Bibliothèque bleue

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Huon of Bordeaux, impresso em Troyes por Widow Oudot (Anne Hussard) c. 1720

Bibliothèque bleue ("biblioteca azul" em francês) é um tipo de literatura efêmera e popular publicada na França entre c. 1602 e c. 1830, comparável ao chapbook inglês, ao Volksbuch alemão e à literatura de cordel luso-brasileira. Como foi o caso na Inglaterra e na Alemanha, esse formato literário atraiu todos os níveis da sociedade francesa, transcendendo as barreiras sociais, sexuais e etárias.

Bibliothèque bleue é na origem um termo para um esquema de publicação introduzido em 1602 em Troyes pelos irmãos Jean e Nicholas Oudot, em associação com a família de Claude Garnier (1535-1589), que havia sido impressor do rei.[1] Os Oudot produziram impressões em baixa qualidade e formato pequeno. Vendidos com uma capa de papel azul, esses produtos semelhantes a brochuras ficaram conhecidos como livres bleus, ou "livros azuis".[2]

A matéria de conteúdo foi inicialmente limitada a efêmeras locais, mas logo foi popularizada e imitada em outras cidades como Rouen, Angers, Caen, Limoges, Avignon, Dinan, Épinal, e talvez até sessenta outras cidades, vendidas em livrarias urbanas e levados para o campo por colportores itinerantes (mascates). Essa ampla distribuição representou a origem histórica da "mídia de massa popular" na França.[3] No final do século XVII, a Bibliothèque bleue em Troyes tornou-se uma empresa familiar administrada pelos filhos de Jean Oudot, Jean II e Jacques I, mais tarde Nicholas II e Nicholas III. O negócio Oudot logo encontrou concorrência, principalmente da família Garnier.[4]

Nicholas III em 1665 casou-se com a filha de um bibliotecário de Paris e estabeleceu-se na capital, e começou a publicar em grandes quantidades, sobre temas como teatro, livro de histórias (especialmente recontagens em prosa de romances em verso medievais como Fierrabras, Robert le Diable, e Jean de Paris), sátira (romance picaresco), literatura religiosa, almanaques, manuais de etiqueta, livros de receitas, cancioneiros e astrologia etc. Após a morte de Nicholas II, sua viúva continuou o negócio de Troyes, e ficou conhecida em todo o reino como a veuve Oudot (viúva Oudot), atingindo no século 18 um quase monopólio no gênero.[4]

A Oudot faliu em 1760, devido a uma nova legislação que limitava o direito de reimprimir obras. Garnier persistiu durante a Primeira República Francesa, mas faliu em 1830, pois seu modelo de negócios estava desatualizado e não podia mais competir com as formas modernas de publicação de impressão lideradas por Hachette e como resultado da centralização do sistema educacional primário.[4]

Uma coleção significativa de volumes da Bibliothèque bleue está localizada no Médiathèque du Grand Troyes.[5]

Ver também[editar | editar código-fonte]

Referências[editar | editar código-fonte]

  1. Andries, Lise (2015). «La Bibliothèque bleue, une littérature éphémère?». Fabula. Consultado em 10 de Fevereiro de 2022 
  2. Haddad-Wotling, Karen (2002). «Bibliothèque bleue». Dictionnaire mondial des littératures. Paris: Larousse. Consultado em 10 de Fevereiro de 2022 
  3. Roger Chartier in Dictionnaire encyclopédique du Livre, Cercle de la Librairie, 2003, t. 1, pp. 294-295.
  4. a b c Mandrou, Robert (1985). De la culture populaire au 17e et 18e siècles (em francês) 2nd ed. [S.l.]: Editions Imago. 266 páginas. ISBN 9782849524213. Consultado em 10 de Fevereiro de 2022 
  5. «Bibliothèque bleue». The ARTFL Project. Consultado em 10 de Fevereiro de 2022 

Bibliografia[editar | editar código-fonte]

  • Lise Andries, La bibliothèque bleue au dix-huitième siècle : une tradition éditoriale, Oxford, The Voltaire Foundation, 1989
  • Alexandre Assier, La Bibliothèque bleue depuis Jean Oudot 1er jusqu'à M. Baudot (1600-1863), Paris, Champion, 1874
  • Geneviève Bollème, La Bibliothèque bleue, éd. Éditions Julliard, collection Archives, 1971, rééd. Robert Laffont, 2003
  • René Helot, La Bibliothèque Bleue en Normandie, Rouen, Lainé, 1928, orné de 40 planches de gravures
  • Marie-Dominique Leclerc & Alain Robert, Desbloéditions au succès populaire, les livrets de la Bibliothèque bleue XVII-XIXe siècles : présentation, anthologie, catalogue, Troyes, C.D.D.P., 1986
  • Robert Mandrou,De la culture populaire aux XVIIe et XVIIIe siècles : la Bibliothèque bleue, Paris, Imago, 1985
  • Charles Nisard, Histoire des livres populaires, ou de la littérature de Colportage, depuis le XVe siècle, jusqu'à l'établissement des la Commission d'examen des livres du Colportage, 1852
  • La Bibliothèque bleue et les littératures de colportage, Actes du colloque organisé par la Bibliothèque municipale à vocation régionale de Troyes en collaboration avec l'École nationale des Chartes, Troyes, 12-13 novembre 1999
  • Socard: Livres populaires imprimés à Troyes de 1600 à 1800. Paris 1864
  • Gérard Oberlé: La Bibliothèque Bleue. Livres de colportage du XVIIe au XIXe siècle. Montigny-sur-Canne 1983.

Ligações externas[editar | editar código-fonte]