Ideias para Adiar o Fim do Mundo

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Ideias para Adiar o Fim do Mundo
Ideias para Adiar o Fim do Mundo
Edição de Ideias para Adiar o Fim do Mundo, distribuída pela Companhia das Letras.
Autor(es) Ailton Krenak
Idioma português
País Brasil Brasil
Gênero literatura indígena contemporânea
Linha temporal 2017 - 2019
Arte de capa Alceu Chiesorin Nunes
Editora Companhia das Letras
Formato livro brochura
Lançamento 2019
Páginas 104
ISBN 978853593358-1

Ideias para Adiar o Fim do Mundo é um livro do ambientalista, filósofo e líder indígena brasileiro Ailton Krenak. O livro é escrito em tom dialógico, utilizando ensaios, reflexões e anedotas, e sintetiza duas conferências e uma entrevista do escritor indígena realizadas em Portugal em 2017 e 2019.[1] Foi publicado pela primeira vez em português brasileiro pela editora Companhia das Letras em São Paulo em 2019.[2] O presente livro é dividido em três partes, sendo "Ideias para adiar o fim do Mundo", "Do sonho e da terra" e "A humanidade que pensamos ser". Apresentando a visão de mundo de um povo indígena, que é contra a exploração excessiva da a natureza, o autor considera o futuro do planeta e, portanto, da humanidade, tentando apresentar formas de retardar a destruição da vida. Por isso é uma obra que apresenta reflexões sobre o presente e o futuro como uma possibilidade ainda não aberta. [3]O livro também foi publicado em inglês, alemão, holandês, italiano e espanhol.

Argumento[editar | editar código-fonte]

O livro foca no conceito da relação entre a humanidade e a natureza, e a necessidade de encontrar um equilíbrio sustentável para o futuro do planeta. O livro descreve a percepção indígena dos problemas contemporâneos, reflete criticamente sobre a ideia de humanidade como algo separado da natureza e propõe discutir desafios e potencialidades da modernidade na compreensão de problemas passados e contemporâneos para criar um mundo mais justo e sustentável.[4][5] De acordo com o líder indígena brasileiro, apenas rejeitando a ideia de que o ser humano é superior a outras formas de vida poderemos voltar a dar valor à nossa vida e, ao mesmo tempo, ter a possibilidade de restabelecer uma relação correta com o planeta.[6]

O título, segundo Krenak, é uma provocação e um ponto de partida para a reflexão sobre o "mito da sustentabilidade, inventado pelas corporações para justificar o ataque que fazem à nossa ideia de natureza".[2]

Desenvolvimento e publicação[editar | editar código-fonte]

Em 2017, a convite de Eduardo Viveiros de Castro, Krenak aceitou participar da conferência "Os involuntários da pátria" em Lisboa, um evento cultural ibero-americano que ocorreu no ano em que a cidade foi capital ibero-americana da cultura.[7] Durante a conferência, foi apresentado o documentário Ailton Krenak e o Sonho da Pedra (2017, 52 min), dirigido por Marco Altberg. Em seguida, Krenak conversou com os participantes, e essas conversas foram compiladas no livro Ideias para Adiar o Fim do Mundo. O livro é dividido em três capítulos, que incluem as duas conferências e uma entrevista com o autor.[2][6]

O primeiro capítulo, intitulado "Ideias para Adiar o Fim do Mundo", é baseado na conferência realizada por Krenak em 6 de março de 2019 no Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa, como parte de um ciclo de seminários coordenado por Susana de Matos Viegas e transcrita por Joëlle Ghazarian.[7]

Nele, ele introduz como que surgiu a ideia do livro e faz uma comparação de epistemologias ocidentais e indígenas. Diz que o grande problema das ocidentais é dividir tudo em dicotomias. Como uma sub-humanidade e humanidade que tem direito a tudo (os civilizados e os bárbaros), a natureza e o ser humano. Estando os ocidentais cada vez mais atomizados, incapazes de ser reconhecer em coletivo, não reconhece a natureza como viva e sim apenas recursos para satisfazer as próprias vontades.

