Gil Sanches de Portugal

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Gil Sanches de Portugal
Gil Sanches de Portugal
Nascimento 1202
Morte 14 de setembro de 1236 (34 anos)
Sepultado em Coimbra, Reino de Portugal
Casa Borgonha
Pai Sancho I de Portugal
Mãe Maria Pais Ribeira

D. Gil Sanches de Portugal (c. 120214 de setembro de 1236[1]) era um dos filho bastardos de D. Sancho I de Portugal e de D. Maria Pais Ribeira[2][3]. Foi clérigo e trovador.

Biografia[editar | editar código-fonte]

Primeiros anos[editar | editar código-fonte]

Nascido por volta de 1202, foi beneficiado, com a mãe e os irmãos, com a doação do seu lugar de criação, Vila do Conde, em julho de 1207. Três anos depois, foi alvo de novas doações, desta vez na Covilhã, região com a qual parece ter mantido relações de maior proximidade na idade adulta.

À morte de Sancho I de Portugal, em Coimbra, a 26 de Março de 1211, Gil contava nove anos e recebia por testamento 8.000 morabitinos. A mãe retirou-se para Vila do Conde, trajada de luto (branco na época), sendo raptada no caminho, perto de Avelãs de Caminho, por Gomes Lourenço Viegas, que por ela se apaixonara, e refugiou-se no Reino de Leão.

A pedido de Martim Pais Ribeira, tio de Gil, Afonso II de Portugal redigiu uma carta para Afonso IX de Leão rogando-lhe que fizesse com que Gomes Lourenço retornasse a Portugal. Maria ajudou também ao seu regresso quando habilmente convenceu Gomes que também por ele se apaixonara e que, retornando a Portugal ajudá-lo-ia a obter o perdão do soberano português, mas quando regressou, Maria ao invés instou o rei a que fizesse justiça, pelo que se ordenou a execução do raptor. A sua mãe casaria novamente com o galego João Fernandes de Lima.

Contrariamente aos seus pais e alguns dos irmãos (também bastardos), como Rodrigo Sanches, o percurso de vida de Gil foi mais discreto, provavelmente por ter sido clérigo (o mais honrado clérigo que houve em Espanha, segundo os Livros de Linhagens).

Sabe-se que em 1213 deu o foral de Sarzedas[4].

A aproximação aos Sousas[editar | editar código-fonte]

Trovadores, representados no Cancioneiro da Ajuda.

A morte prematura do meio-irmão Afonso II de Portugal em 1223 levara à ascensão da família de Sousa, que detinha influência sobre o rei menor Sancho II de Portugal (sobrinho de Gil). O chefe da família, Gonçalo Mendes II de Sousa, conseguira a mordomia em dezembro de 1224,[5], e o governo de várias tenências, sobretudo na região da Beira.

A família de Sousa, enquanto uma entidade mais separada da coroa, seria a maior patrocinadora da trovadorismo, sendo que vários membros da família estavam muito ligados a esta atividadeː Gonçalo Mendes e Garcia Mendes II, Gonçalo Garcia e Fernão Garcia. Gonçalo Mendes armaria cavaleiro Gonçalo Gomes de Briteiros, irmão do trovador Rui Gomes de Briteiros[6]. Por casamento Afonso Lopes de Baião unira-se também à família, e o mesmo tentaria fazer Gil, quando se une a uma irmã de Fernão e Gonçalo Garcia, Maria Garcia de Sousa , que seria a sua barregã.

O ambiente geralmente régio em que se centrava esta atividade deparava-se em Portugal com um ambiente mais senhorial, que era o que de facto recebia e fazia florescer o trovadorismo, na língua vernácula (galego-português), em oposição à preferência da cúria régia pelo latim tradicional que continuava a manifestar-se em documentos desta proveniência[6].

Morte[editar | editar código-fonte]

Gil Sanches faleceu a 14 de setembro de 1236, com cerca de 34 anos de idade, foi sepultado em Coimbra[7]

Obra[editar | editar código-fonte]

Cancioneiro Colocci-Brancuti

É-lhe conhecida pelo menos uma cantiga, transcrita abaixo [8]ː

Tu, que ora vens de Montemaior (Análise da Cantiga)

Tu, que ora vens de Montemaior,
tu, que ora vens de Montemaior,
digas-me mandado de mia senhor,
digas-me mandado de mia senhor;
ca se eu seu mandado
nom vir, trist'e coitado
serei; e gram pecado
fará, se me nom val;
ca em tal hora nado
foi que, mao-pecado!
amo-a endoado,
e nunca end'houvi al!

Tu, que ora viste os olhos seus,
tu, que ora viste os olhos seus,
digas-me mandado dela, por Deus,
digas-me mandado dela, por Deus;
ca se eu seu mandado
nom vir, trist'e coitado
serei; e gram pecado
fará, se me nom val;
ca em tal hora nado
foi que, mao-pecado!,
amo-a endoado,
e nunca end'houvi al!

Referências

  1. Oliveira 1994.
  2. Gil Sanches. Cantigas Medievais Galego-Portuguesas
  3. SILVA, António de Morais. Historia de Portugal, Volume 1. Impressão Regia, 1828. Pág. 151
  4. Lencastre 2012.
  5. Ventura 1992, p. 432.
  6. a b Oliveira 2001.
  7. Gil Sanches de Portugal
  8. Tu, que ora vens de Montemaior

Bibliografia[editar | editar código-fonte]

  • D. António Caetano de Sousa, História Genealógica da Casa Real Portuguesa, Atlântida-Livraria Editora, Lda, 2ª Edição, Coimbra, 1946, Tomo XII-P-pg. 147
  • Oliveira, António Resende de (1994). Depois do espectáculo trovadoresco. A estrutura dos cancioneiros peninsulares e as recolhas dos séculos XIII e XIV. Lisboa: Edições Colibri. pp. 351–352 
  • Sottomayor-Pizarro, José Augusto (1997). Linhagens Medievais Portuguesas: Genealogias e Estratégias (1279-1325). I. Porto: Universidade do Porto 
  • Manuel José da Costa Felgueiras Gayo, Nobiliário das Famílias de Portugal, Carvalhos de Basto, 2ª Edição, Braga, 1989. vol. X-pg. 322 (Sousas).
  • Ventura, Leontina (1992). A nobreza de corte de Afonso III. II. Coimbra: Universidade de Coimbra 
  • Lencastre, Isabel (2012). [[1] Bastardos Reais - Os Filhos Ilegítimos dos Reis de Portugal] Verifique valor |url= (ajuda). [S.l.]: Editora Leya 
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