Imunodeficiência combinada grave: diferenças entre revisões

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Algumas IDCG podem ser detectadas pelo sequenciamento do DNA fetal se existir uma história conhecida da doença. Caso contrário, a IDCG não é diagnosticada até cerca dos seis meses de idade, geralmente indicada por infecções recorrentes. O atraso na detecção ocorre porque os recém-nascidos carregam os [[Imunoglobulina|anticorpos]] da mãe durante as primeiras semanas de vida e os bebês IDCG parecem normais.<ref>Kwan A, Puck JM. [https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC4433840/ History and current status of newborn screening for severe combined immunodeficiency]. Semin Perinatol. 2015 Apr;39(3):194-205. doi: 10.1053/j.semperi.2015.03.004. Epub 2015 Apr 30. PMID: 25937517; PMCID: PMC4433840.</ref>
Algumas IDCG podem ser detectadas pelo sequenciamento do DNA fetal se existir uma história conhecida da doença. Caso contrário, a IDCG não é diagnosticada até cerca dos seis meses de idade, geralmente indicada por infecções recorrentes. O atraso na detecção ocorre porque os recém-nascidos carregam os [[Imunoglobulina|anticorpos]] da mãe durante as primeiras semanas de vida e os bebês IDCG parecem normais.<ref>Kwan A, Puck JM. [https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC4433840/ History and current status of newborn screening for severe combined immunodeficiency]. Semin Perinatol. 2015 Apr;39(3):194-205. doi: 10.1053/j.semperi.2015.03.004. Epub 2015 Apr 30. PMID: 25937517; PMCID: PMC4433840.</ref>

===Triagem neonatal===

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==Epidemiologia==
==Epidemiologia==

Revisão das 16h31min de 16 de setembro de 2023

Imunodeficiência combinada grave, IDCG (abreviada na literatura em inglês como SCID de severe combined immunodeficiency), também conhecido como agamaglobulinemia do tipo suíço, é uma rara doença genética caracterizada pelo desenvolvimento perturbado da função das células T e células B causada por numerosas mutações genéticas que resultam em diferentes quadros clínicos.[1][2] SCID envolve resposta de anticorpos defeituosa devido ao envolvimento direto com linfóticos B ou por ativação imprópria de linfócitos B devido a disfunção de células T auxiliares não funcionais.[3] Consequentemente, ambos os "braços" (células B e células T) do sistema imunológico adaptativo são prejudicados devido a um defeito em um dos vários genes possíveis. SCID é a forma mais grave de imunodeficiência primária,[4] e agora existem pelo menos nove genes diferentes conhecidos nos quais as mutações levam a uma forma de SCID.[5] Também é conhecida como doença do menino da bolha e doença do bebê da bolha porque suas vítimas são extremamente vulneráveis a doenças infecciosas e alguns deles, como David Vetter, ficaram famosos por viver em um ambiente estéril. SCID é o resultado de um sistema imunológico tão comprometido que é considerado quase ausente.

Pacientes com SCID são geralmente afetados por infecções bacterianas, virais ou fúngicas graves no início da vida e frequentemente apresentam doença pulmonar intersticial, diarreia crônica e déficit de crescimento.[3] Infecções de ouvido, pneumonia pneumocistose recorrente (Pneumocystis jirovecii, antes referido como carinii) e candidíase oral profusa comumente ocorrem. Esses bebês, se não tratados, geralmente morrem dentro de um ano devido a infecções recorrentes graves, a menos que tenham sido submetidos a transplante de células-tronco hematopoiéticas bem-sucedido ou terapia genética em ensaios clínicos.[6]

