Ana Campos

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Ana Campos
Nascimento 1952
Viseu
Cidadania Portugal
Ocupação ginecologista-obstetra

Ana Campos (Viseu, 1952) é uma médica especialista em Ginecologia e Obstetrícia, atictivista feminista e considerada uma das figuras históricas na luta pelo direito ao aborto, em Portugal.[1][2][3][4][5]

Biografia[editar | editar código-fonte]

Ana Campos nasceu em Viseu, no seio de uma família de professores politizados. Viveu em Moçambique, país para onde os pais emigraram quando ela tinha quatro anos e meio e, já jovem, inscreveu-se em Medicina, nos Estudos Gerais Universitários de Moçambique. Não terminou o curso nessa Universidade e mudou-se para Coimbra e mais tarde, em 1971, mudou-se para Lisboa.[4]

Fez o internato geral, no Hospital Santa Maria e, após o episódio que aí viveu com uma mulher que morreu por ter feito um aborto em condições precárias, decidiu especializar-se em Ginecologia e Obstetrícia. Após o 25 de Abril de 1974, e aquando da implementação do Serviço Nacional de Saúde (SNS), Campos integrou, em 1977, o programa Serviço Médico à Periferia, em Reguengos de Monsaraz, tendo criado nessa vila a consulta de planeamento familiar.[4]

Campos foi directora Clínica Adjunta do Serviço de Ginecologia / Obstetrícia da Maternidade Alfredo da Costa tendo, entre outros casos, coordenado a equipa que acompanhou, em 2016, o caso inédito em Portugal, de um bebé cujas últimas semanas de gestação ocorreram após morte cerebral da sua mãe.[6][7]

Após a legalização do aborto em Portugal, em 2007, Campos acompanhou a implementação das práticas de interrupção voluntária da gravidez (IVG), no SNS, tendo feito parte do grupo de trabalho responsável pela elaboração dos procedimentos de implementação da lei.[1][8][9]

Campos é associada da Associação de Planeamento Familiar e membro da sua Assembleia Geral.[2]

O seu percurso como activista[editar | editar código-fonte]

Campos iniciou o seu percurso como activista pelos direitos das mulheres, em 1970.[1] Em 1971, interessou-se pelo movimento estudantil trotskista que lutava contra a Guerra Colonial e a ditadura em Portugal. Foi na sequência da participação numa manifestação estudantil que foi detida a 13 de Dezembro de 1973.[4]

Em 1979, enquanto membro da Liga Comunista Internacionalista, integra a primeira Campanha Nacional pelo Aborto e a Contracepção, tendo sido um dos elementos mais dinamizadores do movimento, nomeadamente nas reuniões para elaboração de um projecto de lei sobre a despenalização do aborto.[4]

Em 2007, aquando do segundo referendo da despenalização da interrupção voluntária da gravidez, integrou juntamente com Maria José Alves e Idalina Rodrigues e também outros médicos, o movimento "Médicos pela Escolha", defensores do Sim, no referendo.[1][2][4][10]

Campos integrou o movimento que lutou, em 2012, contra o encerramento da Maternidade Alfredo da Costa.[4][11][12]

Publicações[editar | editar código-fonte]

  • Em 1979, participa na colectânea de textos Aborto e Contracepção Um Direito, Uma Escolha - A Luta Internacional das Mulheres, sobre a luta das mulheres pelo direito ao aborto e à contacepção.[13]
  • Em Janeiro de 2007, um mês antes da realização do referendo, publicou o livro Crime ou Castigo? Da perseguição contra as mulheres até à despenalização do aborto (ISBN:9789724030685), que teve como ponto de partida a sua dissertação de mestrado, em que apresenta o contexto histórico sobre a contracepção e o aborto, bem como a evolução legislativa e o caso português.[14][15]
  • Em 2013, juntamente com Ricardo Sá Fernandes, coordena o livro Em defesa da Maternidade Alfredo da Costa.[16]

