Dressel 1

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Desenho esquemático de uma Dressel 1B

Por Dressel 1 entende-se que é uma das formas de ânforas classificadas por Heinrich Dressel (arqueólogo Alemão).[1]

Esta forma de Dressel também é conhecida por:

  • Peacok: classe 3, 4 ou 5
  • Kilcher: Grupo 2
  • Óstia XX
  • Camuloduno 181
  • Callender 1
  • Pascual 1

Características[editar | editar código-fonte]

São estas ânforas tardo-republicanas destinadas ao transporte de vinhos [2] da Campânia (maioritariamente), do Lácio e da Etrúria.[3] Terão por sua vez esporadicamente transportado outros produtos, nomeadamente azeitonas [4] e outras conservas, do tipo marinho, nomeadamente bivalves [5] ou ainda frutos secos, como a avelã.[6]

Descrição[editar | editar código-fonte]

Morfologicamente, é evidente a sua proximidade com as ânforas greco-itálicas, contudo, globalmente a Dressel 1 é mais alta e mais estreita, com paredes, asas, bordo e fundo mais fortes e espessos, que lhe conferem um aspecto mais elegante, tornando-a assim mais resistente e consequentemente mais eficaz para o transporte de tão caros produtos em longas viagens.

Todavia, perde este recipiente em capacidade (20-25 l) e ganha em peso (20–25 kg).[7]

Cronologia[editar | editar código-fonte]

Cronologicamente, este envase itálico poderá surgir no terceiro quartel do século II a.C. ao primeiro quarto do século I d.C., geralmente não ultrapassando o reinado de Augusto. Peacock[8] aponta o fim da produção desta forma em fins do primeiro decénio do século I a.C..[8]

Contudo, tal afirmação parece ser contestada, pelos dados obtidos em estações como Haltern, Trier, Camuloduno ou Bures-les-Monts, cuja presença se encontra bem marcada ainda nos primeiros decénios da nossa Era.[9]

Difusão[editar | editar código-fonte]

Até ao presente momento, encontraram-se somente 12 fragmentos representativos deste tipo de fabrico (grupo 1) no Castro de São Lourenço.[10] No vizinho Monte do Castelo do Neiva (Viana do Castelo) já foram detectados outros fragmentos semelhantes. Assim como dentro do convento bracaraugustano, apresentam-se nas variantes A e B um número relativamente significativo, se atentarmos comparar este com outras formas vinárias, nomeadamente as Dressel 2-4 e as Haltern 70.[11]

A sua presença, apesar de pouco numerosa nos castros da região (ver: cultura castreja) do noroeste peninsular (Galécia), prova que no final da República Romana já se fazia uma importação de vinho a partir da Itália e que a sua distribuição, tal como as cerâmicas campanienses, são fruto de um comércio essencialmente marítimo,[12] que num primeiro momento da romanização se fez sempre ao longo do litoral, com alguma tímida penetração pelos rios mais navegáveis do Rio Douro ao Cabo de Fisterra (A Coruña) passando pelos rio Cávado, rio Lima, rio Minho e Rias Baixas.

Há notícias de um fragmento de um bordo encontrado no Monte Crasto - Airó, (Barcelos).[13] Também foram encontrados fragmentos da variante Dressel 1A no Castro do Coto da Pena (Caminha), na Cividade de Terroso (Póvoa do Varzim), Castelo de Gaia, Castro de Baiza e no Castro da Senhora da Saúde,[14] ambas em Vila Nova de Gaia. Quanto à variante Dressel 1B, encontramo-la também em Terroso e em Âncora (Caminha), além do Castro da Senhora da Saúde ou Monte Murado (ambas em V. N. de Gaia)[15] e no Castro de Sto. Estêvão da Facha, em Ponte de Lima.[16] Há notícias da sua existência no acampamento militar da Lomba do Canho, Arganil.[17][18]

Referências

  1. DRESSEL, Heinrich, 1899.
  2. BELTRÁN LLORIS, Miguel, 1970.
  3. PEACOCK, D. P. S., 1977.
  4. PEACOCK, D. P. S. e WILLIAMS, D. F., 1991.
  5. BENOÎT, F.,1962, pp. 147-176.
  6. PARKER, A. J. and SQUIRE, D. M., 1974, pp. 27-34.
  7. PAIVA, Maria de Belém Cerdeiras de Campos, 1993.
  8. a b PEACOCK, D. P. S, 1971, pp. 169-188.
  9. PAIVA, Maria de Belém Cerdeiras de Campos,1993.
  10. GUEDES, Jorge, 2006, pp.22-24.
  11. ALMEIDA, Carlos Alberto Brochado de, 1996.
  12. NAVEIRO LOPEZ, Juan, 1991.
  13. ALMEIDA, 1997, VOL. II, p. 8
  14. PAIVA, 1993, pp. 27-29.
  15. PAIVA, 1993, pp. 28-29.
  16. ALMEIDA et alii, 1981.
  17. FABIÃO, Carlos, GUERRA, Amílcar, e NUNES, João de Castro, 1988.
  18. LOPES, António Batista, 2003, pp. 308-371.

