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'''Gastrosquise''' (do greco-latim ''squise'', fenda) também conhecida como '''paraonfalocele''', '''laparosquise''' ou '''abdominosquise''' é uma má-formação [[congênita]] caracterizada por defeito na formação da parede [[Abdome|abdominal]], permitindo que as vísceras abdominais, como [[estômago]] e intestinos, saiam por uma abertura. Quase sempre ocorre à direita da região umbilical.<ref name="Moore">Moore & Persaud. ''Embriologia Clínica''. 5ª edição. Pg. 238</ref>
'''Gastrosquise''' (do greco-latim ''squise'', fenda) também conhecida como '''laparosquise''' ou '''abdominosquise''' é uma má-formação [[congênita]] caracterizada por defeito na formação da parede [[Abdome|abdominal]], permitindo que as vísceras abdominais, como [[estômago]] e intestinos, saiam por uma abertura. Quase sempre ocorre à direita da região umbilical.<ref name="Moore">Moore & Persaud. ''Embriologia Clínica''. 5ª edição. Pg. 238</ref>


É diferente de uma [[onfalocele]] por não envolver o cordão umbilical e pelos órgãos não permanecem recobertos por [[peritônio]]. A onfalocele é geralmente mais ampla e mais grave do que a gastrosquise.
Diferente da [[onfalocele]], onde envolvimento do cordão umbilical e os órgãos permanecem protegidos, recobertos por [[peritônio]]; na gastrosquise, as vísceras abdominais ficam soltas, não membrana cobrindo os órgãos herniados, ficando portanto diretamente expostos ao líquido amniótico.


O nome "gastrosquise" é impróprio, já que a fenda é compromete a parede abdominal e não no estômago.<ref name="Moore" /> Laparosquise seria um nome mais apropriado.
== Causas ==
O uso de [[aspirina]]s na gravidez quadruplica as chances de gastrosquise.<ref>http://aje.oxfordjournals.org/content/155/1/26.full.pdf</ref> Outros fatores que contribuam para um baixo peso ao nascer como [[tabagismo]], uso de drogas recreativas, consumo regular de álcool, baixo [[índice de massa corporal]] e infecção genito-urinária também aumentam os riscos.<ref>Mastroiacovo P (2008). "Risk factors for gastroschisis". BMJ 336 (7658): 1386–7. doi:10.1136/bmj.39577.589699.BE. PMC 2432124. PMID 18558637.</ref>

Durante a quarta semana de desenvolvimento, as dobras laterais do corpo se movem ventralmente e se fundem na linha média para formar a parede anterior do corpo. A fusão incompleta permite que as vísceras abdominais saiam através da parede abdominal.


== Epidemiologia ==
== Epidemiologia ==
O defeito na formação do embrião geralmente ocorre na quarta semana de gestação, em que fechamento incompleto das pregas laterais. Geralmente, aparece do lado direito e é mais comum em indivíduos do sexo masculino.<ref name="Moore"/> Costumava estar estimado em 1 a cada 10.000 nascimentos, porém houve um aumento significativo nos últimos anos ou talvez aumentaram apenas o número de relatos.
O defeito na formação do embrião geralmente ocorre na quarta semana de gestação, quando ocorreria o fechamento incompleto das pregas laterais. Geralmente, se situa a direita do cordão umbilical e é mais comum em indivíduos do sexo masculino.<ref name="Moore" /> Costumava estar estimado em 1 a cada 10.000 nascimentos, porém houve um aumento significativo nos últimos anos.


