Monimiaceae

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Classificação científica
Reino: Plantae
Divisão: Magnoliophyta
Clado: Magnoliids
Classe: Magnoliopsida
Ordem: Laurales
Família: Monimiaceae
Juss.
Géneros
Ver texto.
Sinónimos
Folhagem de Peumus sp.
Folha de Peumus boldus, onde os pontos são as glândulas que contém óleos essenciais.
Xymalos monospora.

Monimiaceae é uma família de plantas com flor da ordem das Laurales que engloba 28 géneros e 195-200 espécies de árvores ou arbustos, raramente escandentes ou lianas (cipós e trepadeiras), monóicas ou dióicas.[1] A família tem os seus principais centros de diversidade no Arquipélago Malaio e no sul-sudeste do Brasil,[2][1] e distribuição natural principalmente na América Tropical, Madagáscar e Oceania, embora esteja representada em menor número na Austrália e Nova Zelândia e com uma espécie em África.[1] Vários géneros (entre os quais Hedycarya e Peumus) contém espécies que são utilizadas como plantas ornamentais, as espécies do géneros Peumus produzem folhas e frutos comestíveis e vários géneros são produtores de madeiras com elevado valor económico.

Descrição[editar | editar código-fonte]

Apresenta inflorescência cimosa, flores não vistosas, são unissexuadas (plantas monoicas ou dioicas) ou raramente bissexuadas, são actinomorfas, monoclamídeas, possuem cálice com três ou mais sépalas, dialissépalo, estames oito ou mais – numerosos, anteras geralmente com deiscência remosa ou por fenda circular (Hennecartia), gineceu dialicarpelar, tem carpelos de um ou mais – números, ovário súpero (flores frequentemente períginas), placentação pêndula, uniolvulado. Quanto ao fruto: é múltiplo, são frutículos drupáceos, com hipanto tornando-se carnoso e, às vezes, envolvendo-os (Grazielanthus e Hennecartia).

Caracteres evolutivos[editar | editar código-fonte]

Evolutivamente a morfologia floral de Monimiaceae é expressa geralmente em termos de redução, tanto em tamanho quanto em número de partes florais; apresenta reestruturação da orientação dessas partes de espiral para radial e finalmente decussado; no fechamento do receptáculo das flores femininas; em transição de carpelos livres para um gineceu sincárpico e ínfero. Outras características da anatomia da madeira, do grão de pólen, da arquitetura da folha e da progressão de monoecia para dioecia também foram assinaladas pelo pesquisador Lorence. Em algumas espécies como, Hennecartia omphalandra, podemos observar nas folhas: venação marginal que se forma pela anastomose das nervuras de menor calibre, de onde partem terminações livres, simples ou ramificadas, caracterizando como "incompleta" a venação marginal nas regiões de contorno regular, compreendidas como as áreas entre duas terminações pontiagudas. Estas áreas pontiagudas são formadas pelo prolongamento de uma nervura secundária ou terciária, o que confere rigidez a essa região.

Reprodução[editar | editar código-fonte]

Nas angiospermas mais primitivas, e em todas as Magnoliídeas, grãos de pólen são libertados na condição de duas células (uma célula do tubo, que se expande para formar o tubo de pólen de germinação e uma célula geradora, que se divide para formar duas células espermáticas); em subclasses avançadas de plantas com flores, eles são liberados em uma condição de três unicelulares (uma célula do tubo e dois espermatozóides), porque os espermatozóides são formados antes que o pólen seja liberado. Uma exceção do tipo ocorre em Laurelia (Monimiaceae) e Beilschmiedia (Lauraceae). Grãos de pólen de duas células, em outros, que são de três alvéolos, e em outros ainda, as células do espermatozóide está no processo de formação, quando o pólen é liberado. A reprodução de plantas tropicais depende, essencialmente, da interação com animais polinizadores e/ou dispersores de sementes, uma vez que as angiospermas dependem dos animais para o transporte de pólen ou de sementes, tais como, abelhas, morcegos e aves.

