Zo d'Axa

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Zo d'Axa
Zo d'Axa
Nascimento Alphonse Gallaud de la Pérouse
24 de maio de 1864
Paris, França
Morte 30 de agosto de 1930 (66 anos)
Marselha, França
Sepultamento Cemitério de Montmartre
Cidadania França
Alma mater
Ocupação jornalista, aventureiro, pintor, anti-militarista, satirista, ativista anarquista
Empregador(a) L'En-Dehors
Escola/tradição Anarquismo, Individualismo
Principais interesses propriedade, liberdade, autoridade, justiça social, pobreza, sociedade.
Movimento estético anarquismo individualista

Alphonse Gallaud de la Pérouse, (Paris, 24 de maio de 1864Marselha, 30 de agosto de 1930[1]) mais conhecido como Zo d'Axa, foi um jornalista, escritor, ativista antimilitarista, pintor, aventureiro e satírico, fundador de dois importantes periódicos franceses L'EnDehors e La Feuille. Foi também um dos mais notáveis anarquistas individualistas da virada do século XIX ao XX.[2]

Biografia[editar | editar código-fonte]

Zo d'Axa nasceu em Paris no dia 24 de maio de 1864. Filho de uma família de classe média descendente do famoso navegador francês Jean-François de Galaup conde da Pérouse. Juntou-se ao exército, mais especificamente a cavalaria aos 18 anos com o intuito de se afastar da sua família. Percebendo um pouco depois o equívoco desertou para a Bélgica levando consigo a amante do oficial que lhe era superior.[3]

Em 1889 d'Axa foi expulso da Bélgica exilado na Itália. Em território italiano dirigiu um jornal ultra-católico e dedicou seu tempo livre para seduzir as mulheres da região.[4] Reza a lenda popular que durante seu tempo na Itália d'Axa estava hesitante entre se tornar um anarquista ou missionário religioso quando fora acusado (erroneamente, diria ele) de ter insultado a Imperatriz da Alemanha, tornando-se um anarquista diante dos processos legais subsequentes contra ele.[5]

"ele era um tipo de condotieri socialista, um dandy, um libertino, e aventureiro natural. Ernest La Jeunesse o apelidara de Recruta Restaurante
— Jules Bertaut, Paris 1870-1935, 2007.[4]

Passou os anos seguintes sendo perseguido pela polícia de país em país, até que fora assinada a anistia geral na França e pode retornar para Paris.[4] Até aquele momento, tendo levado nos termos do historiador Jules Bertaut "uma das vidas mais irreputáveis", e ser um agitador por temperamento, d'Axa se aproximou do movimento anarquista.[4]

L'Endehors, exílio na Inglaterra[editar | editar código-fonte]

Desenho de Zo d'Axa por Jules Alexandre Grün publicado na revista La Plume em 1 de abril de 1893.

Em maio de 1891 Zo d'Axa publicou o primeiro número do posteriormente famoso periódico libertário L'EnDehors. Esta revista contou com muitos colaboradores, entre eles grandes anarquistas como Jean Grave, os communards Louise Michel e Fortuné Henry, Sébastien Faure, Octave Mirbeau, Tristan Bernard e Émile Verhaeren.[4]

Após a publicação de alguns números d'Axa e L'EnDehors tornaram-se alvo das autoridades. Após os ataques e a detenção de Ravachol e seus companheiros, uma campanha para angariar recursos para a família dos presos foi organizada por d'Axa e outros colaboradores. Aliado aos artigos ácidos contra o autoritarismo do estado francês, a campanha foi a gota d'água esperada pela reação. d'Axa foi preso e trancafiado na prisão de Mazas por um mês.[3]

Após ser liberado ele ainda estava sendo processado e escolheu se exilar na Inglaterra. Estabelecendo-se na cidade de Londres encontrou-se com Camille Pissarro e James Whistler, escrevendo também inúmeros panfletos anarquistas. Decidiu viajar pela Europa sendo expulso da Itália, foi para a Grécia e depois para Constantinopla.[3]

Segunda prisão, o caso Dreyfus e o asno Ninguém[editar | editar código-fonte]

Capa do livro De Mazas à Jerusalém de 1894.

Em 1 de janeiro de 1893, quando desembarcava em Jafa d'Axa foi preso e colocado em ferros em um navio francês para ser levado de volta a Paris. Acabou aprisionado por 18 meses na prisão de Sainte Pelagie. Após sua liberação ele publicou seu livro De Mazas à Jerusalem, que tornou-se rapidamente um grande sucesso.[6]

Em 1898 Zo D'Axa se envolveu no caso Dreyfus, publicando "La Feuille," uma revista ilustrada por Steinlen, Maximilien Luce, Willette, Paul Hermann e outros. Seu grande sucesso foi a apresentação de um asno chamado "Ninguém" durante as eleições para a Câmara de Deputados que, através da contagem dos votos brancos e nulos, foi declarado eleito pela "La Feuille" após uma memorável passeata pelas ruas de Paris que acabou em confronto entre os "partidários do asno" e os promotores da "lei e da ordem".[3]

