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Doenças Virais e Bacterianas e suas repercussões na Audição e Equilíbrio[editar | editar código-fonte]

Introdução[editar | editar código-fonte]

A perda auditiva pode ocorrer por causas genéticas, congênitas ou adquiridas. Agentes infecciosos são fatores etiológicos mais habituais de perda auditiva congênita ou adquirida, sendo responsáveis por mais de 25% das perdas profundas diagnosticadas na população geral.

A insuficiência auditiva pode ser oriunda de dano na orelha externa e média, ocasionando perda auditiva leve à moderada, ou da orelha interna, causando perda auditiva sensorioneural moderada à profunda. Durante a gestação, infecções de orelha interna por toxoplasmose, sífilis, citomegalovírus e rubéola são as razões mais comuns de surdez congênita. Quanto ao lactente e pré-escolar, há possibilidade da surdez profunda ser uma complicação de meningite. Infecções bacterianas da orelha média durante a infância são responsáveis por grande parte das perdas auditivas leves, no entanto, mesmo com grau leve, há interferência do desenvolvimento normal da fala.

Na infância e na fase adulta, infecções virais associadas a dano na orelha interna com perda auditiva moderada à profunda merecem maior ênfase. [1]


Principais Doenças[editar | editar código-fonte]

Meningite[editar | editar código-fonte]

Meninges do sistema nervoso central: dura-máter, aracnoide e pia-máter

A meningite é uma doença que afeta o sistema nervoso, descrita por um processo inflamatório das meninges, continuamente gerada por bactérias ou vírus. [2] [3]

Esta inflamação pode levar a lesões nos nervos cranianos, que são responsáveis pela inervação de cabeça, pescoço, controle dos movimentos oculares, músculos faciais, audição dentre outras funções. A perda da audição e sintomas visuais podem permanecer após um quadro de meningite. [4]

A perda auditiva originada após um quadro de meningite bacteriana está relacionada à propagação da infecção ou do processo inflamatório para o canal auditivo e do aqueduto coclear. [4]

Além disso, uma labirintite purulenta ou serosa pode provocar o aniquilamento dos receptores sensoriais do VIII nervo de forma parcial ou completa.  As de forma serosas são capazes de provocar uma perda auditiva temporária, já uma infecção local  será capaz de provocar uma perda auditiva permanente. Outros mecanismos possíveis englobam a lesão direta da fibra nervosa, dano isquêmico secundário e acometimento das vias auditivas centrais. [4]

Estudos apontam que os danos auditivos pós meningite podem suceder por diferentes  mecanismos, como a lesão direta da cóclea pela bactéria e/ou suas toxinas, resposta do próprio organismo ou mesmo a ação dos medicamentos utilizados para o tratamento. Em geral, a perda tem início pouco tempo após o começo da infecção, sendo bilateral, do tipo neurossensorial, de grave intensidade e irreversível. [5]


Toxoplasmose[editar | editar código-fonte]

Protozoário da Toxoplasmose

A toxoplasmose é uma infecção provocada por um protozoário “Toxoplasma Gondii”. Sua transmissão pode ocorrer de forma oral adquirida através da ingestão de alimentos e água contaminados, congênita durante a gestação e existem formas raras como na inalação de aerossóis contaminados, transfusão sanguínea, transplantes de órgãos e inoculação acidental. [6]

Estudos brasileiros apontam uma prevalência da toxoplasmose congênita entre 0,6-1,3/1.000 nascidos vivos em diferentes regiões do país. O parasita atinge o bebê por via placentária, ocasionando danos de diferentes graus de gravidade, podendo resultar em morte fetal. [7]

A doença é um potencial indicador de risco para perdas auditivas sensorioneurais; o déficit auditivo tem sido relatado em cerca de 20% dos casos, principalmente em crianças não tratadas, ou tratadas por um período muito curto. [7]

