Escrita Thaana

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Escrita Thaana
Tipo Abugida sem vogal inerente
Línguas Divehi
Período de tempo
Século XVIII até o presente (reestabelecida em 1703; há 320 anos)[1]
Status Escrita oficial das Maldivas
Sistemas-pais
Direção Direita-para-esquerda
ISO 15924 Thaa, 170
Conjunto de carateres Unicode
U+0780–U+07BF

Thaana ou taana (ތާނަ, transl. Tāna) é a escrita usada pela língua divehi falada nas Maldivas. A taana apresenta características tanto de abugida (diacríticos para vogais, ("virama") e de alfabeto verdadeiro (completo, com todas as vogais escritas, cujas consoantes derivam dos algarismos indo-arábicos e das línguas locais; cujas vogais têm como base os diacríticos do abjad árabe. Sua ortografia é tipicamente fonêmica.

História[editar | editar código-fonte]

A escrita taana teve seu primeiro registro num texto de um documento localizado nas Maldivas, datado do início do século XVIII, quando tinha uma forma ainda não muito elaborada, a chamada Gabulhi Thaana (era uma escrita contínua como é da língua tailandesa). Essa escrita primitiva foi se desenvolvendo lentamente, os caracteres tiveram inclinações de 45º, passou a haver separação entre palavras. Com o tempo passou a substituir o antigo alfabeto Dhives Akuru. Hoje, a mais antiga amostra da escrita está na ilha de Kanditheemu (Shaviyani Atol) no atol Northern Miladhunmadulul. Está inscrita nos postes de entrada da principal Hukuru Miskiy (mesquita de sexta-feira) da ilha, e data de 1008 do calendário islâmico (AH) (1599 a.C.), data em que o teto do prédio foi construído e renovado nos reinados do sultão Ibraim Calaafam (Sultão Ibrahim III) e de Hussain Faamuladeyri Kilege (Sultão Hussain II), respectivamente.

Escrita[editar | editar código-fonte]

Tanto a taana, como o árabe e o hebraico são escritas da direita para esquerda. As vogais são indicadas por diacríticos derivados do árabe. Cada letra pode ter incorporada uma vogal ou um sukun (que indica "sem vogal"). A única execeção a essa regra é a letra nūnu que, quando escrita sem diacrítico, indica nasalização da consoante plosiva que se segue.

As indicações de vogais (sinais diacríticos) Dihevi são chamadas fili in Divehi; são cinco fili para sons vocálicos curtos (a, i, u, e, o), sendo que os dois primeiros são idênticos aos da escrita árabe, sinais harakat (fathae kasra) e a terceira (damma) tem aparência muito similar à do árabe. As vogais longas (transliteradas como ā, ē, ī, ō e ū) são marcadas por uma fili dupla (exceto ō, que é uma modificação breve de obofili).

Taana (ou Thaana), a atual escrita oficial das Maldivas.
Standard Indic. Esta tabela é uma referência para a posição das letras na tabela taana.

A letra alifu não tem valor sonoro próprio, sendo usada com diversos objetivos: pode ser usada como meio de "carrier" (permissão) para uma vogal que não tenha uma consoante que a anteceda, ou seja uma vogal inicial de palavra ou a segunda vogal de um ditongo; pode indicar geminação (tornar longas as consoantes que a seguem); quando ocorre alifu + sukun no final de palavras, indica que esse sinal é lido como /eh/. A geminação de nasais é marcada por nūnu + sukun antes da nasal a ser geminada.

Origem das letras[editar | editar código-fonte]

As origens das letras taana apresentam características únicas entre os alfabetos do mundo. As primeiras nove letras são derivadas dos numerais do alfabeto árabe, as nove seguintes são de numerais hindus locais. As demais letras são para palavras de origem externa e vêm da transliteração do árabe para consoantes nativas marcadas com diacríticos, exceto a letra "Y", cuja origem é desconhecida. Assim, a escrita taana é, na região, uma das poucas não graficamente derivadas da escrita proto-sinaítica, exceto as que surgiram via escrita brami.

A ordem das letras do alfabeto taana (, shaviyani, nūnu, , , etc.) não segue a mesma sequência de outras escritas índicas nem da escrita árabe. Não há uma aparente lógica nessa ordem, dando a impressão para estudiosos que essa mistura indecifrável foi proposital para confundir a população da ilha. Era usada inicialmente para escrever encantamentos mágicos ditos fadinta. Isso incluiu o desenvolvimento estilo árabe, da direita para a esquerda. Os maldivenses mais cultos, que eram também versados em feitiçaria, teriam visto vantagens nesse sistema de difícil interpretação, e a taana foi aos poucos sendo adotada no dia a dia. [2]

A taana chegou a desaparecer por um breve período na história recente quando por volta dos anos 70, na presidência de Ibrahim Nasir, as máquinas de telégrafo foram introduzidas pelo governo das Maldivas para administração local. Os equipamentos de telex foram vistos como um grande progresso, porém, a taana foi vista como um obstáculo, pois as máquinas só escreviam em alfabeto latino. A partir daí, uma transliteração Malé da escrita latina para o Divehi foi oficialmente aprovada pelo governo em 1976, sendo rapidamente implementada em toda a administração. Livros orientativos foram impressos e despachados para todos os postos "Atoll and Island Offices", para escolas e navios cargueiros. Parecia ser o fim da escrita taana.