Há uma maior incidência quando a mãe tem uma história de [[tabagismo]], uso de drogas recreativas, consumo regular de álcool, baixo [[índice de massa corporal]] ou alta frequência de infecção genito-urinária.<ref>Mac Bird T, Robbins JM, Druschel C, Cleves MA, Yang S, Hobbs CA et al. (2009). "Demographic and environmental risk factors for gastroschisis and omphalocele in the National Birth Defects Prevention Study". J Pediatr Surg 44 (8): 1546–51. doi:10.1016/j.jpedsurg.2008.10.109. PMID 19635303.</ref>
Há uma maior incidência quando a mãe tem uma história de [[tabagismo]], uso de drogas recreativas, consumo regular de álcool, baixo [[índice de massa corporal]] ou alta frequência de infecção genito-urinária.<ref>Mac Bird T, Robbins JM, Druschel C, Cleves MA, Yang S, Hobbs CA et al. (2009). "Demographic and environmental risk factors for gastroschisis and omphalocele in the National Birth Defects Prevention Study". J Pediatr Surg 44 (8): 1546–51. doi:10.1016/j.jpedsurg.2008.10.109. PMID 19635303.</ref>


== Tratamento após o nascimento ==
== Etimologia ==
O nome "gastrosquise" é impróprio, já que a fenda é formada na parede abdominal e não no estômago.<ref name="Moore" /> Abdominosquise é um nome mais apropriado.

== Tratamento ==
{{aviso-médico}}
{{aviso-médico}}
[[Ficheiro:Laparochisis Sagittal View.JPG|thumb|220px|Vista [[sagital]] de gastrosquise em ultrassom intra-uterino no segundo trimestre de gestação.]]
[[Ficheiro:Laparochisis Sagittal View.JPG|thumb|220px|Vista [[sagital]] de gastrosquise em ultrassom intra-uterino no segundo trimestre de gestação.]]


A cirurgia deve ser realizada logo após o nascimento e seu objetivo é recolocar os intestinos para dentro da cavidade abdominal e fechar a abertura da parede do abdome. Após a cirurgia o bebê pode precisar de auxílio respiratório (ventilação mecânica) e não pode receber alimentação por boca até que os intestinos voltem a funcionar normalmente.
Cirúrgico imediatamente após a cesária na 38 ou 39 semana de gestação, 90% das vezes exigindo mais de uma cirurgia. Com atendimento intensivo apropriado em hospital bem equipado o índice de sobrevivência é de cerca de 90%. A chance de sobrevivência é reduzida no caso de outras má-formações e complicações associadas.<ref>Santiago-Munoz PC, McIntire DD, Barber RG, Megison SM, Twickler DM, Dashe JS (2007). "Outcomes of pregnancies with fetal gastroschisis". Obstet Gynecol 110 (3): 663–8. doi:10.1097/01.AOG.0000277264.63736.7e. PMID 17766615.</ref>


Ainda existe muito debate sobre o melhor tipo de parto, ou seja, se a cesárea deveria ser indicada em todos os casos ou se o parto normal poderia ser uma opção<ref>{{Citar periódico|ultimo=Osmundo Junior|primeiro=Gilmar de Souza|ultimo2=Mohamed|primeiro2=Samirah Hosney Mahmoud|ultimo3=Nishie|primeiro3=Estela Naomi|ultimo4=Tannuri|primeiro4=Ana Cristina Aoun|ultimo5=Gibelli|primeiro5=Maria Augusta Bento Cicaroni|ultimo6=Francisco|primeiro6=Rossana Pulcineli Vieira|ultimo7=Brizot|primeiro7=Maria de Lourdes|data=2019-2|titulo=Association of spontaneous labor onset with neonatal outcomes in pregnancies with fetal gastroschisis: A retrospective cohort analysis|url=http://doi.wiley.com/10.1111/aogs.13473|jornal=Acta Obstetricia et Gynecologica Scandinavica|lingua=en|volume=98|numero=2|paginas=154–161|doi=10.1111/aogs.13473}}</ref>. Devido à necessidade de correção imediata, a cesárea talvez seja a melhor opção em maternidades onde não existe cirurgia pediátrica e portanto, o bebê tem que ser removido para outro hospital.
Basicamente o procedimento é cobrir as vísceras com uma camada protetora e recolocá-las devagar para dentro da cavidade abdominal e fechar a abertura com uma faixa adesiva.