Bibliografia[editar | editar código-fonte]

  • ALMEIDA, Carlos Alberto Ferreira de, SOEIRO, Teresa, ALMEIDA, Carlos Alberto Brochado de, BAPTISTA, António José, Escavações Arqueológicas em Santo Estêvão da Facha, Separata do Arquivo de Ponte de Lima, 3, Câmara Municipal de Ponte de Lima, Ponte de Lima, 1981.
  • ALMEIDA, Carlos Alberto Brochado de, Povoamento Romano do Litoral Minhoto entre o Cavado e o Minho, Dissertação de Doutoramento em Pré-História e Arqueologia, Vol. VII - FLUP, Edição do autor, Porto, 1996.
  • ALMEIDA, Carlos Alberto Brochado de, Povoamento Romano do Litoral Minhoto entre o Cávado e o Minho, Rev. Barcelos Património, Vol. I, Câmara Municipal de Barcelos, Barcelos, 1997.
  • BELTRÁN LLORIS, Miguel, Las Ânforas romanas en España, Monografias Arqueológicas, vol. VIII, Zaragoza, 1970.
  • BENOÎT, F., Nouvelles épaves de Provence (III); Gallia, 20, Paris, 1962, pp., 147-176.
  • DRESSEL, Heinrich, Corpus Inscriptionum Latinarum, vol. XV, Berlin, 1899.Heinrich Dressel Epigraphiker Numismatiker (PDF) (em alemão).
  • FABIÃO, Carlos, GUERRA, Amílcar, e NUNES, João de Castro, O acampamento militar romano da Lomba do Canho (Arganil), Museu Regional de Arqueologia, Arganil, 1988.
  • GUEDES, Jorge, Ânforas do Castro de S. Lourenço – Vila-Chã, Esposende, Seminário de Projecto apresentado e defendido na Faculdade de Letras da Universidade do Porto, Porto, 2006.
  • PAIVA, Maria de Belém Cerdeiras de Campos, Ânforas romanas de castros da fachada atlântica do norte de Portugal, Dissertação de Mestrado em Arqueologia apresentada à Faculdade de Letras da Universidade do Porto, Porto, Policopiado, 1993.
  • PARKER, A. J. and SQUIRE, D. M., A wreck of the late 2nd century a.D. at Terrauza (Siracusa, Sicily), The International Journal of Nautical Archeology and Underwater Exploration, 3, 1974, Department of Classics, University of Bristol, pp. 27–34.
  • PEACOCK, D. P. S, The Amphorae in pré-Roman Britain, in M. Jesson and D. Hill (eds.) The Iron Age and its Hill-forts, Southampton, 1971, pp. 169–188.
  • PEACOCK, D. P. S., Roman Amphorae: Typology, Fabric and Origins, Méthodes Classiques et Méthodes Formelles dans l’Etude dês *Amphores (Actes du Colloque de Rome, 1974), Collection de l’École Française de Rome, vol. 32, Rome, 1977.
  • PEACOCK, D. P. S. e WILLIAMS, D. F., Amphorae and the Roman economy an introductory guide. Longman, London and New York, 1991.
  • LOPES, António Batista, Proto-história e romanização da bacia do baixo Minho, Vol. III - Documentação Gráfica e fotográfica, Provas de Doutoramento policopiadas, Faculdade de Letras da Universidade do Porto, Porto, 2003.
  • MORAIS, Rui Manuel Lopes de Sousa, As ânforas da zona das Carvalheiras – Contribuição para o estudo das ânforas romanas de Bracara Augusta, Dissertação de Mestrado em Arqueologia, Universidade do Minho – Instituto de Ciências Sociais, Cadernos de Arqueologia, Monografias, 8, Braga, 1998.
  • NAVEIRO LOPEZ, Juan, El comércio antiguo en el N.W, peninsular, Lectura Histórica del Registro Arqueológico, Col. Monografias urxentes do museu, A Coruña, 1991.
  • SCIALLANO, P Sibella, Amphores – comment les identifier?, ed. Edisud, Lattara 6, Lattes 1993.
  • SILVA, A. J. M. (2009), Vivre au delá du fleuve de l'Oubli. Portrait de la communauté villageoise du Castro do Vieito, au moment de l'intégration du NO de la péninsule ibérique dans l'orbis romanum (estuaire du Rio Lima, NO du Portugal), tese de doutoramento apresentada na FLUC em Março 2009, 188p. versão PDF.

Ligações externas[editar | editar código-fonte]