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O camarão-de-água-doce, potiúna ou camarão-preto (Macrobrachium potiuna), é uma espécie de crustáceo de água doce endêmica do Brasil, sendo muito comum em riachos montanhosos de águas límpidas. É um animal de fácil manutenção e reprodução em aquários. Apresenta características especiais em relação aos mecanismos osmorreguladores e neuro-hormonais em relação a atividade dos cromatóforos em crustáceos.

Etimologia[editar | editar código-fonte]

Macrobrachium, em grego, significa makros (longo, grande) e brakhion (braço); potiuna, em tupi-guarani, significa poti (camarão) e una (negro).[1]

Origem e distribuição[editar | editar código-fonte]

Por ser de água doce, como um dos próprios nomes populares sugere, o potiúna tem presença basicamente continental sendo muito comuns, por algum motivo, em riachos com ligação ao mar. Uma tentativa de resposta para esse motivo, seria que seja uma espécie que na sua evolução migrou mais recentemente (leia-se muitos anos) para o continente, um fato que sustenta tal afirmação é que esta espécie de camarão possui mecanismos osmorreguladores bastante desenvolvidos, melhor que as espécies anfídromas (animais que mudam várias vezes o seu habitat de água doce para salgada durante seu ciclo de vida, geralmente por razões fisiológicas), suportando bem vários graus de salinidade na água. E ainda que, em seu ambiente natural, não fique exposto a tais variações, é capaz de resistir até 6 horas em ambiente marinho.[2]

A sua distribuição geográfica é, basicamente, subtropical. Já foi encontrado e coletado em todos os estados das regiões Sudeste e Sul, e mais recentemente no estado da Bahia. É uma espécie endêmica da fauna brasileira. Em relação a água e sua temperatura, os territórios que o M. potiuna está contido ao pela isoterma de 20°C em julho e ao sul pela isoterma de 10°C no mesmo mês. Em relação a altitude, já que é comum encontrá-los em riachos montanhosos, esta espécie tem sido coletada em locais de altitudes que variam entre poucos metros até as proximidades de 1.200 metros. Existem alguns poucos dados sobre a temperatura da água no momento exato da coleta dos camarões, no caso do camarão-preto, foram coletados em água com temperatura entre 15 e 21°C.[1][2]

Características[editar | editar código-fonte]

São animais de pequeno tamanho, machos (maiores da espécie) chegando até cerca de 55 mm e as fêmeas até 45 mm. Quando o indivíduo é jovem, seu corpo é transparente, e possui a capacidade de ter o mimetismo em graus variados, lembrando o camarão-escorpião (M. olfersii).Os machos desenvolvem características próprias, que facilitam ainda mais sua identificação, como diversos espínulos nas partes anterolaterais da carapaça, além disso, os machos mais dominantes desenvolvem uma cor vermelho/vinho escuro ou marrom-enegrecidos, sendo este a origem do seu nome. A mudança é tão brusca, até mesmo exagerada, que esta espécie serve de modelo para estudar a respeito dos mecanismos neuro-hormonais envolvidos na atividade dos cromatóforos em crustáceos. As fêmeas não desenvolvem esta coloração.[1]

Possuem o rostro reto e alto, relativamente longo, do comprimento aproximado do escafocerito. Margem superior quase reta, com 6~10 dentes equidistantes, o primeiro, ou os 2 primeiros antes da órbita. Margem inferior com 2~3 dentes. Os quelípodos dos machos são longos e algo espessos, com finos espinhos. Discreta assimetria. Dedos longos, do comprimento aproximado da palma. Carpo menor do que a palma, e tão longo quanto o mero.[1]

Dimorfismo sexual[editar | editar código-fonte]

Quanto ao tamanho do corpo e das garras: Os machos tendem a ser maiores, como garras também maiores.[1]

Quanto ao visual do corpo: As fêmeas, além de menores, apresentam pleuras abdominais arqueadas e alongadas que formam uma câmara de incubação para os ovos. Enquanto os machos possuem carapaça rugosa, podendo ocorrer o desenvolvimento de uma cor avermelhada escura.[1]

É possível diferenciar os sexos pela análise dos órgãos sexuais, como é feito na maioria dos mamíferos por exemplo, porém fazer isto é uma tarefa árdua em animais vivos pois ficam localizados internamente.[1]

Reprodução[editar | editar código-fonte]

O Macrobrachium potiuna é uma espécie de camarão de água doce que possui uma reprodução especializada (sem a necessidade de água salobra), podendo ser realizada em cativeiro sem dificuldades. E apesar da capacidade osmorreguladora, todo seu ciclo de vida é em água doce. Por sua reprodução ser especializada, gera poucos ovos elipsoides, porém, de grandes dimensões, sendo um dos maiores ovos dentre os Macrobrachium, medindo cerca de 2,5 mm. O número de ovos é bastante reduzido, uma média de 24 a 40 ovos.[1][2]

A temperatura externa e da água não tem relação direta com o período reprodutivo dos potiúnas, apesar disso, seu período reprodutivo é na primavera-verão, cujo pico é em Janeiro. O seu período de repouso se dá entre o outono e inverno. As fêmeas não ovígeras apresentam um comprimento menor em relação às fêmeas ovígeras. Enquanto as não ovígeras apresentaram um comprimento total variando entre 14,8 a 39,5 mm, as fêmeas ovígeras apresentaram um tamanho de 25,9 mm a 40,3 mm.[3]