Outra dúvida existe em relação a idade gestacional ideal para realizar o parto, alguns acreditam que antecipar o nascimento para 34 a 36 semanas de gestação, seria benéfico para o bebê, objetivando diminuir a inflamação consequente a exposição das alças ao líquido amniótico. Outros acreditam que aguardar até o fim da gravidez seria o melhor<ref>{{Citar periódico|ultimo=Osmundo Junior|primeiro=Gilmar de Souza|ultimo2=Mohamed|primeiro2=Samirah Hosney Mahmoud|ultimo3=Nishie|primeiro3=Estela Naomi|ultimo4=Tannuri|primeiro4=Ana Cristina Aoun|ultimo5=Gibelli|primeiro5=Maria Augusta Bento Cicaroni|ultimo6=Francisco|primeiro6=Rossana Pulcineli Vieira|ultimo7=Brizot|primeiro7=Maria de Lourdes|data=2019-2|titulo=Association of spontaneous labor onset with neonatal outcomes in pregnancies with fetal gastroschisis: A retrospective cohort analysis|url=https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/30264855|jornal=Acta Obstetricia Et Gynecologica Scandinavica|volume=98|numero=2|paginas=154–161|doi=10.1111/aogs.13473|issn=1600-0412|pmid=30264855}}</ref>.

O tempo de permanência internado depois da cirurgia varia dependendo da complexidade do caso, entre 30 a 60 dias em média. Este tempo é necessário para que o bebê possa ir pra casa aimentando-se exclusivamente por boca.

=== Correção primária (em tempo único) ===
Quando a correção é realizada em tempo único (''primary repair)'', todo o intestino pode ser recolocado para dentro do abdome de uma só vez. Costuma ser a primeira escolha de tratamento, quando isso é tecnicamente possível. Costuma ter os melhores resultados.

=== Correção em estágios (com SILO) ===
Quando não se consegue reduzir primariamente os intestinos , se faz necessária a colocação de um "silo", correção em estágios (''staged repair''). O silo é uma bolsa plástica que fica protegendo os intestinos, que não couberam de volta, até que diariamente se coloca mais um pouco pra dentro, até que todas as alças fiquem na cavidade abdominal.

== Mortalidade ==
A mortalidade em centros de excelência varia entre 10 a 15% e depende muito da complexidade do caso<ref>Santiago-Munoz PC, McIntire DD, Barber RG, Megison SM, Twickler DM, Dashe JS (2007). "Outcomes of pregnancies with fetal gastroschisis". Obstet Gynecol 110 (3): 663–8. doi:10.1097/01.AOG.0000277264.63736.7e. PMID 17766615.</ref>. Depende também do tipo de correção que pode ser feita, quando é realizada em tempo único, ou ou quando se faz necessária a colocação de um "silo". No entanto, mesmo em hospital universitário a mortalidade pode chegar a 25%. No Brasil, 18% dos bebês morrem antes do nascimento, 45% durante a internação após o nascimento e 36% durante a infância.<ref>{{Citar periódico|ultimo=Carvalho|primeiro=Natália Silva|ultimo2=Helfer|primeiro2=Talita Micheletti|ultimo3=Serni|primeiro3=Priscila de Oliveira|ultimo4=Terasaka|primeiro4=Ohanna Ana|ultimo5=Boute|primeiro5=Tatiane|ultimo6=Araujo Júnior|primeiro6=Edward|ultimo7=Nardozza|primeiro7=Luciano Marcondes Machado|ultimo8=Moron|primeiro8=Antonio Fernandes|ultimo9=Rolo|primeiro9=Liliam Cristine|data=2016-2|titulo=Postnatal outcomes of infants with gastroschisis: a 5-year follow-up in a tertiary referral center in Brazil|url=http://www.tandfonline.com/doi/full/10.3109/14767058.2014.1002764|jornal=The Journal of Maternal-Fetal & Neonatal Medicine|lingua=en|volume=29|numero=3|paginas=418–422|doi=10.3109/14767058.2014.1002764|issn=1476-7058}}</ref><ref>{{Citar periódico|ultimo=Andrade|primeiro=Walkyria S.|ultimo2=Brizot|primeiro2=Maria L.|ultimo3=Francisco|primeiro3=Rossana P. V.|ultimo4=Tannuri|primeiro4=Ana C.|ultimo5=Syngelaki|primeiro5=Argyro|ultimo6=Akolekar|primeiro6=Ranjit|ultimo7=Nicolaides|primeiro7=Kypros H.|data=2019-06-10|titulo=Intra-abdominal bowel dilation in the prediction of complex gastroschisis|url=https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/31264279|jornal=Ultrasound in Obstetrics & Gynecology: The Official Journal of the International Society of Ultrasound in Obstetrics and Gynecology|doi=10.1002/uog.20367|issn=1469-0705|pmid=31264279}}</ref>

