Usuário:Dbastro/Lienzo

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Tela' é um tecido de linho, algodão ou cânhamo, que geralmente serve como suporte às artes pictóricas, daí que também se chame tela ao conjunto da obra pictórica, uma vez plasmada sobre a tela. O termo "tela", mesmo no sentido de "suporte de uma imagem", pode se referir a diferentes objetos, como a tela de projeção, telas de televisão ou mesmo a tela de vela.

História[editar | editar código-fonte]

Sobre tela pintou-se já na Antiguidade, como atesta a referência de Plínio o Velho a um retrato de Nero executado sobre uma tela com mais de trinta metros. Não obstante, conservam-se poucas pinturas sobre tela anteriores ao século XIV, tanto por ser mais escassas, como pelo facto de que se pintava sobre tela temas profanos, como bandeiras ou decorações festivas, o que determina que não se conservassem.

Um dos óleos sobre tela mais antigos que se conservou é o quadro francês Virgem com anjos, datado ao redor de 1410 que se conserva na Gemäldegalerie de Berlim, o que é também uma data muito temporal para uma pintura ao óleo. No entanto, a pintura sobre painel seguiu sendo mais habitual até o século XVI em Itália e o XVII no Norte de Europa. Mantegna e os artistas venezianos estiveram entre os que lideraram a mudança. Tinham a sua disposição tela de velas (barcos) venezianas e consideravam-se da melhor qualidade.

A partir do Renascimento, generalizou-se o uso deste suporte, que pode se considerar o de mais sucesso na história da pintura. Em lugares como a Veneza do século XVI, a tela avantajou ao fresco por ser mais resistente ao frio e a humidade do inverno. Mas a principal vantagem comparativa da tela em frente aos dois suportes anteriores no tempo (o muralismo e a pintura sobre painel) é sua leviandade, que permite o transportar facilmente e conseguir grandes formatos com suportes mais ligeiros. Desta maneira, expandiu-se sua comercialização. Também permitiu que a arte da pintura se convertesse em botim de guerra, como ocorreu com a tomada do castelo de Praga pelos suecos em 1648, no curso da Guerra dos Trinta Anos ou os saques de pintura italiana pelos exércitos napoleónicos.

Características e uso[editar | editar código-fonte]

Telas de madeira.
Tela com um marco em seu interior.
Vista posterior de uma estrutura em construção, suporte de madeira sobre o que tensar a tela.

Dependendo das características da tela, sua fragilidade, ou o relevo da urdimbre e a trama cruzados, a superfície pictórica é diferente e também é diferente o resultado. No século XV utilizou-se uma tela fina, chamada tela rensa. No século XVI, em mudança, a teia era de tecido cruzado, mais basta. As telas clássicas para tela provêm de duas plantas diferentes: o linho e o algodão. A tela de linho está considerada a melhor tela que existe, forte, difícil de romper, com textura variável, que vai desde o muito suave ao áspero; é também a mais cara e tem o inconveniente de destensar-se com o tempo húmido. As primeiras telas eram de linho, um material marronáceo resistente de considerável força. O linho é particularmente adequado para o uso de pintura ao óleo. O linho está composto de material de alta qualidade, e segue sendo popular com muitos artistas profissionais, especialmente entre aqueles que trabalham com pintura ao óleo.

O algodão, por sua vez, é uma boa alternativa ao linho, ainda que segue sendo caro; se tensa facilmente e não lhe afectam tanto as mudanças climatológicos. A princípios do século XX, a tela de algodão, ao que com frequência se refere como dril de algodão, se pôs de moda. A tela de algodão, que se estica mais e tem um tecido igualado e mecânico que o linho, oferece uma alternativa mais económica. Ainda que as telas de algodão apresentam um problema, e é que é demasiado absorvente. A chegada da pintura acrílica tem incrementado grandemente a popularidade e o uso de telas de algodão. Bem mais barata é a tela de serapilheir, musselina, percal ou cânhamo, que pode se fixar sobre tabuleiros de madeira, dado que não têm textura fechada suficiente para ser tensados. Sobre ela se pintou ao tempere, ao óleo ou com acrílico. Desde o Renascimento até ao século XX geralmente pintou-se ao óleo, pois a tela está considerada o melhor suporte para pintar ao óleo.

A tela pode estar fixada mediante adesivo a um suporte sólido, que é o que se fez primitivamente, tensando as telas sobre tabelas. Mas o tradicional é que se fixe sobre uma estrutura, marco de madeira reforçado no centro por dois montantes e ao que se fixava a tela mediante cordéis que se atam às espigas que rodeiam a borda do marco. A partir do século XVIII a tela deixou-se unida à estrutura. No século XIX começaram-se a produzir estruturas industriais em série. Para tensar mais a tela podem-se introduzir pequenas cunhas de madeira nos cantos. Usando a estrutura, a tela fica suficientemente tensa para poder pintar sobre ela. Dependendo da forma da estrutura, assim será o quadro: bem apaisado (mais largo que alto), bem vertical (mais alto que largo). Ainda que geralmente tem forma de rectângulo, ocasionalmente trabalharam-se outras, como os tondos (quadros em forma redonda, por exemplo, a Alegoria da Indústria de Goya) ou os shaped canvas de alguns expressionistas abstratos como Barnett Newman.