História[editar | editar código-fonte]

Lorence (1985), Philipson(1987) e Renner (1998) sugeriram que Hortonia, Peumus, Palmeria, e Monimia (ou seja, as tribos Hortonioideae e Monimioideae) são os gêneros mais basais de Monimiaceae (embora não necessariamente formando um clado), hipótese também sugerida pelas datações propostas por Renner (2005). Neste caso, a família teria iniciado sua expansão no transcorrer do Cretáceo, período geológico marcado pelo surgimento e expansão de todo o grupo das angiospermas. Naquele momento, Madagascar já estava separada da África havia mais de 60 milhões de anos. Durante o mesmo período, os continentes africanos e sulamericano foram se separando também, embora ainda permanecessem unidos na altura do nordeste brasileiro. Surgia o Atlântico, de sul para norte, um fator de forte amenização climática do clima desértico que predominara na região equatorial do Jurássico. (Bigarella, 1991). A Antártica, por sua vez, era uma massa de terra que provia a maior conexão terrestre entre os atuais oeste (América do Sul e sul da África) e leste (Austrália, Nova Caledônia, Nova Zelândia) do Gondwana. Era coberta por florestas tropicais, que atingiam até baixas latitudes (73° S) (Schatz, 1996; Menegat, 2002; Bolzon & Marchiori, 2002; Burnham & Johnson, 2004; Dutra, 2004; Sanmartín & Ronquist, 2004; Wilf et al. 2005). Pode se supor, então, que no período do Cretácio as linhagens mais basais de Monimiaceae, tenham sido forjadas em torno da Malásia e se dispersado na direção da Antártica, seguindo um arco de florestas úmidas temperadas.

Importância econômica[editar | editar código-fonte]

Na família algumas espécies se destacam pela importância econômica, principalmente, no uso medicinal, pela presença de óleos voláteis aromáticos. A Peumus boldus Molina (boldo-do-chile), espécie endêmica do Chile, é largamente empregada em muitos lugares do mundo para transtornos hepáticos e como anti-inflamatórios, pela presença de alcalóides essenciais. É servido e comercializado como chá. Também temos a Sirapuna brasilienses (Peroba-rosa) usada na confecção de móveis por oferecer uma madeira de boa qualidade. Espécies pertencentes às famílias próximas como Siparunaceae, também são citadas pelo seu uso em medicina popular, como a Siparuna apiosyce (utilizada no tratamento de distúrbios gastrointestinais, febres, gripes e outras afecções. A Mollinedia brasiliensis é considerado um forte antiespasmódico, e em Siparuna pauciflora (Beurl.) A. DC. foi verificada atividade contra Plasmodium falciparum (Jenett-Siems et al., 2003), um protozoário parasita causador da Malária em humanos.

Conservação[editar | editar código-fonte]

As florestas do planeta desempenham um papel crucial na regulação do clima global, na manutenção da subsistência local e na proteção da biodiversidade do planeta. As florestas são a “casa” de 80% da biodiversidade terrestre e de 300 milhões de pessoas ao redor do mundo. A criação de unidades de conservação de uso sustentável, como as florestas nacionais e as reservas extrativistas, visa combater o desmatamento descontrolado provocado pela humanidade.

Potencial ornamental[editar | editar código-fonte]

Alguns gêneros são cultivados como plantas ornamentais (Hedycarya e Peumus). O Boldo (Peumus boldus) é uma planta nativa dos Andes Chilenos, estudada pela primeira vez em 1869, pelo médico francês Dujardin Baumez. A madeira, que desprende um suave aroma, é muito utilizada em construções.

Distribuição e sistemática[editar | editar código-fonte]

Distribuição[editar | editar código-fonte]

Distribuição natural das Monimiaceae.