A presença de alteração retrococlear é significativamente elevada em crianças expostas a toxoplasmose durante a gestação, sendo um fator de risco para alterações de processamento auditivo e de linguagem. Tal alteração pode estar relacionada à resposta inflamatória pós natal do meato acústico interno a presença do T. gondii, lesando o nervo vestibulococlear que se encontra no meato acústico interno. [7]

Desta forma, a criança com toxoplasmose congênita, mesmo tratada precocemente, necessita ser acompanhada por equipe multidisciplinar ao longo do seu desenvolvimento, de forma a detectar precocemente as alterações de processamento auditivo e linguagem, que podem repercutir negativamente no aprendizado escolar. [7]

Em contrapartida, outros autores não têm identificado a associação entre a parasitose e hipoacusia, assim persistindo dúvidas sobre a regularidade com que a toxoplasmose pode levar a déficit auditivo. [8]

O comprometimento auditivo causado pela toxoplasmose adquirida é muito raro. Além disso, esta relação tem sido muito pouco estudada, consequentemente sua causa e efeito ainda não estão estabelecidas. [9]


Sífilis[editar | editar código-fonte]

Micrografia eletrónica da bactéria Treponema pallidum

A sífilis é uma infecção sexualmente transmissível (IST), que tem como agente causador uma bactéria, a Treponema pallidum, capaz de se espalhar no corpo humano por meio de pequenos cortes na pele ou através das mucosas. [10]

A sífilis congênita foi praticamente erradicada, contudo, nos últimos dez anos, um número considerável de casos de sífilis gestacional vem ocorrendo no país. [11] Em 2018, a estimativa de identificação de sífilis em gestantes foi de 21,4/1.000 nascidos vivos e a ocorrência de sífilis congênita de 9/1.000 nascidos vivos. Essa desproporção entre gestantes com sífilis e recém nascidos com sífilis congênita ocorre em razão de que, apesar da gestante estar infectada, o feto não necessariamente estará contaminado. [12]

No período neonatal, a exposição a sífilis é apontada como um indicador de risco para a perda auditiva, por afetar a orelha interna, ocasionando periostite, atrofia do órgão de Corti e hidropsia endolinfática do labirinto membranoso.  Estas alterações podem afetar principalmente, o gânglio espiral e fibras nervosas do oitavo par, acarretando perda auditiva do tipo sensorioneural. [12]

Estatisticamente, a ocorrência de perda auditiva na sífilis congênita varia de 25 a 38%. Nestes casos, a perda é irreversível, de instalação súbita ou progressiva, unilateral ou bilateral. Em geral, de grau moderado a severo, com impactos significativos para a inteligibilidade da fala, conforme a evolução da doença. A sífilis também pode levar à perda auditiva, tardiamente, em torno dos dois anos de idade. [11]


Caxumba[editar | editar código-fonte]

Infecção viral ocasionada pela Caxumba; As parótidas infectadas são o sintoma mais característico da doença

A caxumba é uma infecção viral que afeta as glândulas salivares, sendo transmitida através da saliva contaminada. A doença pode ocasionar complicações sérias caso não seja tratada de forma correta, entre elas, a perda auditiva. [13]

Do mesmo modo que outras infecções virais, a caxumba pode provocar dano ao ouvido interno. Esse processo infecto-inflamatório pode acarretar uma perda auditiva parcial ou total, muitas vezes, irreversível. [14]

Tem predileção pela membrana de Reissner, membrana tectorial, stria vascularis e células basais do utrículo e sáculo. O vírus se dissemina pela estria vascular, depois para a perilinfa, produzindo fibrose intra labiríntica, com degeneração do órgão de Corti e comprometimento da região basal. Apresenta-se como uma perda auditiva importante, habitualmente do tipo sensorioneural, unilateral, com ocorrência de 5/100.000 nascidos vivos. [15] [16]

Ainda que a incidência de casos de perda auditiva em consequência da caxumba seja baixa, é importante estar atento a sintomas como sensação de pressão nos ouvidos, perda súbita de audição ou zumbido intenso, que podem apontar um comprometimento da audição devido a doença. [13]


Sarampo[editar | editar código-fonte]

