17. LRA commander Dominic Ongwen 'in Ugandan custody' Arquivado em 2018-06-01 no Wayback Machine BBC News, Africa.
  18. "Ugandan LRA rebel commander Dominic Ongwen to be tried at ICC: army," Arquivado em 2015-01-14 no Wayback Machine Daily Nation, 13 de Janeiro de 2015
  19. Dominic Ongwen reveals why he left Joseph Kony Arquivado em 2015-01-14 no Wayback Machine
  20. Ongwen urges LRA comrades to surrender, New Vision, 13 de janeiro de 2015 Arquivado em 2015-04-02 no Wayback Machine
  21. Surrendered LRA Commander Dominic Ongwen Says He Didn't Want to Die in Bush Arquivado em 2015-01-29 no Wayback Machine TIME, 19 de janeiro de 2015