Classificação

Tipo Descrição
Imunodeficiência combinada grave ligada ao cromossomo X A maioria dos casos de SCID são devidos a mutações no gene IL2RG codificando a cadeia gama comumc) (CD132), uma proteína que é compartilhada pelos receptores para interleucinas IL-2, IL-4, IL-7, IL-9, IL-15 e IL-21. Essas interleucinas e seus receptores estão envolvidos no desenvolvimento e diferenciação de células T e B. Como a cadeia gama comum é compartilhada por muitos receptores de interleucina, as mutações que resultam em uma cadeia gama comum não funcional causam defeitos generalizados na sinalização da interleucina. O resultado é uma falha quase completa do sistema imunológico em se desenvolver e funcionar, com baixas ou ausents células T e células NK e células B não funcional.
A cadeia gama comum é codificada pelo gene receptor gama IL-2, ou IL-2Rγ, que está localizado no cromossomo X. Por esse motivo, a imunodeficiência causada por mutações no IL-2Rγ é conhecida como imunodeficiência combinada grave ligada ao cromossomo X. A condição é herdada em um padrão recessivo ligado ao X.
Deficiência de adenosina desaminase A segunda forma mais comum de SCID após X-SCID é causada por uma enzima defeituosa, adenosina deaminase (ADA), necessário para a quebra de purinas. A falta de ADA causa acúmulo de dATP. Este metabólito inibirá a atividade da ribonucleotídeo redutase, a enzima que reduz os ribonucleotídeos para gerar desoxirribonucleotídeos. A eficácia do sistema imunológico depende da proliferação de linfócitos e, portanto, da síntese de dNTP. Sem ribonucleotídeo redutase funcional, a proliferação de linfócitos é inibida e o sistema imunológico fica comprometido.
Deficiência de purina nucleosídeo fosforilase Doença autossômica recessiva envolvendo mutações do gene purina nucleosídeo fosforilase (PNP). PNP é uma enzima chave na via de resgate de purinas. O comprometimento desta enzima causa níveis elevados de GTP, resultando em toxicidade e deficiência de células T.
Disgenesia reticular Incapacidade dos precursores de granulócitos de formar grânulos secundários ao mau funcionamento de adenilato quinase 2 (AK2) mitocondrial.
Síndrome de Omenn A produção de imunoglobulinas requer enzimas recombinases derivadas dos genes ativadores da recombinação RAG-1 e RAG-2. Essas enzimas estão envolvidas no primeiro estágio da recombinação V(D)J, o processo pelo qual segmentos do DNA de uma célula B ou célula T são reorganizados para criar um novo receptor de células T ou receptor de células B (e, no caso das células B, o modelo para anticorpos).
Certas mutações dos genes RAG-1 ou RAG-2 previnem recombinação V(D)J, causando SCID.[7]
Síndrome de linfócitos nus Tipo 1: MHC classe I não é expresso na superfície celular. O defeito é causado por proteínas TAP defeituosas, não a proteína MHC-I.

Tipo 2: MHC classe II não é expresso na superfície celular de todas as células apresentadoras de antígeno. Autossômica recessiva. As proteínas reguladoras do gene MHC-II são o que está alterado, e não a própria proteína MHC-II.

JAK3 Quinase Jano 3 (JAK3) é uma enzima que medeia a transdução a jusante do sinal γc. Mutação de seu gene causa SCID.[8]
DCLRE1C DCLRE1C "Artemis" é um gene necessário para o reparo do DNA e recombinação V(D)J. Uma mutação recessiva de perda de função descobriu que a população Navajo e Apache causa SCID e intolerância à radiação.[9][10]
PRKDC PRKDC ou DNA-PKcs é um gene necessário para o reparo do DNA e recombinação V(D)J. Encontrado pela primeira vez em animais não humanos com SCID, um caso humano foi finalmente encontrado em 2009, seguido por outro em 2013.[11]

Diagnóstico

O diagnóstico precoce da IDCG é geralmente difícil devido à necessidade de técnicas avançadas de rastreio. Vários sintomas podem indicar a possibilidade de IDCG em uma criança, como histórico familiar de morte infantil, tosse crônica, pulmões hiperinsuflados e infecções persistentes. Uma contagem sanguínea completa de linfócitos é frequentemente considerada uma forma confiável de diagnosticar IDCG, mas contagens mais altas de linfócitos na infância podem influenciar os resultados. O diagnóstico clínico baseado em defeitos genéticos também é um possível procedimento diagnóstico que foi implementado no Reino Unido.[12]

Algumas IDCG podem ser detectadas pelo sequenciamento do DNA fetal se existir uma história conhecida da doença. Caso contrário, a IDCG não é diagnosticada até cerca dos seis meses de idade, geralmente indicada por infecções recorrentes. O atraso na detecção ocorre porque os recém-nascidos carregam os anticorpos da mãe durante as primeiras semanas de vida e os bebês IDCG parecem normais.[13]

Triagem neonatal

Vários países testam todos os recém-nascidos para IDCG como parte da rotina triagem neonatal. Em todos os estados dos EUA estão realizando triagem para IDCG em recém-nascidos usando PCR quantitativo em tempo real para medir a concentração de círculos de excisão do receptor de célula T.[14][15] O Reino Unido pretendia introduzir o rastreio neonatal para IDCG em setembro de 2021.[16]

Epidemiologia

Estudos recentes indicam que uma em cada 2.500 crianças da população Navajo herda imunodeficiência combinada grave. Esta condição é uma causa significativa de doença e morte entre crianças Navajo.[9] Pesquisas em andamento revelam um padrão genético semelhante entre o povo Apache relacionado.[10]

