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Segundo o [[historiador]] medieval [[Tunes|tunisino]] [[ibne Caldune]], Kusaila era natural de [[Tlemcen]], no que é hoje o extremo noroeste da [[Argélia]]. Porém, este registo data do {{séc|XIV}}, quase 700 anos depois da sua morte, e outras fontes anteriores (as mais antigas datam do {{séc|IX}}) associam-no somente com a região de Auras ([[Aurès]], no que é atualmente o nordeste da Argélia). Kusaila cresceu em território tribal berbere durante o período do [[Exarcado de Cartago|exarcado bizantino de Cartago]].<ref name=mod />
Segundo o [[historiador]] medieval [[Tunes|tunisino]] [[ibne Caldune]], Kusaila era natural de [[Tremecém]], no que é hoje o extremo noroeste da [[Argélia]]. Porém, este registo data do {{séc|XIV}}, quase 700 anos depois da sua morte, e outras fontes anteriores (as mais antigas datam do {{séc|IX}}) associam-no somente com a região de Auras ([[Aurès]], no que é atualmente o nordeste da Argélia). Kusaila cresceu em território tribal berbere durante o período do [[Exarcado de Cartago|exarcado bizantino de Cartago]].<ref name=mod />


Segundo fontes do séculos XI a XIV (as últimas de ibne Caldune), o [[Emir|amir]] [[Omíadas|omíada]] dos invasores árabes, um escravo liberto chamado [[Abu al-Muhajir Dinar]] (m.&nbsp;683), surpreendentemente convidou Kusaila para se reunir com ele no seu acampamento e convenceu-o a aceitar o Islão e juntar-se ao seu exército com a promessa de plena igualdade com os Árabes (678). Abul Muajir era um mestre na diplomacia e impressionou Kusaila não só pela sua piedade, mas também pelo seu elevado sentido de respeito e educação. Kusaila incorporou os aurabas e [[sanhajas]] no exército conquistador árabe e participou nas suas campanhas constantemente vitoriosas sob o comando de Abul Muajir. Este foi depois substituído à força por Ucba ibne Nafi, que ameaçou Kusaila com desdém. O desprezo de Ucba acabou por enraivecer Kusaila e levou a que este conspirasse para se vingar. Quando o exército regressou de [[Marrocos]], Ucba autorizou as suas tropas a tirarem férias e regressarem a casa. Os que ficaram, cerca de 300, estavam exaustos e vulneráveis. Na marcha de regresso de Ucba à sua base em [[Cairuão]], Kusaila juntou-se às tropas [[Império Bizantino|bizantinas]] e organizou uma emboscada. As forças berberes-cristãs, com cerca de {{formatnum:5000}}, derrotaram os Árabes e mataram Ucba na [[batalha de Vescera]], em Tahudha, perto de [[Biskra]] em 683. Kusaila ganhou assim o domínio indisputado do Norte de África e marchou triunfante para Cairuão.<ref name=con280 /> Este relato é questionado por alguns historiadores, que dão mais credibilidade às fontes do {{séc|IX}}, segundo as quais Abul Muajir não tinha ligações com Kusaila, como não tinha Ucba até ter caído na emboscada em Tahudha. Essas fontes mais antigas também descrevem Kusaila como um cristão e não um muçulmano convertido. No entanto, todas as fontes convergem que ele comandava uma força militar de Berberes e Bizantinos quando derrotou Ucba.<ref name=mod />{{Harvy|ben|Benabbès|2005}}
Segundo fontes do séculos XI a XIV (as últimas de ibne Caldune), o [[Emir|amir]] [[Omíadas|omíada]] dos invasores árabes, um escravo liberto chamado [[Abu al-Muhajir Dinar]] (m.&nbsp;683), surpreendentemente convidou Kusaila para se reunir com ele no seu acampamento e convenceu-o a aceitar o Islão e juntar-se ao seu exército com a promessa de plena igualdade com os Árabes (678). Abul Muajir era um mestre na diplomacia e impressionou Kusaila não só pela sua piedade, mas também pelo seu elevado sentido de respeito e educação. Kusaila incorporou os aurabas e [[sanhajas]] no exército conquistador árabe e participou nas suas campanhas constantemente vitoriosas sob o comando de Abul Muajir. Este foi depois substituído à força por Ucba ibne Nafi, que ameaçou Kusaila com desdém. O desprezo de Ucba acabou por enraivecer Kusaila e levou a que este conspirasse para se vingar. Quando o exército regressou de [[Marrocos]], Ucba autorizou as suas tropas a tirarem férias e regressarem a casa. Os que ficaram, cerca de 300, estavam exaustos e vulneráveis. Na marcha de regresso de Ucba à sua base em [[Cairuão]], Kusaila juntou-se às tropas [[Império Bizantino|bizantinas]] e organizou uma emboscada. As forças berberes-cristãs, com cerca de {{formatnum:5000}}, derrotaram os Árabes e mataram Ucba na [[batalha de Vescera]], em Tahudha, perto de [[Biskra]] em 683. Kusaila ganhou assim o domínio indisputado do Norte de África e marchou triunfante para Cairuão.<ref name=con280 /> Este relato é questionado por alguns historiadores, que dão mais credibilidade às fontes do {{séc|IX}}, segundo as quais Abul Muajir não tinha ligações com Kusaila, como não tinha Ucba até ter caído na emboscada em Tahudha. Essas fontes mais antigas também descrevem Kusaila como um cristão e não um muçulmano convertido. No entanto, todas as fontes convergem que ele comandava uma força militar de Berberes e Bizantinos quando derrotou Ucba.<ref name=mod />{{Harvy|ben|Benabbès|2005}}
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Revisão das 15h05min de 8 de fevereiro de 2019

Kusaila
Nascimento 640
Khenchela
Morte 688
Tingade
Etnia Berberes

Kusaila ibn Lamzam, Kusayla, Kosaila, Kasila ou Koceila (em berbere: Aksil ou Aksel,[1] em tifinague: ⴰⴽⵙⴻⵍ; n. 640? — m. 686 ou 690) foi um líder cristão da tribo berbere dos aurabas e da confederação tribal dos sanhajas. É conhecido por comandar uma resistência tenaz dos Berberes contra a expansão muçulmana no Norte de África na década de 680 e, depois de converter-se ao Islão, pela sua oposição ao governador e general árabe Ucba ibne Nafi.