"Vocês estão sendo enganados! Foi dito que a Câmara dos deputados, composta por imbecis e ladrões, não representa a maioria dos votantes. Isso é falso! Pelo contrário, uma Câmara formada por deputados que são idiotas e ladrões representa perfeitamente os eleitores que vocês são. Não protestem; uma nação têm os líderes que merece!"
— Zo d'Axa, Vocês não passam de idiotas

Posteriormente d'Axa visitaria ainda a China, a África e a América do Norte. Nos Estados Unidos encontraria com a viúva de Gaetano Bresci, o assassino do rei Humberto I da Itália.

Após retornar para França, Zo d'Axa passou seus últimos anos em Marselha onde se suicidou no dia 30 de agosto de 1930.

Pensamento[editar | editar código-fonte]

Enquanto individualista e esteta, d'Axa justificava o emprego da ação direta violenta, concebendo a propaganda pelo Ato, violenta ou não, ela própria como um tipo de arte.[7] Anarquistas — ele escrevera — não têm necessidade de distantes futuros melhores, pois sabem que a melhor forma de alcançar imediatamente o prazer: destruindo apaixonadamente![8] "É suficientemente simples.", d'Axa proclamou aos seus contemporâneos, "Se nossos voos extraordinários (nos fugues inattendues) lançam as pessoas um pouco além, a razão pela qual isso acontece é porque falamos sobre as coisas do cotidiano como os bárbaros primitivos fariam, nós as atravéssamos."[9]

D'Axa era um boêmio que "adorava seu status de outsider",[7] e defendia um estilo de vida anticapitalista de bandidos anarquistas itinerantes precursor dos ilegalistas e expropriadores franceses.[10] Ele expressava desprezo pelas massas (que em sua perspectiva era formada por multidões de submissos e obedientes) e ódio por seus governantes.[11] Ele foi um importante interprete anarquista da filosofia do anarco-individualista Max Stirner,[12] um defensor de Alfred Dreyfus que não se cansava de ironizar todas as formas de antissemitismo. Foi também um ativista anti-carcerário lutando ininterruptamente contra o confinamento das prisões e penitenciárias.

Sua obra tem sido redescoberta no início do século XXI principalmente por sua contraposição teórica a toda forma de trabalho assalariado e involuntário.[13]

Obra[editar | editar código-fonte]

Ver também[editar | editar código-fonte]

Referências

  1. «ZO D'AXA [GALLAUD Alphonse, Victor, dit] [Dictionnaire des anarchistes] - Maitron». maitron-en-ligne.univ-paris1.fr (em francês). Consultado em 28 de maio de 2019 
  2. S., R. (19 de agosto de 1900). «WHAT PARIS THINKS ABOUT; The Shah of Persia Contrasted with His Father. FRENCH ANARCHIST VIEWS Curiosity as to Policy of Italy's New King– Ravages of Yellow Fever in French Senegal.». The New York Times. Consultado em 26 de abril de 2008 
  3. a b c d «D'Axa na enciclopédia DailyBleed». Consultado em 13 de novembro de 2009. Arquivado do original em 15 de outubro de 2008 
  4. a b c d e Bertaut, Jules (2007). Paris 1870-1935. [S.l.]: Vincent Press. p. 131. ISBN 1406743666 
  5. Everett, Marshall (2003). Complete Life of William McKinley and Story of His Assassination. [S.l.]: Kessinger Publishing. ISBN 0766132293 
  6. Appletons' annual cyclopaedia and register of important events. New York: D. Appleton and company. 1894. 290 páginas. OCLC 6514833 
  7. a b Weisberg, Gabriel (2001). Montmartre and the Making of Mass Culture. New Brunswick: Rutgers University Press. ISBN 0813530091 
  8. Sonn, Richard (1989). Anarchism and Cultural Politics in Fin-De-Siècle France. Lincoln: University of Nebraska Press. ISBN 0803241755 
  9. Grand, Sarah (2000). Sex, Social Purity, and Sarah Grand. New York: Routledge. ISBN 0415214114 
  10. Parry, Richard (1987). The Bonnot Gang. London: Rebel Press. 53 páginas. ISBN 0946061041 
  11. Patsouras, Louis (2003). The Anarchism of Jean Grave. Montreal: Black Rose Press. p. 86. ISBN 1551641844 
  12. Cohn, Jesse (2006). Anarchism and the Crisis of Representation. Selinsgrove Pa.: Susquehanna University Press. ISBN 1575911051 
  13. Beauzamy, Brigitte. "Danger : Work Arquivado em 8 de junho de 2011, no Wayback Machine.". European Consortium for Political Research, 2nd general conference. Marburg, Germany, September 18-21, 2003

Ligações externas[editar | editar código-fonte]

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