Criança infectada pelo vírus causador do Sarampo

O sarampo é uma doença infecciosa grave e altamente contagiosa, provocada por um Morbilivirus, sua transmissão ocorre diretamente, de pessoa a pessoa, geralmente por tosse, espirros, fala ou respiração, por isso a facilidade de contágio da doença. Além de secreções respiratórias ou da boca, também é possível se contaminar através da dispersão de gotículas com partículas virais no ar, que podem perdurar por tempo relativamente longo no ambiente, especialmente em locais fechados como escolas e clínicas. [17] [18]

O sarampo pode ser caracterizado pela presença de sintomas como tosse seca, febre alta (39-40ºC), mal-estar, coriza, odinofagia, conjuntivite com lacrimejo, manchas de Koplik, e a característica erupção cutânea (exantema). [17]

Dentre as complicações sequenciais da doença, a mais frequente é a otite média aguda, ocorrendo em cerca de 1 criança em 10. Antes da vacinação, o sarampo contava entre 5 a 10% dos casos de surdez profunda. Atualmente, continua a ser uma causa de surdez profunda em áreas que não têm acesso à vacinação. A surdez decorrente da infecção pelo vírus do sarampo é habitualmente bilateral e simétrica, neurossensorial, moderadamente severa à profunda. No entanto, pode também ser mista, ou de condução. [17]

A suscetibilidade ao vírus do sarampo é geral e a única forma de prevenção é a vacinação. Apenas os lactentes cujas mães já tiveram sarampo ou foram vacinadas possuem, temporariamente, anticorpos transmitidos pela placenta, que conferem imunidade geralmente ao longo do primeiro ano de vida (o que pode interferir na resposta à vacinação). Por ser uma doença potencialmente grave, em gestantes, pode provocar aborto ou parto prematuro. [17] [18]


Rubéola[editar | editar código-fonte]

Erupções cutâneas causadas pelo vírus da rubéola nas costas de uma criança.

A rubéola é uma doença infecto-contagiosa de etiologia viral, caracterizada pela erupção na pele, inflamação das glândulas e dores nas articulações (especialmente nos adultos); transmissível através de gotículas de secreções respiratórias dos doentes, urina, líquido amniótico e placenta. [19]

Atualmente, a doença ainda acomete gestantes; o vírus infecta a placenta e é transmitido para o feto, espalhando-se para múltiplos órgãos e tecidos, sendo que, quanto mais próximo da concepção maior é o dano produzido. O período crítico de aquisição da rubéola é da 4ª a 8ª semana de gestação, época da organogênese e desenvolvimento do sistema auditivo. [19]

A doença é principalmente perigosa em sua forma congênita. Neste contexto, pode ocasionar sequelas irreversíveis no feto como: glaucoma, catarata, malformação cardíaca, retardo no crescimento, surdez entre outras; [20]

A rubéola se apresenta como uma das mais importantes causas pré-natal da deficiência auditiva infantil, sendo responsável por 74,0% das etiologias congênitas. Causa perda auditiva sensorioneural súbita em frequências médias, de intensidade moderada à grave e pode gerar modificações cócleo-saculares, colapso da membrana de Reissner, da stria vascularis, do órgão de Corti e da membrana tectória. [16]


Citomegalovírus[editar | editar código-fonte]

Inclusão intranuclear típica de "olho de coruja" indicando infecção por CMV de um pneumócito pulmonar.

O Citomegalovírus é um β herpesvírus humano ubíquo e de alta prevalência em todo o mundo. A transmissão ocorre através do contato  com  fluidos  biológicos,  como:  saliva,  sêmen, secreção vaginal,  urina  e  leite  materno,  e também por  via  transplacentária, transfusão  sanguínea  ou  transplante  de  órgãos.  A  maioria dos indivíduos    infectados    pelo    CMV    permanece    assintomática, entretanto,  alguns  pacientes,  principalmente  os  imunossuprimidos, podem desenvolver infecção com sinais clínicos graves, a exemplo dos  transplantados,  HIV  positivos,  recém-nascidos  ou  leucêmicos. [21]