A tela prepara-se mediante um primário, para evitar que a pintura ao óleo entrasse em contacto directo com as fibras da tela, o que faria que a tela se deteriorasse. Basicamente, trata-se de aplicar sucessivas capas de produtos químicos (cola, glicerina, óxido de zinco, etc.) até chegar a ter uma superfície lisa e geralmente branca sobre a que aplicar a pintura, geralmente, óleo. Uma pintura de primário tradicional de creta compõe-se de carbonato de chumbo e óleo de linhaça, aplicado sobre um fundo de cola de pele de coelho; uma variação, usando pigmento branco de titânio e carbonato de cálcio é bastante quebradiço e tendente a cortar-se. A pintura de chumbo é venenosa, de modo que tem de manejar-se com cuidado. Atualmente estão disponíveis primários mais flexíveis e alternativas, sendo a mais popular pintura de látex sintético composto de dióxido de titânio e carbonato de cálcio, unidos com uma emulsão termo-plástica.

Existem no mercado pequenos telas preparadas que estão colados a um cartão, conquanto estão disponíveis só em determinados tamanhos e não estão livres de ácido, pelo que sua vida é extremamente limitada. Usam-se normalmente para rápidos estudos ou esquemas. Também estão disponíveis telas já com pintura primária e sobre estrutura, que são adequados para todos os pintores salvo os mais profissionais. Estão disponíveis numa variedade de dimensões e pesos. Estão preparados com dois ou três capas de primário e podem usar-se nada mais sacar do pacote. Os artistas que desejam um maior controle de seu suporte com frequência lhe acrescentam uma capa ou duas do seu primário favorito. Os artistas profissionais que desejam trabalhar sobre tela podem preparar sua própria teia à maneira tradicional.

Uma das diferenças mais marcadas entre as técnicas de pintura modernas e as dos mestres flamengos e holandeses difere na preparação da tela. As técnicas «modernas» aproveitam tanto a textura da tela como a da própria pintura. Um artista novel com frequência encontra quase impossível conseguir o realismo da arte clássica, apesar da habilidade à hora de aplicar a pintura. De facto, os mestres renascentistas extremavam as precauções para assegurar que nada da textura da tela se evidenciara. Isto requeria um processo consciente, que durava meses, de ir pondo capas sobre a tela crua com, normalmente, pintura branca de chumbo, depois poliam a superfície, e depois repetiam o processo. O produto final parecia-se muito pouco a um tecido, e em seu lugar tinha um acabamento brilhante, como um esmalte. Ainda que isto pode parecer exagerado para o pintor moderno, é crucial se o que se pretende é conseguir um realismo fotográfico.

Com uma tela adequadamente preparada, o pintor encontrará que a cada capa posterior de cor se desliza pela superfície de maneira «manteigosa», e que com a consistência adequada de aplicativo (técnica gordura em lugar de magra), se pode conseguir uma pintura na que as pinceladas estão totalmente ausentes.

Para eliminar as arrugas do material, usa-se um ferro temperado, não quente, sobre uma peça de algodão húmido, ainda que a água quente na parte posterior também funciona. As telas também podem ser impressos digitalmente para criar lâminas sobre tela. Após a impressão, a tela pode colocar numa estrutura para sua exibição.

Ignorando toda a preocupação pela deterioração dos materiais, muitos artistas modernos, tais como Jackson Pollock, Kenneth Noland, Francis Bacon, Helen Frankenthaler, Dan Christensen, Larry Zox, Ronnie Landfield, artistas dedicados à «pintura dos campos de cor» e outros pintores modernos, com frequência recorrem a tela crua, sem primário, o que forma telas «choreantes» e efeitos de halo, como pode ver na obra de Frankenthaler.

Muitos destes pintores do expressionismo abstrato prescindiram da estrutura, estendendo as telas pelo solo ou fixando às paredes. E outros pintores posteriores, como por exemplo Lucio Fontana, têm atuado sobre a tela em si, o cortando ou o perfurando.

Referências[editar | editar código-fonte]

  • «Pintura», em Grande Enciclopédia das Ciências. Arte, págs. 58-60, Clube Internacional do Livro, 1990. ISBN 84-7758-304-8
  • Laneyrie-Dagen, N., «Suporte-los», em Ler a pintura, págs. 8-13, colecção Reconhecer a arte, Larousse, Barcelona, 2005 Spes Editorial, S.L. ISBN 84-8332-598-5
  • Sidaway, I., «Suportes», em Enciclopedia de materiais e técnicas de arte, págs. 106-119, Editorial Acanto, 2002. ISBN 84-95376-30-X
  • VV.AA., «A estrutura do quadro: Suportes» e «Fundos» em Enciclopedia Universal da Pintura e a Escultura, Vol. I, SARPE, 1982. ISBN 84-7291-377-5
  • VV.AA., «Suporte pictórico», em História da Arte, pág. 990, Ed. Anaya, 1986. ISBN 84-207-1408-9

Ligações externas[editar | editar código-fonte]

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