Etanol celulósico: diferenças entre revisões

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[[Imagem:Range Fuels plant USDA.jpg|thumb|200px|direita|Usina produtora de etanol celulósico ([[Broomfield]], [[EUA]]).]]
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'''Etanol Celulósico (Ceetol)''', também chamado '''etanol de lignocelulose''', é a denominação dada ao álcool etílico ([[etanol]]) obtido a partir da quebra das cadeias da [[celulose]], [[hemicelulose]] e [[pectina]], [[polímero]]s que constituem a estrutura fibrosa dos vegetais, através de [[reações químicas]] ou bioquímicas.
'''Etanol Celulósico (Ceetol)''', também chamado '''etanol de lignocelulose''', é a denominação dada ao álcool etílico ([[etanol]]) obtido a partir da quebra das cadeias da [[celulose]], [[hemicelulose]] e [[pectina]], [[polímero]]s que constituem a estrutura fibrosa dos vegetais, através de [[reações químicas]] ou [[bioquímica]]s.


Uma das principais [[matérias-primas]] usada para produção do etanol celulósico é a [[biomassa]] composta pelos rejeitos e resíduos das colheitas e do processamento de vegetais, que não é reaproveitada para [[alimentação]] humana e animal ou para outras finalidades.
Uma das principais [[matérias-primas]] usada para produção do etanol celulósico é a [[biomassa]] composta pelos rejeitos e resíduos das colheitas e do processamento de vegetais, que não é reaproveitada para [[alimentação]] humana e animal ou para outras finalidades.
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== Produção ==
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Os processos comumente mais usados são a [[hidrólise]] e a [[fermentação]].
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=== Hidrólise ===
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Nesta etapa, estudada desde antes da [[Primeira Guerra Mundial]], cujo interesse foi retomado recentemente (ver política, neste artigo), a celulose (e em alguns casos, também a hemicelulose e lignina) é submetida a um processo enzimático ou ácido.
Nesta etapa, estudada desde antes da [[Primeira Guerra Mundial]], cujo interesse foi retomado recentemente (ver política, neste artigo), a celulose (e em alguns casos, também a hemicelulose e lignina) é submetida a um processo enzimático ou ácido.


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=== Fermentação ===
=== Fermentação ===

[[Imagem:Pg166 bioreactor.jpg|thumb|200px|direita|Reator biológico de [[planta piloto]] para a produção experimental de etanol celulósico.]]

O [[microorganismo]] ''[[Saccharomyces cerevisiae]]'', [[fermento]] de [[pão]] ou [[cerveja]], tem sido usado desde o [[Egito antigo]] para transformar os [[açúcar]]es naturalmente presentes em cereais e frutas em etanol, com [[dióxido de carbono]] como subproduto. Microorganismos semelhantes são usados para transformar a [[glicose]] produzida pelos processos de hidrólise acima mencionados em etanol (''ver: [[reator biológico]]''). O rendimento deste processo é limitado pela quantidade de etanol produzida. Se ela ultrapassar 12% em volume no meio, a reprodução do fermento (e portanto a conversão do processo) se reduz drasticamente. Existem [[cepa]]s de microorganismos que continuam ativos a uma concentração próxima a 25%, porém não são comerciais.
O [[microorganismo]] ''[[Saccharomyces cerevisiae]]'', [[fermento]] de [[pão]] ou [[cerveja]], tem sido usado desde o [[Egito antigo]] para transformar os [[açúcar]]es naturalmente presentes em cereais e frutas em etanol, com [[dióxido de carbono]] como subproduto. Microorganismos semelhantes são usados para transformar a [[glicose]] produzida pelos processos de hidrólise acima mencionados em etanol (''ver: [[reator biológico]]''). O rendimento deste processo é limitado pela quantidade de etanol produzida. Se ela ultrapassar 12% em volume no meio, a reprodução do fermento (e portanto a conversão do processo) se reduz drasticamente. Existem [[cepa]]s de microorganismos que continuam ativos a uma concentração próxima a 25%, porém não são comerciais.


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=== Outros processos ===
=== Outros processos ===

A produção de etanol pode também ser realizada a partir da queima controlada da biomassa, produzindo [[gás de síntese]] (''ver: [[gasogênio]]'') que pode ser transformado em etanol por fermentação de [[bactéria]]s (como exemplo, do gênero [[Clostridium]]) ou por processos químicos catalíticos, semelhantes aos usados para produção de [[metanol]] e outros produtos químicos.
A produção de etanol pode também ser realizada a partir da queima controlada da biomassa, produzindo [[gás de síntese]] (''ver: [[gasogênio]]'') que pode ser transformado em etanol por fermentação de [[bactéria]]s (como exemplo, do gênero [[Clostridium]]) ou por processos químicos catalíticos, semelhantes aos usados para produção de [[metanol]] e outros produtos químicos.