A mortalidade é devida a vários fatores, por exemplo à exposição das alças intestinais ao liquido amniótico causando uma inflamação progressiva, que reduz a motilidade do intestino, mesmo depois que elas são recolocadas de volta à cavidade abdominal. Isto leva a uma necessidade prolongada de nutrição do bebê através de veia (nutrição parenteral. Isso aumenta o risco de infecção.

Após a cirurgia neonatal, as complicações mais frequentes são a síndrome compartimental (aumento da pressão dentro do abdome do bebê), enterocolite necrotizante (sofrimento das alças intestinais levando a morte de parte do intestino), septicemia (infecção generalizada), etc. Na infância, a síndrome do intestino curto pode causar dificuldade de crescimento, pois a criança acaba não ficando com uma quantidade de intestino saudável suficiente para se nutrir adequadamente.

== Desenvolvimento neurológico ==
Até bem pouco tempo, se considerava a '''gastroquise''' uma doença cuja evolução era bastante favorável, passado o período neonatal. No entanto, a evolução neurológica dos bebês sobreviventes de gastrosquise tem se demonstrado inferior a dos bebês nascidos sem mal-formações. Tres estudos recentes mostraram alterações de desenvolvimento cognitivo, problemas de aprendizagem, no final da primeira infância nos bebês portadores da gastrosquise ao nascer.

Desta forma, tem sido realizados vários estudos para tentar reduzir a mortalidade, o tempo de internação depois do nascimento e estas consequências de longo-prazo. Um destes estudo mostrou que não houve impacto na realização uma troca, através de "lavagem", semanal do líquido amniótico (amnioexchange) na evolução após o nascimento.

== Tratamento durante o nascimento (Símile-EXIT) ==
Inspirados pelos excelentes resultados obtidos pelo cirurgião argentino Javier Svletiza, usando uma técnica inovadora de reparo da gastroquise no "momento zero", esta técnica foi introduzida no Brasil, com resultados também bastante animadores.<ref>{{Citar periódico|ultimo=Oliveira|primeiro=Gustavo Henrique de|ultimo2=Svetliza|primeiro2=Javier|ultimo3=Vaz-Oliani|primeiro3=Denise Cristina Mós|ultimo4=Liedtke Junior|primeiro4=Humberto|ultimo5=Oliani|primeiro5=Antonio Helio|ultimo6=Pedreira|primeiro6=Denise Araujo Lapa|data=2017-12|titulo=Novel multidisciplinary approach to monitor and treat fetuses with gastroschisis using the Svetliza Reducibility Index and the EXIT-like procedure|url=http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1679-45082017000400395&lng=en&tlng=en|jornal=Einstein (São Paulo)|volume=15|numero=4|paginas=395–402|doi=10.1590/s1679-45082017ao3979|issn=2317-6385}}</ref>

O racional deste tipo de tratamento seria evitar a distensão e o ressecamento das alças intestinais expostas, a perda de calor e o risco de infecção, os risco da anestesia para bebês e a redução do tempo necessário para alta da UTI neonatal/berçário.