O segundo capítulo, intitulado "Do sonho e da terra", nasceu de uma conferência realizada em maio de 2017 no Teatro Municipal Maria Matos, em Lisboa, como parte do ciclo de conferências "Questões Indígenas: ecologia, terra e saberes ameríndios".[8]

Este capítulo começa nos informando da relação entre o povo Krenak e o estado brasileiro. Uma relação difícil, já que o estado defende essa forma de exploração da terra que os indígenas não querem contribuir. Exploração essa que ajuda a ficarmos mais próximos de uma possível extinção em massa. O progresso e a alienação, nesse texto, andam lado a lado. Essa ideia de progresso nos torna cegos para as coisas que realmente necessitamos, como uma terra que nos dê o suficiente para viver. É isso de que existe somente uma humanidade, uma verdade real e iluminada que exclui todos os outros modos de vida. Ao ponto de colocarmo-nos tanto no centro, de existir uma era com o nome dessa visão.[3]

O autor não rejeita a razão, mas sim como única possibilidade de se ver o mundo, tanto que atribui ao sonho, outra forma de cosmovisão, outra jeito de se entender que deveria ser tão respeitada quanto essa razão que alimenta um modo de vida autodestrutivo.

O terceiro capítulo, intitulado "A humanidade que pensávamos ser", foi originalmente produzido para o catálogo da conferência-dança Antropocenas (2017), de João dos Santos Martins e Rita Natalio. A transcrição e edição da entrevista concedida por Rita Natálio e Pedro Neves Marques a Ailton Krenak em maio de 2017, em Lisboa, ficaram a cargo de Marta Lança.[9][10]

Nesse último texto, ele conjetura se é possível livrar-nos desse conceito de humanidade única. Imagina que entraríamos em crise, pois essa ideia é confortável. Mas ele ao mesmo tempo pergunta, por que não, essa crise? Então seria necessário nos desestabilizar para recriarmos. Ailton, nos diz, em suma, que é preciso recriarmos nossa ideia de humanidade se queremos sobreviver. Entender novas concepções, abarcar a natureza como parte de nós. No final, todos os textos são uma crítica a nossa ideia de progresso e a alienação que essa ideologia nos traz.

Idiomas[editar | editar código-fonte]

O livro foi traduzido para o inglês por Anthony Doyle e publicado em 2020 sob o título Ideas to Postpone the End of the World pela editora canadense House of Anansi Press.[11] No mesmo ano, também foi publicado em francês pela editora Editions Dehors com o título Idées pour retarder la fin du monde, traduzido por Julien Pallotta,[12] e em italiano pela editora Aboca Edizioni com o título Idee per rimandare la fine del mondo. L'identità esemplare di un piccolo popolo per il futuro delle società umane, traduzido por Sara Cavarero.[13]

No início de 2021, a primeira edição em espanhol foi publicada pela Editorial Prometeo de Buenos Aires, Argentina, com o título Ideas para postergar el fin del mundo. Também em 2021, o livro foi publicado em alemão e holandês.[14][15]

Recepção[editar | editar código-fonte]

O livro foi o terceiro mais vendido durante a Festa Literária Internacional de Paraty (FLIP) em 2019, no estado do Rio de Janeiro.[16][17]

De acordo com o pesquisador Renato Natan Ferreira Souza, o livro se torna uma importante fonte teórica e empírica para os pesquisadores que trabalham com temas de sustentabilidade e comunidades tradicionais.[18] Em uma entrevista com o ativista e autor Ben Rawlence por Cal Flyn, publicada no portal web Five Books, o livro Ideias para Adiar o Fim do Mundo é considerado como um dos cinco melhores livros sobre adaptação climática.[19] Rawlence menciona que o livro "fala sobre a cosmovisão indígena de seu povo e como esses conceitos podem nos ajudar a pensar sobre o papel dos humanos em relação ao nosso habitat e entre nós" e que é um livro que inspira mudanças no comportamento, nos referenciais e no pensamento das pessoas imersas em uma tradição ocidental muito racionalista.[19]

A edição de 2021 do Festival de Cinema e Mídia Porto/Post/Doc em Portugal adotou "Ideias para adiar o fim do mundo" como ideia central para a curadoria da mostra audiovisual.[20]

Ver também[editar | editar código-fonte]