Referências

  1. CHIABAI, J et al. Imunodeficiência combinada grave (IDCG): relato de seis casos. Revista Brasileira de Alergia e Imunopatologia, v. 24, p. 65-74, 2001
  2. Burg, M; Gennery, AR (2011). «Educational paper: The expanding clinical and immunological spectrum of severe combined immunodeficiency». Eur J Pediatr. 170 (5): 561–571. PMC 3078321Acessível livremente. PMID 21479529. doi:10.1007/s00431-011-1452-3 
  3. a b Aloj, G; Giardano, G; Valentino, L; Maio, F; Gallo, V; Esposito, T; Naddei, R; Cirillo, E; Pignata, C (2012). «Severe combined immunodeficiencies: New and Old Scenarios». Int Rev Immunol. 31 (1): 43–65. PMID 22251007. doi:10.3109/08830185.2011.644607 
  4. Cavazanna-Calvo, M; Hacein-Bey, S; Yates, F; de Villartay, JP; Le Deist, F; Fischer, A (2001). «Gene therapy of severe combined immunodeficiencies». J Gene Med. 3 (3): 201–206. PMID 11437325. doi:10.1002/1521-2254(200105/06)3:3<201::AID-JGM195>3.0.CO;2-Z 
  5. Buckley, R (2003). «Molecular defects in human severe combined immunodeficiency and approaches to immune reconstitution». Annu Rev Immunol. 22: 625–655 
  6. Rohr, Karen (17 de abril de 2019). «Gene therapy restores immunity in infants with rare immunodeficiency disease» (em inglês). National Institutes of Health (NIH). Consultado em 4 de junho de 2020 
  7. Haq, IJ; Steinberg, LJ; Hoenig, M; Vanderburg, M; Villa, A; Cant, A; Middleton, P; Gennery, A (2007). «GvHD-associated cytokine polymorphisms do not associate with Omenn syndrome rather than T-B- SCID in patients with defects in RAG genes». Clin. Immunol. 124 (2): 165–9. PMID 17572155. doi:10.1016/j.clim.2007.04.013 
  8. Pesu, M; Candotti, F; Husa, M; Hofmann, SR; Notarangelo, LD; O'Shea, JJ (2005). «Jak3, severe combined immunodeficiency, and a new class of immunosuppressive drugs». Immunol. Rev. 203: 127–42. PMID 15661026. doi:10.1111/j.0105-2896.2005.00220.x 
  9. a b «News From Indian Country - A rare and once-baffling disease forces Navajo parents to cope». Consultado em 1 de março de 2008. Cópia arquivada em 19 de abril de 2012 
  10. a b Li, L; Moshous, D; Zhou, Y; Wang, J; Xie, G; Salido, E; Hu, D; Cowan, MJ (2002). «A founder mutation in Artemis, an SNM1-like protein, causes SCID in Athabascan-speaking Native Americans». J. Immunol. 168 (12): 6323–9. PMID 12055248. doi:10.4049/jimmunol.168.12.6323Acessível livremente 
  11. Anne Esguerra, Z; Watanabe, G; Okitsu, CY; Hsieh, CL; Lieber, MR (abril de 2020). «DNA-PKcs chemical inhibition versus genetic mutation: Impact on the junctional repair steps of V(D)J recombination.». Molecular Immunology. 120 (93–100). PMC 7184946Acessível livremente. PMID 32113132. doi:10.1016/j.molimm.2020.01.018 
  12. A, Gennery; A, Cant (março de 2001). «Diagnosis of severe combined immunodeficiency». J Clin Pathol. 54 (3): 191–195. PMC 1731376Acessível livremente. PMID 11253129. doi:10.1136/jcp.54.3.191 
  13. Kwan A, Puck JM. History and current status of newborn screening for severe combined immunodeficiency. Semin Perinatol. 2015 Apr;39(3):194-205. doi: 10.1053/j.semperi.2015.03.004. Epub 2015 Apr 30. PMID: 25937517; PMCID: PMC4433840.
  14. van der Burg, Mirjam; Mahlaoui, Nizar; Gaspar, Hubert Bobby; Pai, Sung-Yun (18 de setembro de 2019). «Universal Newborn Screening for Severe Combined Immunodeficiency (SCID)». Frontiers in Pediatrics. 7. 373 páginas. ISSN 2296-2360. PMC 6759820Acessível livremente. PMID 31620409. doi:10.3389/fped.2019.00373Acessível livremente 
  15. «National Newborn Screening Status Report» (PDF). Consultado em 15 de novembro de 2016. Cópia arquivada (PDF) em 16 de novembro de 2019 
  16. «New start date for NHS IDCG screening evaluation in England - PHE Screening» (em inglês). phescreening.blog.gov.uk. 2 October 2020. Consultado em 21 de junho de 2021  Verifique data em: |data= (ajuda)