Gertrudes Margarida de Jesus

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
Gertrudes Margarida de Jesus
Nascimento século XVIII
Cidadania Reino de Portugal
Ocupação escritora
Obras destacadas Primeira carta apologética, em favor, e defensa das mulheres, escrita por Dona Gertrudes Margarida de Jesus, ao irmaõ amador do Dezengano

Gertrudes Margarida de Jesus (Portugal, século XVIII) foi uma escritora portuguesa, que publicou a Primeira carta apologetica, em favor, e defensa das mulheres[nota 1] e a Segunda carta apologetica, em favor, e defensa das mulheres[nota 2], em 1761.[1][2][3]

Biografia[editar | editar código-fonte]

Pouco se sabe sobre a vida desta mulher, para além de que talvez fosse religiosa, e autora destes dois folhetos de cordel.[1][2] Presume-se que fosse uma mulher erudita, com algum domínio de latim, e acesso a textos franceses (que terá lido na língua original), alemães e italianos, uma vez que cita Lucrécia Marinella, Marguerite, Isabel Sofia Cheron e Anna Maria van Schurman, mulheres de letras admiradas naquela época.

Terá tido contacto com a publicação da primeira Carta Apologética de Padre António Vieira, publicada em 1757.[1] Nos seus textos menciona duas fontes: o Dicionário histórico, do Monsieur Abbade (Jean-Baptiste) Ladvocat e o Theatro Heroino, de Damião Froes Perym, havendo ainda investigadores que associam os exemplos femininos dados nas obras com o monge beneditino Benito Jerónimo Feijoo, especificamente um ensaio intitulado Defensa de las Mujeres, que questionava a opinião generalizada na época, da inferioridade intrínseca da mulher.[1][4][5][6]

As Cartas Apologéticas[editar | editar código-fonte]

As duas Cartas são publicadas a 4 de Março de 1761 pela Oficina de Francisco Borges de Sousa, em resposta ao texto Espelho Crítico[nota 3] do Irmão Amador do Desengano (pseudónimo). Este, que havia sido publicado três meses antes, oferecia uma crítica à mulher, e presunção da sua inferioridade. Gertrudes Margarida de Jesus contesta esta posição através duma argumentação baseada no direito à cultura letrada e à vida pessoal plena num universo intelectual monopolizado por homens. As suas cartas utilizam uma defesa das mulheres que é intelectualizada e usa recursos retóricos semelhantes aos utilizados por Desengano, através dos quais aborda e desconstrói cada um dos argumentos dele com ironia e sarcasmo.[2][4][5][7][6]

Alguns investigadores identificam nas suas Cartas uma espécie de protofeminismo, um século antes de Maria Lamas ou Ana de Castro Osório impelirem movimentos feministas em Portugal. Devido à falta de informação biográfica relativa a esta autora, assim como ao papel da mulher no século XVIII e disparidade de produção literária entre os sexos, a sua obra ficou à margem da tradição literária portuguesa.[4][7]

Obra[editar | editar código-fonte]

  • Primeira carta apologetica, em favor, e defensa das mulheres, escrita por Dona Gertrudes Margarida de Jesus, ao irmaõ amador do Dezengano, com a qual destroe toda a fabrica do seu Espelho Critico. - Lisboa, Oficina de Francisco Borges de Sousa, 1761. (ler na Wikisource)
  • Segunda carta apologetica, em favor, e defensa das mulheres, escrita por Gertrudes Margarida de Jesus, ao irmão Amador do Dezengano, com a qual destroe toda a fabrica do seu Espelho Critico. e se responde ao terceiro defeito, que nelle contemplou. - Lisboa, Oficina de Francisco Borges de Sousa, 1761. (ler na Wikisource)

Notas

  1. O nome completo da obra é Primeira carta apologetica, em favor e defensa das mulheres, escrita por Dona Gertrudes Margarida de Jesus, ao Irmão Amador do Dezengano,'com a qual destroe toda a fabrica do seu Espelho Critico'
  2. O nome completo da obra é Segunda carta Apologetica, em favor, e defensa das mulheres, escrita por Dona Gertrudes Margarida de Jesus, ao Irmão Amador do Dezengano, ‘com a qual destroe toda a fabrica do seu Espelho Critico. E se responde ao terceiro defeito, que nelle contemplou
  3. O nome completo da obra é Espelho critico, no qual claramente se vem alguns defeitos das mulheres, fabricado na loja da verdade pelo Irmão Amador do Dezengano, que pode servir de estimulo para a reforma dos mesmos defeitos

Referências

  1. a b c d Ruiz, Betina dos Santos; Malato, Maria Luísa (2009). «A retórica da mulher em polémicas de folhetos de cordel do século XVIII : os discursos apologéticos de Paula da Graça, Gertrudes Margarida de Jesus, L.D.P.G. e outros nomes (quase) anónimos». http://aleph.letras.up.pt/F?func=find-b&find_code=SYS&request=000196552. Consultado em 26 de março de 2024 
  2. a b c Chaves, Gabriella Souza (11 de dezembro de 2019). «A situação cívica, social e cultural das mulheres no Século XVIII em Portugal». Consultado em 26 de março de 2024 
  3. glotopolitica (16 de dezembro de 2023). «Wendy Ayres-Bennett y Helena Sanson (eds.), Women in the History of Linguistics, Oxford: Oxford University Press». Anuario de Glotopolítica (em espanhol). Consultado em 27 de março de 2024 
  4. a b c Montgomery, Zak K. (2016). «CARTAS APOLOGÉTICAS THAT CRACKED THE ESPELHO CRÍTICO: GERTRUDES MARGARIDA DE JESUS AND ENLIGHTENMENT PROTO-FEMINISM IN PORTUGAL»Acesso livre sujeito a período limitado experimental, a subscrição é normalmente requerida. Romance Notes (2): 175–186. ISSN 0035-7995. Consultado em 26 de março de 2024 
  5. a b Burgardt, Camila Machado (11 de julho de 2016). «As marcas da escrita retórica na Primeira Carta Apologética em favor e defensa das mulheres». Trem de Letras (1): 15–29. ISSN 2317-1073. Consultado em 26 de março de 2024 
  6. a b Torres Feijó, Elias J. (2005). Anastácio, V. (coord.), ed. Cartas públicas, cartas polemistas: As cartas apologéticas de Gertrudes Margarida de Jesus. Argumentaçom e inovaçom. Correspondências. Usos da Carta no Século XVIII. (em galego). Lisboa: Edições Colibri. pp. 223–253 
  7. a b Souza, Francisca Zuleide Duarte de (18 de dezembro de 2020). Entrecruzando as margens: diálogos entre literaturas. Marcelo Medeiros da Silva, Maria Marta dos Santos Silva Nóbrega. Campina Grande, PB: Ufcg 

Ligações externas[editar | editar código-fonte]

Outros projetos Wikimedia também contêm material sobre este tema:
Wikisource Textos originais no Wikisource


Ícone de esboço Este artigo sobre uma pessoa é um esboço. Você pode ajudar a Wikipédia expandindo-o.