Ocupação Quilombo das Guerreiras

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O Quilombo das Guerreiras foi uma ocupação sem-teto na região portuária do Rio de Janeiro, no Brasil. A habitação coletiva e autogestionária teve início em 2006, quando famílias ocuparam um prédio abandonado da Companhia Docas do Rio Janeiro. A ocupação foi despejada em 2014, no contexto de implementação do projeto de renovação urbana Porto Maravilha.[1][2][3][4][5]

O Quilombo das Guerreiras integrou a série de ocupações ocorridas na década de 2000 na região central do Rio, ao lado de: Ocupação Chiquinha Gonzaga (2004), Zumbi dos Palmares (2005) e Machado de Assis (2008).[6]

História[editar | editar código-fonte]

A ocupação Quilombo das Guerreiras teve início em 10 outubro de 2006,[7] quando cerca de 60 famílias sem-teto ocuparam um imóvel abandonado pela Companhia Docas do Rio de Janeiro no porto da cidade. Este movimento social foi herdeiro de outros processos de luta por moradia em curso na região central do Rio de Janeiro durante a década de 2000.[1][2][4][5]

Em 26 de fevereiro de 2014, a ocupação foi despejada.[8] Na ocasião, não houve garantia de assentamento das famílias despejadas. Os moradores resistiram à desocupação, exigindo que fossem assentados no Quilombo da Gamboa, espaço então conquistado e prometido pelo governo nas negociações.[8]

Organização interna[editar | editar código-fonte]

Pesquisadores apontaram que a organização coletiva da ocupação Quilombo das Guerreiras buscava constituir um "território dissidente". Em suma, a constituição de um território dissidente produz, por meio de práticas e discursos, questionamentos das políticas habitacionais estatais, bem como de um conjunto de relações sociais pautadas pela heteronomia (contrário de autonomia). Neste sentido, a organização interna da ocupação buscava a autonomia política e social daquela comunidade, constituindo um "autogoverno".[6]

Contexto do despejo[editar | editar código-fonte]

O despejo do Quilombo das Guerreiras ocorreu no contexto da implementação do Porto Maravilha, que gerou uma série de conflitos socioespaciais na década de 2010. O Porto Maravilha foi um projeto de renovação urbana levado à cabo na véspera dos megaeventos esportivos ocorridos na cidade do Rio de Janeiro naquela década: a Copa do Mundo FIFA de 2014 e as Olimpíadas de 2016. Segundo estudiosos, esse projeto de cidade em prol de megaeventos levaram ao despejo da ocupação.[1][2][3]

Pesquisadores estudaram a história da ocupação sem-teto a partir das memórias das pessoas moradoras, em sua maioria, negras. Assim, buscaram entender o movimento de ocupação dentro da perspectiva da diáspora africana, elucidando o contexto de organização política e social em prol do direito a moradia. Internamente, a trajetória desse movimento social refletiu a construção de um espaço coletivo de moradia com atividades formativas e emancipatórias de seus moradores. Externamente, essa trajetória foi afetada pela intervenção urbana estatal, cuja construção de espaços desconsiderou a memória e história negra daquela região.[1]

Referências

  1. a b c d Marinho, Glaucia Almeida (2017). À margem do cais – As lembranças de casa e da luta dos moradores da Ocupação Quilombo das Guerreiras Dissertação (Mestrado em Educação, Cultura e Comunicação) ed. Duque de Caxias: Universidade do Estado do Rio de Janeiro 
  2. a b c Fernandes Moreira, Marianna (2020). «A ocupação Quilombo das Guerreiras : classes populares, coletivo e família». Territorios contemporáneos de América Latina : identidades, movimientos sociales y transición: 225–260. Consultado em 16 de maio de 2023 
  3. a b Falcao, Monique; Falbo, Ricardo (1 de março de 2016). «Quilombo das Guerreiras and Zumbi dos Palmares: Social Movements for Housing Rights in Rio de Janeiro» [Quilombo das Guerreiras e Zumbi dos Palmares: movimentos sociais pelo direito a moradia na cidade do Rio de Janeiro.]. Direito da Cidade (em Spanish) (1): 331–361. Consultado em 16 de maio de 2023 
  4. a b Falbo, Ricardo Nery; Lima, Monique Falcão (11 de fevereiro de 2016). «Quilombo das guerreiras e Zumbi dos Palmares: movimentos sociais pelo direito à moradia na cidade do Rio de Janeiro». Revista de Direito da Cidade (1). ISSN 2317-7721. doi:10.12957/rdc.2016.21442. Consultado em 16 de maio de 2023 
  5. a b Cavalcanti, Francine Ferman Bezerra (12 de julho de 2022). Construindo o "Direito à Cidade"? Das ruas à luta institucional: uma experiência na Secretaria do Patrimônio da União do Rio de Janeiro (2009-2013). [S.l.]: Editora Dialética 
  6. a b De Almeida, Rafael Gonçalves (17 de março de 2012). «A microfísica do poder instituinte e sua espacialidade». Revista Cidades (15). ISSN 2448-1092. doi:10.36661/2448-1092.2012v9n15.12204. Consultado em 16 de maio de 2023 
  7. Culturais, Setor de Políticas; Barbosa (FCRB), Fundação Casa de Rui (2 de outubro de 2006). «Início da Ocupação Quilombo das Guerreiras, quando mais de 150 famílias ocupam o prédio da empresa DOCAS, localizado na Avenida Francisco Bicalho, no centro do Rio de Janeiro.». Consultado em 16 de maio de 2023 
  8. a b Janeiro, Passe Livre Rio de (26 de fevereiro de 2014). «A Ocupação Quilombo das Guerreiras foi despejada». Consultado em 16 de maio de 2023