A escrita latina para Divehi usa indiscriminadamente "H"s para sons mesmo não aspirados, em clara oposição com a fonética normal das línguas índicas. Também eram usadas certas combinações de letras e apóstrofos para alguns sons de origem árabe, os quais ignoravam completamente as transliterações árabes aceitas em círculos acadêmicos de todo o mundo. As vogais longas oo e ee vieram do inglês, reminiscências de transcrições coloniais.

Quando essa mudança para escrita latina ocorreu, antropólogo norte-americano Clarence Maloney, que vivia nas Maldivas, lamentou essas grosseiras inconsistências do latim Dhiveh e questionou porque não se usava a transcrição IPA do sânscrito em lugar dessa latina.[3]

A escrita taana foi novamente implementada pelo Presidente Maumoon Abdul Gayoom pouco depois de sua posse em 1978, mas a transcrição em alfabeto latino continuava em pleno uso.

Caracteres[editar | editar código-fonte]

A escrita taana ocupa os pontos de códigos Unicode de 1920 a 1983 (hexadecimal 0780 a 07BF). Como exemplo, ver o hino das Maldivas, Gaumii salaam.

Caracteres da escrita taana
(vogais mostradas com um alifu carrier)
Grafema Nome Romanização Nasiri IPA valor
ހ
haa h [h]
ށ
shaviyani talvez entre sh" e r"
talvez "ng"}}
retroflexo [ʃ]/[ɽ]
[ŋ]
ނ
noonu n [n̪]
ރ
raa r [ɾ]
ބ
baa b [b]
ޅ
lha viyani lh [ɭ]
ކ
kaafu k [k]
އ
alifu varia ver artigo
ވ
vaavu v [ʋ]
މ
meemu m [m]
ފ
faafu f [f]
ދ
dhaalu dh [d̪]
ތ
thaa th [t̪]
ލ
laamu l [l]
ގ
gaafu g [ɡ]
ޏ
gnaviyani gn [ɲ]
ސ
seenu s [s̺]
ޑ
daviyani d [ɖ]
ޒ
zaviyani z [z̺]
ޓ
taviyani t [ʈ]
ޔ
yaa y [j]
ޕ
paviyani p [p]
ޖ
javiyani j [dʒ]
ޗ
chaviyani ch [tʃ]
ޘ
ttaa árabe para Dhivehii
transliteração
caracteres
ޙ
hhaa
ޚ
khaa
ޛ
thaalu
ޜ
zaa inglês para Dhivehi
transliteração [ʒ]
ޝ
sheenu transliteração árabe para Dhivehi
caracteres
ޞ
saadhu
ޟ
daadhu
ޠ
to
ޡ
zo
ޢ
aïnu
ޣ
ghaïnu
ޤ
qaafu
ޥ
waavu
އަ
aba fili a [ə]
އާ
aabaa fili aa [əː]
އި
ibi fili i [i]
އީ
eebee fili ee [iː]
އު
ubu fili u [u]
އޫ
ooboo fili oo [uː]
އެ
ebe fili e [e]
އޭ
eybey fili ey [eː]
އޮ
obo fili o [ɔ]
އޯ
oaboa fili oa [ɔː]
އް
sukun varia ver artigo
ޱ
na viyani [ɳ]

Unicode[editar | editar código-fonte]

A taana foi adicionada à codificação Unicode em setembro de 1999, na versão 3.0 — bloco Thaana U+0780–U+07BF.

Notas[editar | editar código-fonte]

  1. «Maldivian (ދިވެހި)». Omniglot. Consultado em 11 de março de 2023 
  2. Xavier Romero-Frias, The Maldive Islanders, A Study of the Popular Culture of an Ancient Ocean Kingdom. ISBN 84-7254-801-5
  3. Clarence Maloney; People of the Maldive Islands

Bibliografia[editar | editar código-fonte]

  • Bell , H.C.P. The Maldive islands. Monograph on the History, Archaeology and Epigraphy. Reprint 1940 edn. Male' 1986.
  • H.C.P. Bell, The Maldive Islands, An account of the physical features, History, Inhabitants, Productions and Trade. Colombo 1883, ISBN 81-206-1222-1
  • Bell , H.C.P. Excerpta Maldiviana. Reprint 1922-1935 edn. New Delhi 1998.
  • Divehi Bahuge Qawaaaid. Vols 1 to 5. Ministry of Education. Male' 1978.
  • Divehīnge Tarika. Divehīnge Bas. Divehibahāi Tārikhah Khidumaykurā Qaumī Majlis. Male’ 2000.
  • Gair, James W. & Cain, Bruce D. (1996), "Divehi Writing" in Peter T. Daniels & William Bright, ed., The World's Writing Systems, New York: Oxford University Press, pp. 564–568. ISBN 0-19-507993-0.
  • Xavier Romero-Frias, The Maldive Islanders, A Study of the Popular Culture of an Ancient Ocean Kingdom. ISBN 84-7254-801-5
  • Geiger, Wilhelm. Maldivian Linguistic Studies. Reprint 1919 edn. Novelty Press. Male’ 1986.
  • Ager, Simon. «Thaana (Maldivian) script». Omniglot, writing systems & languages of the world. Consultado em 12 de setembro de 2006 

Referências externas[editar | editar código-fonte]