Notas[editar | editar código-fonte]

Referências

  1. «Parte 1 - Resenha - Ideias Para Adiar o Fim do Mundo (de Ailton Krenak) - São Bernardo». www.saobernardo.sp.gov.br. Consultado em 6 de abril de 2023 
  2. a b c Gayoso, Solange (2020). «KRENAK, Ailton. Ideias para adiar o fim do mundo. São Paulo: Companhia das Letras, 2019.». Revista de Políticas Públicas (1): 302–305. Consultado em 6 de abril de 2023 
  3. a b «RESENHA DO LIVRO "IDEIAS PARA ADIAR O FIM DO MUNDO" | Revista Ciências & Ideias ISSN: 2176-1477». 9 de dezembro de 2022. Consultado em 6 de abril de 2024 
  4. Lira, Wagner Lins (27 de setembro de 2020). «KRENAK, Ailton. 2019. Ideias para adiar o fim do mundo. São Paulo: Companhia das Letras, 85p.». Revista AntHropológicas (1). ISSN 2525-5223. doi:10.51359/2525-5223.2020.244542. Consultado em 8 de abril de 2023 
  5. Publishers, Brazilian (18 de julho de 2019). «Escritor indígena Ailton Krenak llega al tercer lugar en la lista de los más vendidos durante la Flip». Brazilian Publishers (em espanhol). Consultado em 8 de abril de 2023 
  6. a b Albè, Marta (16 de julho de 2020). «Idee per rimandare la fine del mondo». Marta Albè (em italiano). Consultado em 7 de abril de 2023 
  7. a b Adynata, Revista (1 de agosto de 2022). «Ideas para postergar el fin del mundo / Ailton Krenak». Revista Adynata (em espanhol). Consultado em 7 de abril de 2023 
  8. Ep. 43 - Ailton Krenak: Do sonho e da terra (em inglês), consultado em 7 de abril de 2023 
  9. Inhabitants (3 de junho de 2017), inhabitants promove: entrevista com Ailton Krenak (Teatro Maria Matos, Maio de 2017), consultado em 7 de abril de 2023 
  10. «KRENAK Ailton (Aut) - Resenha Crítica». Consultado em 7 de abril de 2023 
  11. «Ideas to Postpone the End of the World». House of Anansi Press (em inglês). Consultado em 7 de abril de 2023 
  12. Schepmans, Daniel. «Ailton Krenak : « Idées pour retarder la fin du monde » | PointCulture». www.pointculture.be. Consultado em 7 de abril de 2023 
  13. Riccardo (29 de julho de 2020). «Narrazioni decoloniali». Comune-info (em italiano). Consultado em 7 de abril de 2023 
  14. Lateinamerika, Thomas Milz, Blickpunkt. «Buchrezension: "Ideen, um das Ende der Welt zu vertagen"». www.blickpunkt-lateinamerika.de (em alemão). Consultado em 7 de abril de 2023 
  15. «Libris | Ideeën om het einde van de wereld uit te stellen, Ailton Krenak». libris.nl (em neerlandês). Consultado em 7 de abril de 2023 
  16. Publishers, Brazilian (18 de julho de 2019). «Escritor indígena Ailton Krenak llega al tercer lugar en la lista de los más vendidos durante la Flip». Brazilian Publishers (em espanhol). Consultado em 6 de abril de 2023 
  17. «Flip 2019: Dos 5 autores mais vendidos, 4 são negros e 1 é indígena». Vermelho. Consultado em 6 de abril de 2023 
  18. «The Anthropocene disaster - Renato Natan Ferreira Souza's (CAAPA/Uneb) review of the book "Ideas to Postpone the End of the World" by Ailton Krenak. - Crítica Historiografica» (em inglês). 20 de fevereiro de 2023. Consultado em 6 de abril de 2023 
  19. a b Books, Five. «Climate Adaptation». Five Books (em inglês). Consultado em 6 de abril de 2023 
  20. «Porto/Post/Doc brings «Ideas to Postpone the End of the World» as central theme for 2021 festival». MODERN TIMES REVIEW (em inglês). 17 de setembro de 2021. Consultado em 6 de abril de 2023