== Política ==
== Política ==

Em [[2008]], o [[barril (unidade)|barril]] de [[petróleo]] chegou a valer 140 [[dólar]]es e fontes alternativas de energia, como a [[biomassa]], começaram a ser reestudadas como matéria prima para produção de energia. Países com grande tradição no [[agronegócio]], como o [[Brasil]] e os [[EUA]], têm dedicado esforços na pesquisa de etanol a partir da biomassa, para substituição ou enriquecimento da [[gasolina]]. Investimentos da ordem de 3 bilhões de dólares foram dedicados durante o [[governo Bush]] para pesquisa e desenvolvimento de novas fontes de etanol.
Em [[2008]], o [[barril (unidade)|barril]] de [[petróleo]] chegou a valer 140 [[dólar]]es e fontes alternativas de energia, como a [[biomassa]], começaram a ser reestudadas como matéria prima para produção de energia. Países com grande tradição no [[agronegócio]], como o [[Brasil]] e os [[EUA]], têm dedicado esforços na pesquisa de etanol a partir da biomassa, para substituição ou enriquecimento da [[gasolina]]. Investimentos da ordem de 3 bilhões de dólares foram dedicados durante o [[governo Bush]] para pesquisa e desenvolvimento de novas fontes de etanol.


O uso de terras agriculturáveis especificamente para cultivo de vegetais destinados à geração de energia para indústrias e veículos tem gerado discussões entre vários grupos sociais devido à possibilidade de diminuição na produção de [[alimento]]s e consequente aumento do [[preço]] destes. Os casos mais polêmicos são, nos EUA, o aumento das áreas plantadas em [[milho]] para produção de etanol e, no Brasil, as [[monocultura]]s de [[cana-de-açúcar]].
O uso de terras agriculturáveis especificamente para cultivo de vegetais destinados à geração de energia para indústrias e veículos tem gerado discussões entre vários grupos sociais devido à possibilidade de diminuição na produção de [[alimento]]s e consequente aumento do [[preço]] destes. Os casos mais polêmicos são, nos EUA, o aumento das áreas plantadas em [[milho]] para produção de etanol e no Brasil, que começou a produzir [[álcool combustível]] de celulose em Setembro de 2014,<ref>[http://sna.agr.br/usina-em-alagoas-comeca-a-produzir-etanol-celulosico-de-2a-geracao/ Sociedade Nacional de Agricultura] - Usina em Alagoas começa a produzir etanol celulósico de 2ª geração. Publicado em 9 de Dezembro de 2014. Acessado em 18/06/2016.</ref> as [[monocultura]]s de [[cana-de-açúcar]].


Existe grande potencial para produção de etanol celulósico a partir de rejeitos de processamento de [[lavoura]]s como cascas de [[arroz]], cavacos de [[eucalipto]] e [[pinus]] descartados após a produção de [[papel]], [[palha]]s do [[cafeeiro]], folhas da árvore de [[chá]] e outras culturas. Estes rejeitos normalmente são descartados em [[aterro]]s ou incinerados, representando um passivo ambiental, e poderão ser transformados em produtos químicos de oportunidade, entre eles, o etanol.
Existe grande potencial para produção de etanol celulósico a partir de rejeitos de processamento de [[lavoura]]s como cascas de [[arroz]], cavacos de [[eucalipto]] e [[pinus]] descartados após a produção de [[papel]], [[palha]]s do [[cafeeiro]], folhas da árvore de [[chá]] e outras culturas. Estes rejeitos normalmente são descartados em [[aterro]]s ou incinerados, representando um passivo ambiental, e poderão ser transformados em produtos químicos de oportunidade, entre eles, o etanol.

Revisão das 15h24min de 18 de junho de 2016

Usina produtora de etanol celulósico (Broomfield, EUA).

Etanol Celulósico (Ceetol), também chamado etanol de lignocelulose, é a denominação dada ao álcool etílico (etanol) obtido a partir da quebra das cadeias da celulose, hemicelulose e pectina, polímeros que constituem a estrutura fibrosa dos vegetais, através de reações químicas ou bioquímicas.

Uma das principais matérias-primas usada para produção do etanol celulósico é a biomassa composta pelos rejeitos e resíduos das colheitas e do processamento de vegetais, que não é reaproveitada para alimentação humana e animal ou para outras finalidades.