== Tratamento antes do nascimento (cirurgia fetal) ==
A possibilidade de tratar a doença antes do mesmo do nascimento, parece bastante promissora, evitando a exposição ao líquido amniótico, a distenção e ressecamento das alças e . No entanto, há que se considerar o risco materno intrínseco a qualquer tipo de cirurgia fetal Grupo de alto risco
<br />
== Causas ==
O uso de [[aspirina]]s na gravidez quadruplica as chances de gastrosquise.<ref>http://aje.oxfordjournals.org/content/155/1/26.full.pdf</ref> Outros fatores que contribuam para um baixo peso ao nascer como [[tabagismo]], uso de drogas recreativas, consumo regular de álcool, baixo [[índice de massa corporal]] e infecção genito-urinária também aumentam os riscos.<ref>Mastroiacovo P (2008). "Risk factors for gastroschisis". BMJ 336 (7658): 1386–7. doi:10.1136/bmj.39577.589699.BE. PMC 2432124. PMID 18558637.</ref>

Durante a quarta semana de desenvolvimento, as dobras laterais do corpo se movem ventralmente e se fundem na linha média para formar a parede anterior do corpo. A fusão incompleta permite que as vísceras abdominais saiam através da parede abdominal.


{{Referências}}
{{Referências}}

Revisão das 17h39min de 3 de agosto de 2019

Gastrosquise
Gastrosquise
Illustration of a child with gastroschisis
Especialidade genética médica
Classificação e recursos externos
CID-10 Q79.3
CID-9 756.73
CID-11 551758329
OMIM 230750
DiseasesDB 31155
MedlinePlus 000992
eMedicine ped/1642 radio/303
MeSH D020139
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Gastrosquise (do greco-latim squise, fenda) também conhecida como laparosquise ou abdominosquise é uma má-formação congênita caracterizada por defeito na formação da parede abdominal, permitindo que as vísceras abdominais, como estômago e intestinos, saiam por uma abertura. Quase sempre ocorre à direita da região umbilical.[1]

Diferente da onfalocele, onde há envolvimento do cordão umbilical e os órgãos permanecem protegidos, recobertos por peritônio; na gastrosquise, as vísceras abdominais ficam soltas, não há membrana cobrindo os órgãos herniados, ficando portanto diretamente expostos ao líquido amniótico.

O nome "gastrosquise" é impróprio, já que a fenda é compromete a parede abdominal e não no estômago.[1] Laparosquise seria um nome mais apropriado.

Epidemiologia

O defeito na formação do embrião geralmente ocorre na quarta semana de gestação, quando ocorreria o fechamento incompleto das pregas laterais. Geralmente, se situa a direita do cordão umbilical e é mais comum em indivíduos do sexo masculino.[1] Costumava estar estimado em 1 a cada 10.000 nascimentos, porém houve um aumento significativo nos últimos anos.

Há uma maior incidência quando a mãe tem uma história de tabagismo, uso de drogas recreativas, consumo regular de álcool, baixo índice de massa corporal ou alta frequência de infecção genito-urinária.[2]

Tratamento após o nascimento

Vista sagital de gastrosquise em ultrassom intra-uterino no segundo trimestre de gestação.

A cirurgia deve ser realizada logo após o nascimento e seu objetivo é recolocar os intestinos para dentro da cavidade abdominal e fechar a abertura da parede do abdome. Após a cirurgia o bebê pode precisar de auxílio respiratório (ventilação mecânica) e não pode receber alimentação por boca até que os intestinos voltem a funcionar normalmente.

Ainda existe muito debate sobre o melhor tipo de parto, ou seja, se a cesárea deveria ser indicada em todos os casos ou se o parto normal poderia ser uma opção[3]. Devido à necessidade de correção imediata, a cesárea talvez seja a melhor opção em maternidades onde não existe cirurgia pediátrica e portanto, o bebê tem que ser removido para outro hospital.

Outra dúvida existe em relação a idade gestacional ideal para realizar o parto, alguns acreditam que antecipar o nascimento para 34 a 36 semanas de gestação, seria benéfico para o bebê, objetivando diminuir a inflamação consequente a exposição das alças ao líquido amniótico. Outros acreditam que aguardar até o fim da gravidez seria o melhor[4].

O tempo de permanência internado depois da cirurgia varia dependendo da complexidade do caso, entre 30 a 60 dias em média. Este tempo é necessário para que o bebê possa ir pra casa aimentando-se exclusivamente por boca.

Correção primária (em tempo único)

Quando a correção é realizada em tempo único (primary repair), todo o intestino pode ser recolocado para dentro do abdome de uma só vez. Costuma ser a primeira escolha de tratamento, quando isso é tecnicamente possível. Costuma ter os melhores resultados.