A infecção por citomegalovírus é a causa mais prevalente de surdez neurossensorial congênita adquirida. Aproximadamente 0,5 a 1% de todos os recém-nascidos sejam infectados pelo citomegalovírus como resultado de infecção congênita. 10 a 15% dos recém-nascidos são sintomáticos e apresentarão danos ao seu desenvolvimento. Destes, até 90% podem evoluir com sequelas neurológicas e 50 a 70% com surdez neurossensorial bilateral e profunda. Para as crianças infectadas que não apresentam sintomas, uma entre dez desenvolve perda auditiva e normalmente apenas um ouvido é infectado. E as crianças que apresentam sintomas do vírus, um terço delas, sofrem de perda auditiva e serão afetadas bilateralmente. [22]

Entre os sintomas do vírus do citomegalovírus encontra-se febre, sensação de indisposição, perda de apetite, dores musculares, erupção cutânea e dor de garganta. Também pode levar a dor de cabeça, tosse, dor no peito, falta de ar, urticária, icterícia, problemas de visão e rigidez do pescoço. Em relação aos sintomas do recém nascido estão olhos amarelos, manchas roxas na pele, peso baixo no nascimento, aumento do baço ou fígado. [21]

A surdez pode aparecer de forma mais tardia, podendo ser manifestada até aos 5 anos de idade, e ser acompanhada de sequelas neurológicas, o que acarreta um grande prejuízo no desenvolvimento global da criança, tanto auditivo quanto cognitivo. [22]


Referências

  1. Vieira,

    Andrêza Batista Cheloni; Mancini, Patrícia; Gonçalves

    , Denise Utsch. «Doenças infecciosas e perda auditiva» (1): 102–106. Consultado em 8 de outubro de 2022
     