Etimologia

O nome de Kusaila é escrito de várias formas pelos autores muçulmanos: Kwsylt (Kûsîla([h], Kosayla, Qosayla, Uksayl, Kusila. Tem sido relacionado com o nome latino Cecílio, cognome muito difundido na África romana e em Volubilis, cuja pronúncia em latim clássico é Caiquílio (Caïquilius) e uma evolução do ci (qui) em ci (si) em latim tardio (por exemplo, Cecília (Caecilia) é entendida pelos Árabes como "Cacília"). É uma hipótese verosímil admitindo que Kusaila era cristão, mas o seu nome pode também ter origem no tamazight (berbere). Os diferentes dialetos amazighs do Aurès, de onde Kusaila seria originário segundo algumas fontes, têm atualmente uma raiz KSL de onde derivaria aksel ("leopardo"). Outra designação berbere desse animal é aghilas ou ghilas, é usada para chamar o monte Chenoua, situado a oeste de Argel e no Grande Sul argelino significa "leãozinho".[carece de fontes?]

Biografia

Segundo o historiador medieval tunisino ibne Caldune, Kusaila era natural de Tremecém, no que é hoje o extremo noroeste da Argélia. Porém, este registo data do século XIV, quase 700 anos depois da sua morte, e outras fontes anteriores (as mais antigas datam do século IX) associam-no somente com a região de Auras (Aurès, no que é atualmente o nordeste da Argélia). Kusaila cresceu em território tribal berbere durante o período do exarcado bizantino de Cartago.[1]

Segundo fontes do séculos XI a XIV (as últimas de ibne Caldune), o amir omíada dos invasores árabes, um escravo liberto chamado Abu al-Muhajir Dinar (m. 683), surpreendentemente convidou Kusaila para se reunir com ele no seu acampamento e convenceu-o a aceitar o Islão e juntar-se ao seu exército com a promessa de plena igualdade com os Árabes (678). Abul Muajir era um mestre na diplomacia e impressionou Kusaila não só pela sua piedade, mas também pelo seu elevado sentido de respeito e educação. Kusaila incorporou os aurabas e sanhajas no exército conquistador árabe e participou nas suas campanhas constantemente vitoriosas sob o comando de Abul Muajir. Este foi depois substituído à força por Ucba ibne Nafi, que ameaçou Kusaila com desdém. O desprezo de Ucba acabou por enraivecer Kusaila e levou a que este conspirasse para se vingar. Quando o exército regressou de Marrocos, Ucba autorizou as suas tropas a tirarem férias e regressarem a casa. Os que ficaram, cerca de 300, estavam exaustos e vulneráveis. Na marcha de regresso de Ucba à sua base em Cairuão, Kusaila juntou-se às tropas bizantinas e organizou uma emboscada. As forças berberes-cristãs, com cerca de 5 000, derrotaram os Árabes e mataram Ucba na batalha de Vescera, em Tahudha, perto de Biskra em 683. Kusaila ganhou assim o domínio indisputado do Norte de África e marchou triunfante para Cairuão.[2] Este relato é questionado por alguns historiadores, que dão mais credibilidade às fontes do século IX, segundo as quais Abul Muajir não tinha ligações com Kusaila, como não tinha Ucba até ter caído na emboscada em Tahudha. Essas fontes mais antigas também descrevem Kusaila como um cristão e não um muçulmano convertido. No entanto, todas as fontes convergem que ele comandava uma força militar de Berberes e Bizantinos quando derrotou Ucba.[1][3]

Em 688 chegaram reforços árabes comandados por Zuhair ibn Kays. Kusaila enfrentou-se com ele em 690, na batalha de Mamma. As forças árabes, em grande superioridade numérica, derrotaram os aurabas e Kusaila foi morto. Segundo outras fontes teria morrido em 686. Contudo, tal não cessou a resistência berbere sob a liderança de Dihya, uma mulher alcunhada Kahina.[carece de fontes?]

Notas e referências

Bibliografia

  • Benabbès, Ahmed (2005). Briand-Ponsart, Claude, ed. «Les premiers raids arabes en Numidie Byzantine: questions toponymiques». Publication Univ Rouen Havre. Identités et culture dans l'Algérie antique (em francês). 504 páginas. ISBN 9782877757232. Consultado em 22 de outubro de 2013 
  • Conant, Jonathan (2012). «Staying Roman : conquest and identity in Africa and the Mediterranean, 439-700». Cambridge University Press (em inglês). 438 páginas. ISBN 9780521196970 
  • Hrbek, I. «A General History of Africa Vol. III Africa from the 17th to 11th Century». UNESCO. East African Educational Publishers (em inglês). 398 páginas. ISBN 9789966466549 
  • Modéran, Yves (2005). Briand-Ponsart, Claude, ed. «l'Afrique et les Arabes». Publication Univ Rouen Havre. Identités et culture dans l'Algérie antique (em francês). 504 páginas. ISBN 9782877757232. Consultado em 22 de outubro de 2013