Demora cerca de 7 semanas para os ovos se desenvolverem por completo, tempo considerado extenso. Em compensação, o tempo de desenvolvimento larvar é bem curto, cerca de 5 dias, passando apenas por 3 estágios. Os filhotes já nascem com maiores dimensões, a primeira fase de zoea (forma larval de um crustáceo) mede cerca de 4,1 mm. O seu comportamento é bentônico, passando a maior parte do tempo imóvel, no substrato. Não se alimentam até se tornarem pós-larvas, utilizando o material do seu saco vitelínico. Daí já aceitam alimentação inerte, o que leva a uma alta taxa de sobrevivência da prole, mesmo em aquários domésticos.[1]

O Macrobrachium potiuna foi a primeira espécie de Macrobrachium a a ter sua reprodução documentada. Aconteceu em 1880, por Müller (a época, o nome era Palaemon potiuna). Nesse documento, ele escreve a respeito dos os hábitos bentônicos desde o zoea, descreve os três estágios larvares, etc. A descrição subsequente de outra espécie foi quase 90 anos após o artigo de Müller.[1]

Comportamento[editar | editar código-fonte]

Possui uma agressividade média, não são tão passivos quanto os camarões-fantasmas (Macrobrachium jelskii) e, ao mesmo tempo, não são tão agressivos quanto os gigantes camarões-pitu (Macrobrachium carcinus), uma das maiores espécies de camarão de água doce do mundo. Em ambiente mais fechados, é um animal ativo que se movimenta bem pelo aquário, desde que não haja potenciais predadores. Além da capacidade de viver em pequenos grupos – desde que se forneçam tocas e esconderijos – e com os outros peixes maiores, porém pacíficos.[1]

Alimentação[editar | editar código-fonte]

Com certeza você já ouviu falar que o camarão seria uma “barata-do-mar”, porque ele seria um “faxineiro do mar”. Afinal, na sua alimentação, cabe de tudo. E no caso dos camarões pretos, comem desde algas a restos de ração dos peixes, além de animais mortos ( incluindo até outros camarões). Então, ele é – de fato – um “faxineiro”, porque sai por aí coletando restos de alimentos em locais que outros animais não conseguem alcançar.[1]

Porém, não se pode compará-los como se fosse uma barata-do-mar, pois além de ser um outros animal (Ligia oceânica), o camarão não possui nenhuma relação relevante ao ponto de serem considerados tão próximos com essas baratas que encontramos nos dia a dia. Apesar de ambos organismos serem do filo Arthropoda, a barata comum pertence à classe Insecta e os camarões à classe Malacostraca (fora o fato de ser do subfilo Crustacea), ou seja, possuem um ancestral comum tão longínquo que não é coerente colocá-los como próximos.

Estrutura populacional[editar | editar código-fonte]

  • A razão sexual é de 1:1.[4]
  • Houve um predomínio de indivíduos imaturos nos meses em que a temperatura da água não ultrapassou 21 °C sugere a íntima relação entre esse fator abiótico e o crescimento desses indivíduos. Assim, águas mais frias apresentam maiores níveis de oxigenação e podem favorecer maiores taxas metabólicas, propiciando um melhor desenvolvimento desses organismos.[4]
  • A seleção natural pode favorecer machos maiores se esses apresentam vantagens sobre os demais, seja na competição por fêmeas receptivas ou mesmo para maximizar as chances de cópulas bem sucedidas.[4]
  • O crescimento entre os sexos mostra-se similar até a maturidade, podendo a partir daí tornar-se mais lento em fêmeas, devido a um prolongamento do período de intermuda e um menor incremento em comprimento, o que está relacionado a um maior investimento energético para processos de produção e incubação dos ovos.[4]
  • A obtenção de uma menor proporção de fêmeas, durante o início do período reprodutivo está possivelmente associada ao fato de que as formas ovígeras refugiam-se em determinados locais, na tentativa de tornarem-se menos susceptíveis aos predadores.[4]
  • Uma maior abundância de fêmeas ovígeras no verão e na primavera caracteriza a ocorrência do período reprodutivo da espécie. Por outro lado, a presença de um maior número de machos na primavera, sugere que tais indivíduos tornam-se mais susceptíveis à captura, enquanto estão à procura de fêmeas.[4]

Referências[editar | editar código-fonte]

  1. a b c d e f g h i j k l «- - Planeta Invertebrados Brasil -». www.planetainvertebrados.com.br. Consultado em 30 de janeiro de 2020 
  2. a b c Coelho, Petrônio Alves; Ramos-Porto, Marilena (1984). «Camarões de água doce do Brasil: distribuição geográfica». Revista Brasileira de Zoologia. 2 (6): 405–410. ISSN 0101-8175. doi:10.1590/S0101-81751984000200014 
  3. Antunes, Luciana dos Santos; Oshiro, Lídia Miyako Yoshii (2004). «Aspectos reprodutivos do camarão de água doce Macrobrachium potiuna (Müller) (Crustacea, Decapoda, Palaemonidae) na Serra do Piloto, Mangaratiba, Rio de Janeiro, Brasil». Revista Brasileira de Zoologia. 21 (2): 261–266. ISSN 0101-8175. doi:10.1590/S0101-81752004000200015 
  4. a b c d e f Mattos, Luciana Antunes de; Oshiro, Lídia Miyako Yoshii (2009). «Estrutura populacional de Macrobrachium potiuna (Crustacea, Palaemonidae) no Rio do Moinho, Mangaratiba, Rio de Janeiro, Brasil». Biota Neotropica. 9 (1): 0–0. ISSN 1676-0603. doi:10.1590/S1676-06032009000100010