Maria Eugénia Neto

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Maria Eugénia Neto
Nascimento 8 de março de 1934 (90 anos)
Montalegre
Cidadania Angola
Ocupação escritora, jornalista

Maria Eugénia da Silva Neto (Montalegre, 8 de março de 1934) é uma escritora e jornalista luso-angolana, primeira ocupante do posto de primeira-dama angolana. Preside a Fundação Dr. António Agostinho Neto (FAAN)[1] e é membro-fundadora da União dos Escritores Angolanos[2] e da Academia Angolana de Letras.[3]

É uma das mais importantes escritoras vivas de Angola,[2][4][5] escrevendo nos gêneros literários poesia,[2] prosa,[2] encómio[2] e literatura infantojuvenil.[2]

Biografia[editar | editar código-fonte]

Maria Eugénia Neto nasceu em 8 de março de 1934 na localidade de Montalegre, pertencente à Região do Norte e ao Distrito de Vila Real, em Portugal.[6]

Na sua juventude muda-se com os pais para Lisboa, onde estuda desenho[6] e participa dos coros do Conservatório Nacional de Lisboa.[6] Na década de 1940 escreve seus primeiros poemas, publicando-os no semanário Gazeta do Sul, do Montijo,[7] e outros boletins da capital portuguesa.[6]

Em 1948, Eugénia assiste uma reunião de um círculo de escritores e intelectuais africanos em Lisboa. Ali conhece Agostinho Neto, com quem se casaria 10 anos depois.[2] A proximidade entre os dois, inicialmente vinculada à poesia, tomaria forma de relacionamento a partir de 1952.[2]

Na década de 1950 matricula-se num curso línguas estrangeiras[6] da Universidade de Lisboa, passando a trabalhar como jornalista, ganhando também recursos como tradutora de textos de língua inglesa.[6]

Em 27 de outubro de 1958, em Lisboa, casa-se com Agostinho Neto, no dia em que este concluiu a sua licenciatura em medicina. O casal Lúcio Lara e Ruth Lara,[8] já amigos de Eugénia e Agostinho há um bom tempo, eram os padrinhos.[9] Os outros padrinhos eram Ivo Lóio e Ernesta Lóio.[10]

Poucos dias após cerimônia matrimonial, nasce em Lisboa, em 9 de novembro de 1958, o primeiro filho do casal, Mário Jorge Neto.[2]

Luta anticolonial[editar | editar código-fonte]

Presidente Agostinho Neto e primeira-dama Eugénia Neto recepcionam o embaixador da Polónia em Angola, Roman Paszkowski, bem como a embaixatriz Aleksandra, para as festividades do Ano Novo de 1978, em Luanda.

Muda-se com Agostinho Neto para Luanda no início de 1960, e o ajuda a estruturar seu consultório médico, bem como as atividades políticas do Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA).[2][9]

Com a prisão de seu marido naquele mesmo ano, vive um período de périplo até 1961 entre o Algarve,[11] Cabo Verde[9] e Lisboa.[11] No ínterim, em 1961, nasce sua segunda filha Irene Alexandra Neto, em Lisboa.[9]

Agostinho Neto foi posto em liberdade assistida em 1961, mas é preso novamente em 1962 numa tentativa de fuga. Eugénia permenece em Lisboa para lhe assistenciar até sua liberdade em março de 1962.[12] Abriga-se em Sintra na casa de sua mãe, Maria Amélia da Silva.[13]

A família foge de Portugal em julho de 1962, instalando-se em Quinxassa, onde o MPLA tinha a sua sede no exílio,[14] com Agostinho Neto reassumindo as funções de presidente do MPLA.[9]

Em 1963 a família ruma, com a sede do MPLA, para Brazavile[9] em consequência da expulsão do partido do Zaire, que passou a dar o apoio total á Frente Nacional de Libertação de Angola (FNLA).[14] Em 1964, nesta capital, nasce Leda da Silva Neto, a terceira filha do casal.[9]

Em Brazavile assume funções do departamento de informações e comunicação do MPLA, traduzindo documentos e divulgando notícias em rádios, além de escrever poemas, artigos e textos políticos.[2] Toma também frente nas atividades do departamento de cultura até 1968.[2]