Correção em estágios (com SILO)

Quando não se consegue reduzir primariamente os intestinos , se faz necessária a colocação de um "silo", correção em estágios (staged repair). O silo é uma bolsa plástica que fica protegendo os intestinos, que não couberam de volta, até que diariamente se coloca mais um pouco pra dentro, até que todas as alças fiquem na cavidade abdominal.

Mortalidade

A mortalidade em centros de excelência varia entre 10 a 15% e depende muito da complexidade do caso[5]. Depende também do tipo de correção que pode ser feita, quando é realizada em tempo único, ou ou quando se faz necessária a colocação de um "silo". No entanto, mesmo em hospital universitário a mortalidade pode chegar a 25%. No Brasil, 18% dos bebês morrem antes do nascimento, 45% durante a internação após o nascimento e 36% durante a infância.[6][7]

A mortalidade é devida a vários fatores, por exemplo à exposição das alças intestinais ao liquido amniótico causando uma inflamação progressiva, que reduz a motilidade do intestino, mesmo depois que elas são recolocadas de volta à cavidade abdominal. Isto leva a uma necessidade prolongada de nutrição do bebê através de veia (nutrição parenteral. Isso aumenta o risco de infecção.

Após a cirurgia neonatal, as complicações mais frequentes são a síndrome compartimental (aumento da pressão dentro do abdome do bebê), enterocolite necrotizante (sofrimento das alças intestinais levando a morte de parte do intestino), septicemia (infecção generalizada), etc. Na infância, a síndrome do intestino curto pode causar dificuldade de crescimento, pois a criança acaba não ficando com uma quantidade de intestino saudável suficiente para se nutrir adequadamente.

Desenvolvimento neurológico

Até bem pouco tempo, se considerava a gastroquise uma doença cuja evolução era bastante favorável, passado o período neonatal. No entanto, a evolução neurológica dos bebês sobreviventes de gastrosquise tem se demonstrado inferior a dos bebês nascidos sem mal-formações. Tres estudos recentes mostraram alterações de desenvolvimento cognitivo, problemas de aprendizagem, no final da primeira infância nos bebês portadores da gastrosquise ao nascer.

Desta forma, tem sido realizados vários estudos para tentar reduzir a mortalidade, o tempo de internação depois do nascimento e estas consequências de longo-prazo. Um destes estudo mostrou que não houve impacto na realização uma troca, através de "lavagem", semanal do líquido amniótico (amnioexchange) na evolução após o nascimento.

Tratamento durante o nascimento (Símile-EXIT)

Inspirados pelos excelentes resultados obtidos pelo cirurgião argentino Javier Svletiza, usando uma técnica inovadora de reparo da gastroquise no "momento zero", esta técnica foi introduzida no Brasil, com resultados também bastante animadores.[8]

O racional deste tipo de tratamento seria evitar a distensão e o ressecamento das alças intestinais expostas, a perda de calor e o risco de infecção, os risco da anestesia para bebês e a redução do tempo necessário para alta da UTI neonatal/berçário.

Tratamento antes do nascimento (cirurgia fetal)

A possibilidade de tratar a doença antes do mesmo do nascimento, parece bastante promissora, evitando a exposição ao líquido amniótico, a distenção e ressecamento das alças e . No entanto, há que se considerar o risco materno intrínseco a qualquer tipo de cirurgia fetal Grupo de alto risco

Causas

O uso de aspirinas na gravidez quadruplica as chances de gastrosquise.[9] Outros fatores que contribuam para um baixo peso ao nascer como tabagismo, uso de drogas recreativas, consumo regular de álcool, baixo índice de massa corporal e infecção genito-urinária também aumentam os riscos.[10]

Durante a quarta semana de desenvolvimento, as dobras laterais do corpo se movem ventralmente e se fundem na linha média para formar a parede anterior do corpo. A fusão incompleta permite que as vísceras abdominais saiam através da parede abdominal.