Reconhecimentos[editar | editar código-fonte]

  • 2016 - Voto de louvor da direcção do Colégio de Ginecologia e Obstetrícia (Portugal) pelo trabalho desempenhado ao longo da sua carreira como ginecologista;[17]

Referências[editar | editar código-fonte]

  1. a b c d Lopera, Adriana (11 de fevereiro de 2022). «Aborto: 15 anos depois, "a prática aconselha algumas modificações"». EsquerdaNet. Consultado em 2 de março de 2024 
  2. a b c Campos, Ana (23 de abril de 2022). «15 anos de aborto seguro em Portugal». Gerador. Consultado em 2 de março de 2024 
  3. Câncio, Fernanda (16 de fevereiro de 2023). «Camila vai pagar 800 euros pela IVG. No hospital de Santa Maria só tinha consulta após as 10 semanas». Diário de Notícias. Consultado em 2 de março de 2024 
  4. a b c d e f g Pereira, Ana Cristina (29 de fevereiro de 2024). «No direito ao aborto, Ana Campos vê um sentido profundo da liberdade». PÚBLICO. Consultado em 2 de março de 2024 
  5. Carmo, Daniela (6 de maio de 2022). «"O direito ao aborto é uma das provas de que os países vivem uma saudável democracia"». PÚBLICO. Consultado em 3 de março de 2024 
  6. Reis, Marta F. (12 de junho de 2016). «Ana Campos: 'O momento mais marcante foi tirar aquele bebé lindo e saber que a mãe ia ser desligada'». SOL. Consultado em 2 de março de 2024 
  7. Portugal, Rádio e Televisão de (8 de junho de 2016). «Trilhados caminhos quase desconhecidos no caso do bebé nascido com mãe em morte cerebral». Trilhados caminhos quase desconhecidos no caso do bebé nascido com mãe em morte cerebral. Consultado em 3 de março de 2024 
  8. Feio, Miguel Areosa (1 de agosto de 2021). «Lei do aborto em Portugal: barreiras atuais e desafios futuros». Sociologia, Problemas e Práticas (97): 129–158. ISSN 0873-6529. Consultado em 2 de março de 2024 
  9. «Maternidade Alfredo da Costa terá duas consultas semanais». Jornal de Notícias (em inglês). 17 de junho de 2007. Consultado em 3 de março de 2024 
  10. Lusa, Agência (27 de fevereiro de 2024). «União de mulheres quer alargamento do prazo para abortar para 12 semanas». Observador. Consultado em 2 de março de 2024 
  11. Lusa, Agência (11 de abril de 2012). «Nova concentração em defesa da MAC no domingo». Diário de Notícias. Consultado em 3 de março de 2024 
  12. «Maternidade Alfredo da Costa desmente ministro e diz que partos aumentaram». Dinheiro Vivo. 12 de abril de 2012. Consultado em 3 de março de 2024 
  13. «Aborto e Contracepção Um Direito, Uma Escolha – A Luta Internacional das Mulheres». | Edições Combate |. Consultado em 2 de março de 2024 
  14. «Crime ou Castigo? - Da Perseguição contra as Mulheres até à Despenalização do Aborto». www.almedina.net. Consultado em 2 de março de 2024 
  15. Barradas, Carlos (2007). «Ana Campos, Crime ou Castigo? Da perseguição contra as mulheres até à despenalização do aborto». Centro de Estudos Sociais: 153–158. Consultado em 2 de março de 2024 
  16. «BNP - Em defesa da Maternidade Alfredo da Costa». bibliografia.bnportugal.gov.pt. Consultado em 3 de março de 2024 
  17. «Votos de louvor da direcção do Colégio de Ginecologia e Obstetrícia – Ordem dos Médicos». Consultado em 2 de março de 2024 

Ligações Externas[editar | editar código-fonte]

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