De acordo com Michael Wang, do Argonne National Laboratory, um dos benefícios do etanol celulósico é reduzir as emissões que causam o efeito estufa em até 85% através da gasolina reformulada.[1] Em contrapartida, o etanol de amido (i.e., do milho), que mais frequentemente usa gás natural para fornecer energia para o processo, pode não reduzir essas emissões dependendo de como a matéria-prima é produzida.[2]

Produção

Os processos comumente mais usados são a hidrólise e a fermentação.

Hidrólise

Nesta etapa, estudada desde antes da Primeira Guerra Mundial, cujo interesse foi retomado recentemente (ver política, neste artigo), a celulose (e em alguns casos, também a hemicelulose e lignina) é submetida a um processo enzimático ou ácido.

Na hidrólise enzimática, enzimas como a celulase, a celobiase e a beta-glicosidase hidrolizam os polímeros à glicose.

Na hidrólise ácida, a biomassa a ser hidrolisada é tratada por algumas horas com uma solução diluída ácida, (ácido clorídrico ou ácido sulfúrico por exemplo), a uma concentração em torno de 12% em água e a uma temperatura acima de 70 °C.

Cada técnica tem suas vantagens e desvantagens. A hidrólise enzimática gera menor quantidade de resíduos e tem menor impacto ambiental, consumindo também uma menor quantidade de energia. No entanto, os microorganismos necessários para este processo são muito específicos e demandam grandes necessidades metabólicas, encarecendo e dificultando a técnica. O processo ácido oferece maior rendimento e portanto é economicamente mais competitivo.

Fermentação

Reator biológico de planta piloto para a produção experimental de etanol celulósico.

O microorganismo Saccharomyces cerevisiae, fermento de pão ou cerveja, tem sido usado desde o Egito antigo para transformar os açúcares naturalmente presentes em cereais e frutas em etanol, com dióxido de carbono como subproduto. Microorganismos semelhantes são usados para transformar a glicose produzida pelos processos de hidrólise acima mencionados em etanol (ver: reator biológico). O rendimento deste processo é limitado pela quantidade de etanol produzida. Se ela ultrapassar 12% em volume no meio, a reprodução do fermento (e portanto a conversão do processo) se reduz drasticamente. Existem cepas de microorganismos que continuam ativos a uma concentração próxima a 25%, porém não são comerciais.

A fermentação da glicose ocorre preferencialmente a outros açúcares, cuja conversão em etanol ocorrerá somente após o processamento de toda a glicose. Este fator reduz a eficiência do uso de biomassas de algumas espécies, como os resíduos da espiga do milho, por exemplo, onde 30% da massa a ser hidrolizada é composta por xilose.

Outros processos

A produção de etanol pode também ser realizada a partir da queima controlada da biomassa, produzindo gás de síntese (ver: gasogênio) que pode ser transformado em etanol por fermentação de bactérias (como exemplo, do gênero Clostridium) ou por processos químicos catalíticos, semelhantes aos usados para produção de metanol e outros produtos químicos.

Política

Em 2008, o barril de petróleo chegou a valer 140 dólares e fontes alternativas de energia, como a biomassa, começaram a ser reestudadas como matéria prima para produção de energia. Países com grande tradição no agronegócio, como o Brasil e os EUA, têm dedicado esforços na pesquisa de etanol a partir da biomassa, para substituição ou enriquecimento da gasolina. Investimentos da ordem de 3 bilhões de dólares foram dedicados durante o governo Bush para pesquisa e desenvolvimento de novas fontes de etanol.

O uso de terras agriculturáveis especificamente para cultivo de vegetais destinados à geração de energia para indústrias e veículos tem gerado discussões entre vários grupos sociais devido à possibilidade de diminuição na produção de alimentos e consequente aumento do preço destes. Os casos mais polêmicos são, nos EUA, o aumento das áreas plantadas em milho para produção de etanol e no Brasil, que começou a produzir álcool combustível de celulose em Setembro de 2014,[3] as monoculturas de cana-de-açúcar.

Existe grande potencial para produção de etanol celulósico a partir de rejeitos de processamento de lavouras como cascas de arroz, cavacos de eucalipto e pinus descartados após a produção de papel, palhas do cafeeiro, folhas da árvore de chá e outras culturas. Estes rejeitos normalmente são descartados em aterros ou incinerados, representando um passivo ambiental, e poderão ser transformados em produtos químicos de oportunidade, entre eles, o etanol.

Referências

  1. Updated Energy and Greenhouse Gas Emissions Results of Fuel Ethanol
  2. «Clean cars, cool fuels». Environment California. 5 (2). 2007. Consultado em 28 de novembro de 2007 
  3. Sociedade Nacional de Agricultura - Usina em Alagoas começa a produzir etanol celulósico de 2ª geração. Publicado em 9 de Dezembro de 2014. Acessado em 18/06/2016.


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