Referências

  1. a b c Moore & Persaud. Embriologia Clínica. 5ª edição. Pg. 238
  2. Mac Bird T, Robbins JM, Druschel C, Cleves MA, Yang S, Hobbs CA et al. (2009). "Demographic and environmental risk factors for gastroschisis and omphalocele in the National Birth Defects Prevention Study". J Pediatr Surg 44 (8): 1546–51. doi:10.1016/j.jpedsurg.2008.10.109. PMID 19635303.
  3. Osmundo Junior, Gilmar de Souza; Mohamed, Samirah Hosney Mahmoud; Nishie, Estela Naomi; Tannuri, Ana Cristina Aoun; Gibelli, Maria Augusta Bento Cicaroni; Francisco, Rossana Pulcineli Vieira; Brizot, Maria de Lourdes (fevereiro de 2019). «Association of spontaneous labor onset with neonatal outcomes in pregnancies with fetal gastroschisis: A retrospective cohort analysis». Acta Obstetricia et Gynecologica Scandinavica (em inglês). 98 (2): 154–161. doi:10.1111/aogs.13473 
  4. Osmundo Junior, Gilmar de Souza; Mohamed, Samirah Hosney Mahmoud; Nishie, Estela Naomi; Tannuri, Ana Cristina Aoun; Gibelli, Maria Augusta Bento Cicaroni; Francisco, Rossana Pulcineli Vieira; Brizot, Maria de Lourdes (fevereiro de 2019). «Association of spontaneous labor onset with neonatal outcomes in pregnancies with fetal gastroschisis: A retrospective cohort analysis». Acta Obstetricia Et Gynecologica Scandinavica. 98 (2): 154–161. ISSN 1600-0412. PMID 30264855. doi:10.1111/aogs.13473 
  5. Santiago-Munoz PC, McIntire DD, Barber RG, Megison SM, Twickler DM, Dashe JS (2007). "Outcomes of pregnancies with fetal gastroschisis". Obstet Gynecol 110 (3): 663–8. doi:10.1097/01.AOG.0000277264.63736.7e. PMID 17766615.
  6. Carvalho, Natália Silva; Helfer, Talita Micheletti; Serni, Priscila de Oliveira; Terasaka, Ohanna Ana; Boute, Tatiane; Araujo Júnior, Edward; Nardozza, Luciano Marcondes Machado; Moron, Antonio Fernandes; Rolo, Liliam Cristine (fevereiro de 2016). «Postnatal outcomes of infants with gastroschisis: a 5-year follow-up in a tertiary referral center in Brazil». The Journal of Maternal-Fetal & Neonatal Medicine (em inglês). 29 (3): 418–422. ISSN 1476-7058. doi:10.3109/14767058.2014.1002764 
  7. Andrade, Walkyria S.; Brizot, Maria L.; Francisco, Rossana P. V.; Tannuri, Ana C.; Syngelaki, Argyro; Akolekar, Ranjit; Nicolaides, Kypros H. (10 de junho de 2019). «Intra-abdominal bowel dilation in the prediction of complex gastroschisis». Ultrasound in Obstetrics & Gynecology: The Official Journal of the International Society of Ultrasound in Obstetrics and Gynecology. ISSN 1469-0705. PMID 31264279. doi:10.1002/uog.20367 
  8. Oliveira, Gustavo Henrique de; Svetliza, Javier; Vaz-Oliani, Denise Cristina Mós; Liedtke Junior, Humberto; Oliani, Antonio Helio; Pedreira, Denise Araujo Lapa (dezembro de 2017). «Novel multidisciplinary approach to monitor and treat fetuses with gastroschisis using the Svetliza Reducibility Index and the EXIT-like procedure». Einstein (São Paulo). 15 (4): 395–402. ISSN 2317-6385. doi:10.1590/s1679-45082017ao3979 
  9. http://aje.oxfordjournals.org/content/155/1/26.full.pdf
  10. Mastroiacovo P (2008). "Risk factors for gastroschisis". BMJ 336 (7658): 1386–7. doi:10.1136/bmj.39577.589699.BE. PMC 2432124. PMID 18558637.
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