Aerossol odontológico

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Aerossol de uma caneta de alta rotação odontológica

Um aerossol odontológico é um aerossol produzido a partir de instrumentos odontológicos, peças de mão odontológicas, seringa tríplice e outros instrumentais de alta rotação. Esses aerossóis podem permanecer suspensos no ambiente clínico.[1] Os aerossóis odontológicos podem representar riscos para o cirugião-dentista, outros profissionais da odontologia e pacientes. As partículas mais pesadas (por exemplo, >50 µm ) contidos nos aerossóis provavelmente permanecerão suspensos no ar por um período relativamente curto e se depositarão rapidamente nas superfícies; no entanto, as partículas mais leves podem permanecer suspensas por períodos mais longos e podem viajar a alguma distância da fonte.[2] Essas partículas menores são capazes de se depositar nos pulmões quando inaladas e fornecem uma via de transmissão de doenças .[3] Diferentes instrumentos odontológicos produzem quantidades variadas de aerossol e, portanto, apresentam riscos diferentes de dispersão de microrganismos da boca. Peças de mão odontológicas como a caneta de alta rotação, geralmente produzem mais aerossol, os micromotores de baixa rotação produzem menos, embora isso dependa da configuração, se for usar água ou não.[4][5]

Respingos e aerossóis saindo da caneta de alta rotação odontológica

Composição[editar | editar código-fonte]

Esses aerossóis odontológicos são bioaerossóis que podem estar contaminados com bactérias, fungos e vírus provenientes da cavidade bucal, da pele e da água utilizada nas tubulações da cadeira odontológica.[6] Os aerossóis odontológicos também possuem micropartículas de brocas e partículas de sílica que são um dos componentes de materiais de restaurações odontológicas como compósitos dentais .[7] Dependendo do procedimento e do local, a composição do aerossol pode mudar de paciente para paciente. Além dos microrganismos, esses aerossóis podem consistir de gotículas de saliva, fluido crevicular gengival, sangue,placa dentária, cálculo, detritos dentários, secreções oronasais, óleo de peças de mão dentárias, e micropartículas de trituração dos dentes e de materiais dentários.[8] Eles também podem consistir de partículas abrasivas que são expelidas durante a abrasão a ar e de métodos de polimento .[3]

Tamanho[editar | editar código-fonte]

Os aerossóis odontológicos contêm uma ampla gama de partículas, sendo a maioria inferior a 50 µm . As partículas menores com tamanho entre 0,5 µm -10 µm são mais susceptíveis a serem inaladas e têm potencial de transmitir infecções .[3] Partículas menores provavelmente permanecerão suspensas por períodos de tempo mais longos e podem migrar para mais longe da fonte. O tempo de acomodação das partículas é descrito pela lei de Stokes em parte como uma função de seu diâmetro aerodinâmico.

Perigos potenciais e mitigação[editar | editar código-fonte]

A água utilizada nas unidades odontológicas pode estar contaminada com Legionella, e os aerossóis produzidos pelas peças de mão odontológicas podem contribuir para a disseminação da Legionella no ambiente; portanto, há risco de inalação pelo cirugião-dentista, equipe odontológica e pacientes.[9] As linhas d´ água da unidade odontológica (DUWLs) também podem estar contaminadas com outras bactérias como Mycobacterium spp e Pseudomonas aeruginosa .[10] A infecção por espécies de Legionella causa infecções como Legionelose e várias pneumonias.[11] No entanto, ainda não há evidências fortes sugerindo que os cirugiões-dentistas correm maior risco ocupacional de Legionella .[9] A transmissão da tuberculose também ocorre a partir da tosse produzida por pacientes com tuberculose que são submetidos à procedimentos com produção de aerossóis.[12] O Mycobacterium tuberculosis é transmitido na forma de núcleos de gotículas menores que 5 µm que ficam suspensos no ambiente por mais tempo. O desenvolvimento de tuberculose ativa em Profissionais de Saúde Bucal (DHCWs) é menos provável do que nos demais Profissionais de Saúde (HCWs). Faltam evidências que comprovem o desenvolvimento de tuberculose ativa decorrente dessa transmissão em Profissionais da Odontologia (DHCWs).[13]