  2. «Meningite». Secretaria da Saúde. Consultado em 8 de outubro de 2022 
  3. Alves, BIREME / OPAS / OMS-Márcio. «Meningite | Biblioteca Virtual em Saúde MS». Consultado em 8 de outubro de 2022 
  4. a b c Marques, Viviane. «Meningite». Consultado em 8 de outubro de 2022 
  5. Saúde, Fleury Medicina e (10 de março de 2010). «Depois de uma meningite bacteriana, não se esqueça de checar a audição › Artigos». Fleury Medicina e Saúde (em Portuguese). Consultado em 8 de outubro de 2022 
  6. «Toxoplasmose». Ministério da Saúde. Consultado em 8 de outubro de 2022 
  7. a b c d Filho, Carlos Alberto Leite; et al. (2017). «Hearing loss in children exposed to toxoplasmosis during their gestation». Revista CEFAC. Consultado em 11 de outubro de 2022 
  8. Andrade, Gláucia Manzan Queiroz de; Resende, Luciana Macedo de; Goulart, Eugênio Marcos Andrade; Siqueira, Arminda Lucia; Vitor, Ricardo Wagner de Almeida; Januario, José Nelio (fevereiro de 2008). «Deficiência auditiva na toxoplasmose congênita detectada pela triagem neonatal». Revista Brasileira de Otorrinolaringologia: 21–28. ISSN 0034-7299. doi:10.1590/S0034-72992008000100004. Consultado em 8 de outubro de 2022 
  9. Eugênio, Bianca Cristina (14 de dezembro de 2016). «Efeitos auditivos da toxoplasmose adquirida experimental em camundongos BALB/c». Consultado em 8 de outubro de 2022 
  10. «Sífilis: O que é, sintomas, tratamentos e causas.». www.rededorsaoluiz.com.br. Consultado em 8 de outubro de 2022 
  11. a b «Sífilis e Deficiência Auditiva». Saúde Naval (em bretão). 17 de outubro de 2018. Consultado em 8 de outubro de 2022 
  12. a b Ribeiro, Georgea Espindola; Silva, Daniela Polo Camargo da; Montovani, Jair Cortez; Martins, Regina Helena Garcia (22 de novembro de 2021). «Impacto da exposição à sífilis materna no sistema auditivo de recém-nascidos». Audiology - Communication Research. ISSN 2317-6431. doi:10.1590/2317-6431-2021-2496. Consultado em 8 de outubro de 2022 
  13. a b «Saiba quando a caxumba pode causar perda auditiva». CEMA Hospital. Consultado em 8 de outubro de 2022 
  14. «Pró-Otorrino - CAXUMBA PODE CAUSAR PREJUÍZO AUDITIVO? 🤔». www.prootorrinomaringa.com.br. Consultado em 8 de outubro de 2022 
  15. «Surdez súbita secundária a caxumba: relato de caso» (PDF). Revista Científica Multidisciplinar Núcleo do Conhecimento. 6 de maio de 2019. Consultado em 8 de outubro de 2022 
  16. a b Morales, Teolina Mendonza; et al. «Surdez Viral na Infância» (PDF). V Manual de Otorrinolaringologia da IAPO. Consultado em 8 de outubro de 2022 
  17. a b c d Marques, Sara Cipriano Salvador (2019). «Relação entre sarampo e surdez» (PDF). Consultado em 8 de outubro de 2022 
  18. a b Varella, Dr Drauzio (13 de abril de 2011). «Sarampo». Drauzio Varella. Consultado em 8 de outubro de 2022 
  19. a b Dias, Ana Lúcia Pereira de Andrade; Mitre, Edson Ibrahim (2009). «A imunização contra a rubéola no primeiro trimestre de gestação pode levar à perda auditiva?». Revista CEFAC: 12–17. ISSN 1516-1846. doi:10.1590/S1516-18462008005000008. Consultado em 8 de outubro de 2022 
  20. Administrator. «Rubéola: sintomas, transmissão e prevenção». Bio-Manguinhos/Fiocruz || Inovação em saúde || Vacinas, kits para diagnósticos e biofármacos. Consultado em 8 de outubro de 2022 
  21. a b Matos, Sócrates Bezerra de (16 de maio de 2011). «Citomegalovírus: uma revisão da patogenia, epidemiologia e diagnóstico da infecção». Revista Saúde.com (1): 44–57. ISSN 1809-0761. Consultado em 8 de outubro de 2022 
  22. a b Lamounier, Pauliana; et al. (2021). «Perda auditiva associada a manifestações neurológicas do citomegalovírus congênito: relato de caso». Brazilian Journal of Development. Consultado em 8 de outubro de 2022 




AUDIOLOGIA EDUCACIONAL[editar | editar código-fonte]

Avaliação das Habilidades Auditivas e de Linguagem[editar | editar código-fonte]

Introdução[editar | editar código-fonte]

O desenvolvimento das habilidades auditivas e de linguagem ocorrem nos primeiros anos de vida, pois a maturação do sistema auditivo central ocorre neste período, proporcionando o maior período de neuroplasticidade da vida humana, assim permitindo o estabelecimento de novas conexões neurais que são de extrema importância para um desenvolvimento típico da audição e da linguagem, por esta razão este período é considerado crítico para a aquisição de habilidades auditivas e de linguagem. [1]

Tendo ciência de que a audição9 faz parte da linguagem, os desenvolvimentos da fala estão relacionados de forma condicional ao surgimento das habilidades auditivas. Por isso, o acompanhamento do processo da audição de crianças em desenvolvimento em idade escolar é necessário, pois o desempenho típico dos processos auditivos periféricos e centrais permitem que as funções de  receber, transmitir, perceber, relembrar os sons e integrar as experiências sonoras, promovam a comunicação e interação social. [1]

A qualidade do desenvolvimento da aprendizagem está diretamente ligada à maturação das habilidades auditivas, pois a forma que entendemos e percebemos as mensagens que estão sendo transmitidas é um fator decisivo para o desenvolvimento da linguagem oral e escrita. Sendo assim necessário que as habilidades de detecção, discriminação, localização, reconhecimento e compreensão dos sons estejam íntegras, assim como a sensação, memória para os sons e atenção, para que ocorra um bom desempenho no desenvolvimento da alfabetização. [1]

