La Villeneuve (Grenoble)
La Villeneuve é um grande empreendimento habitacional situado entre a porção sul de Grenoble e a comuna de Échirolles, no departamento de Isère, na França.
História[editar | editar código-fonte]
Foi projetado pelo escritório Atelier d'urbanisme et d'architecture (AUA), entre 1970 e 1983, na Zona de Urbanização Prioritária Villeneuve Grenoble-Echirolles, uma área de 300 hectares,[1] onde também viria a se inserir a Vila Olímpica de Grenoble, concebida pelo arquiteto Maurice Novarina para os Jogos Olímpicos de Inverno de 1968.[2]
Villeneuve foi a maior operação urbana já realizada na aglomeração urbana de Grenoble e, por isso mesmo, suscitou grande interesse e muita polêmica. Idealizada pela coalizão municipal do prefeito socialista Hubert Dubedout e pelos Grupos de Ação Municipal (GAM), no rastro do Partido Socialista Unificado (PSU), a operação foi muito mediatizada nos anos 1970, até se tornar um símbolo da arquitetura pós-68, período em que se desenvolveram vários experimentos sociais. Arlequin, o primeiro bairro construído, reunia 2 200 unidades habitacionais,[3] das quais 920 unidades eram de interesse social.[1][4]
Muitos artistas, militantes e intelectuais trabalharam, filmaram, pintaram ou escreveram sobre Villeneuve, dentre os quais Sergio Ferro, Jean-Luc Godard, Gilles Lipovetsky, Kateb Yacine, Ernest Pignon-Ernest, a cooperativa dos Malassis, Jean Verlhac, Guy de Rougemont, Henri Ciriani, Michel Corajoud et Jean-François Augoyard.[5][6]
Villeneuve emergiu diretamente da inquietação social que se seguiu à insurreição estudantil de maio de 1968. Pessoas comprometidas com mudanças sociais pretenderam criar um bairro altamente autônomo, com prédios de apartamentos, parques, escolas e serviços locais e de saúde, na cidade de Grenoble (c. 160 mil habitantes).[5] O empreendimento foi uma cuidadosa mistura de empreendimentos habitacionais privados e públicos, incluindo apartamentos subsidiados para famílias de baixa renda, com postos de serviços públicos municipais e uma administração de bairro que cuidariam dos espaços públicos e atenderiam aos residentes, oferecendo serviços de construção ou reforma, manutenção hidráulica e pintura a custos moderados.[5]
Por sua importância, em termos arquitetônicos e urbanístico, Villeneuve foi declarada "Patrimônio do Século XX", pelo Ministério da Cultura da França.
Mas o sonho utópico de uma nova comunidade urbana lentamente degradou-se. Quando decidiu construir La Villeneuve, a municipalidade de Grenoble solicitou, aos arquitetos, que previssem longos corredores ligando os apartamentos aos elevadores e galerias, de forma que as pessoas se encontrassem.[7] Cada corredor terminaria num espaço destinado a reuniões, associações e ateliês. Assim foi feito. Todavia, esses espaços foram logo tomados por atividades contrárias à moral clássica e acabaram sendo fechados.[7] Atualmente, é objeto de um projeto de renovação urbana lançado em 3 de julho de 2008.[8] Apesar dos protestos e da organização dos habitantes numa "oficina popular de urbanismo", uma parte da renovação urbana foi realizada, o que levou a demolições de imóveis no bairro do Arlequin.
Em 2010, Villeneuve foi palco de violentos incidentes, que foram muito mediatizados em todo o mundo.[9][10][11]
Referências
- ↑ a b La Villeneuve, cercle vicieux. Por Gabrielle Serraz. Les Echos, 24 de julho de 2014.
- ↑ L'histoire atypique d'un village olympique. Porr Clémentine Méténier. Gre.mag, 3 de janeiro de 2018.
- ↑ «La Villeneuve, Grenoble remue ciel et tours.». www.liberation.fr. 2 de fevereiro de 2018. Consultado em 13 de outubro de 2019
- ↑ La Villeneuve : quartiers Arlequin (1970-1973) et Baladins (1975) et Parc Jean Verlhac
- ↑ a b c «Utopian Dream Becomes Battleground in France» (em inglês). The New York Times. 8 de agosto de 2010. Consultado em 9 de setembro de 2012.
Citação: "A utopian dream of a new urban community, built here in the 1970s, had slowly degraded into a poor neighborhood plagued by aimless youths [...]. [...] Villeneuve, or “new city,” emerged directly out of the social unrest of the May 1968 student uprising. People committed to social change, from here as well as from Paris and other cities, came to create a largely self-contained neighborhood of apartment buildings, parks, schools, and health and local services in this city of 160,000 people[...]. Villeneuve was a careful mixture of private and public housing, including subsidized apartments for low-income families, with branch offices of city hall and a neighborhood corporation that would take care of public spaces while providing residents construction, plumbing and painting services at moderate costs."
- ↑ Sibylle Le Vot, L’art, l’architecture et l’espace public à la Villeneuve de Grenoble : l’utopie collective à l’œuvre ou l’échec d’une création partagée ?, In Situ, 32, 2017.
- ↑ a b Maffesoli, Michel (2010). O Tempo das Tribos. O declínio do individualismo nas sociedades de massa. Col: Ensaio & Teoria 4 ed. Rio de Janeiro: Forense Universitária. p. 77. 298 páginas. ISBN 978-85-218-0375-1
- ↑ Faire de la Villeneuve un éco-quartier populaire. Le Rassemblement, 2 de fevereiro de 2018
- ↑ «Aumento de xenofobia na França gera reações internacionais». RFI. 16 de julho de 2010. Consultado em 9 de setembro de 2012.
Polícia francesa escolta um jovem que foi detido para interrogatório, no bairro de Villeneuve, em Grenoble.
- ↑ «França: Grenoble registra terceira noite de violência urbana». AFP[desambiguação necessária]. Google. 18 de julho de 2010. Consultado em 9 de setembro de 2012.
Um veículo da polícia recebeu disparos neste domingo pouco antes das 22h30 locais (17h30 de Brasília), sem deixar feridos, no bairro de Villeneuve da cidade francesa de Grenoble, que vive uma terceira noite de violência urbana.
- ↑ «França: polícia mobiliza forças especiais para conter violência em Grenoble». Euronews. 18 de julho de 2010. Consultado em 9 de setembro de 2012.
O bairro de Villeneuve, em Grenoble, transformado num cenário de guerra, pela segunda noite consecutiva.