O vírus que causou a pandemia da COVID-19 foi nomeado como coronavírus 2 da síndrome respiratória aguda severa (SARS-CoV-2) pelo Comitê Internacional de Taxonomia de Vírus (ICTV) em 11 de fevereiro de 2020.[14] O SARS-CoV-2 permanece estável em aerossóis por várias horas.[15] O vírus é viável por horas em aerossóis e por poucos dias em superfícies, portanto, a transmissão do SARS-CoV-2 é possível por meio de aerossóis e também mostra transmissão por fômites .[16]

Os cirurgiões-dentistas foram descritos anteriormente como um dos principais grupos de trabalho com alto risco de exposição ao SARS-CoV-2. Devido à proximidade dos profissionais da odontologia com pacientes, os procedimentos odontológicos que envolvem a produção de aerossol não são aconselháveis em pacientes com teste positivo para COVID-19, exceto em tratamento odontológico de emergência.[17] Em 16 de março de 2020, a American Dental Association ( ADA ) aconselhou os cirurgiões-dentistas a adiarem todos os procedimentos eletivos.[18] A ADA também desenvolveu orientações específicas para realização de procedimentos odontológicos durante a pandemia de COVID-19 .[19]

Elementos como cálcio, alumínio, sílica e fósforo também podem ser encontrados nos aerossóis odontológicos produzidos durante procedimentos como a remoção de aparelhos ortodônticos.[20] Estas partículas podem variar de 2 a 30 µm de diâmetro e há chances de inalá-los.[21]

Vários métodos foram propostos e são amplamente utilizados para controlar os aerossóis dentais e reduzir o risco de transmissão de doenças. Por exemplo, aerossóis dentais podem ser controlados ou reduzidos usando sucção com bomba à vácuo,[22] dique de borracha,[5] a baixa rotação,[2] e exaustores de ar (sucção extra-oral).[23]

Veja também[editar | editar código-fonte]

Referências[editar | editar código-fonte]