A família Monimiaceae apresenta uma distribuição pantropical, estendendo-se pelas regiões tropicais de todos os continentes,com espécies com distribuição natural nas regiões tropicais da África, Ásia e nas Américas. Apesar da distribuição geográfica dos géneros que integram a família Monimiaceae ser pantropical, apresenta um foco de concentração numa vasta região que vai desde o leste da Austrália até ao Sueste Asiático.

A Malésia é um dos centros de diversidade da família Monimiaceae, com 10 géneros e cerca de 84 espécies. Na Nova Guiné ocorrem 7 géneros e na Austrália 8 géneros, com cerca de 26 espécies. No Neotrópico, o outro centro de diversidade da família, existem 5-6 géneros com cerca de 30 espécies. Em Madagáscar e nas ilhas Mascarenhas ocorrem três géneros, com cerca de 63 espécies. Na Nova Caledónia ocorrem dois géneros com cerca de 10 espécies. Na África tropical ocorre apenas o género monotípico Xymalos, bem como na ilha da Reunião e nas ilhas Maurícias onde também apenas ocorre o género monotípico Monimia.[3]

No Brasil ocorrem cinco géneros, com cerca de 43 espécies, a maioria das quais na Mata Atlântica da Região Sudeste onde estão presentes todos os géneros e mais de 80% das espécies descritas.

Sistemática[editar | editar código-fonte]

Hedycarya angustifolia.
Infrutescência de Hennecartia omphalandra.
Flores masculinas de Tambourissa elliptica.
Folhagem e frutos de Wilkiea huegeliana.
Xymalos monospora.

A família Monimiaceae foi descrita em 1809 por Antoine Laurent de Jussieu numa publicação inserta nos Annales du muséum national d'histoire naturelle, n.º 14, p. 133. O género tipo é Monimia Thouars, nome que está na base da etimologia do nome genérico. Um sinónimo taxonómico de Monimiaceae Juss. é Hortoniaceae A.C.Sm..[4]

O registo fóssil mais antigo atribuído a esta família data do Campaniano do Cretáceo Superior da Antártida.

O género Kairoa, anteriormente considerado um género monotípico, presentemente contém três espécies, sendo que em consequência o anterior género monotípico Faika se tornou seu sinónimo taxonómico.[3] Na sua actual circunscrição taxonómica a família Monimiaceae inclui de 22 a 30 géneros agrupando cerca de 200 espécies:[4]

Listagem de géneros[editar | editar código-fonte]

A família Monimiaceae inclui os seguintes géneros:

São géneros nativos do Brasil:

  • Grazielanthus;
  • Hennecartia;
  • Macropeplus;
  • Macrotorus;
  • Mollinedia.

Referências[editar | editar código-fonte]

  1. a b c Susanne S. Renner, Joeri S. Strijk, Dominique Strasberg & Christophe Thébaud: Biogeography of the Monimiaceae (Laurales): a role for East Gondwana and long-distance dispersal, but not West Gondwana. In: Journal of Biogeography, Volume 37, Issue 7, 2010, pp. 1227–1238: doi:10.1111/j.1365-2699.2010.02319.x.
  2. a b Ariane Luna Peixoto & Maria Verônica Leite Pereira-Moura: A new genus of Monimiaceae from the Atlantic Coastal Forest in South-Eastern Brazil. In: Kew Bulletin, Volume 63, Number 1, 2008, pp. 137–141.
  3. a b c Susanne S. Renner & Wayne N. Takeuchi: A Phylogeny and Revised Circumscription for Kairoa (Monimiaceae), with the Description of a New Species from Papua New Guinea, in: Harvard Papers in Botany Volume 14, Issue 1, 2009, S. 71–81: doi:10.3100/025.014.0111
  4. a b «Monimiaceae». Agricultural Research Service (ARS), United States Department of Agriculture (USDA). Germplasm Resources Information Network (GRIN) 

Bibliografia[editar | editar código-fonte]

Ligações externas[editar | editar código-fonte]

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