Trem do Pantanal (canção)

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"Trem do Pantanal (canção)"
Trem do Pantanal (canção)
Trilhos no Pantanal, ponte ferroviária sobre o Rio Aquidauana
Composição Geraldo Roca e Paulo Simões
Época de composição 1975
Intérprete Almir Sater, Diana Pequeno, Sérgio Reis, entre outros.
Andamentos Guarânia, polca-rock & Blues

A canção Trem do Pantanal foi composta em 1975 pelos cantautores brasileiros Paulo Simões e Geraldo Roca. Conta a história de um sujeito comunista, fugitivo da ditadura militar brasileira, que embarca no Trem do Pantanal rumo a Santa Cruz de la Sierra na Bolívia. Todavia, é popularmente entendida como uma "canção ecológica" de elogio ao Pantanal ou por se referenciar à cultura sul-matogrossense.[1]

Foi eleita a música mais representativa do estado brasileiro do Mato Grosso do Sul, por meio de votação direta no ano de 2001.[2][3] Desde então, é considerada "hino não-oficial" ou "hino do coração" sul-mato-grossense.[4][5][6][7] A música chegou a suplantar o hino oficial, sendo tocada em seu lugar como tema de equipes estaduais em eventos esportivos.[2][8]

A primeira gravação foi feita pela cantora Diana Pequeno, em 1982, mas só veio a se popularizar no arranjo e voz de Almir Sater, do mesmo ano.[9] Em 1985, Sérgio Reis também gravou a canção. Recebeu mais de 100 gravações por diversos artistas.[4]

Composição

No ano de 1975, Geraldo Roca e Paulo Simões compuseram a canção entitulada, originalmente, "Todos os Trilhos da Terra"[4] dentro de um vagão do Trem do Pantanal rumo a Santa Cruz de la Sierra, na Bolívia.[1] Na ocasião eles viajavam do Rio de Janeiro à Machu Picchu.[9][10]

O título foi alterado pelos compositores, ainda nos primeiros anos de existência da canção, para "Trem do Pantanal", pois foi como ficou mais conhecida pelo público.[11]

Em meia hora, escreveram a primeira parte dos versos.[4] Em sua totalidade, a letra é:

Letra


A saga de um "fugitivo da guerra" narrada na música foi inspirada na experiência de um amigo de Geraldo Roca e Paulo Simões.[1]

Os compositores, que são de procedência carioca, mas com famílias sul-mato-grossenses, viveram quando jovens na cidade do Rio de Janeiro. Lá, segundo conta Geraldo Roca, tinham um amigo que frequentava a sede do Partido Comunista Brasileiro. Um dia, esse amigo teve de fugir da repressão militar, rumando para Santa Cruz de la Sierra na Bolívia. A música foi composta anos depois, quando os próprios fizeram esse mesmo caminho, por meio do Trem do Pantanal.[1] Segundo Geraldo Roca: "pegamos o violão enquanto o trem atravessa[va] o Pantanal e a música saiu em meia hora”.[4]

Geraldo Roca afirma que "Trem do Pantanal" não foi concebida como um elogio ao Pantanal, tampouco buscava expressar um sentimento regional: "Tem muita gente que admira a música como uma elegia ao Pantanal. Mas Trem do Pantanal não é nada disso. É uma canção de um proscrito, que está fugindo de uma ditadura. Não tem ninguém olhando para as estrelas".[1] Nas palavras do autor, o fugitivo da canção é um comunista fugindo da ditadura militar brasileira.

Paulo Simões afirmou que, na época de composição da música ele não possuía uma relação profunda com o Pantanal, entretanto, segundo ele, "naquela noite, alguma coisa de mágica me tocou".[10] Na cabinde do Trem, ele e Geraldo compuseram uma música que passou a desempenhar um papel no inconsciente coletivo a respeito do Pantanal. O que ele considera curioso, pois, nessa música "não se descreve o Pantanal, nem se teoriza sobre o Pantanal".[10] O Pantanal aparece janela a fora, "exercendo um poder mágico sobre o nosso inconsciente".[10]

Primeiros anos

A primeira apresentação da música foi feita no teatro O Tablado, no Rio de Janeiro, na qual tudo deu errado, de acordo com Geraldo Roca.[4]

A primeira vez que tocaram Trem do Pantanal em um festival no Mato Grosso do Sul, no auge da ditadura, foram desclassificados, pois os jurados consideraram a música subversiva.[4]