  1. Chuang CY, Cheng HC, Yang S, Fang W, Hung PC, Chuang SY (2014). «Investigation of the spreading characteristics of bacterial aerosol contamination during dental scaling treatment». Journal of Dental Sciences (em inglês). 9 (3): 294–296. doi:10.1016/j.jds.2014.06.002Acessível livremente 
  2. a b Holliday R, Allison JR, Currie CC, Edwards DC, Bowes C, Pickering K, et al. (fevereiro de 2021). «Evaluating contaminated dental aerosol and splatter in an open plan clinic environment: Implications for the COVID-19 pandemic». Journal of Dentistry. 105. 103565 páginas. PMC 7787509Acessível livremente. PMID 33359041. doi:10.1016/j.jdent.2020.103565 
  3. a b c Harrel SK, Molinari J (abril de 2004). «Aerosols and splatter in dentistry: a brief review of the literature and infection control implications». Journal of the American Dental Association. 135 (4): 429–37. PMC 7093851Acessível livremente. PMID 15127864. doi:10.14219/jada.archive.2004.0207 
  4. Allison JR, Edwards DC, Bowes C, Pickering K, Dowson C, Stone SJ, et al. (setembro de 2021). «The effect of high-speed dental handpiece coolant delivery and design on aerosol and droplet production». Journal of Dentistry. 112. 103746 páginas. PMID 34265364. doi:10.1016/j.jdent.2021.103746 
  5. a b Vernon JJ, Black EV, Dennis T, Devine DA, Fletcher L, Wood DJ, Nattress BR (agosto de 2021). «Dental Mitigation Strategies to Reduce Aerosolization of SARS-CoV-2». Journal of Dental Research. 100 (13): 1461–1467. PMC 8649409Acessível livremente. PMID 34338580. doi:10.1177/00220345211032885 
  6. Zemouri C, de Soet H, Crielaard W, Laheij A (22 de maio de 2017). «A scoping review on bio-aerosols in healthcare and the dental environment». PLOS ONE. 12 (5): e0178007. Bibcode:2017PLoSO..1278007Z. PMC 5439730Acessível livremente. PMID 28531183. doi:10.1371/journal.pone.0178007Acessível livremente 
  7. Sivakumar I, Arunachalam KS, Solomon E (novembro de 2012). «Occupational health hazards in a prosthodontic practice: review of risk factors and management strategies». The Journal of Advanced Prosthodontics. 4 (4): 259–65. PMC 3517967Acessível livremente. PMID 23236581. doi:10.4047/jap.2012.4.4.259 
  8. King TB, Muzzin KB, Berry CW, Anders LM (janeiro de 1997). «The effectiveness of an aerosol reduction device for ultrasonic scalers». Journal of Periodontology. 68 (1): 45–9. PMID 9029451. doi:10.1902/jop.1997.68.1.45 
  9. a b Petti S, Vitali M (julho de 2017). «Occupational risk for Legionella infection among dental healthcare workers: meta-analysis in occupational epidemiology». BMJ Open. 7 (7): e015374. PMC 5734417Acessível livremente. PMID 28710211. doi:10.1136/bmjopen-2016-015374 
  10. «WHO | Water safety in buildings». WHO. Consultado em 13 de março de 2020. Arquivado do original em 30 de setembro de 2016 
  11. Legionella and the prevention of legionellosis. [S.l.]: World Health Organization. 2007 
  12. «Guidelines for Preventing the Transmission of Mycobacterium tuberculosis in Health-Care Settings, 2005». www.cdc.gov. Consultado em 16 de março de 2020 
  13. Petti S (junho de 2016). «Tuberculosis: Occupational risk among dental healthcare workers and risk for infection among dental patients. A meta-narrative review». Journal of Dentistry. 49: 1–8. PMID 27106547. doi:10.1016/j.jdent.2016.04.003 
  14. «Naming the coronavirus disease (COVID-19) and the virus that causes it». www.who.int (em inglês). Consultado em 19 de março de 2020 
  15. «New coronavirus stable for hours on surfaces». National Institutes of Health (NIH) (em inglês). 17 de março de 2020. Consultado em 19 de março de 2020 
  16. van Doremalen N, Bushmaker T, Morris DH, Holbrook MG, Gamble A, Williamson BN, et al. (abril de 2020). «Aerosol and Surface Stability of SARS-CoV-2 as Compared with SARS-CoV-1». The New England Journal of Medicine (letter). 382 (16): 1564–1567. PMC 7121658Acessível livremente. PMID 32182409. doi:10.1056/nejmc2004973Acessível livremente 
  17. «The Workers Who Face the Greatest Coronavirus Risk». The New York Times (em inglês). 15 de março de 2020. ISSN 0362-4331. Consultado em 16 de março de 2020 
  18. «ADA Calls Upon Dentists to Postpone Elective Procedures». American Dental Association. 16 de março de 2020. Consultado em 23 de março de 2020 
  19. «COVID-19 Resources for Dentists». American Dental Association. Consultado em 23 de março de 2020 
  20. Day CJ, Price R, Sandy JR, Ireland AJ (janeiro de 2008). «Inhalation of aerosols produced during the removal of fixed orthodontic appliances: a comparison of 4 enamel cleanup methods». American Journal of Orthodontics and Dentofacial Orthopedics. 133 (1): 11–7. PMID 18174065. doi:10.1016/j.ajodo.2006.01.049 
  21. Ireland AJ, Moreno T, Price R (dezembro de 2003). «Airborne particles produced during enamel cleanup after removal of orthodontic appliances». American Journal of Orthodontics and Dentofacial Orthopedics. 124 (6): 683–6. PMID 14666082. doi:10.1016/s0889-5406(03)00623-1 
  22. Allison JR, Currie CC, Edwards DC, Bowes C, Coulter J, Pickering K, et al. (janeiro de 2021). «Evaluating aerosol and splatter following dental procedures: Addressing new challenges for oral health care and rehabilitation». Journal of Oral Rehabilitation. 48 (1): 61–72. PMC 7537197Acessível livremente. PMID 32966633. doi:10.1111/joor.13098 
  23. Allison JR, Dowson C, Pickering K, Červinskytė G, Durham J, Jakubovics NS, Holliday R (novembro de 2021). «Local Exhaust Ventilation to Control Dental Aerosols and Droplets». Journal of Dental Research. 101 (4): 384–391. PMC 8935467Acessível livremente. PMID 34757884. doi:10.1177/00220345211056287 

Leitura adicional[editar | editar código-fonte]

 

Ligações externas[editar | editar código-fonte]