Relação das Habilidades Auditivas com a Linguagem[editar | editar código-fonte]

Com o desenvolvimento das habilidades auditivas, ocorre a melhora no processo da linguagem oral bem como da compreensão e ajuda principalmente as crianças, a dar significado ao mundo. [2]

O completo funcionamento das estruturas responsáveis pela audição é de suma importância para aquisição e desenvolvimento da linguagem. A criança apenas estará apta para abranger e reconhecer a fala após compreender, entender, detectar, discriminar, localizar sons, memorizar e integrar as experiências auditivas. [2]

Uma pequena alteração na via auditiva faz com que a criança apresente dificuldades não só para ouvir, mas para compreender e entender os sons aos quais entra em contato, ocasionando grandes prejuízos na aquisição e desenvolvimento da linguagem. [2]

O que é e quais são as Habilidades Auditivas[editar | editar código-fonte]

As habilidades de processamento auditivo são funções do sistema nervoso auditivo central executadas para compreendermos e utilizarmos os sons que recebemos, de maneira eficiente e efetiva. [3]


As habilidades auditivas são: [2]

Detecção: Habilidade perceber a ausência e presença de som

Discriminação: Discriminar dois ou mais estímulos sonoros;

Figura Fundo: Habilidade de compreender sons de fala em presença de outros sons competitivos.

Reconhecimento: Identificar o som e a fonte sonora com a capacidade de nomear e/ou classificar o som que ouviu

Localização: Habilidade de localizar onde está origem sonora

Fechamento: Habilidade de compreender o todo quando parte da informação sonora está ausente ou distorcida

Sensação sonora: Habilidade de perceber a intensidade, frequência e duração de um som

Compreensão: É o ato de estabelecer relações entre o estímulo sonoro produzido de outros ambientes a do seu próprio comportamento

Memória: Habilidade de armazenar diferentes estímulos auditivos

Síntese ou integração Binaural: Habilidade para reconhecer estímulos sonoros diferentes, apresentados de forma não simultânea, mas complementares ou em sequência em ambas as orelhas

Atenção: Acompanha um estímulo mesmo que atenção primária esteja em outro estímulo.

Como avaliar as Habilidades Auditivas[editar | editar código-fonte]

Inicialmente, por meio de uma triagem escolar e avaliação simplificada do processamento auditivo, procedimentos de fácil aplicabilidade, onde é possível identificar facilmente as dificuldades encontradas na criança. Estas, podem ser encaminhadas para uma avaliação mais detalhada e possível estimulação das habilidades auditivas. [2]

É fundamental salientar a importância de como desenvolver essas habilidades auditivas através de atividades de múltiplas escolhas, iniciando com onomatopeias, vogais, consoantes, palavras, frases, quando estiver numa fase mais avançada, o paciente deve repetir o que ouviu, estimulando assim a compreensão. [2]

Qualquer alteração em uma das habilidades auditivas pode trazer comprometimento e interferir na comunicação do indivíduo. Dessa forma, diante de alguma dificuldade é necessário procurar um profissional capacitado. [2]

Desenvolvimento da Linguagem[editar | editar código-fonte]

A partir da intenção comunicativa, surgem diversos métodos de interação social na vida animal, sendo que o mais complexo é encontrado na vida humana: a linguagem. Tendo por critérios para seu surgimento a aquisição de habilidades auditivas, a linguagem também é construída com base em um cérebro pronto para ser modelado. Desta forma, a aquisição da linguagem depende de fatores pré-linguísticos que acontecem desde a vida intrauterina até a maturação da linguagem onde será compreendida em três principais esferas:  forma, conteúdo e uso. [4] [5] [6] [7]