Por questões de segurança, transfere-se para Dar es Salã, na Tanzânia, onde continuaria até 4 de fevereiro de 1975, ficando neste período longe de Agostinho Neto. Trabalha como tradutora, jornalista e diplomata na representação política do MPLA neste país, em colaboração com a jornalista e diplomata britânico-angolana Margarita Holness.[15] Enquanto na Tanzânia, Eugénia passou a escrever no gênero encómio, produzindo também artigos sobre a luta anticolonial e de uma visão de um futuro de paz e liberdade.[2] Neste período também passa a ser jornalista da revista Lotus, da Organização dos Escritores Afro-Asiáticos, e da revista Femmes du Monde Entier, da Federação Democrática Internacional das Mulheres.[7]

Pós-independência angolana[editar | editar código-fonte]

No retorno à Angola, no início de 1975, Eugénia retoma sua carreira jornalística, dirigindo o Boletim da Organização da Mulher Angolana,[2] sendo redatora-chefe dos textos em língua estrangeira, nomeadamente francês e inglês.[6]

Tornou-se membro-fundadora da União dos Escritores Angolanos, em 1975, uma das raras mulheres no grupo.[2] Continuou a trabalhar para o partido e o Estado angolano após a morte de seu marido, com sua escrita passando a focar na literatura infantojuvenil.[2]

Mudou-se para Lisboa após a maturidade de seus filhos. Em Portugal empenhou-se em organizar a Fundação Dr. António Agostinho Neto (FAAN), instituição dedicada a preservar o pensamento e a memória de Agostinho Neto e do processo de descolonização angolano.[1]

Em 2016 Maria Eugénia torna-se uma das duas mulheres imortais fundadoras da Academia Angolana de Letras.[3] É, também, sócia honorária da Academia de Letras de Trás-os-Montes desde o dia 25 de fevereiro de 2017.[6]

Obras[editar | editar código-fonte]

Títulos de destaque publicados foram:

  • No prelúdio da Vitória (1969);[16]
  • Our hands are building freedom (1971);[16]
  • Foi esperança e foi certeza (1976);[2]
  • ...E nas florestas os bichos falaram (1977);[2]
  • Nossas mãos constroem a Liberdade (1979);[16]
  • Formação de uma estrela e outras histórias na Terra (1979);[16]
  • Lenda das asas e da menina Mestiça-Flor (1981);[16]
  • Fica aí dentro do Quarto. O Soldado sou Eu (1985);[16]
  • A Menina Euflores (1988);[16]
  • O Vaticínio da Quianda na Piroga do Tempo (1989);[16]
  • Ninguém Impediria a Chuva (1990);[16]
  • O soar dos quissanges (2000);[2]
  • Trepadeira que Queria Ver o Céu Azul e outras Estórias (2006);[16]
  • Cartas de Maria Eugénia a Agostinho Neto (2016).[16]

Bibliografia[editar | editar código-fonte]

Referências

  1. a b «Cátedra Agostinho Neto na Universidade do Porto». Plataforma9. Consultado em 10 de julho de 2022 
  2. a b c d e f g h i j k l m n o p q r s Maria Eugénia Neto. União dos Escritores Angolanos. 2018.
  3. a b A Academia Angolana de Letras, as línguas nacionais e outros desafios do século XXI. Por Dentro da África. 20 de dezembro de 2017.
  4. Maria Eugénia Da Silva Neto. UNHCR. 2022.
  5. «"Biografia": Maria Eugénia Neto». Giranoticias. 16 de setembro de 2023  Parâmetro desconhecido |ur= ignorado (ajuda);
  6. a b c d e f g h Homenagem a Eugénia Neto. Câmara Municipal de Montalegre. 28 de fevereiro de 2019.
  7. a b Biografia: Maria Eugénia da Silva Neto. Direção-Geral do Livro, dos Arquivos e das Bibliotecas (DGLAB). 2016.
  8. Susana Garcia (27 de junho de 2014). «"A mulher é o único receptáculo que ainda nos resta, onde vazar o nosso idealismo." – Goethe». Tribuna das Ilhas 
  9. a b c d e f g «A Família». MAAN. Consultado em 10 de julho de 2022 
  10. Casamento de Maria Eugénia com Agostinho Neto. Lisboa, Portugal: Arquivo Lúcio Lara. 27 de outubro de 1958.
  11. a b Birmingham 2021, p. 6.
  12. Birmingham 2021, p. 4.
  13. «Uma Fuga Astuciosa». MAAN. Consultado em 22 de julho de 2022 
  14. a b «Biografia de Agostinho Neto.». Fundação Dr. António Agostinho Neto. 2016. Consultado em 24 de novembro de 2017 
  15. Morreu histórica tradutora e intérprete de Agostinho Neto. Novo Jornal. 6 de julho de 2016.
  16. a b c d e f g h i j k «Maria Eugénia Neto». Associação Tchiweka de Documentação. 2016