Sucesso e legado

A canção foi popularizada na voz do cantor e compositor Almir Sater, gravada por ele em seu álbum Doma (1982). Almir Sater é considerando o grande divulgador da música.[9] No mesmo ano, 1982, o intelectual e musicólogo José Octávio Guizzo caracterizou a canção como uma espécie de hino da "moderna música popular urbana" do Mato Grosso do Sul.[12][13] Segundo ele, transformou-se em hino por possuir "forte apelo popular e inusitado poder de comunicabilidade".[12] O apreço popular foi referendado no ano de 2001, ocasião em que foi eleita música símbolo do Mato Grosso do Sul. Apartir daí, passou a ser considerada popularmente como hino não-oficial do estado.[7]

Em relação a todo o sucesso que a música adquiriu, Geraldo Roca afirmou que não esperava que a música viesse a ter a repercussão que teve e ainda que ela "não escolheu essa repercussão, a repercussão que escolheu a música”.[4]

Eleição

No ano de 2001 a canção Trem do Pantanal foi eleita como a mais representativa do estado do Mato Grosso do Sul. A votação se deu por meio de eleição direta realizada em todo o estado, com urnas eletrônicas cedidas pelo Tribunal Regional Eleitoral. Contou com a participação de 27.698 pessoas. A canção recebeu 12.112 votos (43,73% do total) e venceu em 52 dos 77 municípios do estado. Em cidades como Aquidauana, Anastácio e Corumbá, por onde o trem passava, o resultado foi superior aos 70% de votos.[2]

Referências

  1. a b c d e Teixeira, Rodrigo (14 de março de 2007). «Geraldo Roca: Sobre Todos os Trilhos da Terra». Overmundo. Consultado em 23 de maio de 2021. Cópia arquivada em 20 de janeiro de 2021 
  2. a b c Neder, Álavaro (2011). “Enquanto este trem atravessa o litoral central”: Platinidad, poéticas do deslocamento e (des) construção identitária na canção popular urbana de Campo Grande, MS. Albuquerque: revista de história, 3(6).
  3. Dorsa, A. C. (2009). Uma visão intertextual e interdiscursiva do trem do pantanal. InterMeio: Revista do Programa de Pós-Graduação em Educação-UFMS, 15(30).
  4. a b c d e f g h Maciulevicius, Paula (11 de outubro de 2012). «Feita em meia hora, numa cabine, a música símbolo de MS: Trem do Pantanal». Campo Grande News. Consultado em 23 de maio de 2021 
  5. Teixeira, Rodrigo (29 de junho de 2016). «Geraldo Roca será homenageado no FIB com tributo de artistas de Mato Grosso do Sul em show especial». Fundação de Cultura. Consultado em 23 de maio de 2021. Cópia arquivada em 23 de maio de 2021 
  6. Pavão, Gabriela (25 de dezembro de 2015). «Geraldo Roca, compositor de 'Trem do Pantanal', é encontrado morto». G1. Consultado em 23 de maio de 2021 
  7. a b Juliene Katayama (25 de dezembro de 2015). «Corpo de Geraldo Roca, compositor de 'Trem do Pantanal', é velado em MS». G1. Consultado em 23 de maio de 2021 
  8. Neder, Alvaro. (2014). "Roda em volta de mim, que a polca paraguaia é assim": encontros culturais na canção popular urbana e transformações políticas em Mato Grosso do Sul. Per Musi, (29), 209-219.
  9. a b c Geraldo Roca e a Música do Litoral Central, consultado em 23 de maio de 2021 
  10. a b c d Caetano, Gilmar Lima (2017). A música nos domínios do poder: Uma análise sócio-histórica a respeito da ideia de música regional sul-mato-grossense (1977-1990). Tese de Doutorado - Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD).
  11. Comineti, Ariane (1 de dezembro de 2020). «Pesquisador estuda canções sul-mato-grossenses como patrimônio imaterial». UFMS. Consultado em 23 de maio de 2021 
  12. a b GUIZZO, José Octavio (2012). Moderna música popular urbana de Mato Grosso do Sul [1982]. Campo Grande: Editoral UFMS ISBN: 978-85-7613-385-8
  13. «Geraldo Roca - Biografia». Dicionário Cravo Albin da Música Popular Brasileira. Consultado em 29 de fevereiro de 2016 
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