Em uma situação de diálogo, dois interlocutores trocam mensagens através de códigos. Essa cena é possível graças às habilidades auditivas, cognitivas, conhecimento individual entre outras que resultam na escuta, compreensão e emissão de devolutiva que se dá a partir do juízo feito por cada um dos interlocutores. Para a devolutiva, o falante deverá organizar suas palavras adequadamente de acordo com a forma, visto que as diversas línguas existentes possuem características de encadeamento e pronúncias lógicas próprias, conteúdo, condizente ao sentido e significado, e uso, que deve estar de acordo com o contexto. [4] [5] [6] [7]

Habilidades de Linguagem[editar | editar código-fonte]

Morfologia: Trata-se da capacidade de manipular e a adequação de palavras, no tocante a forma, baseada no conhecimento prévio de formação de palavras. [5]

Sintaxe: Também referente a forma, a habilidade morfossintática possibilita a construção de frases em uma cadeia de códigos da linguagem (palavras, interjeições, conjunções etc) padronizada pela língua sendo, portanto, aceitável e compreensível. [5] [8] [9] [10]

Semântica: Estando na esfera do conteúdo, trata-se da escolha de palavras a partir do sentido dessas. Quanto maior o vocabulário de uma pessoa, mais riqueza semântica ela tem; possibilitando o uso de diversos sinônimos e das mesmas palavras em seus diferentes sentidos/valores semânticos. [5] [8] [10]

Pragmática: Referente ao uso, a pragmática se dá pela habilidade de usar palavras que condizem com o sentido de uma determinada situação. [4] [5] [8]

Fonologia: No campo cognitivo, a fonologia acontece pelo entendimento e encadeamento de sons da fala antes de sua emissão, o que é possível graças à consciência fonológica, a habilidade de quebrar o discurso em partes: palavras, grafemas e fonemas. Está na esfera da forma. [4] [5] [6] [7]

Fonética: Parte da forma, implica na articulação das palavras para a emissão dos sons da fala. [4] [5] [7]

Prosódia: Usando da modulação vocal, a prosódia confere habilidade de expressão de sentido, emoções e características sociais. [8]

Referências

  1. a b c Camargo, Gabrielle Fernand Garrido; et al. (2019). «Habilidades Auditivas por meio da avaliação simplificada do processamento auditivo em escolares». Consultado em 1 de novembro de 2022 
  2. a b c d e f g «Você sabe quais são as Habilidades Auditivas e Habilidades Linguísticas?». Site DO. Consultado em 2 de novembro de 2022 
  3. «9 Habilidades auditivas realizadas pelo cérebro | eauriz». www.eauriz.com.br. 16 de setembro de 2021. Consultado em 2 de novembro de 2022 
  4. a b c d e Mousinho, Renata; et al. (1 de setembro de 2008). «Aquisição e Desenvolvimento da Linguagem: Dificuldades que podem surgir neste percurso» (PDF). Scielo. Consultado em 2 de novembro de 2022 
  5. a b c d e f g h Costa, Letícia Pimenta; et al. (2011). «Distúrbios da fala e da linguagem na Infância» (PDF). Revista Med Minas gerais. Consultado em 2 de novembro de 2022 
  6. a b c Muszkat, Mauro; et al. «Neurodesenvolvimento e Linguagem» (PDF). larpsi.com.br. Consultado em 2 de novembro de 2022 
  7. a b c d Oliveira, Patrícia Santos; et al. (14 de setembro de 2014). «Desenvolvimento da Linguagem e deficiência auditiva: Revisão de Literatura». Consultado em 2 de novembro de 2022 
  8. a b c d Lopes, Leonardo Wanderley (2014). «Prosódia e Transtornos da Linguagem: Levantamento das publicações em periódicos indexados entre 1979 e 2009». Revista CEFAC. Consultado em 2 de novembro de 2022 
  9. DUARTE, Janaína Luciane (4 de novembro de 2009). «Análise das estratégias utilizadas em um grupo terapêutico pedagógico para auxiliar o desenvolvimento da linguagem escrita em crianças com deficiência auditiva». Consultado em 2 de novembro de 2022 
  10. a b Valentim, Ana Paula Batista. «A aquisição da linguagem». Consultado em 2 de novembro de 2022